sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A diferença entre ser um boi e um moço normal


No outro dia falei sobre bois almiscarados. Não sei bem porquê, acho que apenas porque me lembrei. Depois de ter publicado o texto fui ao google ver se existiam realmente ou se tinha sido mais um delírio alucinatório. Mas existem mesmo. São do Alasca, lá dos gelos. Era uma sugestão que eu deixava às moças que usam o termo 'boi' para nos caracterizarem: se formos 'bois' por sermos insensíveis e frios, chamem-nos 'bois almiscarados'. Dá mais pinta.

Além disso, este post pode aproximar este blog daqueles que são escritos por moças carregadas de desalento e fúria em relação aos moços no geral e só escrevem sobre os porcos que nós somos, os bois que nós fomos e os carneiros que continuaremos a ser. Portanto, muitos textos escritos sobre o reino animal. E eu a pensar que era só aqui que se reflectia sobre os nomes dos pássaros e sobre cabras. Nesse aspecto, as moças estão-me a dar grande avanço. Sim, a mim, porque o Jorge Abel perdeu o gás a escrever aqui e o Teófilo agora só quer ler os comentários, que de repente começaram a surgir em massa.

Por isso tenho que recuperar o tempo perdido e decidi seguir essa tendência de falar de animais. Assim, já que falei em bois almiscarados na outra vez, nada melhor que começar por falar nos bois. Se houve coisa que aprendi na escola foi que o gado mais numeroso do mundo é o gado bovino. Também aprendi que não se deve bater nos contínuos e não se pode ir para as aulas bêbado. Nisso as faculdades são muito melhores, que uma pessoa pode fazer o que quiser lá dentro desde que pague as propinas. Sendo assim, vou então partilhar com vocês os quatro, as diferenças entre ser um boi e ser um moço normal:


  • Começo pelo mais fundamental: o propósito da vida do boi é chegar vivo à época do cio e ter relações sexuais de forma desenfreada nessa altura. Enquanto isso, um moço normal pretende ser feliz todos os dias. Claro que também aspira a ter relações sexuais desenfreadas na época do cio (que neste caso é durante todo o ano), mas essencialmente procura ser feliz;

  • O boi tem uma alimentação à base de ervas e da ração (que eu nunca percebi bem o que seja). Um moço normal tem uma alimentação variada, podendo ir desde as proteínas e os hidratos de carbono aos Burger Kings e Telepizzas. Depois há aqueles moços que se alimentam à base de soja e tofu, mas isso não são moços normais;

  • Já que falamos na alimentação, a carne do boi é bastante tenra e é perfeita para bifes. No que toca a um moço normal, o único que pode dizer ao que sabe a carne deste e fazer bifes com ela é um canibal que, por sua vez, não é um moço normal, mas também não é um boi;

  • Um boi nunca se desloca para um descampado para comer um moço normal, mas um moço normal desloca-se ocasionalmente para um restaurante para comer um boi;

  • Aqui vou dizer a primeira vantagem dos bois: o boi tem a sua variação em peixe, a qual se chama (atenção que vem aí alguém que devia levar o prémio da criatividade!) o peixe-boi. O espécime marítimo do moço normal seria o Aqua Man, mas infelizmente esse é só um personagem de animação. Claro que se houvesse uma espécie marítima de moço normal, o génio da criatividade ia dar-lhe o nome de 'Homem-Peixe';

  • O boi orgulha-se dos seus chifres afiados, que alguns podem chamar cornos, e utiliza-os mesmo para seduzir as fêmeas. Para um moço normal ter cornos é das piores sensações do mundo e é motivo para se ser enxovalhado pelos amigos, pelos inimigos e pelos desconhecidos que descobriram esse facto através dos amigos ou dos inimigos desse moço;

  • Um boi procura a sua sorte junto das vacas. Um moço normal tenta a sua sorte junto a qualquer moça, independentemente de ser vaca ou não (ainda que tente com mais frequência junto das vacas, que é algo que nos aproxima dos bois);

  • Um boi é um animal solitário que não tem amigos, mas apenas rivais para a procriação. Um moço normal consegue ter amigos, só não consegue é ter amigas;

  • Ainda sobre o tema da amizade, um boi também não tem melhores amigos, só companheiros de pasto. Um moço normal tem amigos, que são todos aqueles que não são seus companheiros de pasto. Os companheiros de pasto de um moço normal acabam por se tornar seus rivais; 

  • O trabalho de um boi é comer e engordar para depois dar de comer aos outros (nomeadamente da sua própria carne). Um moço normal trabalha para comer e para que outros possam comer à sua custa (que pode ser o filho, os pais ou a namorada);

  • Um boi não sabe escrever. Um moço normal escreve mensagens com K's e X's ou então escreve num blog sob o nome de Jorge Abel, onde só diz porcaria;

  • A sociedade chama 'macho' ao boi como algo distintivo e revelador da sua posição dominante. A sociedade chama 'macho' a um moço normal que tenha convicções fortes sobre a sua posição dominante, com as quais a sociedade discorda;

  • Nunca nenhum boi passou por um moço normal alguma vez mas 95% dos moços normais já passaram por bois em alguma ocasião da sua vida.




Perguntam então vocês se um moço comido do cérebro pode ser considerado normal ou se pode ser considerado um boi. Isso depende muito do ponto de vista. Nunca comi erva, nunca tive relações sexuais com nenhuma vaca (embora já tenha saído com algumas cabras) e nunca interpretei o reclame da Milka como pornografia. Portanto, não, não me considero um boi. Mas também não me considero um moço normal, principalmente porque não tenho amigos, não trabalho e tenho um blog. Se bem que depois de tudo isto comece mesmo a considerar se não é melhor comprar uns cornos e fazer vida de boi ...




P.S.: A melhor carne de boi vem do Brasil ou pode ser encontrada em restaurantes brasileiros. Aqui, não há diferença entre um boi e ser um moço normal, já que a melhor carne também é importada do Brasil e está disponível num daqueles bares que olhas lá para dentro e nunca vês lá ninguém mas estão sempre BMW's e Audis estacionados à porta.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Os meus amigos objectos


Já alguma vez pensaram em como seria fenomenal se os objectos da nossa casa falassem? Aposto que não. E se alguém alguma vez pensou nisso seriamente, mande para o meu e-mail a candidatura a colaborador do blog, que o Teófilo nunca mais faz o seu regresso e eu tenho-me sentido sozinho. Com a candidatura mande uma fotografia tipo passe se for moço e uma fotografia corpo inteiro se for moça. Se algum moço mandar fotografia corpo inteiro não me responsabilizo com o que o Teófilo fizer à fotografia.

Mas adiante, devia ser espectacular se alguns objectos pudessem falar e comunicar connosco sem nós parecermos candidatos perfeitos à ala psiquiátrica do novo asilo que abriu na cidade. Claro que aí desapareceriam expressões como «as paredes têm ouvidos» porque seria tão banal como dizer «os porcos têm focinho» ou «o meu tio tem osteoporose». Eram factos que ninguém queria saber, simplesmente.

Mas então eu pus-me a pensar. Que objectos comunicariam connosco? E que personalidade e características teriam? Pensei e decidi partilhar com vocês os quatro (que, ocasionalmente passaram a cinco, tendo em conta que um ex-amigo meu, agora novamente amigo, decidiu voltar a vir aqui e a redimir-se de não ter cá posto os pés durante 5 meses) as reflexões a que cheguei:


  • Móveis: 'Deixa-me levar-te para minha casa e montar-te'. Provavelmente seria uma primeira impressão marcante. Os móveis são como aquela moça que conheces na noite e que acede facilmente a qualquer pedido que lhe faças, nomeadamente de cariz sexual. Como os móveis, depois de a montares, exibes como um troféu. (Infelizmente nunca me aconteceu, mas como a fornada de moças que está a chegar agora aos 18 é muito mais estúpida e fácil, pode ser que tenha uma história para vos contar daqui a uns meses ...);

  • Frigorífico: 'O que é que tens aí para mim que me possa agradar neste momento?'. Está fácil de ver que o frigorífico é o dealer da tua casa. Se tem o que queres, levas, se não tem, fica com as coisas para ele até alguém levar. E normalmente acabas por sair satisfeito com o teu dealer, embora te custe dinheiro manter a vossa relação;

  • Almofada: 'Estou aqui para ti'. A almofada é como aquela moça de quem só te lembras quando precisas e que, apesar de querer mais que isso, fazes dela a melhor amiga e a confidente das horas más. Claro que nunca passa disso e, se alguma vez ultrapassar os limites de 'amiga' é naquelas noites em que tens mais álcool no sangue do que vergonha na cara;

  • Tapete: 'Nada do que faças me irá magoar'. O tapete faz-me lembrar aqueles moços que fazem tudo para agradar a alguém que lhe é superior, que pode ser desde o chefe, ao amigo popular ou à moça que quer impressionar. Ser tapete envolve ser calcado a toda a hora, que ninguém se importe se o está a magoar, a que sacudam o lixo para cima dele ou a ser transportado por um marroquino para ser vendido a outros. Este último caso é mais grave, mas ao menos dá dinheiro a alguém;

  • Cobertor: 'Junta-te a mim'. Pensem comigo: no Inverno precisamos do cobertor porque nos mantém quentinhos, mas no Verão encostamo-lo para um canto. Portanto, o cobertor é aquela moça (ou moço, é mais frequente fazerem-nos isso a nós mas só estou aqui a tentar manter uma postura de optimismo e passar a imagem que sou aquele machão que faz das moças um fantoche. Não sou, mas isso não é nenhuma novidade) que está contigo durante o ano todo e te satisfaz, mas que facilmente é deixada para segundo plano para abrirmos alas às 'paixões de Verão';

  • Colher: 'Não te assustes com o que te vou pedir, mas ...'. A colher é aquela pessoa que vem para ti sempre com pedidos extravagantes. É aquele objecto que, se falasse, diria algo como 'põe-me na tua boca e lambe-me toda, vá lá ...', o que equivale a um amigo te pedir para ires com ele a um bar gay só para verem como é o ambiente ou uma moça te pedir para dares o teu número de telemóvel à amiga gorda dela que está interessada em ti mas é muito tímida;

  • Meias: 'Ninguém valoriza aquilo que eu faço'. As meias são como aquelas pessoas que têm um trabalho mesmo xunga, mesmo duro, que mais ninguém quer mas que no entanto nunca são vistos como aqueles que têm o pior trabalho do mundo (embora o seja, ninguém o reconhece). No caso das meias, terão sempre que levar com o discurso de 'ser meia deve ser mesmo xunga, mas ser cueca é capaz de ser pior'. Também acham que ser cueca é pior que ser meia? Imaginem um trabalho em que tinham que estar num espaço fechado durante várias horas, com um odor que pode variar entre o ligeiramente suportável e o acentuadamente tóxico e que, além disso, trabalham com o vosso irmão gémeo e se ele fugir ou desaparecer do mapa há 75% de hipótese de que vocês sejam deitados para o caixote do lixo? Não há nada pior que ser meia;

  • Faca: 'Tás-te a armar oh mano?'. Devia ser a frase típica de uma faca. A faca é uma espécie de mauzão que ameaça os outros mas que sabe que a qualquer momento há-de surgir sempre alguma ameaça maior que ela. O pior pesadelo da faca é o canivete e uma faca sabe que o seu reinado de terror acaba quando surge em cena um canivete. Claro que nem todas as facas são assim. Aquelas facas de peixe que não cortam nada são facas que cresceram nos bairros ricos da cidade e que frequentaram as melhores universidades e conseguiram fugir à vida de gandulo;

  • Computador: 'Comigo o tempo passa a voar'. Aquela pessoa com quem passas imenso tempo, que faz com que todas as outras pessoas o invejem e te digam que não é a forma mais aconselhável e produtiva para passares o tempo. Só que o computador é daquelas moças que te consegue hipnotizar e levar-te a acreditar que não haveria melhor maneira de passar o tempo do que com ela, levando-te mesmo a interpretar que o discurso dos outros é mesmo por inveja. Claro que no fim de tudo, quando te vês livre do computador por uns dias compreendes que os outros tinham razão e prometes que nunca mais irás fazer o mesmo. Mal te apanhas com computador outra vez, cometes os mesmos erros que cometeste anteriormente.

  • Telemóvel: 'Não te consegues ver livre de mim'. É aquele moço que é o teu amigo verdadeiro, companheiro, que graças a ele falas com imensas pessoas e aparentemente só te dá vantagens. Mas também é aquele moço que é capaz de te importunar nos piores momentos, seja quando estás com uma moça, seja quando estás num teste ou quando estás a contar trocos e começa a tocar, desconcentras-te e tens que começar tudo de novo.

  • Jarras de porcelana: 'Hey, olha para mim, estou aqui'. As jarras de porcelana são como aqueles moços que nunca ninguém percebeu ao certo para que servem mas que te saltam à vista na primeira vez que os vês. Depois, quando te habituas a vê-los, às vezes nem notas que eles estão ali, passa um tempo que nem te lembravas de que eles existiam. Assim, são aqueles moços do aparato mas a quem ninguém passa cartão (tirando aquela primeira vez em que os vêem ou naquela que parece que é a primeira vez porque se esqueceram que já tinha havido uma primeira vez e olham, mas depois lembram-se «afinal já tinha visto!»); 

  • Persianas: 'Finge que não se passa nada'. As persianas são como aquelas moças que aparecem com um olho pisado e dizem que foram contra uma porta. Ou como aqueles moços que foram traídos pela namorada, foi ela que acabou o namoro e dizem que acabaram com ela porque já não a podia aturar. Tal como esses moços, as persianas permitem que escondas a tua posição mas que, mesmo assim, através delas, consigas observar o que se passa à tua beira. Claro que sempre que revelas a tua posição é um barulhão. Já alguma vez vos apeteceu matar o vizinho sem ser por ele estar a usar um berbequim ou a partir tijoleira a um domingo de manhã? A mim já, quando se põe a abrir persianas às 5 da manhã.



Para terminar, a melhor metáfora de sempre que me surgiu agora mesmo. O autoclismo é talvez o elemento mais indispensável numa casa e também o seria se fosse uma pessoa. Quem me dera ter um amigo autoclismo, que permitisse que eu lá depositasse toda a minha merda e me livrasse dela para bem longe só por carregar num botão. Pensando ainda mais à frente, ter um autoclismo na nossa vida seria sinónimo de felicidade.



P.S.: Não liguem aquela parte de eu dizer que me apetece matar o meu vizinho. Estava a brincar. Aquela notícia de que um habitante de um prédio foi morto com o seu próprio martelo, que estava a utilizar numa manhã de domingo, ao serem-lhe pregados 40 pregos no peito a sangue frio não tem nada a ver comigo, não se ponham aí com teorias da conspiração. Só me lembrei de dizer isto de matar o meu vizinho como quem se lembra de dizer que o melhor sítio para comprar batatas fritas é numa mercearia, embora batatas fritas não seja considerado uma mercearia e devesse ser mais facilmente adquirido num super-mercado ou num super super-mercado.


domingo, 26 de agosto de 2012

A essência da fruta


Não, não vou fazer publicidade a nenhum sumo. Nem vou dizer de que fruto gosto mais ou quantas vezes por dia como fruta. Vou sim, tal como fiz com os peixes e com os pássaros, dizer-vos o que significa verdadeiramente o nome das frutas. Ando sem originalidade eu sei, mas pelos vistos estas coisas fazem os nossos 4 assíduos leitores rir, então faço-lhes a vontade. Sempre me sai mais barato do que lhes oferecer Bollycaos tal como tinha prometido.

Outra coisa que me fez lembrar de frutas foi o facto de ser uma das coisas que fazemos diariamente e que também podemos encontrar em montões de filmes pornográficos. Seja o acto de comer uma banana como aquelas moças fazem nos filmes, seja partilhar morangos com uma moça (ou com um moço, sei que também há quem o faça), seja fazer bouquets de fruta quando não se tem nada que fazer (se bem que quem faça isto revele bem as suas tendências sexuais). Poucas coisas que acontecem em filmes pornográficos são tão encontradas na realidade como a nossa relação com a fruta (ainda que algumas pessoas me tentem convencer que os jardineiros conseguem mesmo encavar aquelas mulheres ricas que têm o marido fora).

Assim, explicado que está o porquê de me focar na fruta (ainda que o segundo parágrafo seja um bocado desculpa para a falta de originalidade da minha parte, em fazer o mesmo às frutas que fiz para os peixes e para os pássaros), vou mostrar a outra interpretação que podes retirar de alguns frutos e enquadrá-los numa interpretação desta nossa realidade neo-clássica:


  • Maçã: toda a gente já comeu maçã. É aquele tipo de moça fácil, acessível, que está mesmo à mão de semear. Mesmo assim há vários tipos de maçã, as maçãs não são todas iguais, não generalizemos. Há aquela que mesmo sendo mação é mais valiosa (Golden), há as mais rosadinhas, as mais verdes e aquelas que se demoras muito tempo a comê-las ficam todas secas;

  • Pêra: é aquele moço normalíssimo, o mais banal do mundo. Daquele tipo de pessoas que não tens outra forma de o definir além de «é um moço porreiro». Não há mais nada que sobressaia, nem positivo nem negativo. É «pêra», nada mais que isso. Não levanta grandes ondas, é low-profile, o que faz dele apenas e só «um moço porreiro»;

  • Kiwi: Aquele teu amigo, que é teu amigo, mas que come com os cachaços todos e é o que leva sempre com as consequências das brincadeiras que o grupo prepara. Apesar de ser um moço porreiro (ainda que mais um bocadinho que a pêra porque tens outras características a juntar a essa), sempre que se apresenta, as pessoas gozam com ele por causa do nome. É como aqueles moços que são excelentes pessoas mas se chamam Gualdino;

  • Damasco: é aquele tipo de gajo que acha que é importante só porque tem um nome de cidade ou país. Tipo aqueles que acham que é uma coisa extraordinária chamar-se Fernando Porto, Sara Lisboa, António Roma, Francisco Holanda ou Nuno Quirguistão. Este último não sei se existe, mas dava mais pinta que os outros todos;

  • Banana: olha para a banana e vejo aquele típico moço alto, meio curvado, com cara de tone, em 60% dos casos com óculos e que tem uma voz mesmo à ... banana. Toda a gente faz dele uma cabaça, todos gozam com ele e ele nunca responde e ainda se ri para disfarçar que está a ficar envergonhado. A banana não é como o kiwi, que a esse gozam por ele fazer parte do grupo, a banana nunca faz parte do grupo, embora pense ou deseje intensamente que sim;

  • Amora: é daquelas moças que tu desejas: linda, com um corpo escultural e com cabeça. Mas a maior parte delas só tem as duas primeiras características e as raras que conseguem conjugar as três coisas são quase inacessíveis e estão rodeadas por silvas impenetráveis. Magoas-te mais para chegar até essas amoras do que a felicidade que vais ter com elas quando as atingires;

  • Papaia: aquele fruto exótico que várias pessoas querem experimentar e outras já experimentaram e recomendam. Na vida real são como aqueles moços que anseiam envolver-se com uma asiática ou aquelas moças que anseiam envolver-se com um preto ou vice-versa. Ou então que já se envolveram e recomendam a quem ainda não o fez;

  • Melancia: aquela moça histérica, que fala muito alto e sempre com uma voz estridente. Podes estar a 40 metros que ouves perfeitamente o que está a dizer. Tem sempre reacções claramente excessivas face ao que lhe acontece e quando parece que alguém a está a arrancar uma perna sem anestesia, só lhe estão a fazer uma trança no cabelo. Ocasionalmente tem alguma procura por parte do sexo oposto, mas que acaba a partir do momento em que esta característica se torna demasiado saliente;

  • Meloa: aquela amiga tímida da melancia, que está sempre com ela mas nunca ninguém ouviu a sua voz ou lhe conheceu um ponto de vista. Aparece em 90% das fotografias da melancia e anda sempre com ela, é considerada pela melancia como a «minha grande melhor amiga». Nunca se lhe conheceu qualquer namorado ou relacionamento amoroso, embora a melancia a tente impingir, a todo o custo, moços que conhece;

  • Melão: o típico moço que é afectado pela calvície, possuindo umas entradas de respeito. Normalmente tem a testa reluzente, deixando a dúvida se é brilho natural ou se lhe passa algum tipo de lustro ou brilhantina, como se ainda tivesse cabelo. Normalmente trabalha em profissões liberais, do tipo advogado ou corrector de seguros e nas frases utiliza sempre conectores como «consequentemente», «visto que», «efectivamente» ou «se bem que»;

  • Pêssego: aquele amigo das mocas, com quem não partilhas sentimentos mas sim noites de farra. Sempre que estás com ele é impossível que bebas água, segundo ele, beber água faz mal. Com ele acabas sempre por apanhar as maiores fardas, que sempre juraste que nunca seria possível apanhares, fazes as piores figuras e, claro, tiram-te as fotografias mais comprometedoras da tua vida. Sempre que sais com ele, apanhas uma ressaca enorme e juras que nunca mais te metes noutra. Mas passados 3 ou 4 dias já estás a sair com ele outra vez e a fazer o mesmo.

Pessoalmente, já fui acusado pelo Teófilo de ser o pêssego dele. Não sei se ele com isto estava a tentar levar-me para a cama ou se estava a dizer que eu era o amigo das mocas dele. Fica um bocado confuso um moço chamar pêssego a outro, ainda que seja mais confuso manter o contacto visual com um moço enquanto se come uma banana. Realmente, sempre que estou a comer uma banana olho para as paredes, para a televisão ou para os meus braços, para não correr o risco de fazer contacto visual com algum moço, ainda que seja sem querer.



P.S.: Não falei de laranja de forma propositada. Há um desenho animado de uma laranja que chateia os outros todos que acabam feitos em picadinho ou em sumo para gáudio dessa laranja. As laranjas já têm protagonismo que chegue à custa dessa série. E pensando bem a laranja só serve mesmo para fazer sumos ou para acompanhar com o cabrito e é só mesmo para acompanhar, ninguém come a laranja que vem com o cabrito. Basicamente, as laranjas são o Jorge Abel da fruta: falam, falam, falam, pensam que têm protagonismo, mas no fundo não servem para grande coisa.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Os nomes dos pássaros


Pássaros. Depois dos peixes e das cabras eis a terceira classe animal de que vamos falar aqui no blog. Assim sendo, os ... O quê? Nunca falei de cabras? Falei, pois. Naquela vez, naquele post, falei de cabras. Aliás, estou sempre a falar de cabras no dia-a-dia. Houve uma vez que uma cabra aproveitou que eu disse que pagava o que ela consumisse no café, durante o nosso encontro, e pediu um Bailleys. Então já não falei nisso? Claro que falei de cabras ...

Mas adiante. Quando falei às pessoas que ia escrever sobre pássaros perguntaram-me muita coisa. Primeiro perguntaram-me se ia chover amanhã. Depois perguntaram-me se eu tinha algumas galochas de tamanho 43 que não estivesse a utilizar de momento. E depois perguntaram-me se eu gostava assim tanto de animais, se a National Geographic me está a pagar para fazer publicidade aos animais. Apesar de o blog não dar muita publicidade, se algum senhor desses me quiser pagar, terei todo o gosto em fazer uma publicação sobre bois-almiscarados. Certamente teria muito a dizer sobre isso.

Depois de ter dito que era capaz de chover e de ter dito que as minhas galochas eram o 42, disse que não. Apenas pensei durante 3 minutos em como alguns nomes de pássaros eram esquisitos. Além disso, os pássaros devem ser o animal mais amaricado que há. Tal como o estereótipo clássico do homossexual, os pássaros comunicam entre si através do canto e de musicais. E para impressionar a fêmea, o macho faz altas danças de acasalamento e coreografias com as penas ... 

Felizmente o nome 'Gaivota' foge a esta festa da libertinagem que é a passarada toda. A gaivota rouba, ataca, alimenta-se dos mortos e, em grupo, faz um barulhão e impõe respeito a toda a gente. Pensando bem somos os romenos dos pássaros, ninguém gosta de nós em lado nenhum e andamos sempre de um lado para o outro, a comer restos e lixo. Além disso, o nome Gaivota  é o que há mais, é como o Silva ou o Santos em Portugal. Eu chamar-me Gaivota é tão normal e banal como ser-se travesti em Bangock. Ou é Banguecoque? Com esta porcaria de aportuguesar os nomes das cidades e dos países nunca sei escrever. De qualquer modo, sei disto porque foi o Matthew Praias que me disse, que ele esteve lá e sabe dessas coisas. Não se pode dizer que os meus pais tenham sido propriamente originais no nome.

Mas além de Gaivota, eis outros nomes de pássaros que podem dar que pensar a moços que, tal como eu, não têm mais nada para fazer da vida nem moças com quem se entreter, sem ser pensar em coisas estúpidas sobre as quais escrever para gáudio dos nossos quatro assíduos leitores, aos quais qualquer dia vou ter que pagar um Bollycao e um Ucal. O Bollycao é dos simples e eu fico com os cromos, aviso já. Mas vamos lá aos nomes dos pássaros:


  • Garça: aquela senhora idosa do fundo da rua, extremamente amável, que te deseja um 'Bom dia' sempre de forma efusiva e que, volta e meia, quando passas pela janela dela te oferece para entrares e comeres bolinhos acabados de fazer por ela. Anda sempre de avental e os seus destinos na rua estão previamente definidos: mercearia, padaria, talho, peixaria e cemitério;

  • Pardal: aquele gajo que sempre que passas por ele está com uma postura de arrogante e a fazer pose. Deve ter treinado a pose anos a fio. Tudo o que faz, faz cheio de manias, seja a fumar, a ler um livro, a cuspir para o lenço ou a contar as histórias de como era invencível no xadrez quando era mais novo;

  • Albatroz: o pássaro grunho. Ou é grunho ou é daqueles calmeirões que, mesmo sem nunca te terem feito nada, te assustas de os encontrar na rua, à noite, quando estás sozinho. Normalmente anda sempre com um amigo muito mais pequeno que ele, que tem uma voz 200 vezes mais fina do que o seu vozeirão que assusta mesmo que te esteja a dizer bom dia. Provavelmente trabalha no talho como o moço que leva as encomendas a casa das velhinhas, numa oficina como mecânico ou na construção civil. Se não trabalhar, é porque é grunho;

  • Periquito: o amigo caga-tacos e até mesmo irritante do Albatroz. Quando está com ele, é o maior mauzão, só quer armar problemas. É daqueles que se vira para ti e pergunta «estás a olhar para onde?» e, por qualquer motivo dirige-se a ti com um «tás-te a mandar oh mano?». Quando não está com o Albatroz anda na rua a tentar passar despercebido para ver se ninguém lhe enfia um banano a aproveitar a ausência do amigo calmeirão;

  • Rouxinol: o afável funcionário da mercearia, que faz fiado, tem o livro para as pessoas de confiança, quando vão lá, dizerem «ponha na minha conta» e, volta e meia, ainda se oferece para te ir levar os sacos a casa quando estão muito pesados. Nunca percebes bem como é que ele tem lucro na mercearia a oferecer tanta coisa aos clientes habituais, mas o que é certo é que já tem a mercearia há várias gerações e já o pai dele era igual;

  • Melro: o bonitão que tem sucesso com as moças, mas apenas como amigo. É o típico «fofinho», que todas gostam de ter como amigo mas nenhuma o quer para namorado porque é um excelente ouvinte, grande companhia e, ao contrário dos outros pássaros, não se atira às moças. Se houvesse uma friendzone nos pássaros, o melro era sem dúvida o símbolo, tendo em conta que as moças o tratam todas por «Melrinho» ou então «amiguinho». Triste vida;

  • Andorinha: o pássaro que toda a gente goza e humilha. É aquele pássaro que no primeiro dia de escola apareceu lá de sandálias e aparelho a dizer que o futebol era para imbecis e que quando se apresentou à turma disse que o que mais gostava de fazer nos tempos livres era ler e ouvir música clássica. Claro que quando crescer é capaz de ter um emprego de respeito e ganhar o triplo dos outros, mas os colegas de escola, quando passam por ele na rua continuam a dar-lhe cachaços e a dizer coisas do género «então Andorinha, ainda te continuas a mijar nas cuecas?» mesmo que já tenham passado 25 anos;

  • Bico Grossudo: é daqueles moços que tu, ao longe, não sabes bem se é macho ou fêmea e que põe anúncios nos jornais a dizer que vai fazer de ti o escravo do prazer dele/dela;

  • Coruja: aquele ancião que tem sempre altos conselhos para te dar. É aquele que passa por ti, diz que estás muito crescido, que estás um homenzinho e depois te diz sempre algum conselho ou frase filosófica no fim de cada conversa. Ao contrário de outros que fazem o mesmo, não te tenta impingir Bíblias ou enciclopédias, mas apenas te dá conselhos e filosofias de vida pelo prazer da partilha do conhecimento;

  • Corvo: o intruja, aquele dos esquemas. Organiza os maiores esquemas e estratégias e consegue safar-se sempre. Quando alguém se quer safar de alguma coisa vai falar com o Corvo. Se for de confiança ele faz o favor, se não for de confiança finge que não é nada com ele para não ser apanhado. Escusado será dizer que o Corvo quer é distância das gralhas;

  • Gralha: o queixinhas. Na escola é aquele que diz sempre à professora quem é que fez as coisas quando ninguém se acusa. No mundo do trabalho é aquele que dá ao patrão as listas com os que vão fazer ou fizeram greve. E no mundo familiar é aquele que nunca participa nas brincadeiras e ainda denuncia aos adultos quem é que fez o quê. Claro que faz isto acompanhado de uma voz estridente que só dá vontade de o espancar ininterruptamente;

  • Tucano: o emigrante exótico que ao princípio toda a gente na tua rua olha de lado, mas depois de ver que é de confiança até o convidam para as festas, ou porque canta bem ou porque sabe contar boas piadas. Se não fizer nem uma coisa nem outra bem, só é convidado porque nunca roubou ninguém apesar de ser imigrante;

Perante tudo isto resta a pergunta: teria a ex-namorada do Jorge Abel (que eu duvido muito que tenha sido namorada alguma vez, quanto muito foi uma moça que saiu com ele 2 vezes e ele assumiu isso como um namoro) razão ao dizer que Mike Albatroz era um nome poderoso para o blog, em vez de Gary Gaivota? E qual foi a cena do Jorge Abel lhe dizer que escrevia para o blog? Se não fosse eu esta porcaria não tinha estatísticas para o Teófilo ver e me vir dizer como se eu não soubesse ver números ... 




P.S.: Quanto aos bois-almiscarados, já que falei neles ali em cima há uma palavra que gostava de deixar em relação a esse animal: são bois. Até deixei duas, por isso estou extremamente generoso no que toca a animais ... Menos com as cabras.


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Fenómenos típicos da restauração


Voltei, voltei. Acho que havia uma música popular portuguesa que era assim. Estamos em Agosto, é perfeitamente normal que enquanto português saiba músicas populares, visto que não passa outra coisa na televisão, na rádio e nas festas dos concelhos e freguesias. Claro que também passa Pitbull, aquela moça da casa dos segredos e Lucenzo, mas isso não interessa a ninguém.

Fiz umas férias do blog. Primeiro por andar sem inspiração (ainda menos que habitualmente, sim). Segundo, porque fiquei abatido por dizerem que o último post estava fraquinho. Foi o Teófilo. Pois é, afinal não vem só ver as estatísticas, também vem ler e criticar os amigos. Ou ex-amigos ou amantes, não sei bem o que sou para ele. Ele para mim é só o moço das estatísticas que, volta e meia, é amigo. Mas não sei porque estou a dizer isto, pareço uma adolescente a escrever no diário.

Tenho ido comer fora algumas vezes. Não, não sou rico, quando digo comer fora digo para a minha varanda. Mas também fui uma ou duas vezes ao restaurante nestes últimos dias. Digo-vos, há tanta coisa que acontece em restaurantes que podia fazer um post sobre isso! E é basicamente o que estou aqui a fazer. 

Fenómenos então que podes encontrar facilmente num restaurante:

  • Casa de banho de um restaurante que se preze tem que ter algo escrito na porta e nas paredes. O problema é que depois do clássico «Lá fora és o Rambo, mas aqui dentro cagas-te todo», parece que a imaginação destes putos acabou. Agora só escrevem coisas tipo «Namorada puta» ou «Faço bicos» ou «Melhor anal» ou «serei a tua escrava do prazer» ou ainda «farei de ti o meu escravo do prazer» e seguido de um número de telemóvel, normalmente 91. Pergunto-me se há mesmo gente que pensa que isto é verdade e liga para esses números. É que se houver o mundo está mesmo perdido;

  • O que eu mais gosto nos restaurantes é das entradas. Polvo à lagareiro, bifinhos com cogumelos, bifes, bacalhau, em todo o lado servem isso. Agora, de restaurante para restaurante, as entradas mudam sempre: pode ser patê de sardinha ou de atum, queijo curado ou de cabra, rissóis de camarão ou de carne, croquetes ou chamuças, torradas ou tostinhas, camarões ou bolinhos de bacalhau, manteigas ou presunto. Pode ser tudo! E uma pessoa delicia-se com as entradas e vai querendo comer ao longo da refeição. Só que acontece aquele momento em que quando te servem o prato te levam as entradas, mesmo que ainda sobrem. E quando tu notas já é tarde demais e agora só te podes contentar em comer a porcaria do prato que pediste ...

  • Uma coisa que sempre me incomodou nos restaurantes foi os acompanhamentos. É filetes de pescada com arroz e legumes. É alheira com arroz e batata frita. É carapau assado com batata cozida. E se eu não quiser alheira com batata frita??? Nesse caso sou estúpido, mas se quiser uma salada a acompanhar o carapau pago mais 2,50€ pela merda de uma salada. E porquê? Porque o restaurante é que manda que o carapau seja só com batata cozida, o resto é pago à parte. Ou, como eles chamam, a «guarnição». Que parvoíce! Então o cliente não pode pedir o que quiser? E depois, se aceitas pagar mais pela salada, ainda tens que levar com a cara de incompreensão do empregado, como se fosse uma coisa do outro mundo pedir salada a acompanhar o carapau em vez de batata cozida;

  • Está provado cientificamente pelo senso comum que os empregados de mesa são as pessoas mais observadoras do mundo. Conseguem superar mesmo os poetas, que esses perdem muito da observação quando estão a escrever. Isto para dizer que, quando entras num restaurante com uma moça muito boa, todos olham de soslaio para ti e comentam entre eles que ou és muito rico ou levas uma acompanhante de luxo para pareceres bem em público. No entanto, se apareceres no mesmo sítio com uma miúda assim para o feiinha, comentam que ou estás   a fazer algum favor a uma amiga ou um estás num encontro às cegas que correu mal. E fazem sempre interpretações negativas quanto ao homem (falem lá de igualdade agora ...);

  • Se querem falar de factos provados cientificamente, este não é, mas podia ser. Todas as pessoas das outras mesas, quer estejam de saída ou quer estejam a encaminhar-se para aquela que será a «sua» mesa,  olham sempre para o teu prato e para os dos que estão contigo, para ver o que estás a comer e se tem bom aspecto;

  • Muitas vezes questiono-me se alguém respondeu negativamente à pergunta da praxe que um empregado faz sempre, mais ou menos a meio da refeição, quando se dirige à mesa e pergunta «está tudo bom?». Ele está ali a dar a cara por uma coisa que não foi ele que fez e fá-lo como se tivesse sido ele próprio a confeccionar os pratos. Acredito que em 99% dos casos as pessoas respondam «sim, sim, tudo óptimo!» e que desses 99%, pelo menos em 60% alguém esteja descontente com alguma coisa. «O peixe está muito salgado!» diz-se na mesa, mas quando o empregado chega e faz a pergunta, responde-se no segundo a seguir «Sim! Sim! Tudo óptimo!». Claro que depois ou não se volta lá mais ou não se pede o mesmo prato ou, se se pedir, diz-se «da última vez que pedi o carapau, estava muito salgado». Mas nunca se diz isso (que eu veja, atenção!) quando o empregado faz a pergunta;

  • Sou só eu que sou totalmente contra e me sinto completamente desconfortável quando vou a algum restaurante em que é o empregado que me faz o prato e me enche o copo? Só faltava que me limpasse a boca também ou me cortasse o bife em quadradinhos ... Às vezes pergunto-me se o bife custa 12,50€ mas naquele restaurante custa 17€ porque o empregado me faz o prato e me enche o copo. Claro que, apesar de completamente desconfortável com isso, nunca lho digo directamente e tenho que levar com isso até ao fim da refeição;

  • Para acabar, um dos maiores dilemas em ir comer fora é o da gorjeta. Deixar ou não deixar? Quando estaciono o carro em que um arrumador só me indica o lugar e depois fica à espera de moeda, dê 20 cêntimos ou dê 1 euro, sei que tenho que dar, sob a pena de me riscar o carro. E quer dê 20 cêntimos ou 1 euro, ele agradece e não me faz nada ao carro. Num restaurante não é bem assim. Quando se confronta directamente o empregado e se diz «aqui está a gorjeta», ele diz sempre «oh, não era necessário!». Mas quando não se deixa nada, à saída, és fulminado com o olhar reprovador dele. E se voltares a ir lá depois de não teres deixado gorjeta ou és servido de forma mais rude ou então é outro que te serve e esse empregado, sempre que passa, olha para ti de lado. E tudo isto por algo que, segundo ele, não era necessário ...

Bem, e chego ao fim da minha reflexão. Olha Teófilo, se não gostares deste também, escusas de me dizer, guarda para ti, que deprimido já eu estou e não preciso de ti para isso. Quanto aos outros, obrigado por chegarem até aqui ao fim, mesmo que fosse a fazer 'Page Down' sem ler e pensarem que ia fazer uma conclusão que resumisse tudo o que está escrito para trás. Quanto aos que leram tudo até chegar aqui ... Tenho pena de vocês. Admiro-vos, mas tenho pena. É como admirarmos aquele alpinista que subiu aquela montanha mesmo grande mas ficou sem o nariz. Admiro-o, mas tenho pena dele.



P.S.: Continuo a pensar que aquela coisa de «vou fazer de ti o meu escravo do prazer» não li na casa de banho de um restaurante mas num anúncio de jornal, daqueles manhosos que só moços como o Teófilo nas suas horas de maior solidão telefonam. Mas já agora, lembrei-me assim de repente, porque é que em alguns restaurantes, o famoso «WC» é trocado pela palavra «Lavabos»? Nunca percebi bem porquê, mas fica mais chique. WC é para os tascos, Lavabos é para restaurante da pinta ...



quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A diferença entre ser bom profissional e mau profissional


No outro dia encontrei o Raúl na rua e estive a falar um bocado com ele. Quem é o Raúl, perguntam vocês, e perguntam bem porque nem eu sei definir bem quem ele é. O Raúl é daquelas pessoas que tu te dás há bastante tempo para não ser apenas um conhecido, mas não tem a proximidade necessária contigo para dizeres que é um amigo. O Raúl é daquelas pessoas que está naquela zona híbrida que ninguém ainda se importou em definir. Como chamamos a essas pessoas como o Raúl? Companheiro remete um bocado para a vida romântica, parceiro remete mais para os negócios, compincha é um nome um bocado esquisito ... Portanto, se alguém tiver alguma sugestão, que me diga, pode estar a salvar milhares de interacções sociais ainda sem um nome definido.

Mas voltando ao Raúl, disse-me ele que tinha sido despedido recentemente, segundo ele, por ter sido mau profissional. Perguntei-lhe o que era isso de ser mau profissional, ao que ele me disse que respondeu mal a um cliente e que violou o princípio «o cliente tem sempre razão». Alguém além de mim acha este princípio uma parvoíce? Quem é que inventou que o cliente tinha sempre razão? Provavelmente os clientes. Então porque é que os patrões e os empregados seguem este princípio como se fosse uma lei universal e inviolável? E já agora, este princípio está nas leis, é reconhecido por notários como uma lei a respeitar? Estranho mundo este ...

Assim, ainda lançado sobre a temática do último post, volto a debruçar-me sobre o mundo do trabalho e das profissões, desta vez para debater as diferenças entre ser bom profissional e mau profissional. Claro que não estão aqui representadas todas as profissões, só as que me lembrei para este post, não tenho obrigação de pensar em todas as profissões do mundo, deixo isso para os filósofos, se ainda existir algum. É que para mim os filósofos morreram todos, desde para aí 1850 que não há nada sobre que filosofar. Além de que ser filósofo não é vida e não dá futuro nenhum. Mas isso já são coisas do post anterior.

Então, vamos ver a diferença entre ser bom profissional e mau profissional:


  • Psicólogo: ser bom profissional é ouvir, aconselhar e ajudar estranhos por meio de um pagamento pré-acordado. Ser mau profissional é fazer tudo isto a estranhos, fora do local de trabalho e sem receber nada;

  • Empregado de mesa: ser bom profissional é não bater num cliente que se está a armar em superior  contigo e a enxovalhar-te, mas cuspir-lhe no prato. Ser mau profissional é cuspir no prato do cliente errado;

  • Trolha: ser bom profissional é mandar aqueles piropos mesmo ridículos quando passa uma moça daquelas roliças pela rua, à beira do teu local de trabalho. Ser mau profissional é mandar piropos para moços. Ah, e claro, não usar capacete. Mas o primeiro é pior;

  • Barbeiro: ser bom profissional é falar de futebol e/ou de moças enquanto te corta o cabelo da maneira como tu queres. Ser mau profissional é impingir-te um corte de cabelo porque está na moda e não falar nem de futebol nem de moças. Ah, claro, e em vez de se chamar barbearia, chamar-se «cabeleireiro»;

  • Carteiro: ser bom profissional é traçar um perfil às pessoas pelas cartas que recebem e de que instituições recebem. Também é normal ficar com pelo menos um exemplar do «Dica da semana» para levar para casa que aquela porcaria realmente tem mesmo grandes promoções. Ser mau profissional é andar com calções um tamanho abaixo do indicado para si, até porque 95% das mulheres que exercem esta profissão são daquelas a quem calções um tamanho abaixo não ficam nada bem;

  • Comerciante: ser bom profissional é convencer os clientes que os seus artigos são bons e de qualidade, mesmo que sejam uma porcaria, importa é vender. Ser mau profissional é convencer-se a ele próprio que determinados produtos que vende são de qualidade quando na realidade são uma porcaria;

  • Barman: ser bom profissional é minar as bebidas das moças mais roliças para elas irem mais facilmente contigo para a cama. Ser mau profissional é minar a bebida de um moço para o conseguires levar para a cama;

  • Segurança: ser bom profissional é deixar passar à frente de toda a gente os VIP's, as moças mais roliças e aqueles que lhe põem notas de 20 no teu bolso. Ser mau profissional é deixar entrar em alguma circunstância grupos de moças histéricas, alguma gorda que esteja a usar leggins e um top que realça a banha e grupos de moços que estão juntos porque nunca na vida nenhum deles conseguiria companhia para sair à noite sem ser estes amigos bananas;

  • Deputado: ser bom profissional é jogar solitário, freecell ou ver o que se passa no Facebook quando as sessões no Parlamento estão a ser grande seca. Ser mau profissional é conversar no chat do Facebook e jogar poker online com outros deputados, aí já estão a distrair os outros;

  • Polícia: ser bom profissional é ir a clubes de strip com a malta do trabalho sem pagar nada, sob ameaça de fechar o estabelecimento e deter todos os que lá trabalham. Ser mau profissional é deixar lá o distintivo e só reparar nisso na manhã seguinte;

  • Instrutor de musculação / fitness: ser bom profissional é por a mão nas moças e, de certa forma, apalpá-las, com a sua conivência, enquanto lhes explica determinados exercícios. Ser mau profissional é só fazer isso com as velhinhas;

  • Jogador de futebol: Ser bom profissional é jogares bem, num bom clube, não faltares a nenhum treino e teres uma mulher daquelas de causar inveja aos outros. Ser mau profissional é fazeres tudo igual aos outros mas teres uma mulher feia;

  • Esteticista: ser boa profissional (sim, este trabalho é para ser feito POR mulheres e PARA mulheres) é mascar chiclete e usar umas madeixas questionáveis, enquanto conta a sua vida toda e a das outras à cliente que tem pela frente. Ser má profissional é fazer o mesmo às amigas, fora do local de trabalho, gratuitamente;

  • Mecânico: ser bom profissional é cobrar a mais por extras que à partida o cliente pensava que não seria preciso, apenas com o intuito de ter mais lucro. Ser mau profissional é não ter nenhum poster de moças nuas no local de trabalho;

  • Advogado: ser bom profissional é defender clientes em quem não se acredita, mas fazê-lo na mesma porque ele está a pagar os honorários. Ser mau profissional é perder todas as argumentações em que se entra com amigos e com familiares;



Muitos de vocês perguntam-se porque é que eu, enquanto blogger, não reflecti sobre o que é ser bom e mau profissional neste blog. Primeiro, porque se este blog fosse para profissionais o Jorge Abel não andava por aqui e alguém pagava alguma coisa ao Teófilo por ele ir ver as estatísticas. Segundo, porque se este blog fosse algo profissional quem viesse cá ler tinha de pagar para ler o que eu escrevo. E como sem pagar só vêm cá quatro pessoas, se fosse a pagar só cá vinha o Teófilo, porque é meu amigo e além disso tem aquela mania estranha das estatísticas.



P.S.: A sério, se alguém tiver alguma sugestão de nome com que possa definir a minha relação com o Raúl, agradecia imenso. É que ando aqui às voltas e não me ocorre nenhuma palavra para definir esta zona híbrida entre conhecido e amigo.

domingo, 5 de agosto de 2012

Futuros que nenhuma mãe deseja para os filhos



Hoje pus-me a pensar no que é que eu gostava que um filho meu se tornasse. E, contrariamente a tudo o que vocês possam imaginar, essa reflexão não me levou a pensar no que é que eu queria que o meu filho se tornasse, mas no que é que as mães nunca desejariam que os seus filhos se tornassem. Bem e a introdução do post fica por aqui hoje. Não tem que ser sempre três ou quatro parágrafos antes de ir ao que realmente importa, certo? Depois as pessoas vêm aqui, perdem tempo a ler os primeiros parágrafos, alguns desistem e só dois ou três é que chegam ao fim por causa da introdução.


Mais, se eu fosse a um blog que fazia introduções de três parágrafos que não fossem directamente ao assunto, ia lá duas vezes, deixava um comentário a enxovalhar todos os que escrevessem para o blog e depois nunca mais lá ia. Quer dizer, se calhar ia, se fosse algum amigo meu ou algum familiar e eu quisesse fazer o jeito. Não ia ser xunga a esse ponto, não ia fazer como o Matthew Praias, que só para não dar mau aspecto ao Rebelo das metáforas, que também calha de ter uma mercearia e de ter sido mestre de traineira numa altura da sua vida, deixou de vir aqui e nega que alguma vez tenha feito parte disto.


Realmente, percebo-o. Ninguém quer fazer parte de um blog em que se faz sempre três parágrafos de introdução. Esse seria um futuro que nenhuma mãe desejaria a um filho seu. Mas além desse, eis outros futuros que nenhuma mãe deseja para os filhos:



  • Profeta: Além dos rios de dinheiro estourados em sandálias, coitado de quem tivesse que limpar a areia que os profetas trazem sempre com eles. Profeta que é profeta atravessa desertos e então suja sempre os sítios para onde vai com areia. Além disso, nenhuma mãe deseja que um filho seu largue os estudos para andar sempre rodeado de pessoas, algumas delas não propriamente as melhores companhias, para dizer frases filosóficas, andar com a barba por fazer e vestir sempre uma túnica;

  • Mineiro: Comprar calças de ganga  é um martírio, nunca podem ser das boas porque são para estragar. Além disso, não dá para lavar a roupa, que as manchas da rocha não saem. Só fazem detergentes para lama, manchas de sangue e gorduras, para tirar manchas de mina, não há nenhum, estraga-se a roupa toda. Não há mãe que mereça tal coisa, apesar de para um pai, mineiro ser um trabalho altamente revelador da masculinidade do filho;

  • Polícia Sinaleiro: ser polícia é uma boa carreira, trabalho na função pública, ordenado garantido, regalias sociais e boas reformas. Apesar do perigo, compensa. Mas nenhuma mãe deseja que o filho vá para polícia sinaleiro, os polícias a quem menos se passa cartão. Aposto que têm que comprar aquelas placas do Stop à parte se não têm que fazer os sinais todos com as mãos. Por causa disso, é gasto imenso dinheiro em pomadas para os pulsos e pensos para calos, que estão sempre de pé e as botas são desconfortáveis. E depois, faça chuva ou sol, tem sempre que se investir nuns Ray-ban, polícia sinaleiro que é polícia sinaleiro tem que ter uns Ray-ban. Como as hastes se estragam facilmente, para aí de 6 em 6 meses ou é dinheiro em óculos ou é dinheiro em hastes;

  • Farmacêutico: aparentemente é um bom emprego mas tem um reverso da medalha: és o confidente, companheiro do dia-a-dia e até mesmo o desejo sexual das idosas e/ou idosos. Mesmo que sejas asqueroso, como és jovem, és tratado por «menino» ou «menina» consoante o sexo e o penteado que uses. Se isto é mau, arcas também com segredos sobre os outros, testes de gravidez, pílulas do dia seguinte, tamanhos dos preservativos, doenças venéreas. Achas que saber estes segredos todos é engraçado? Experimenta ser farmacêutico e vê o peso que é nos teus ombros ...

  • Dentista: ganhas muito e ganhas bem, certo. Mas nenhuma mãe deseja no seu íntimo que o seu filho exerça uma profissão em que seja considerado o «filho da puta dos médicos» e onde, para o resto da sua vida, vá ver bocas e tratar de dentes das mais variadas pessoas. Só 2% dos dentistas do mundo atendem celebridades e pessoas bonitas, os outros 98% têm que atender velhos, crianças irritantes, sucateiros com os dentes podres e por aí fora. Imagina o que é acabares de almoçar um lombo assado, bem tostadinho, voltas para o teu consultório a levar com bafos de alho e com homens só com 5 dentes e 3 deles podres ... Não há dinheiro que pague isto. Já para não falar na quantidade de alimentos que ias banir da tua alimentação só por os veres na boca das outras pessoas;

  • Jardineiro: nenhuma mãe deseja que o seu filho possa vir a ser o objecto sexual de quarentonas casadas ou recentemente divorciadas e/ou viúvas, que aproveitem a ausência do marido para se satisfazerem com ele. Não sei se isto acontece mesmo ou se ando a ver pornografia a mais, mas de qualquer maneira, acredito que a primeira parte seja real, nenhuma mãe deseja isto ao seu filho, nem mesmo as que fazem isso aos filhos das outras;

  • Carniceiro: além de seres sempre comparado com jogadores de futebol muito fraquinhos e que só dão porrada, toda a gente desconfia que te vás transformar num serial killer e matar adolescentes à lei do cutelo. Quem sabe o que fazes, olha sempre para ti como um carrasco e pergunta-se se serias capaz de fazer o mesmo a pessoas. Tens pesadelos todas as noites em que os animais te estão a cortar vivo às postas. Por último, as manchas de sangue não saem. Os detergentes só removem manchas de sangue humanas, ninguém se preocupou em fazer detergentes que removessem manchas de sangue de animais;

  • Detective: há 60 anos atrás era grande futuro. Mas entretanto, tudo mudou. Agora os crimes são resolvidos por INSPECTORES e não por detectives, estes agora são os «inspectores xungas». Pior que isso, o CSI e todas aquelas séries que dão na televisão vieram mostrar três coisas: 1) que as autoridades policiais resolvem tudo; 2) que as autoridades policiais resolvem tudo porque têm INVESTIGADORES; 3) que já ninguém quer saber nem precisa dos detectives. Já para não falar que para se ser detective tem que se comprar daquelas fardas que custam para aí 30 contos e nenhuma mãe quer dar 30 contos por uma farda que não vai servir de nada;

  • Figurante: todas as mães desejam que o seu filho seja feliz. Ninguém é feliz quando é figurante. Quando se convida alguém para se ser figurante é a mesma coisa que dizer que a pessoa serve bem para fazer número e que estraga tudo se falar ou se se mexer. Ser figurante é como os boxers e as cuecas: compram-nos para que cumpram a sua função sem ninguém notar neles, são bons para fazer número, mas só por mero acidente é que alguém os vê. Claro que isto dos boxers deixou de ser um pouco verdade hoje em dia com aqueles moços que andam com as calças quase pelos joelhos;

  • Podologista: se nenhuma mãe deseja que o seu filho seja dentista, muito menos deseja que acabe por ser podologista. Entre um e outro, uma mãe pagava dois cursos em Medicina Dentária antes de pagar um semestre em Podologia. A minha mãe sempre me disse que não se devia mexer nos pés, acredito que as mães dos podologistas lhes tivessem dito o mesmo, mas eles, quais filhos rebeldes, recusaram-se e ainda fizeram disso vida;

  • Judoca: aqui estou a falar das mães do mundo ocidental, que isto lá para a Ásia é um dos maiores sonhos, que o seu filho (ou filha) se tornem judocas. Alguém que seja asiático, sem treinar, ganha no judo facilmente a um europeu que treine judo há 10 anos. Está-lhes no sangue saber judo, matemática, comer sushi e gostar de computadores. Mas nenhuma mãe do Ocidente deseja isso para o seu filho: que faça um desporto onde 98% da população mundial não sabe as regras e não passa cartão a esse desporto e onde, por muito bom que seja e por muito que treine, quando luta contra algum asiático perde sempre. Para além do mais que aquela porcaria dos kimonos custa um dinheirão e nenhuma mãe oferece roupa para andarmos a limpar o chão com ela. Pelo menos era o que a minha mãe me dizia;

  • Meteorologista: o que é que fazemos quando damos de cara no elevador com um vizinho com quem raramente falamos? Falamos do tempo. Pois claro, fazemos isso para passar aqueles eternos 25 segundos que demora a viagem de elevador. Quando acaba a tortura da viagem, esquecemos a porcaria do tempo e voltamos a centrar-nos na nossa preenchida vida. Pois, para os meteorologistas, o tempo é a sua conversa de todos os dias, o seu objecto de estudo, o seu ganha-pão. Deviam sentir-se orgulhosos por ser à custa deles que milhões de pessoas mantêm conversas todos os dias? Sim. Deviam sentir-se felizes por terem que estudar o tempo e falar sobre o tempo durante 8,9 ou 10 horas por dia? Não. Já para não falar que toda a gente que os conhece e sabe o que fazem dizem sempre coisas tipo «então Jerónimo, amanhã chove ou não? Não sabes? Então não és meteorologista? Que raio de nome de profissão, podiam chamar-se 'tempeiros', assim toda a gente sabia logo o que vocês eram. Mas diz lá se vai chover amanhã, que vou pescar e preciso de saber se levo impermeável ou não'. Para os outros não és meteorologista, és o adivinho do tempo.

  • Otorrinolaringologista: nenhuma mãe deseja que o seu filho tenha uma profissão que nem ela, nem 85% das pessoas conseguem dizer à primeira ou segunda tentativa. A mãe diz sempre que o seu filho é médico. Quando lhe perguntam a especialidade diz «é otorrino». Que infeliz é a mãe que não sabe dizer a profissão do filho por completo por o nome ser tão esquisito e comprido. E que infeliz é o filho que tem mais letras na sua profissão do que pacientes num ano.


Por tudo isto, para não correr o risco de desiludir a minha mãe com nenhuma destas profissões, decidi estar e ficar desempregado. Acredito que nenhuma mãe o deseje para o seu filho, mas entre estar desempregado e estas todas, prefiro estar desempregado. Imaginem que eu era meteorologista e além da tristeza de toda a gente no trabalho me falar sobre o tempo e de os meus vizinhos, mal me virem entrar em casa, me abordarem com perguntas sobre a temperatura e a ondulação, ser colega de trabalho do Jorge Abel ... Acreditem, ainda bem que estou desempregado.






P.S.: O post é um bocado longo, eu sei, mas também com três parágrafos de introdução queriam o quê?

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Descobri a pass do meu e-mail



Olá gente que não quer saber de mim há três meses e nem sequer pergunta por mim. Olá blog, já não te via há algum tempo. Olá Ray. Olá quatro leitores do blog. Olá estatísticas, desculpem estar a falar com vocês, sei que só o Teófilo vos pode ver, mas digo-vos olá. Estou de volta.


Descobri a pass do meu e-mail. A partir dela descobri que tinha originalidade, era bastante difícil de a descobrir. Por isso agora pus uma mais fácil. Não é a minha data de nascimento, isso era fácil demais. Ou difícil, que aposto que ninguém daqui a sabe. Mas que perdi eu durante todo este tempo em que estive ausente por aqui? E o que é que vocês perderam? Tanta coisa! Vou contar de forma resumida o que me tem acontecido nestes três meses:


Primeiro fiquei de certa forma perturbado por ver que tanto se discutiu aqui no blog coisas que não eram do meu conhecimento. Decotes para homem? Preservativos de mulher? O que vem a seguir? Nem quero pensar. Mas toda esta conversa faz-me lembrar o Matthew Praias. Onde está ele? Desapareceu? Voltou às Bahamas? Foi raptado por um daqueles moços como o Ramiro mas mais agressivo? Nunca mais escreveu e nunca mais o vi lá no ginásio. Não é que ande lá, mas moro em frente e via-o todos os dias, agora não. Havia de ser bonito eu no ginásio, a ir para lá com camisolas de lã e a fazer aulas de abdominais...


Agora uma história que tenho para vos contar. Saí recentemente de uma certa desilusão amorosa que me fez crescer muito. Pelo menos fez-me crescer em infelicidade e na quantidade de comprimidos que tenho que tomar para as dores emocionais. Mas tudo acabou quando ela me disse que eu não tinha sentido de humor. Como assim eu não ter sentido de humor se escrevo aqui para o blog??? Falei-lhe então nisto ...


Contrariamente ao que eu estava à espera (notam a minha evolução? Já começo frases com «contrariamente», isto de se sair com moças tem as suas virtudes...) este não foi um argumento forte. Ela perguntou logo «aquele blog em que escreve lá um Pinguim?». Claro que respondi logo «Gaivota», mas ela não se deixou ficar e disse: «é a mesma coisa, voam, são aves, andam no mar, que é que isso interessa?». E foi aqui que eu fiquei desconfiado.


«O pinguim não é um mamífero? Como a baleia ...», indaguei eu com alguma suspeita (indaguei, topem bem este vocabulário ...). «És mesmo burro Jorge Abel» respondeu-me ela. «Ao menos tenho sentido de humor», disse eu para me defender. «Se dizes isso é porque és burro», rematou ela (rematou, vêem? Não disse «conclui», que isso era facílimo. Toma lá, Verónica. Diz quem é o burro agora ...).


Fiquei um pouco perplexo e perguntei «E o blog? Não conta?». «É muito fraquinho. Mais valia escrever lá um Mike Albatroz, isso sim era um nome que fica no ouvido». Com esta surpreendeu-me. «Que é isso albatroz?», perguntei eu. «És mesmo urso, Jorge Abel», respondeu ela. Urso ... Nunca ninguém me tinha chamado urso. Paneleiro, estúpido, come-merda-às-colheres, filho da puta, otário, tone, banana, nabo, cara de cu, piolhoso, corno, burro e até bexigoso mas nunca urso. Serei eu, Jorge Abel, um urso? E fiquei-me com este pensamento até entrar em casa e o meu irmão me dar um soco. 


Deu-me um soco porque ainda estou desempregado. Tem sido o pretexto dele nos últimos dias. Diz que a resolução de Ano Novo dele é bater nos desempregados, mas acho que é mentira porque a minha mãe não trabalha há 17 anos e ele nunca lhe bateu. Só achei curioso ele lembrar-se da resolução de Ano Novo agora em fins de Julho, mas ainda vai a tempo, nisso tem ele razão. Voltando a falar de trabalho, cheguei a trabalhar num talho durante uma semana mas toda a gente me gozava a dizer que eu estava o dia todo à beira de carne ao dependuro. Isso nem era o pior. O pior foi ter sido despedido. Pelos vistos dois moços que trabalharam lá antes de mim foram de férias para as Ilhas Caimão com 20 mil euros e não voltaram ao talho.


Ilhas Caimão. Nem sabia que isso existia. E ainda acho que não existe. Perguntei ao meu tio se conhecia as Ilhas Caimão e ele disse que eu parecia o Tonecas sempre a fazer perguntas e que o Tonecas era um pedófilo disfarçado de criança e toda a gente lhe achava piada e que as únicas ilhas que eu devia conhecer eram as dos Açores e da Madeira. Fiquei sem saber se existiam ou não as Ilhas Caimão. Nome esquisito esse. Mas por falar em nomes esquisitos ... Que é isso da rentrée do Teófilo? O meu tio sempre me disse para desconfiar de quem fala francês sem ser mesmo francês. São homossexuais, diz ele. Claro que ele não disse «homossexuais» mas «paneleiros» e «frutinhas», eu é que não quis baixar o nível, que já disse muitos insultos ali atrás, ainda que não tenha sido mesmo eu a dizer.


Em minha casa toda a gente me goza por estar desempregado. Menos o meu irmão, que esse ao menos só me bate. O meu terapeuta diz que deve encarar isso como algo motivacional, mas não sei até que ponto consigo. De certeza sabem quem é o meu terapeuta. É o Dr. Phil, aquele da televisão. Não perco um programa. Outra coisa que o meu irmão faz, além de me bater, é de me inventar profissões. Umas vezes faz de mim carteiro e diz «oh Jorge Abel, leva esta encomenda». Outras faz de mim jardineiro e manda-me apanhar uma cepa. Ainda faz de mim agricultor ao mandar-me comer uma pêra, volta e meia talhante, quando me diz «olha bem este bife» e até mesmo chulo «fica com esta puta para ti». A esta hora já todos devem ter percebido que  todas estas situações acabam sempre comigo a levar grandes coças do meu irmão. O meu pai diz que isso me fortalece o carácter, o meu tio diz que fortalece o do meu irmão. A minha mãe diz que também gostava de participar e acaba mesmo por o fazer.






P.S.: Já agora, oh Gaivota, estás aí cheio de vontade do regresso do Teófilo, quero ver quem me vai felicitar pelo meu regresso, que foi primeiro que o dele. E eu não escrevia desde Março, não é desde Dezembro como ele. E dizes tu, todo contente, que ele agora só vem aqui ver as estatísticas? Isso faz dele mais inútil que eu num encontro com uma moça. A sério, no outro dia tive um encontro e não sabia bem o que estava ali a fazer. Passado um minuto a rapariga virou-se para mim e perguntou «já sabe o que vai pedir?» e eu ainda não sabia. Quando soube o que queria, já tinha que pedir a um moço. Triste destino este.