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quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Há quem diga que as emoções e os sentimentos é coisa de moças mas não é bem assim
Nos últimos dias tenho sido inundado de emoções e de situações emocionais. Eu não sabia o que era uma situação emocional, a Vera é que me disse que era uma situação da vida que me causasse emoções fortes. Nunca tinha percebido como as emoções são como os cafés: há as fortes e as fracas, depois há aquelas pessoas que não têm emoções como há cafés que não têm cafeína e há pessoas que gostam de emoções fortes como gostam do café cheio ou gostam de emoções em dose pequena como gostam do café curto. Eu não gosto do café curto, dou um gole e já não há café. Por isso, sempre que vou à máquina que tem lá na fábrica peço um «Café Longo» e aquilo quase que me enche o copo de plástico. Se calhar, por gostar do café longo ou comprido, também sou uma pessoa que gosta das emoções fortes. Ou pelo menos tenho tendência a isso.
Tudo começou quando vinha do trabalho e encontrei o meu antigo barbeiro, o Sr. Romeu. Durante anos fui à barbearia do Sr. Romeu. O que mais adorava no Sr. Romeu é que não precisava de lhe explicar como queria o corte porque ele fazia-me sempre o mesmo. Assim, aproveitava o meu tempo na barbearia para falar com o Sr. Romeu sobre assuntos do dia-a-dia, ainda que ele insistisse vezes demais nos mesmos temas: ou era sobre política, ou sobre futebol ou sobre as pessoas que conhecia no obituário do jornal. Uma vez perguntei ao Sr. Romeu se no obituário do jornal vinham lá as pessoas que tinham morrido no amor e ele disse-me que uma pessoa nunca morre no amor e que, no dia em que morrem no amor, morrem mesmo para a vida. Nessa vez, o Sr. Romeu até me fez lembrar o Venâncio. Fiquei muito contente por ver o Sr. Romeu, não sei é se ele ficou contente por me ver a mim. Quando contei ao Sebastião ele disse-me que era normal que o Sr. Romeu não ficasse contente por me ver porque ele se tinha habituado a receber dinheiro sempre que me via e desta vez isso não aconteceu.
Esse reencontro fez-me pensar noutros reencontros que eu poderia ter. Por exemplo, enquanto trabalhar na fábrica de tintas nunca posso dizer que encontrei o Venâncio na rua porque o vejo todos os dias. E ainda bem. Acho que neste momento, depois da Vera e do Sebastião, a pessoa que menos queria perder na minha vida era o Venâncio. Aprendo com o Venâncio todos os dias e por isso perguntei-lhe o que é que ele achava sobre os afastamentos e os reencontros com as pessoas. O Venâncio disse-me que sempre que se afastava de alguém nunca invalidava um possível reencontro porque a vida dá sempre uma segunda oportunidade. Já o meu tio sempre me disse que nem todas as moças dão uma segunda oportunidade e por isso é que ele quando liga a marcar hora pergunta sempre se tem direito a segunda oportunidade. Gosto da simplicidade com que o meu tio leva a vida dele: pergunta directamente se tem direito a segunda oportunidade, nunca empresta dinheiro a ninguém que não conheça há pelo menos 5 anos e faz sempre a barba antes de ir a uma entrevista de emprego. Às vezes gostava de perguntar à Vera se ela me daria uma segunda oportunidade caso houvesse necessidade disso, mas depois não tenho coragem e não pergunto.
Como está muita gente de férias na fábrica, é mais fácil falar com as pessoas. Até o meu patrão almoçou na cantina esta semana. Aproveitei que o meu patrão é uma pessoa mais vivida, porque não é qualquer pessoa que é dono de uma fábrica de tintas, e perguntei-lhe o que é que achava dos reencontros e se a vida dava segundas oportunidades. O meu patrão disse-me que se a vida não desse uma segunda oportunidade então não valia de nada todas as bebidas que oferece às moças na noite agora que é divorciado. Lembrei-me de dizer ao meu patrão um conselho que o Gary me deu uma vez: nunca oferecer bebidas a uma moça sem antes ter falado com ela, senão é só derreter dinheiro. O meu patrão disse-me que não precisava de falar com uma moça, precisava era de a levar para a cama. Se calhar é isto que distingue os patrões e os empregados: os patrões não têm emoções. Agora que penso, o meu patrão bebe sempre café curto. Aproveitei para falar com a Xana da cantina sobre isto, já que ela estava com pouco trabalho. Ela disse-me que eu agora não queria saber dela, mas se ela me reencontrasse, me levava para casa dela e me ia dar forte e feio. Pelos vistos a Xana da cantina leva os reencontros ainda mais a sério do que eu. Nem sabia que ela era assim tão dada às emoções. Sempre é verdade o que o Venâncio me disse uma vez: uma moça sem emoções, não é uma moça em condições.
Nesse aspecto, a Vera é uma moça em condições apesar da Xana da cantina me dizer que ela é uma porca e uma aproveitadora. Não se pode agradar a todos. Por exemplo, o Venâncio acha que o Candy Crush é um atentado aos jogos e que prefere mil vezes o Freecell, enquanto a Vera adora jogar Candy Crush no telemóvel. Uma vez esperei 25 minutos que a Vera me dissesse se tinha dormido bem porque ela estava a acabar o nível 78 no Candy Crush. A Vera disse-me que a parte que mais a preocupava nos reencontros era o facto de em algum dia se ter afastado da pessoa que reencontrava e se tinha sofrido muito com isso. Eu, pelo menos, já sofri muito com reencontros e ainda hoje sofri outra vez porque falei ao meu irmão sobre ter reencontrado o meu antigo barbeiro e ele me ter dado uma coça porque se lembrou do «Ponto de Encontro» e a música do programa não lhe saía da cabeça. A Vera também não me tem saído da cabeça nestes últimos dias. Mas ao contrário do meu irmão, não me apetece bater em ninguém por causa disso. Se calhar o meu irmão não sabe o que é o amor. E agora estou com aquela música do Alexandre Pires na cabeça, aquela em que ele diz «você não sabe o que é o amor».
P.S.: O Sebastião disse-me que a Vera tem uma amiga dela que trabalha com ela na Contabilidade que é gira e solteira. Eu disse ao Sebastião que não é por trabalhar na mesma secção da Vera que são amigas, até porque eu trabalho na mesma secção do Luís e não sou amigo dele. Aliás, até só falei dele hoje passado este tempo todo que estou lá na fábrica. Mas o Sebastião disse-me que elas eram amigas no Facebook e que as moças só são amigas no Facebook se forem mesmo amigas ou se forem inimigas mortais. Depois, pediu-me para dizer à Vera que ele estava interessado na amiga e se ela podia arranjar uma forma de eles os dois se encontrarem. Não sei se deva fazer isso. A Vera está habituada a mexer em números e a arranjar os números e mexer com números e com pessoas não é a mesma coisa. A não ser se for para pessoas como o meu patrão, sem emoções e que gostam de cafés curtos. Se a amiga da Vera estiver interessada no Sebastião então eles que se encontrem, como eu encontrei a Vera ou como reencontrei o Sr. Romeu.
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Um dia tive um reencontro num parque de estacionamento.
ResponderEliminarNa altura não prestei muita atenção, mas agora reconheço que me mudou a vida.
Se calhar o (re)encontro entre o Sebastião e a amiga da Vera também será assim.
Sabes quem é que eu acho que também se merecia encontrar? O teu tio e a Xana. Afinal de contas, parecem-me que têm muitos pontos em comum.
Eu acho que os reencontros são casuais e por isso é que as pessoas ficam contentes por reencontrar a outra, como eu fiquei por reencontrar o Sr. Romeu. Agora, se eu tivesse combinado com o Sr. Romeu era um encontro e o meu tio sempre me disse para me meter nas drogas, para cometer crimes mas para nunca ter encontros com moços.
EliminarNão sei se o meu tio e a Xana se iam dar assim tão bem porque o meu tio diz que as moças têm de cozinhar bem e ser submissas no sexo e eu da Xana só sei que ela cozinha bem. Por isso, os outros 50% é tudo dúvidas e desconhecimento.
Marcares encontros com moços não tem que ser mau. Podes sempre marcar um encontro para cometeres um crime, fumar droga ou falar sobre moças.
ResponderEliminarNunca tiveste vontade de marcar um encontro com o Venâncio fora da fábrica?
Não haverá uma relação entre cozinhar bem e ser-se submisso? Uma vez conheci uma moça que sabia cozinhar bem e adorava que o moço a amarrasse à cama durante o sexo. E conheci uma moça que não sabia cozinhar e que era a mestre do sexo. E, pelo que me dizes da Xana, parece-me que ela não é uma moça difícil.
Confirmo que a Xana é uma moça bastante fácil.
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