sábado, 19 de janeiro de 2013

Não sei se se lembram de mim mas vou arriscar.


Parece que o Gary agora só é amigo do Tolentino não é? Mas eu também existo. Até fico chateado quando chego aqui e vejo histórias deles os dois a apostar em combates de boxe. Não por não me terem convidado, porque convidam. Eu também não percebo nada de boxe, vale socos mas não vale pontapés nem cabeçadas. Uma vez tive um combate na rua e o moço com quem lutei usou socos, pontapés, cabeçadas e cotoveladas. Ainda percebia menos que eu de boxe mas a verdade é que me ganhou e ainda me levou a carteira no fim.

Mas bem, decidi voltar aqui agora que tenho mais um tempinho livre. Andei a trabalhar numa coisa que nunca pensei que fosse fazer na vida mas que ao fim e ao cabo era o meu emprego de sonho. Trabalhei num talho. Comecei por ser só moço de recados, que ia levar os sacos pesados a casa das pessoas. Quanto mais as pessoas me conheciam mais parecia que pediam mais carne para os sacos irem mais pesados. O pior é que às vezes chegava a casa das pessoas e via lá marmanjões, com muito mais cabedal que eu, que podiam muito bem ir buscar os sacos ao talho, mas não, mandavam-me a mim lá. E ainda por cima esses nunca davam gorjeta. Nisso gosto das velhinhas, essas dão sempre uma moedinha, ainda que exijam sempre um beijinho.

Depois passei a ajudar no talho. Cortava a carne, fazia as encomendas, atendia as pessoas quando o patrão ia encavar uma moça para a arca frigorífica, vendia rissóis e ia aos supermercados buscar molho de francesinha para vender lá no talho como se fosse nosso. Adorei esta fase. Não tanto como o patrão que todas as semanas era uma moça nova, não sei onde é que ele conhecia tantas moças mas de certeza que não era no Facebook, que eu tenho isso há 3 anos e nunca conheci nenhuma moça por lá. O que eu gostava mais era que podia levar o meu cutelo do talho para casa para lavar com detergente e tirar as manchas de sangue.

Isto de levar o cutelo para casa era uma coisa maravilhosa. Não houve um único gandulo que me viesse arreliar. Mal passasse algum a olhar para mim com aquele ar de que me vai assaltar, sacava do cutelo e ameaçava-o logo. Era vê-los a correr, os cobardes. Um dia antes de levar o cutelo comigo fui assaltado por aquele moço que não sabia as regras do boxe, desde que levei o cutelo nunca mais o vi nas ruas. Dizem-me que o moço não era daqui da cidade e só veio cá assaltar pessoas, mas eu cá acho que foi por causa do cutelo. Ninguém quer ser cortado como um vitelo ou um porco. Quem me disse isto foi lá o Paulo que trabalhava comigo, que uma vez a cortar fiambre cortou dois dedos e teve mais dores do que quando foi remover o apêndice.

Sim, eu disse «trabalhava». Infelizmente já não trabalho lá. Não deixei de trabalhar lá por ceder à pressão do meu irmão que dizia que eu passava o dia «a mexer em carne ao dependuro». Eu não achava piada aquilo mas os amigos dele achavam um piadão. A isso e a espancarem-me sempre que eu chegava do trabalho. Com estes não podia usar o cutelo. Aliás, se o meu irmão descobrisse que eu andava com o cutelo do talho no bolso ainda me tirava quando eu tivesse a dormir e ia brincar aos Faquires. Ele tem a mania de brincar a isso já desde miúdo. Uma vez obrigou-me a pôr uma maçã em cima da cabeça e a ficar quieto para ele atirar uma faca e acertar na maçã, só que acertou-me na perna. Aquilo deu-me umas dores inacreditáveis, agora pensem se fosse com o cutelo do talho ...

Tenho saudades do talho. Também tinha saudades de escrever aqui mas tenho mais saudades do talho. Primeiro porque era um bom talho, com bons preços, boa qualidade da carne, ainda que o patrão encavasse sempre as moças em cima dos rosbifes congelados. Ele dizia que assim o sabor do bacon ficava mais intenso. Nunca percebi bem o que ele fazia com as moças mas elas pareciam gostar que iam lá quase todos os dias à mesma hora. Era um talho que vendia gelados, rissóis, lombinhos de pescada, ou seja, dava para todos os gostos. Infelizmente a inspecção fechou aquilo não sei bem porquê. Depois também tenho saudades do talho porque agora que estou desempregado (e nem sequer me deixaram ficar com o cutelo ...) o meu irmão e o meu pai voltaram a dar-me cargas de porrada por estar desempregado e não andar a trabalhar. Mas ao menos voltei a escrever no blog! Não da maneira que vocês estão habituados, como o Gary faz, com aqueles pontinhos todos para facilitar a leitura, mas também não podem pedir muito mais, já não escrevia cá há meses.





P.S.: Se algum de vocês que lê o blog tiver algum trabalhinho para mim diga-me, por favor. Não sou habilitado a grande coisa mas sou esforçado e não me queixo muito. Só peço que me paguem alguma coisinha, me emprestem um cutelo para andar na rua e que me dêem meia horita para almoçar, é o que demoro para comer a minha taça de Chocapic Duo. O meu tio tem razão, é muito melhor que Chocapic. Mas continuo a achar que veio depois do Chocapic, porque senão o Chocapic Duo é que se chamava Chocapic e o Chocapic chamava-se para aí «Chocapic 2».

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