domingo, 5 de agosto de 2012

Futuros que nenhuma mãe deseja para os filhos



Hoje pus-me a pensar no que é que eu gostava que um filho meu se tornasse. E, contrariamente a tudo o que vocês possam imaginar, essa reflexão não me levou a pensar no que é que eu queria que o meu filho se tornasse, mas no que é que as mães nunca desejariam que os seus filhos se tornassem. Bem e a introdução do post fica por aqui hoje. Não tem que ser sempre três ou quatro parágrafos antes de ir ao que realmente importa, certo? Depois as pessoas vêm aqui, perdem tempo a ler os primeiros parágrafos, alguns desistem e só dois ou três é que chegam ao fim por causa da introdução.


Mais, se eu fosse a um blog que fazia introduções de três parágrafos que não fossem directamente ao assunto, ia lá duas vezes, deixava um comentário a enxovalhar todos os que escrevessem para o blog e depois nunca mais lá ia. Quer dizer, se calhar ia, se fosse algum amigo meu ou algum familiar e eu quisesse fazer o jeito. Não ia ser xunga a esse ponto, não ia fazer como o Matthew Praias, que só para não dar mau aspecto ao Rebelo das metáforas, que também calha de ter uma mercearia e de ter sido mestre de traineira numa altura da sua vida, deixou de vir aqui e nega que alguma vez tenha feito parte disto.


Realmente, percebo-o. Ninguém quer fazer parte de um blog em que se faz sempre três parágrafos de introdução. Esse seria um futuro que nenhuma mãe desejaria a um filho seu. Mas além desse, eis outros futuros que nenhuma mãe deseja para os filhos:



  • Profeta: Além dos rios de dinheiro estourados em sandálias, coitado de quem tivesse que limpar a areia que os profetas trazem sempre com eles. Profeta que é profeta atravessa desertos e então suja sempre os sítios para onde vai com areia. Além disso, nenhuma mãe deseja que um filho seu largue os estudos para andar sempre rodeado de pessoas, algumas delas não propriamente as melhores companhias, para dizer frases filosóficas, andar com a barba por fazer e vestir sempre uma túnica;

  • Mineiro: Comprar calças de ganga  é um martírio, nunca podem ser das boas porque são para estragar. Além disso, não dá para lavar a roupa, que as manchas da rocha não saem. Só fazem detergentes para lama, manchas de sangue e gorduras, para tirar manchas de mina, não há nenhum, estraga-se a roupa toda. Não há mãe que mereça tal coisa, apesar de para um pai, mineiro ser um trabalho altamente revelador da masculinidade do filho;

  • Polícia Sinaleiro: ser polícia é uma boa carreira, trabalho na função pública, ordenado garantido, regalias sociais e boas reformas. Apesar do perigo, compensa. Mas nenhuma mãe deseja que o filho vá para polícia sinaleiro, os polícias a quem menos se passa cartão. Aposto que têm que comprar aquelas placas do Stop à parte se não têm que fazer os sinais todos com as mãos. Por causa disso, é gasto imenso dinheiro em pomadas para os pulsos e pensos para calos, que estão sempre de pé e as botas são desconfortáveis. E depois, faça chuva ou sol, tem sempre que se investir nuns Ray-ban, polícia sinaleiro que é polícia sinaleiro tem que ter uns Ray-ban. Como as hastes se estragam facilmente, para aí de 6 em 6 meses ou é dinheiro em óculos ou é dinheiro em hastes;

  • Farmacêutico: aparentemente é um bom emprego mas tem um reverso da medalha: és o confidente, companheiro do dia-a-dia e até mesmo o desejo sexual das idosas e/ou idosos. Mesmo que sejas asqueroso, como és jovem, és tratado por «menino» ou «menina» consoante o sexo e o penteado que uses. Se isto é mau, arcas também com segredos sobre os outros, testes de gravidez, pílulas do dia seguinte, tamanhos dos preservativos, doenças venéreas. Achas que saber estes segredos todos é engraçado? Experimenta ser farmacêutico e vê o peso que é nos teus ombros ...

  • Dentista: ganhas muito e ganhas bem, certo. Mas nenhuma mãe deseja no seu íntimo que o seu filho exerça uma profissão em que seja considerado o «filho da puta dos médicos» e onde, para o resto da sua vida, vá ver bocas e tratar de dentes das mais variadas pessoas. Só 2% dos dentistas do mundo atendem celebridades e pessoas bonitas, os outros 98% têm que atender velhos, crianças irritantes, sucateiros com os dentes podres e por aí fora. Imagina o que é acabares de almoçar um lombo assado, bem tostadinho, voltas para o teu consultório a levar com bafos de alho e com homens só com 5 dentes e 3 deles podres ... Não há dinheiro que pague isto. Já para não falar na quantidade de alimentos que ias banir da tua alimentação só por os veres na boca das outras pessoas;

  • Jardineiro: nenhuma mãe deseja que o seu filho possa vir a ser o objecto sexual de quarentonas casadas ou recentemente divorciadas e/ou viúvas, que aproveitem a ausência do marido para se satisfazerem com ele. Não sei se isto acontece mesmo ou se ando a ver pornografia a mais, mas de qualquer maneira, acredito que a primeira parte seja real, nenhuma mãe deseja isto ao seu filho, nem mesmo as que fazem isso aos filhos das outras;

  • Carniceiro: além de seres sempre comparado com jogadores de futebol muito fraquinhos e que só dão porrada, toda a gente desconfia que te vás transformar num serial killer e matar adolescentes à lei do cutelo. Quem sabe o que fazes, olha sempre para ti como um carrasco e pergunta-se se serias capaz de fazer o mesmo a pessoas. Tens pesadelos todas as noites em que os animais te estão a cortar vivo às postas. Por último, as manchas de sangue não saem. Os detergentes só removem manchas de sangue humanas, ninguém se preocupou em fazer detergentes que removessem manchas de sangue de animais;

  • Detective: há 60 anos atrás era grande futuro. Mas entretanto, tudo mudou. Agora os crimes são resolvidos por INSPECTORES e não por detectives, estes agora são os «inspectores xungas». Pior que isso, o CSI e todas aquelas séries que dão na televisão vieram mostrar três coisas: 1) que as autoridades policiais resolvem tudo; 2) que as autoridades policiais resolvem tudo porque têm INVESTIGADORES; 3) que já ninguém quer saber nem precisa dos detectives. Já para não falar que para se ser detective tem que se comprar daquelas fardas que custam para aí 30 contos e nenhuma mãe quer dar 30 contos por uma farda que não vai servir de nada;

  • Figurante: todas as mães desejam que o seu filho seja feliz. Ninguém é feliz quando é figurante. Quando se convida alguém para se ser figurante é a mesma coisa que dizer que a pessoa serve bem para fazer número e que estraga tudo se falar ou se se mexer. Ser figurante é como os boxers e as cuecas: compram-nos para que cumpram a sua função sem ninguém notar neles, são bons para fazer número, mas só por mero acidente é que alguém os vê. Claro que isto dos boxers deixou de ser um pouco verdade hoje em dia com aqueles moços que andam com as calças quase pelos joelhos;

  • Podologista: se nenhuma mãe deseja que o seu filho seja dentista, muito menos deseja que acabe por ser podologista. Entre um e outro, uma mãe pagava dois cursos em Medicina Dentária antes de pagar um semestre em Podologia. A minha mãe sempre me disse que não se devia mexer nos pés, acredito que as mães dos podologistas lhes tivessem dito o mesmo, mas eles, quais filhos rebeldes, recusaram-se e ainda fizeram disso vida;

  • Judoca: aqui estou a falar das mães do mundo ocidental, que isto lá para a Ásia é um dos maiores sonhos, que o seu filho (ou filha) se tornem judocas. Alguém que seja asiático, sem treinar, ganha no judo facilmente a um europeu que treine judo há 10 anos. Está-lhes no sangue saber judo, matemática, comer sushi e gostar de computadores. Mas nenhuma mãe do Ocidente deseja isso para o seu filho: que faça um desporto onde 98% da população mundial não sabe as regras e não passa cartão a esse desporto e onde, por muito bom que seja e por muito que treine, quando luta contra algum asiático perde sempre. Para além do mais que aquela porcaria dos kimonos custa um dinheirão e nenhuma mãe oferece roupa para andarmos a limpar o chão com ela. Pelo menos era o que a minha mãe me dizia;

  • Meteorologista: o que é que fazemos quando damos de cara no elevador com um vizinho com quem raramente falamos? Falamos do tempo. Pois claro, fazemos isso para passar aqueles eternos 25 segundos que demora a viagem de elevador. Quando acaba a tortura da viagem, esquecemos a porcaria do tempo e voltamos a centrar-nos na nossa preenchida vida. Pois, para os meteorologistas, o tempo é a sua conversa de todos os dias, o seu objecto de estudo, o seu ganha-pão. Deviam sentir-se orgulhosos por ser à custa deles que milhões de pessoas mantêm conversas todos os dias? Sim. Deviam sentir-se felizes por terem que estudar o tempo e falar sobre o tempo durante 8,9 ou 10 horas por dia? Não. Já para não falar que toda a gente que os conhece e sabe o que fazem dizem sempre coisas tipo «então Jerónimo, amanhã chove ou não? Não sabes? Então não és meteorologista? Que raio de nome de profissão, podiam chamar-se 'tempeiros', assim toda a gente sabia logo o que vocês eram. Mas diz lá se vai chover amanhã, que vou pescar e preciso de saber se levo impermeável ou não'. Para os outros não és meteorologista, és o adivinho do tempo.

  • Otorrinolaringologista: nenhuma mãe deseja que o seu filho tenha uma profissão que nem ela, nem 85% das pessoas conseguem dizer à primeira ou segunda tentativa. A mãe diz sempre que o seu filho é médico. Quando lhe perguntam a especialidade diz «é otorrino». Que infeliz é a mãe que não sabe dizer a profissão do filho por completo por o nome ser tão esquisito e comprido. E que infeliz é o filho que tem mais letras na sua profissão do que pacientes num ano.


Por tudo isto, para não correr o risco de desiludir a minha mãe com nenhuma destas profissões, decidi estar e ficar desempregado. Acredito que nenhuma mãe o deseje para o seu filho, mas entre estar desempregado e estas todas, prefiro estar desempregado. Imaginem que eu era meteorologista e além da tristeza de toda a gente no trabalho me falar sobre o tempo e de os meus vizinhos, mal me virem entrar em casa, me abordarem com perguntas sobre a temperatura e a ondulação, ser colega de trabalho do Jorge Abel ... Acreditem, ainda bem que estou desempregado.






P.S.: O post é um bocado longo, eu sei, mas também com três parágrafos de introdução queriam o quê?

2 comentários:

  1. de facto (ou deveria escrever "de fato"?) é longo...o reparo que faço é que me parece que só terias a ganhar em ser jardineiro, é um dos trabalhos que aconselharia como mãe eheheheheheh

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Seja fruto das minhas intensas horas de visualização de pornografia ou seja real, parece-me claro que nenhum pai deseja que o seu filho consiga grandes factos como aparar um arbusto ou cortar as ervas daninhas em meia-hora, enquanto avia a patroa e a filha, ao mesmo tempo, em 36 minutos de puro prazer.

      Agora que penso bem, este era o resumo de um filme que aluguei ontem à noite.

      Eliminar