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terça-feira, 29 de julho de 2014
Já não escrevia há 19 dias mas já vão perceber porquê
Olá. Pode parecer estranho ter ficado tanto tempo sem vir aqui mas já vão perceber porquê. De facto, tenho que dar razão ao Gary, é mesmo complicado chegar aqui passado um montão de dias sem dizer nada e estar para aqui com explicações sem fazer disto o meu diário e sem dizer logo tudo nas primeiras 3 linhas e depois ficar sem mais nada para dizer. Mais vale fingir que ainda ontem estive aqui a fazer um texto e ignorar o facto de não ter dito nada durante 19 dias. O Venâncio disse-me que essa é uma técnica muito utilizada por moças de forma a induzir as saudades nos moços, que os leva a fazerem gestos mais românticos para as ter de volta. O Venâncio também me disse que essa técnica tem resultados muito maiores quando já houve actividade sexual entre o moço e a moça. Já o meu tio sempre me disse o contrário, que mal se tenha actividade sexual com uma moça deve-se acabar o romantismo, porque já não é preciso para nada.
Por falar em romantismo, acho que estou apaixonado pela Vera. Antigamente chamava-lhe Vera da Contabilidade mas ainda esta semana estava a falar com o Venâncio sobre ela e ele disse-me que chamar-lhe «Vera da Contabilidade» era como se tivesse uma irmã chamada Vera ou, pior ainda, como se andasse a sair com outra moça chamada Vera e então tivesse que as diferenciar pelo ramo em que trabalhavam. Ia ser-me estranho chamar-lhe só «Vera». O Sebastião disse-me que quando namorava raramente chamava a moça pelo nome, ou lhe chamava «amor», «bebé», «princesa», «gominha» ou «fadinha». Depois disse-me que se arrependia de ter chamado esses nomes todos e que se soubesse o que sabia hoje chamava a moça pelo nome, de modo a não conseguir parecer um autêntico homossexual mesmo que andasse a namorar com uma moça. Acho que nunca chamei a Vera por nenhuma alcunha. Quem gosta disso é a Xana da cantina, que sempre me disse que lhe podia chamar o que eu quisesse. Já que ela me deixou escolher optei por lhe chamar «Xana da cantina», que assim no dia em que conhecer outra Xana, pelo menos sei que não é «a da cantina», essa é outra.
Mas adiante que tenho mais coisas para contar e ainda não contei quase nada. Eu conheço muita coisa da Vera. Sei que o jogo preferido dela é o Candy Crush, sei que se estiver à espera do autocarro para ir para casa mais do que 3 minutos vai logo começar a jogar, sei que a actriz preferida dela é a Charlize Theron porque ela põe sempre 'Gosto' nas fotografias dela no Facebook e sei que a cor preferida em écharpes é roxo. Nesta parte tenho que dar crédito ao Venâncio que me disse que as moças detestam moços que dizem «cachecóis» em vez de «écharpes» porque revela insensibilidade e desconhecimento do universo feminino. Eu há muita coisa que desconheço do universo feminino, mas mais vale começar por algum lado. O meu tio nisto não foi grande ajuda porque me disse que as únicas coisas que devemos conhecer do universo feminino é como lhes dar prazer e como evitar ficar a conversar muito tempo com elas no pós-sexo. Certo é que apesar de saber muito sobre a Vera não estava preparado para o que ela me propôs no outro dia: convidou-me para ir para a praia.
Lembro-me que uma vez a Xana da cantina me disse que se eu alguma vez a levasse para a praia que levasse uma toalha e uma garrafa de vinho e depois o resto era por nossa conta. Isso não me ajudou nada. Hoje em dia vejo aqueles moços na praia de cuecas, outros vão para lá com aqueles calções que parecem boxers e outros vão com aqueles calções grandões. E eu não sei o que levar. A Xana da cantina dizia-me que nem precisava de levar nada, que a toalha cobria-nos, mas ao contrário dela eu não conheço nenhuma praia de nudistas nem me parece que a Vera quisesse ir para uma logo na primeira vez que íamos os dois para a praia. Além disso, o Venâncio sempre me disse para ter cuidado porque a fronteira entre mostrar o que valemos e o exibicionismo é muito ténue e por isso é que ele deixou de andar de gabardina, que sempre que passava em parques públicos era olhado de lado e com desconfiança. Quando disse ao Sebastião que a Vera me tinha convidado para ir à praia com ela ele perguntou-me se a Vera usava bikini ou fato de banho. Disse-lhe que não sabia e o Sebastião disse-me que era importante saber isso, porque se ela fosse de fato de banho ia estar toda a gente a olhar para ela porque quem usa fato de banho na praia são as cinquentonas ou as nadadoras salvadoras. Aquilo intrigou-me ainda mais.
O meu tio disse-me que não gosta de ir à praia, que para olhar para moças despidas que não pode tocar mais valia ir para Amesterdão, que ao menos aí podia-se fumar ganza à vontade e se oferecesse dinheiro a uma dessas moças ela não levava a mal e ainda ia para a cama com ele. Quando partilhei as minhas preocupações com o Venâncio ele disse-me que ir para a praia com uma moça num dos primeiros encontros é sempre significativo porque vamos vê-la quase nua e ela a nós. Perguntei ao Venâncio se o que importava não era o convívio e ele disse-me que para «só conviver», convivíamos numa esplanada, vestidos e sem estarmos deitados um ao lado do outro. Aquilo assustou-me. Nunca tinha pensado na praia como numa prova de fogo que as moças nos faziam passar para avaliarem se seríamos bons amantes ou não. Sempre pensei que o que contava era a personalidade. E pensar que todas aquelas vezes que guardei lugar à Vera na mesa da cantina enquanto ela ia lavar as mãos ou na quantidade de mensagens que lhe enviei ou nas horas que fiquei por dormir por estar a trocar mensagens com ela à noite podia ir tudo por água abaixo no momento em que eu tirasse a camisola na praia ou que levasse uns calções ou demasiado curto ou demasiado compridos. A Vera quer ir à praia no sábado. Até lá, vou ser consumido por estas preocupações.
P.S.: Disse no título e na primeira linha do texto que vocês iam perceber porque é que não escrevia há 19 dias. Podiam pensar que tinha sido por causa do convite da Vera para ir à praia com ela mas não foi, isto foi uma coisa recente. Primeiro, descobri recentemente que sei jogar poker. O Lino convidou o pessoal lá da fábrica para ir a casa dele jogar um torneio. Ele faz sempre isto em Julho e Agosto, quando maior parte está de férias, para ninguém se descair e a polícia saber que ele organiza estes torneios. A primeira vez fui lá para beber uma cerveja e estar com o pessoal, já que agora é Verão e o pavilhão está fechado e então já não jogamos. Mas descobri que sei jogar mais ou menos bem e então tenho ido bastantes vezes. Com isso, durmo menos horas e depois em vez de vir aqui escrever prefiro ir dormir. O Gary diz que é o que eu faço melhor. É bom ter um amigo como o Gary que se preocupa com o meu bem-estar por dormir menos do que estou habituado. Mas quanto ao assunto da Vera, se alguém tiver alguma sugestão, por favor deixe nos comentários. Ajudem-me. Obrigado.
terça-feira, 22 de julho de 2014
Uma ideia que vale milhões de euros
Depois de ter inventado protótipos de séries, provérbios para uma franja da população e para o mundo animal e revelado sinopses de filmes e trajectos turísticos em países aleatórios, senti que nem me lembrava que tinha sugerido inventar tanta coisa. Se me tivesse aplicado assim em Físico-Química hoje sabia a diferença entre um Ampere e um Volt. O meu professor de Físico-Química mandava sempre uma piada para não confundirmos uma carga de volts com uma carga de voltas a França. Ainda no outro dia vi que estava a dar Volta a França na televisão. Nunca percebi isso das «Voltas». Do que eu aprendi, dar uma volta acontece quando se começa o percurso num ponto, se segue por vários caminhos e no fim se volta ao mesmo ponto. Mas eles lá nas voltas no ciclismo começam sempre num ponto e acabam noutro e chamam-lhes «Voltas». Se eu fizesse isso num teste tinha negativa.
Mas adiante. Esta ideia já me surgiu há algum tempo, até escrevi sobre ela aqui no blog, mas voltei a lembrar-me dela ontem, quando estava a dar uso à canalização da Paulinha, na casa de banho dela. As casas de banho das casas das moças têm um problema: têm demasiados cremes e loções corporais e depois uma pessoa não tem revistas para ler, põe-se a abrir e a cheirar os cremes. Eu sai de lá com uma mão a cheirar a alperce e outra a cheirar a papaia. Parecia um iogurte. Ainda parecia mais já que há uns tempos atrás uma companhia de iogurtes fez um com sabor a Aloé Vera. Já não bastava as moças se empanturrarem de cremes, agora também os iam comer.
Então, que ideia é essa, perguntam os mais curiosos e sem saber que os 3 parágrafos de introdução são a minha imagem de marca. É simples: antes ou depois de qualquer Campeonato do Mundo, realizava-se o Campeonato do Mundo de equipas que nunca na vida vão chegar a um verdadeiro Campeonato do Mundo. Com o tempo, alguém iria dar um nome à competição para que não fosse assim grandão. A organização funcionava por convites às selecções que nunca sequer estiveram perto de entrar num Mundial a sério e sempre que alguma dessas começasse a evoluir, deixava de ir a estes Campeonatos do Mundo. Vejam lá como seria organizado:
- Numa primeira edição, à imagem dos Campeonatos do Mundo a sério, ia ter menos equipas. Podia-se começar com apenas 16, divididas em 4 grupos de 4 selecções cada. Mas, contrariamente aos Mundiais a sério, os cabeças-de-série nesta competição iam ser as equipas que menos hipótese tivessem de realmente disputarem um Mundial a sério. Nesse sentido, já tenho 4 cabeças-de-série pensados: Quirguistão, Turcomenistão, Nepal e Gâmbia;
- No segundo pote, ou seja, as equipas que não são tão fracas como as cabeças-de-série mas que podiam bem ser, na primeira edição estavam Tonga, Burundi, Bangladesh e Antígua e Barbuda. Eventualmente, as Ilhas Fiji seriam colocadas neste pote, mas como eles se podiam lembrar de levar para lá a selecção de rugby, é melhor não arriscar;
- O pote 3 continha aquelas selecções que sabiam que 4-4-2 era uma táctica e não um indicativo de telefone de um país ou de um gang. Assim, para este grupo penso por exemplo no San Marino, em Barbados, no Malawi e na Namíbia;
- Por último, o pote 4 era o extremo oposto dos cabeças-de-série, ou seja, eram aquelas equipas que conseguiam fazer 3 passes seguidos sem ser à sorte e que tinham um treinador que não ia para os treinos com um apito só porque ia a seguir ter ensaio do rancho folclórico. Assim, aqui podiam ficar, por exemplo, Luxemburgo, Ilhas Faroé, Serra Leoa e El Salvador;
- O sorteio era feito à sorte, às vezes selecções do mesmo pote ficavam no mesmo grupo porque o que estava a fazer o sorteio se enganava a tirar as bolas mas não havia problema. Servia-se álcool, havia aparições de humoristas e um combate de boxe no fim. Assim, as pessoas assistiam a um espectáculo divertido e acabava-se com o estereótipo que na FIFA só há gente manipuladora, demasiado séria e calculista;
- A organização da prova ficava a cargo de um país que tivesse participado no Mundial a sério. Eventualmente até podia ser no mesmo país que organizou o Mundial a sério, para as pessoas poderem ver mais futebol de selecções e se rirem mais um bocadinho. O objectivo era animar a vida das pessoas e dar a oportunidade a alguns países de disputarem um Mundial, ainda que não fosse a sério, como o outro;
- Durante as transmissões dos jogos, os espectadores tinham a possibilidade de responder a perguntas sobre os intervenientes. Por exemplo, durante o Quirguistão x Barbados, surgia a seguinte pergunta no ecrã: «Antes de ser padeiro, Ceri Daho, médio esquerdo de Barbados, trabalhava num talho, num supermercado ou a vender máquinas de lavar louça?». Depois, no fim do jogo ou ao intervalo, consoante a pergunta surgisse na 1ª ou na 2ª parte, as pessoas sabiam se tinham acertado ou não. Não ganhavam prémios, só a consolação de terem acertado. Quer dizer, podiam ganhar, bastava terem feito uma aposta com alguém que estivesse a ver o jogo com eles;
- As flash-interviews no fim dos jogos não iam ter a formalidade que têm as dos Mundiais a sério. Por exemplo, o jornalista presente no Luxemburgo x Malawi podia perguntar ao avançado do Luxemburgo se alguma vez tinha conseguido ter relações sexuais com uma moça enquanto namorava com a irmã gémea dela. Ou perguntar ao treinador do Malawi se era verdade que o guarda-redes suplente ao pequeno-almoço pegava sempre em 3 Bolicaos e levava para o quarto para comer a meio da noite quando lhe desse a fome.
Como vêem, ia ser algo que juntava futebol, Mundial e humor. Não havia melhor! Inicialmente, grande parte da população-alvo seriam desempregados, pessoas que consumissem substâncias psicotrópicas, viciados em apostas, alcoólicos, idosos ou aqueles moços que não sabem como passar o tempo entre o fim do Mundial a sério e o início dos campeonatos nacionais. Assim, viam mais Mundial mas um Mundial para rir e onde o tempo passava a voar. Mas depois, com o tempo, ia chamar a atenção de muito mais gente. Além disso, lembrei-me agora de uma regra, mas que não vou criar um ponto ali em cima só porque me lembrei agora: sempre que uma equipa empatasse 0-0 somavam 0 pontos, já que tinha sido isso que tinham somado à vida das pessoas: 0 golos, 0 emoção. Se uma equipa perdesse um jogo 2-1 ou 3-2, ganhava 1 ponto, enquanto a outra ganhava 3 e empates de 2-2 para cima dava 2 pontos, em vez de 1. Tudo bem que eu sonho vezes demais com marisco, mas é impossível dizerem-me que isto não dava milhões de euros à FIFA
P.S.: Quando estava a dizer que sonhava vezes demais com marisco não era uma crítica. Podia parecer, mas não é. Eu gosto de sonhar com marisco, se pudesse sonhar sempre com marisco adorava. Mas infelizmente nem tudo o que uma pessoa adora acontece. Basta pensar em como nunca vai haver um Mundial para equipas que nunca na vida vão a um Mundial. Não só porque ninguém vai partilhar da minha capacidade visionária de facturar milhões de euros à custa de países fraquinhos no futebol, mas também porque não tenho um nome para esta ideia. E ainda por cima não me sai nada, só me sai porcaria como «Mundial B» ou «Mundial dos Pequeninos» ou então títulos grandões como «Campeonato do Sub-Mundo Futebolístico». Relativamente aos títulos que tenho para esta ideia, sinto-me o Jorge Abel a fazer títulos para os textos dele.
quarta-feira, 16 de julho de 2014
A semelhança entre os sonhos e o alcoolismo
No outro dia a Paulinha disse-me que tinha sonhado comigo. Por mim tudo bem, o problema foi quando ela me disse que não se lembrava do que eu tinha feito no sonho mas que ela tinha ficado chateada comigo. Isso também não me preocupou muito, afinal de contas, ela só tinha ficado chateada por causa de uma opinião dela, não de algo que aconteceu realmente. O pior foi quando eu próprio, umas noites depois, sonhei que o Rebelo fazia uma promoção na mercearia de cortar 40% ao preço das pêras, eu ia lá, trazia maçãs, trazia laranjas, trazia limões, pêssegos, morangos e kiwis mas esquecia-me de trazer as pêras. Depois voltava lá, mas quando chegava o Rebelo já tinha vendido as pêras todas e já não havia promoção. Nessa noite, arrependi-me de ter sonhado.
De resto, os sonhos nunca me serviram para grande coisa. Nunca sonhei que tinha um berbequim, nunca sonhei que tinha sido eleito o melhor lateral esquerdo do campeonato do Cazaquistão, nunca sonhei que sabia fazer polvo à lagareiro sem ter que ler as instruções e sem ter que ligar à minha avó e também nunca sonhei que tinha sido eleito democraticamente o Presidente da Associação dos vinhos de Alijó. Ainda que uma vez tenha sonhado que era um ditador de um país, não percebi bem qual, mas sei que quando ia à praia tinha para aí 5 escravos a abanarem-me folhas de palmeira enquanto eu bebia cerveja e era júri de uma competição de bikinis. Deve ter sido o meu melhor sonho de sempre sem envolver marisco.
Lembro-me que quando fiz aquele texto sobre os meus melhores sonhos houve gente que disse que eu parecia maluco (Paulinha). Houve outras pessoas que me disseram que tinham achado piada aos meus sonhos mas que detestavam sonhar (Tolentino), outra que me disse que a sua maior desilusão na vida era nunca ter tido um sonho erótico (Jorge Abel) e houve outro que não me disse nada porque embora tenha regressado aqui ao blog, às vezes parece que é 96 e como paga as mensagens para 91 não me diz nada (Teófilo). Mas pronto, agora vejam lá qual é a semelhança entre os sonhos e o alcoolismo:
- As outras pessoas contam-te histórias que tu fizeste (seja nos sonhos ou nas festas de anos dessas pessoas) que a ti te parecem surreais e não tens qualquer consciência e/ou memória de as teres feito. E o pior é que na maior parte delas ou fizeste cagada ou figuras tristes;
- Quando contas o que se passou contigo aos outros que não estiveram lá, as histórias soam todas a mentira, parecem confusas, desconexas e até tu, quando estás a contar, parece que não fazem qualquer sentido e que falta ali qualquer coisa que não consegues explicar;
- Envolves-te com moças que não conheces de lado nenhum e que na altura te parecem ser muito boas no que fazem e serem daquelas moças que qualquer um ia ficar com inveja de ti, mas no dia a seguir já duvidas que fossem realmente assim tão boas e até tens medo de saber quem era mesmo a moça com quem te envolveste;
- Se alguém te interromper a meio de uma situação em que estás com uma (ou mais, em alguns casos) moça sentes mais embaraço de toda a situação do que orgulho;
- Em situações mais confusas e que te fogem claramente ao controlo, podes ter situação desconfortáveis para ti em que tens uma interacção mais próxima do que seria desejável com outro homem (no caso das moças é ao contrário);
- Alguns dos teus valores e princípios são completamente atropelados em nome da satisfação de caprichos pessoais e da obtenção de prazer próprio;
- Em ambos os contextos acabas por te sair muito melhor do que quando estás sóbrio e consciente em determinadas tarefas e/ou situações específicas, seja pela noção que tens da situação, seja por realmente te teres saído bem;
- Em ambas as situações, quase nada do que tu faças está ao alcance e ao controlo da tua consciência, respondes quase sempre por impulsos e pela satisfação das tuas necessidades;
- Quem passa por ti e te apanha ou a sonhar ou alcoolizado das duas uma: ou se ri do que vê e/ou ouve e no dia a seguir conta-te para gozar contigo mas num ambiente descontraído ou fazes/dizes alguma coisa que vai deixar o outro completamente desconfortável e a pensar se deve abordar o assunto na próxima vez que te vir ou falar contigo.
Este texto é sobre a semelhança mas, como é hábito, no parágrafo de conclusão vou ter de mencionar aquilo em que os sonhos e o alcoolismo diferem. Nos sonhos, estou frequentemente rodeado de marisco, seja em situações agradáveis onde eles me proclamam o representante deles no Parlamento dos Oceanos, seja em situações menos agradáveis onde eu e uma garoupa somos assaltados por uma lampreia. No entanto, quando estou alcoolizado nunca me apetece comer marisco. Nem sequer aqueles patês de creme de sapateira, esses normalmente até como no início de uma noite que vai ser regada a álcool. A Paulinha diz que não me gosta de ver alcoolizado porque falo com toda a gente e confundo o Egipto com um tio dela que se chama Egídio e então estou sempre a chamar Egídio ao país e Egipto ao tio dela. Ainda que Egipto fosse um nome que desse mais pinta e estilo do que Egídio.
P.S.: Alguém mais preocupado com as questões gramaticais e com a correcção da Língua Portuguesa perguntar-me-ia porque é que no título falo de «alcoolismo» e não de «eu, sujeito individualizado e com personalidade própria personalizada» (é uma definição digna de constar na Diciopédia, admitam) estar «alcoolizado». Eu, com a minha sinceridade, posso dizer-vos que optei por «alcoolismo» porque me apeteceu. O blog é meu e eu é que sei os títulos que dou aos meus textos. E se me apetecer até mudo os títulos todos dos textos do Jorge Abel só porque me apetece. Aí sim, iam ver como o blog era meu em vez de se porem para aí a duvidar e a questionar os meus títulos.
quinta-feira, 10 de julho de 2014
A vida podia ser como uma nota de 5€: simples mas valiosa
No entanto, não é bem assim. Esta conversa tive-a com o Venâncio no outro dia, quando falávamos de como a vida é complicada e como as pessoas ainda a tornam mais complicada ainda. Tivemos este tempo todo para falar porque é Julho, está um montão de gente de férias na fábrica e então todos temos menos trabalho e mais tempo livre. O Venâncio até já me disse que aprendeu a jogar aquele jogo das minas no computador e teve tempo para criar uma sessão dele no computador da entrada, assim o moço do turno da noite quando jogar Freecell estraga a estatística ao «Geral» e não na sessão do Venâncio. Já antes de falar com o Venâncio, por várias vezes, tinha pensado como a vida é demasiado complexa quando podia ser tão fácil. A primeira vez que falei sobre este tema foi com o Sebastião. Ele disse-me que a vida é como aqueles jogos de computador em que nós jogamos no «Fácil» e chegamos ao fim sem dar pica. Depois jogamos no «Médio», dá mais pica e tem mais dificuldade mas chegamos ao fim na mesma. Depois vamos jogar no «Difícil» estamos sempre a perder e a levar pancada, desistimos e jogamos outra vez no «Médio».
Uma vez, quando ia levar o meu tio a Felgueiras, ele disse-me que levar uma moça para a cama era fácil, difícil era conseguir que ela no fim nos emprestasse dinheiro para o táxi, esquecendo-se que tínhamos sido nós a dar-lhe boleia até casa ou até ao hotel. Isso fez-me pensar em como cada pessoa vê a vida de uma maneira muito pessoal. O meu tio disse-me que era fácil levar uma moça para cama mas era difícil pedir-lhe dinheiro emprestado, quando para mim é bastante difícil levar uma moça para a cama, mas ainda anteontem eu só tinha uma nota e a Vera da Contabilidade pagou-me o café lá na máquina da fábrica. Lembro-me que a Xana da cantina uma vez me disse que nem todas as moças gostavam que as levassem para a cama e que ela, por exemplo, se contentava em que eu a levasse para a casa-de-banho ou para a dispensa da cozinha. Nunca tinha entrado numa dispensa da cozinha, mas já tinha entrado uma vez por engano numa casa-de-banho de mulheres. Passados uns dias fui ter com a Xana e perguntei-lhe se podíamos ir ver a dispensa mas ela disse-me que não porque estava lá o Sr. André. O Venâncio tem razão, as promessas das moças têm prazo de validade.
O Gary sempre me disse que nunca devemos fazer pelas moças mais do que um quarto daquilo que elas podiam fazer por nós, porque isso ia fazer com que elas elevassem as expectativas para o sexo masculino, ia aumentar os padrões de exigência e a percentagem de solteiros crónicos ia aumentar drasticamente, pondo em perigo a humanidade. Por outro lado, o Venâncio sempre me disse que devemos exigir às moças um quarto daquilo que elas nos exigem a nós, de maneira a que elas tenham o poder da relação e assim, se um dia acabar, quem comandava é que tem culpa, não nós. Toda esta confusão levou a que repensasse a minha situação com a Vera da Contabilidade. Ela a mim só me exigiu que eu fosse sempre sincero, que nunca traísse a confiança dela e que lavasse sempre as mãos depois de ir à casa de banho, mas o Venâncio sempre me disse que as maiores exigências das moças são aquelas que elas nunca nos disseram. O que é estranho, já que o meu tio me diz que as únicas exigências que as moças lhe fazem é que ele pague adiantado e em dinheiro.
Até com o meu patrão falei sobre isto, que ele é divorciado e, por isso, percebe mais do assunto. Além disso, todos os anos conduz um seminário sobre assédio sexual e o Venâncio disse-me que desde que ele lá está que já entrevistou no escritório dele umas 10 secretárias, ainda que a secretária dele seja a mesma desde 2005. Encontrei-o na pausa para o café, que ele estava a fumar um cigarro e ele disse-me que o segredo em ter sucesso com as mulheres é como o segredo para deixar de fumar: toda a gente sabe qual é mas é tão difícil de conseguir que uma pessoa passado algumas tentativas desiste de vez. Perguntei ao meu patrão o que é que achava mais complicado, a vida ou as moças, e ele disse-me que eram as moças porque se não existissem moças a vida era muito mais simples. Fiquei a pensar nisso por um bocado e não concordei com o meu patrão. Além da Vera, na Contabilidade trabalham lá mais 5 moças e o Sr. Matos. Depois tem a Xana na cantina e as empregadas de limpeza são todas mulheres. Sem mulheres, ia gastar um dinheirão a ir almoçar todos os dias ao café, que o Sr. André só sabe fazer torradas e tostas mistas.
Depois de tudo isto acabei por tirar uma conclusão: as pessoas é que complicam a vida. O meu tio disse-me uma vez que para se levar uma vida tranquila é preciso não dever dinheiro a ninguém, não ter dormido com a mulher de ninguém importante e não ter agredido nenhum polícia. O Sebastião disse-me que que para se levar uma vida tranquila é preciso ter-se um sistema para se garantir que se fechou o carro e que se desligou o gás. Isso não me ajudou em nada com as minhas dúvidas perante a Vera, mas lembrou-me que a minha mãe às vezes se lembra de ligar o gás para não gastar luz, porque o gás é mais barato que a luz. O Venâncio disse-me que a vida deve ser vivida como uma nota de 5€: é simples, muita gente não lhe dá o devido valor, mas é valiosa e quando nos inteiramos, já gastamos os 5€ em coisas fúteis. Depois deste conselho do Venâncio, decidi mandar uma mensagem à Vera mas não consegui porque não tinha saldo. Só depois de sair da fábrica é que fui carregar o telemóvel, com uns valiosos 5€. Valiosos porque foi à custa deles que consegui mandar mensagem à Vera da contabilidade.
P.S.: A Vera respondeu-me pouco depois de lhe ter mandado mensagem. Disse-me que hoje o dia na Contabilidade tinha sido caótico e que ela nem saiu do gabinete para ir almoçar, que comeu um chocolate da máquina. Perguntei-lhe que chocolate e ela disse-me que gostava de estar comigo hoje à noite. Eu fiquei contente pelo interesse dela em estar comigo quando podia muito bem ficar em casa a jogar Candy Crush no telemóvel, que eu sei bem como ela gosta disso, mas fiquei sem saber que chocolate é que ela comeu. É que uma vez comi um Snickers e aquilo deu-me bem para uma tarde inteira, mas já houve um dia em que comi um Kit Kat e passados vinte minutos estava a comer uma torrada. Certo é que fiquei a pensar se ela tinha comido um Kit Kat e passado fome o dia todo ou se tinha comido um Snickers e tinha ficado bem o resto do dia. Percebi que a Vera é a minha nota de 5€ que eu vou guardar na minha carteira e só gastar quando for mesmo necessário. E quando digo carteira, digo o meu coração, foi uma metáfora. Se eu tivesse aprendido isto na escola, as minhas composições nos testes de Português davam para eu subir para o 4.
quarta-feira, 2 de julho de 2014
Julho é o meu mês preferido mesmo que o Natal seja em Dezembro
Adoro Julho. É o meu mês preferido, mesmo que o Natal seja em Dezembro e isso me deixe um bocado na dúvida. No entanto, se fosse a fazer uma luta entre Julho e Dezembro ganhava Julho, por isso, Julho é o meu mês preferido. Em Julho vai muita gente de férias lá na fábrica, porque querem aproveitar o calor. Por mim tudo bem, eu também aproveito que está calor e menos gente e assim já não almoço todo transpirado na cantina. Além disso, como há menos gente, a fila é mais pequena e consigo ainda arranjar os melhores bolos, em vez de ficar com os jesuítas ou ser obrigado a tirar uma peça de fruta. Às vezes apetece-me fruta, mas sempre que vejo um bispo nem penso duas vezes. Quer dizer, não pensava duas vezes, agora tenho mesmo que pensar, porque a Xana da cantina ainda está chateada comigo e agora nunca me deixa tirar uma peça de fruta e uma sobremesa, só me deixa tirar uma. Por isso, tenho mesmo de pensar duas vezes, mesmo quando ainda estão lá bispos.
A sorte é que, ultimamente, tenho almoçado com a Vera da Contabilidade e ela é daquelas moças que come pouquinho e então eu acabo por comer metade do prato dela e já nem preciso de comer uma peça de fruta. A Xana, na última vez que me dirigiu a palavra, disse-me que se eu a escolhesse podia comer tudo, não era só metade. Depois disso, agora só fala comigo para me perguntar «então o que vai ser?» e para me avisar «ou é peça de fruta ou sobremesa, não pode ser as duas». O Venâncio sempre me disse que as moças mais perigosas são aquelas que falam pouco, porque depois quando falam é para nos atirar à cara, de uma só vez, tudo aquilo que fizemos de mal. Por me lembrar disso, estou sempre a perguntar à Vera se ela não tem nada para me dizer mas ela diz-me sempre que ainda não é a altura, que é muito cedo e para eu não a pressionar. Por estar mesmo a ver que a Vera é daquelas que quando fala é logo para dizer tudo de uma assentada fui perguntar ao Venâncio o que é que ele faria na minha situação. O Venâncio disse-me que as moças são como os carros: não podemos tentar abrir um Ford Escort com a chave de um Opel Corsa, que além de não dar, vai provocar desgaste e insatisfação até que acabamos por desistir sem sabermos que estávamos apenas a tentar da maneira errada. Depois disse-me que uma vez lhe partiram o vidro do Ford Escort para lhe roubar uma gabardina que ele lá tinha e que quando chegou ao carro e viu o vidro partido foi como se lhe tivessem partido um braço.
O facto da Vera falar pouco fez com que quisesse tirar algumas dúvidas sobre moças com as pessoas que me são mais próximas. Perguntei ao Sebastião o que é que ele achava da Vera falar pouco e ele disse-me que isso era normal, que a formação da Vera era com números e as pessoas sabem que quando falam de números com outras, as que estão a ouvir ou adormecem ou não prestam atenção. Podia ser por isso que a Vera não falava tanto, mas perguntei-lhe se isso se aplicava aos sentimentos. O Sebastião disse-me que sempre que vê novelas, em que é só gente a falar de sentimentos, muda de canal passados dois minutos. A conversa com o Sebastião não me ajudou muito, só para perceber que não foi a ele que emprestei as cassetes com episódios do «Rei do Gado». Faltam-me os episódios 26, 38, 39, 40, 66 e 288 e não sei a quem os emprestei. Sei que o meu irmão uma vez chegou a casa de uma festa qualquer e se pôs a ver um episódio do «Rei do Gado» porque pensou que era pornografia, ainda mais quando os começou a ouvir falar em brasileiro. Depois quando viu que era uma novela e que ainda por cima não percebia o enredo por ter pegado num episódio ao calhas, destruiu-me a cassete, acordou-me e obrigou-me a ir alugar-lhe um filme pornográfico. Eu na altura até fui de bom grado, o pior para mim foi mesmo saber que tipo de filmes é que lhe agradavam mais. Trouxe-lhe um drama em que uma moça casava e depois era violada na noite de núpcias.
Quando apanhei o meu tio em casa perguntei-lhe o que é que achava da Vera da Contabilidade não falar muito e se isso era perigoso para mim. O meu tio disse-me que essa era uma boa conversa para ter enquanto o fosse levar a Vila do Conde. Lá lhe dei boleia e mais uma vez, com o meu tio, aprendi imensas coisas. Segundo o meu tio, era bom que a Vera não falasse muito porque a teoria dele é que as moças que falam pouco, na cama berram mais e ele gostava de moças que berrassem na cama. Perguntei ao meu tio se a minha tia costuma berrar com ele e ele disse-me que isso só acontecia quando ele se esquecia de baixar o tampo da sanita. Depois perguntou-me em que bar é que trabalhava essa Vera e quantas bebidas eram precisas para a levar para a cama. Isso não lhe soube responder, mas sei que a Vera gosta de ir sair com as amigas para bares onde só vão mulheres. Acho que o bar se chama «Noite da Mulher» ou uma coisa assim. O meu tio disse-me que das primeiras coisas que se deve saber numa moça é se o marido é polícia ou criminoso e quais as bebidas preferidas. Foi aí que descobri que não sabia nada sobre a Vera a não ser onde é que ela trabalhava, o nome e que gosta de jogar Candy Crush no telemóvel.
Liguei ao Gary para saber a opinião dele mas não me atendeu. Depois mandou-me uma mensagem a dizer que estava no Tadjiquistão e que não podia atender porque como é fora da União Europeia não há roaming e paga-se uma fortuna em chamadas e que se não tiver dinheiro para pagar as chamadas lhe tiram um rim. Nem o quis incomodar mais porque nem sabia quantas horas a mais eram no Tadjiquistão. Sei é que comentei com o Venâncio que sentia que não conhecia nada da Vera da Contabilidade, mas que sabia que gostava dela. O Venâncio disse-me que não havia nada mais puro que os sentimentos, a não ser a cocaína afegã, mas que ninguém ia preso por ter sentimentos puros no bolso. Perguntei-lhe se às vezes os sentimentos puros não eram uma prisão e o Venâncio disse-me que na vida não havia maior prisão que a da solidão e que os sentimentos por outra pessoa eram a chave das nossas próprias algemas. Depois disse-me que a prisão de ventre também era complicada mas que, com ele, os kiwis acabavam logo com isso. Será que a Vera da Contabilidade também gosta de kiwis? Tenho a chave das minhas algemas na mão mas não sei nada sobre elas. Isto fui eu que disse ao Venâncio e ele perguntou-me se podia dizer isso a moças que ele conhecesse na Internet como se tivesse sido ele a inventar.
P.S.: Agora que escrevo isto, acho que as cassetes do «Rei do Gado» que me faltam estão com o Teófilo. Ele andou este tempo todo ausente e longe daqui para ver se eu me esquecia e agora voltou a fingir que não tinha nada e que está de consciência tranquila. Lembrei-me disso porque quando fui levar o meu tio a Vila do Conde ele disse-me que a melhor técnica para alguém se esquecer que nos emprestou dinheiro é estarmos todos os dias com ele nos primeiros tempos, depois afastamo-nos progressivamente até não lhe dizermos nada durante para aí meio ano. Depois reaparecemos na vida dessa pessoa de repente só para dizermos que estamos vivos e voltamos a desaparecer, mas sem nunca pagar. Por isso, acho que foi isto que o Teófilo fez! No entanto, este P.S. não servia só para isso. No sábado fui sair com a Vera e ela apresentou-me a duas amigas dela. Segundo o Venâncio, isso é sinal que ela quer que as amigas dela me conheçam e saibam quem eu sou, mas segundo o meu tio é sinal de que ela quer envolver as amigas em fantasias sexuais desde que pague um preço justo. Como sinto que não conheço a Vera, não sei o que significou ela ter-me apresentado às amigas. Se quiserem, ajudem-me a perceber e escrevam nos comentários o que acham. Obrigado.
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