O local onde tudo o que é produzido é fruto de delírios alucinatórios. De quem escreve e de quem lê.
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Pode parecer que é moda eu escrever às terças-feiras mas é só uma coincidência
A minha vida ultimamente anda cheia de coincidências. Ainda anteontem comi um Chipicao antes de ir para a cama e no dia a seguir de manhã encontrei o Gary a sair de casa da Paulinha e ele perguntou-me se eu não lhe queria dar 80 cêntimos para ele comprar um Chipicao. Dei-lhe 1€ porque sei que desde que acabou o escudo e veio o euro os Chipicaos custam todos de 90 cêntimos. E com o euro até acabaram com os Chipicaos de morango. O Gary também me perguntou se eu tinha visto algum minotauro desde que tinha saído de casa e eu disse-lhe que não, mas como não tinha comido nenhum minotauro na noite anterior isso não foi nenhuma coincidência. Outra coincidência aconteceu logo de manhã na fábrica quando o Venâncio me disse que o Enrique Iglesias tinha gravado um videoclip com uma camisa igual à que eu estava a usar naquele dia. Não tinha a certeza se era no «Bailamos» ou noutra mas tinha quase a certeza que tinha sido no «Bailamos». Comecei logo bem o dia.
Mal vi o Sebastião perguntei-lhe se conhecia a minha camisa de algum lado e ele perguntou-me se o moço que cantava o «Torero» não passava o videoclip com uma camisa igual. Eu disse-lhe que o Venâncio tinha falado no Enrique Iglesias e o Sebastião disse que era esse mesmo. Não sabia que era o Enrique Iglesias que cantava o «Torero» mas realmente ele às vezes também canta músicas em espanhol. Já eram duas pessoas a dizer a mesma coisa. Fui ao bar e perguntei à Xana da cantina se ela gostava da minha camisa. A Xana disse-me que as camisas lhe tiravam um bocado do prazer e que não precisava nada disso porque ela em 8 anos disto nunca tinha engravidado. Percebeu mal a minha pergunta, devia estar concentrada no pequeno-almoço. O meu tio, sempre que chega a casa depois de vir dos bares a que ele vai, também fica concentrado a olhar para o lava-louça ou para o fogão. Uma vez perguntei-lhe o que é que ele estava a fazer, ele pegou numa faca, ameaçou-me e disse que não conhecia nenhum André. Foi nesse dia que descobri como não sei nada do meu tio, nem sabia que não conhecia nenhum André. Eu, por exemplo, não conheço nenhum Crispim.
Por falar em coincidências, o almoço hoje na cantina foi escalopes. Nunca na minha vida tinha comido isso, nem sabia que existia. Perguntei à Xana da cantina que carne era aquela e ela disse que mal eu provasse não ia querer outra coisa. Perguntei-lhe se devia acompanhar com arroz ou com batata frita e ela pareceu desapontada por eu estar a falar do almoço. O Sebastião disse-me que aprendeu em Matemática que havia um triângulo que se chamava escalope. Perguntei-lhe o que era e ele disse-me que não sabia, que tinha tido negativa e só se lembrava do nome, mas que a comida devia ser má porque nunca tinha comido nenhum bolo que se chamasse paralelepípedo nem nenhum sumo que se chamasse oblíquo. Por outro lado, uma vez uma professora disse-lhe que ele tinha um raciocínio circular e estava a criticá-lo. Enquanto estava na fila comecei a pensar como seria um sumo chamado «Oblíquo». Que sabores haveria? Seria um sumo ou um refrigerante? Por momentos senti-me o Gary, de tal modo que quando chegou a minha vez de ser servido ainda não sabia se ia acompanhar com arroz ou com batata.
Ainda por cima não era a Xana a servir, tinha que decidir depressa. Lembrei-me logo do Sebastião me ter dito que o que definia um homem era os segundos que demorava a ir para o computador ver pornografia mal ficasse sozinho em casa ou do Venâncio me ter dito que o que definia um homem era a capacidade de satisfazer sexualmente a sua namorada ou mulher, de forma a que ela não tivesse que procurar obter esse prazer por fora. Não sei porque raio pensei nisto, não me ajudou em nada. Como as batatas fritas da cantina às vezes vêm a saber mal e meias pretas e eu não sabia se gostava de escalopes ou não, pedi arroz. Os escalopes pareciam carne normal mas o Sebastião continuava a dizer que ia ser uma desilusão e que não havia nenhuma comida com nomes matemáticos que fosse boa. Comi um bocado a medo mas até era bom. Afinal, há comida com um nome matemático que sabe bem. Pelo menos era o que eu pensava até o Venâncio, que teve Matemática até ao 12º ano, me ter dito que não havia nenhum triângulo escalope, mas sim escaleno.
Estava explicada a negativa do Sebastião a Matemática. Perguntei-lhe como é que tendo negativa ele chegou até ao 12º ano. O Sebastião disse-me que foi para Humanidades e lá não havia Matemática a sério, só uma de brincar mas que mesmo assim ele nunca tinha passado do 13. Se calhar isso era bom para mim. Nunca fui bom a Matemática e percebo alguma coisa de seres humanos, podia ir para Humanidades. O Venâncio disse-me que o sobrinho dele estava agora no 10º ano em Humanidades e tinha tirado 17 a Geografia. Disse ao Venâncio que se calhar também ia voltar à escola para fazer o 12º ano e ele disse-me que era uma excelente ideia, mas que por outro lado ia ser mau porque já não podia seduzir as raparigas da minha turma porque ia ser mais velho que elas todas e ainda podia ir preso por isso. Por outro lado, disse-me o Venâncio, podia ir para a cama com as professoras sem elas serem punidas por isso. Não sei se ia encontrar o amor da minha vida numa sala de aula mas o Gary sempre me disse que só não se encontra o amor num supermercado, junto à prateleira dos Capri-Sones.
P.S.: O Sebastião disse-me hoje, quando saímos da fábrica, que o moço da Costa Rica o tinha convidado para ir à festa de despedida dele, que ia trabalhar para a Robialac a partir da próxima semana. Enquanto o Sebastião estava preocupado se o moço da Costa Rica ia considerar ofensivo se ele levasse uma camisa havaiana para a festa dele, eu estava preocupado em perceber porque é que a Robialac andava a ir buscar os funcionários todos lá à fábrica. Não têm mais sítios para onde ir? Uma vez vi num filme que havia uma prisão que, por castigo, mandava os presos que tinham feito asneira para uma ilha onde eles se matavam uns aos outros. Se calhar o patrão manda os funcionários que não gosta para a Robialac, por castigo. Pelo sim, pelo não, amanhã vou chegar cedo, perguntar ao patrão se lhe posso oferecer um café e começar a portar-me bem para ele não me mandar para a Robialac. E depois vou tentar perceber porque é que eu não fui convidado para a merda da festa.
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