Não era previsível voltar a escrever tão pouco tempo depois de domingo. Ou então era, precisamente por ter dito que o blog não funcionava semanalmente. Ou então ninguém pensou se era previsível ou não e eu é que ainda estou imbuído do espírito do último texto. Não sei. Sei que me lembrei de escrever depois de me terem dito que aquele texto sobre moços e moças reflectia bem o quanto eu sou um banana nesse aspecto e porque é que todas as minhas relações amorosas falharam.
Antes de dizerem que as minhas relações amorosas falharam definam-me relações amorosas. A sério, é que eu não sei bem. Uma vez saí com uma moça duas vezes, à segunda dei por mim a pagar uma conta avultadíssima num bar que incluía um Bailleys. Isto já é considerado uma relação amorosa ou o conceito é mais restrito? De qualquer maneira, seja ou não, o que é certo é que também essa falhou, tendo em conta que nunca mais a vi nem falei com ela e ainda por cima gastei quase 6€ com o Bailleys.
Por isso apareço aqui a falar novamente do assunto. Uma vez um amigo meu disse-me que não se ama alguém que não gosta da mesma canção. Quer dizer, ele disse-me que foi um moço chamado Rui Veloso que cantou isto, mas como eu não sei quem é esse moço digo que foi o meu amigo que me disse, sempre lhe faço um bocado de publicidade. Foi o Norberto. Certo é que essa frase me fez pensar que uma namorada é capaz de ser e de funcionar como a nossa música preferida. Não acreditam? Vejam lá os argumentos que eu preparei para vos calar:
- Por uns tempos acreditas totalmente que não há nada melhor e então estás sempre a ouvir a mesma música, vezes sem conta;
- Por causa desta insistência na mesma música chegas a um momento em que te começas a fartar da música. Continuas a gostar dela mas sentes que precisas de passar um tempo sem estar sempre a ouvi-la;
- À medida que o tempo vai passando e te vais mantendo fiel à tua música preferida, vês que a tentação das músicas novas é muito grande;
- Vais tendo noção de que há outras músicas muito boas, inclusivamente algumas que os teus amigos te mostraram em tempos, e que essas até são melhores que a tua preferida;
- Quando uma música deixa de ser a tua preferida, ainda que penses que não, depressa e facilmente arranjas outra;
- Achas que aquela vai ser a tua música preferida para sempre e nunca mais vais ter outra, embora na tua vida já tenhas tido umas 10 músicas preferidas diferentes;
- Não achas muita piada a que haja mais moços a terem como música preferida a mesma que tu. E se fores desses moços que não se importa com isso vai acabar por ser a música a deixar-te e não tu à música;
- Consegues gostar ainda mais da tua música preferida quando não a ouves durante uns tempos;
- Ao início, os teus pais não gostam da tua música preferida mas depois acabam por tolerá-la;
- Quando pensas que já esqueceste uma música que já foi a tua preferida, voltas a ouvi-la passado um tempo e mexe contigo, traz recordações do passado;
- Quando te deparas com o remix de uma ex-música preferida tua pensas que a conheceste demasiado cedo;
- Ocasionalmente, alguns dos teus amigos podem gozar contigo e com a tua música preferida, quer nas tuas costas, quer à tua frente;
- Quando pensas numa música preferida que tiveste numa fase da tua vida que está bem enterrada no passado, sentes vergonha de ti mesmo. Afinal, tal como com as moças, nem sempre te orgulhas da que já foi a tua preferida;
- Algumas histórias dos teus amigos começam com «e quando tu te colavas naquela música e não querias saber de ninguém?». Na maior parte das vezes, todos se acabam por rir desta história;
- Quando estás alcoolizado tentas cantar a música e mostrar que gostas mesma dela mas só a estragas e fazes figuras tristes. Noutras circunstâncias, quando estás alcoolizado pode acontecer dares por ti a cantar outra música (que não a tua preferida) e no fim gritares com toda a convicção que aquela é que é a tua preferida.
Perante isto tudo, se se confirmar que uma relação com uma moça pode ser tão complexa como a minha música preferida, já sei porque é que eu estou sempre a falhar com estrondo nas relações amorosas. É que quando estou alcoolizado tendo a fazer da música popular portuguesa o meu género musical de eleição. E, nas moças como nas músicas, as portuguesas têm uma mensagem dupla muito complexa que me deixa confuso e sem saber bem o que significam. Ou é culpa da música, ou é culpa das moças ou é culpa minha por ser muito burro.
Mas isto da música também é um mundo muito complexo: desde um preto que se chama Barry White, a moços que não têm música preferida e gostam de tudo, passando ainda por moços que escondem a música preferida e fingem que é outra só para não serem gozados. A única diferença que eu vejo entre a música e as moças é que ao contrário das relações amorosas, qualquer um consegue ter facilmente uma boa música como preferida.
P.S.: Quando penso em música portuguesa lembro-me do Zé Cabra. Não por ele ter sido bom (que não era), nem por ter tido sucesso (que não teve), mas sim por causa do nome. Porque é que alguém viria a público ostentar um nome como 'Zé Cabra'? Gary Gaivota dá pinta, Vítor Pargo é poderoso, Mike Albatroz é grandioso, mas Zé Cabra está ao nível de Alfredo Pinguim, Camilo Garnizé ou Daniel Ouriço. E não me venham dizer que na música, tal como com as moças, o que importa é o interior porque não é verdade. Até porque se fosse pelo interior todos teríamos compaixão pelo Zé Cabra quando ele cantava que tinha lágrimas a cair-lhe pelo rosto ou que tinha deixado tudo por ela, em vez de nos rirmos dos fatos roxos que ele usava.
oh homem, quanto mais leio os teus texto mais o meu cérebro fica comido...concordo contigo relativamente ao facto de se poder comparar uma namorada a uma música preferida, mas o contrário não é verdadeiro, sim, porque uma música preferida nunca te deixa ficar mal quando estás divertido a ouvi-la, nunca te cobra o tempo que passas a com a música preferida de outro, não se aborrece contigo quando não a ouves durante algum tempo, não se zanga contigo e te impede de a ouvires se te esqueceres que é o aniversário dela e...tantas coisas que nem vou continuar, porque me arrisco a ter que publicar o texto aqui no blog ou fazer um blog de resposta a este...
ResponderEliminarAH! Não posso terminar esta pequena prelecção sem deixar de dizer que "...és burro", tu e mais uns quantos portugueses...
AH! Mais uma coisa, concordo contigo, plenamente, quando dizes que é uma trêta quando dizem que "o que importa é o interior", deveriam dizer "o que importa é o interior quando o exterior é bom", isso sim, seria sincero e de valor quando assumido!
E daqui me despeço...
MR
Esse comentário fez com que a tua contribuição para o blog superasse a do Matthew Praias e a do Teófilo juntos. Parabéns.
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