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segunda-feira, 30 de junho de 2014
Outra carta que tive que enviar para aquele moço que trabalha na CapriSonne
Sendo eu um picheleiro honesto e competente, se há coisa que me deixa chateado, revoltado e fora de mim é faltas de consideração. Por exemplo, ainda no outro dia mudei todos os autoclismos e ainda arranjei dois lavatórios em casa de um cliente e ele só me quis pagar o arranjo dos autoclismos porque não me tinha pedido para arranjar os lavatórios. Ainda lhe expliquei que por brio e ética profissional de um picheleiro honesto, num dos lavatórios apenas apertei o parafuso de uma das torneiras e que, por isso, só teria que me pagar o arranjo de um desses lavatórios. Ele pagou todo mal-disposto e ainda me perguntou se tinha tentado seduzir a mulher dele, porque o electricista que lá tinha estado no mês passado foi para a cama com ela. Essa atitude, quer do cliente, quer do electricista, fez-me lembrar de outra falta de consideração que recebi nos últimos dias e por alguém que eu achava que estava à distância de um bife e de uma festa de anos para ser meu amigo. Por isso, optei por escrever outra carta, ainda que não tenha recebido resposta à última:
«Viva,
Recorro novamente a esta saudação precisamente por marcar a distância equilibrada entre um cumprimento efusivo e que demonstre proximidade e uma total ausência de cumprimentos que a situação em si justificaria. No entanto, como não faz parte da minha formação enquanto pessoa e enquanto picheleiro, deixo uma saudação e a confissão de que esta é já a segunda carta que escrevo, tendo em conta que na primeira escrevi «Boa tarde» e só reparei depois de escrever 4 ou 5 linhas. Se causa estranheza estar a escrever esta carta de tarde, apenas o faço porque tive um serviço de manhã e aproveitando o facto da minha mulher ter ido trabalhar de tarde, optei por ocupar este período do dia pré-lanche a redigir esta carta. Ainda que muita gente considere que as emoções como a raiva tirem a fome, a mim tem o efeito contrário. Até acho que vou comer dois pães com queijo ao lanche, em vez de comer só um, algo que faria caso não escrevesse qualquer carta.
Mas adiante, que ainda não somos amigos para estarmos a discutir o tipo de lanches que fazemos, ainda que ultimamente me tenha rendido ao poder dos lanches especiais, quando em toda a minha vida só tinha comido lanches normais e apenas em 6 ocasiões. Entre comer um lanche e comer uma torrada sempre preferi a segunda, daí que esta nova etapa da minha vida em que como lanches especiais seja algo novo para mim. Por esta altura, ao receber esta carta, deves estar a focar-te em dois pontos: primeiro, deves estar a lamentar-te por não me teres respondido à última carta que te enviei. Se o fizeste e houve algum extravio nos Correios lamento profundamente ter tirado esta conclusão precipitada. Filosofia nunca foi o meu forte, principalmente naquelas partes dos raciocínios indutivos e dedutivos. Tirava positiva, mas nunca eram positivas altas. Ainda bem que quando fui para o curso profissional de picheleria não havia Filosofia lá, ainda que já tenha apanhado clientes que gostam de filosofar um bocado enquanto estamos a fazer o nosso trabalho. O segundo ponto em que te deves estar a focar é: qual o motivo desta carta que estou a escrever. E eu digo: não é um, mas são dois.
Ontem passei por um super-mercado, na companhia da minha mulher, para comprar coisas para o lanche, visto que não era dia de nos rendermos aos encantos de um lanche especial. Compramos o que queríamos comer e dirigimo-nos para a secção dos sumos. Depois do fiasco do CapriSonne de laranja, que motivou a minha última carta, decidimos optar por um fórmula de sucesso: CapriSonne de Frutos do Safari (continuo sem achar piada aos nomes em inglês; para mim é «Frutos do Safari» e não «Safari Fruits»). No entanto, quando chegamos à parte dos CapriSonnes reparamos em dois sabores que nunca tínhamos visto nem ouvido falar: Power Team e Cola Mix. Porque raio não me falaste nisto? Foste despedido? Andas distraído no trabalho? Só queres saber lá dos moços novos que trabalham na secção do CapriSonne de laranja? Ou estes dois novos sumos são feitos no piso de cima e tu por acaso nunca passas por lá? E se é assim, não almoçam todos na mesma cantina? Não conseguias ouvir conversas e informar o consumidor, sendo teu amigo ou não?
Movido pela curiosidade e pela sede, trouxemos sumos dos dois novos sabores que nunca tínhamos provado nem sequer ouvido falar. Grande coisa alguém que trabalha na CapriSonne me escrever cartas quando nem sequer me avisa de uma novidade destas. E logo em dose dupla! Estava mesmo ansioso por experimentar os sabores novos, a minha mulher até me tirou o CapriSonne das mãos antes que eu o abrisse antes de chegar à caixa. Entretanto, aguentei até chegar a casa mas quando cheguei a casa bebi logo o «Cola Mix». O sabor é bom, parece daqueles gelados de cola, mas chateou-me ver que na embalagem, em baixo de «Cola Mix» tinha lá a dizer «Koffenfrei» e a embalagem era toda escrita em alemão. Porque raio vendem isto assim em Portugal? O que é que vocês andam a fazer no trabalho que vêm as embalagens escritas em alemão mesmo para uma pessoa não perceber nada. Olha outra coisa que vinha lá «Zitroenlimonade mit cola». É suposto perceber isto? Mas pior mesmo era lá a mensagem que vinha no fim: «No preservatives ever». Esta já põem em inglês. Tudo o que for para favorecer a libertinagem e os comportamentos de risco já não precisa de vir em alemão, sim senhor. Tudo bem que o sexo é melhor ao natural, mas não pode ser com qualquer pessoa, tem que haver confiança e conhecimento, não é assim à toa, beber um CapriSonne de Cola Mix e ter relações sexuais desprotegidas. Até porque não troco o meu CapriSonne de Frutos do Safari por este, apesar de ser bom.
O mesmo não posso dizer do outro CapriSonne que bebi. Para não ter o sabor do Cola Mix quando bebesse o outro, deixei passar umas horas. «Power Team», que raio de nome. Eu se fosse trabalhar para a CapriSonne ia ser visto como um visionário e um iluminado, porque arranjava nomes muito melhores que esse. «Power Team», «Cola Mix», mas andamos a brincar aos nomes? Por isso é que hoje em dia já quase ninguém ouve falar dos CapriSonnes, é por causa disto e por causa dos CapriSonnes de laranja. Mas disso já falei muito, agora vou focar-me neste «Power Team». Aquilo começou logo mal na embalagem. Passamos de dragões e de leões para moços a andar de skate e de patins com um graffiti indecifrável por trás? Isto apela a quê? A que a criançada ande para aí a praticar desportos perigosos e a fazer graffitis no mesmo sítio onde anda de skate? E estudar, não? Eu sei que isso parece vida boa mas depois chegam aos 30 anos e não sabem nada desta vida, só fazer graffitis e andar de skate. Eu pensei que a embalagem era má mas depois começo a beber ... e foi uma desilusão total. Tinha um sabor todo esquisito a cereja, parecia aqueles doces de Natal, os que ficam sempre para último. O pior é que aquilo diz lá que tem sumo de laranja, limão, lima e uva, mas só sabe a cereja. Aposto que puseram lá aquilo nos ingredientes só para enganar. Por brio pessoal bebi o meu CapriSonne até ao fim, mas a custo. O sabor da desilusão superou o da cereja.
Não sei se desta vez me vais escrever ou se me vais deixar sem resposta, outra vez. Volto a dizer que se essa ausência de resposta se deveu a um extravio nos Correios ou a algum problema logístico, peço desde já as minhas desculpas. Se essa ausência de resposta se deveu a algum problema de saúde, não é desculpa, que uma vez escrevi uma carta à Bom Petisco quando estava na sala de espera do dentista, que fui lá para ele me tirar um dente do siso que me começou a dar problemas. Antes de terminar, queria só dizer que ainda ontem comi uma salada de fruta que tinha lá, entre outras frutas, kiwi e laranja. Juntei para aí cinco vezes pedaços de kiwi e laranja e comi e aquilo soube-me mesmo bem. Imaginei porque nunca fizeram um sumo daquilo. Sempre era melhor do que um sumo com sabor a cereja e que na embalagem tivesse um moço a andar de skate e um graffiti por trás.
Do teu não-amigo mas que te aconselha a abrires os olhos lá na CapriSonne, porque me parece que desde que foste aumentado te começaram a ocultar algumas coisas ou então pagaram-te mais precisamente para seres tu a ocultar aos outros ou a fechares os olhos a determinadas coisas que eles fazem, tal como dar nomes como «Power Team» a um sumo,
Lucindo Sampaio de nascença, Lucindo Sampaio Bonifácio desde o feliz dia em que perdi o meu apelido, mas ganhei uma nova luz na minha vida e alguém com quem partilhar os bons CapriSonnes (como o dos Frutos do Safari) e criticar os maus CapriSonnes (como este último que nem vou voltar a dizer o nome para não me enervar ainda mais e em vez de comer 2 pães com queijo ao lanche comer 3).»
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