No outro dia a Paulinha disse-me que tinha sonhado comigo. Por mim tudo bem, o problema foi quando ela me disse que não se lembrava do que eu tinha feito no sonho mas que ela tinha ficado chateada comigo. Isso também não me preocupou muito, afinal de contas, ela só tinha ficado chateada por causa de uma opinião dela, não de algo que aconteceu realmente. O pior foi quando eu próprio, umas noites depois, sonhei que o Rebelo fazia uma promoção na mercearia de cortar 40% ao preço das pêras, eu ia lá, trazia maçãs, trazia laranjas, trazia limões, pêssegos, morangos e kiwis mas esquecia-me de trazer as pêras. Depois voltava lá, mas quando chegava o Rebelo já tinha vendido as pêras todas e já não havia promoção. Nessa noite, arrependi-me de ter sonhado.
De resto, os sonhos nunca me serviram para grande coisa. Nunca sonhei que tinha um berbequim, nunca sonhei que tinha sido eleito o melhor lateral esquerdo do campeonato do Cazaquistão, nunca sonhei que sabia fazer polvo à lagareiro sem ter que ler as instruções e sem ter que ligar à minha avó e também nunca sonhei que tinha sido eleito democraticamente o Presidente da Associação dos vinhos de Alijó. Ainda que uma vez tenha sonhado que era um ditador de um país, não percebi bem qual, mas sei que quando ia à praia tinha para aí 5 escravos a abanarem-me folhas de palmeira enquanto eu bebia cerveja e era júri de uma competição de bikinis. Deve ter sido o meu melhor sonho de sempre sem envolver marisco.
Lembro-me que quando fiz aquele texto sobre os meus melhores sonhos houve gente que disse que eu parecia maluco (Paulinha). Houve outras pessoas que me disseram que tinham achado piada aos meus sonhos mas que detestavam sonhar (Tolentino), outra que me disse que a sua maior desilusão na vida era nunca ter tido um sonho erótico (Jorge Abel) e houve outro que não me disse nada porque embora tenha regressado aqui ao blog, às vezes parece que é 96 e como paga as mensagens para 91 não me diz nada (Teófilo). Mas pronto, agora vejam lá qual é a semelhança entre os sonhos e o alcoolismo:
- As outras pessoas contam-te histórias que tu fizeste (seja nos sonhos ou nas festas de anos dessas pessoas) que a ti te parecem surreais e não tens qualquer consciência e/ou memória de as teres feito. E o pior é que na maior parte delas ou fizeste cagada ou figuras tristes;
- Quando contas o que se passou contigo aos outros que não estiveram lá, as histórias soam todas a mentira, parecem confusas, desconexas e até tu, quando estás a contar, parece que não fazem qualquer sentido e que falta ali qualquer coisa que não consegues explicar;
- Envolves-te com moças que não conheces de lado nenhum e que na altura te parecem ser muito boas no que fazem e serem daquelas moças que qualquer um ia ficar com inveja de ti, mas no dia a seguir já duvidas que fossem realmente assim tão boas e até tens medo de saber quem era mesmo a moça com quem te envolveste;
- Se alguém te interromper a meio de uma situação em que estás com uma (ou mais, em alguns casos) moça sentes mais embaraço de toda a situação do que orgulho;
- Em situações mais confusas e que te fogem claramente ao controlo, podes ter situação desconfortáveis para ti em que tens uma interacção mais próxima do que seria desejável com outro homem (no caso das moças é ao contrário);
- Alguns dos teus valores e princípios são completamente atropelados em nome da satisfação de caprichos pessoais e da obtenção de prazer próprio;
- Em ambos os contextos acabas por te sair muito melhor do que quando estás sóbrio e consciente em determinadas tarefas e/ou situações específicas, seja pela noção que tens da situação, seja por realmente te teres saído bem;
- Em ambas as situações, quase nada do que tu faças está ao alcance e ao controlo da tua consciência, respondes quase sempre por impulsos e pela satisfação das tuas necessidades;
- Quem passa por ti e te apanha ou a sonhar ou alcoolizado das duas uma: ou se ri do que vê e/ou ouve e no dia a seguir conta-te para gozar contigo mas num ambiente descontraído ou fazes/dizes alguma coisa que vai deixar o outro completamente desconfortável e a pensar se deve abordar o assunto na próxima vez que te vir ou falar contigo.
Este texto é sobre a semelhança mas, como é hábito, no parágrafo de conclusão vou ter de mencionar aquilo em que os sonhos e o alcoolismo diferem. Nos sonhos, estou frequentemente rodeado de marisco, seja em situações agradáveis onde eles me proclamam o representante deles no Parlamento dos Oceanos, seja em situações menos agradáveis onde eu e uma garoupa somos assaltados por uma lampreia. No entanto, quando estou alcoolizado nunca me apetece comer marisco. Nem sequer aqueles patês de creme de sapateira, esses normalmente até como no início de uma noite que vai ser regada a álcool. A Paulinha diz que não me gosta de ver alcoolizado porque falo com toda a gente e confundo o Egipto com um tio dela que se chama Egídio e então estou sempre a chamar Egídio ao país e Egipto ao tio dela. Ainda que Egipto fosse um nome que desse mais pinta e estilo do que Egídio.
P.S.: Alguém mais preocupado com as questões gramaticais e com a correcção da Língua Portuguesa perguntar-me-ia porque é que no título falo de «alcoolismo» e não de «eu, sujeito individualizado e com personalidade própria personalizada» (é uma definição digna de constar na Diciopédia, admitam) estar «alcoolizado». Eu, com a minha sinceridade, posso dizer-vos que optei por «alcoolismo» porque me apeteceu. O blog é meu e eu é que sei os títulos que dou aos meus textos. E se me apetecer até mudo os títulos todos dos textos do Jorge Abel só porque me apetece. Aí sim, iam ver como o blog era meu em vez de se porem para aí a duvidar e a questionar os meus títulos.
Eu sei outra semelhança:
ResponderEliminar- Em ambas as situações acabas a falar sozinho ou a rir-te sozinho. E quando te dizem o que disseste e que te riste sozinho, tu não te lembras de o fazeres nem sabes sequer o que disseste.
- Consegues ter imaginação suficiente para pensar em coisas novas e para acreditar em projetos novos. Depois quando retomas à realidade, ou não te lembras dessas coisas/projetos ou concluis que afinal nao sao assim tao concretizaveis.
Não era só uma? Eu conto duas. Dois tracinhos, duas semelhanças. Se era para fazeres duas fazias dois comentários e em cada um dos comentários dizias assim «eu sei outra semelhança», como se não tivesses feito uma antes. Ou então mudavas logo ao início e dizias «eu sei outras duas semelhanças». Eu pessoalmente optava pela primeira, assim era só fazer «Copiar» e «Colar».
EliminarSabes, eu optei por dizer só uma porque se fosse duas podias não as ler. Podias pensar "ei, são duas. não quero ler". Assim consegui fazer-te ler as duas.
ResponderEliminarHas-de utilizar esta técnica com o Jorge Abel.
E eu não li. Só vi dois tracinhos e vi logo que eram duas semelhanças. Agora confirmaste que eram mesmo e só me deste razão.
EliminarHás-de utilizar esta técnica com quem quer que seja que conheces e que te mostrou este blog.
Vou ponderar essa hipótese. Pode ser que me mostrem outro blog com títulos inquestionáveis.
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