Hoje conheci uma pessoa peculiar. Não por se chamar Júlio, nem por ser obeso. Aliás, a obesidade foi um tema de que nunca falamos aqui no blog. Ok, tirando quando falamos sobre o facto das gordas usarem leggins. Obeso é diferente de ser desse tipo de gordos e gordas. Um obeso tem consciência do que é e, o máximo que faz, é tirar a t-shirt na praia ou ir para aqueles programas de televisão para perder peso. De resto, não gostam de dar muito nas vistas. Tirando pelo facto de serem obesos.
Mas voltando ao Júlio. Conheci-o porque estávamos os dois a tentar comer um bife de 3kg para não pagar a conta do almoço. Claro que eu pedi o bife de 3kg mas levei tupperwares nos bolsos do casaco para pôr lá o bife. E pedi uma mesa à beira da janela para atirar bocados de carne lá para fora a ver se algum cão ou algum mendigo apanhavam aquilo e comiam. Porque não consigo comer um bife de 3kg, agora o Júlio conseguiu na boa. E ainda comeu uma sopa antes e pediu duas vezes pão. E a sopa era daquelas pesadas, de feijão.
Conhecemo-nos porque mesmo com tupperwares, não consegui comer o bife inteiro. O Júlio viu que era um bocadinho e disse-me que se eu não quisesse pagar a conta, ele comia aquele bocado que me faltava, que ainda estava com fome. Quando o empregado não estava a ver passei-lhe o resto do meu bife. Ele comeu e depois ainda mandou vir umas natas do céu. Agradeci ao Júlio o que ele fez, foi um gesto bonito e convidei-o a tomar café, já que ele me tinha poupado a uma conta para aí de 60€.
O Júlio disse-me que não queria nenhum café mas que aceitava de bom grado uma bola de Berlim e um sumo de laranja ao lanche. Elogiei-o por gostar de sumo de laranja, por ser saudável. E ele perguntou-me porque é que não o elogiava por respirar como as pessoas normais, por gostar de música clássica ou por ir duas vezes por mês ao teatro. Fiquei a pensar naquilo. Realmente nunca ninguém me elogiou por respirar. Deve ser a coisa que faço com mais perfeição se pensar bem. Já respiro bem há mais de vinte anos, de que outra coisa posso dizer o mesmo?
Fui lanchar com o Júlio conforme o prometido e entre outras conversas interessantes que tivemos, não posso deixar de contar a visão dele sobre o mundo e a sua Teoria do Charquinho que, se ele contar à pessoa certa, vai, de certeza absoluta, dar um best-seller. Eu não tenho o dom que ele tem para a palavra senão explicava a teoria aqui. Curiosamente tenho um blog, mas como só serve para dizer parvoíces e para as pessoas terem ainda mais motivos para me criticar, não estou ao nível do Júlio nesse aspecto. Quem me dera ser o Júlio, sinceramente. Tirando o facto de ser obeso.
Para terminar, decidi acabar com o que mais me fascinou no Júlio: ele inventou uma música para ele mesmo. Conhecem aquela música brasileira que o refrão é «Oh Ana Júlia ....» ? Pois, o Júlio aproveitou o nome ser parecido com o dele e fez uma música para ele mesmo. Este homem merecia uma estátua! Claro que se ia gastar imenso dinheiro se fosse feita em tamanho real, mas merecia na mesma. Se calhar se fosse só um busto gastava-se menos ... Mas depois pensava-se nisso! Vou deixar-vos com a letra da música que ele criou para ele e me cantou enquanto comia a sua 4ª bola de Berlim (não paguei o almoço mas a merda do lanche ficou-me caro!):
«Quando te vejo passar por mim, assim a fumegar, /
tens que vir prá minha mesa ... pra eu te pegar /
Contemplo o sal do teu sabor, quero mais por favor /
gosto de te ter na boca e sentir o teu saboooooooor
Sem comida não vivo, dela tanto eu preciso ...
dentro do meu estôôôôôômaaaaaagoooooo
Obeso Júliooooooo oh oh oh oh ....
Obeso Júlioooooo oh, oh oh ...»
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