sábado, 21 de junho de 2014

Parece que ando desaparecido mas não é bem verdade


Olá, sou o Jorge Abel. Sei que o meu nome aparece ali em baixo mas há muita gente que lê a pensar que é o Gary só porque é ele que escreve aqui mais vezes e depois nem lêem o nome das pessoas que escrevem. Eu já disse ao Gary que o nome de quem escreve devia vir no início e não no fim mas ele disse-me que se as pessoas vissem logo de quem era o texto nem sequer faziam «Page Down» como o Teófilo faz sempre e fechavam logo o separador da Internet com o texto e continuavam a ver a pornografia ou a fazer comentários às fotos no Facebook de moças. Depois perguntei-lhe o que é que faziam as moças que vinham aqui ler os textos e ele disse que nenhuma moça vinha a um blog chamado «Comidos do Cérebro» e que quanto muito iam a um blog chamado «Bolos e Enfeites» ou «Bouquets de Fruta e Arranjos Florais». A Vera da Contabilidade disse-me que acha que o Gary é machista e homofóbico, eu só acho que ele gosta demasiado dos estereótipos. Há aqueles moços que lutam pela não extinção das baleias, o Gary luta pela não extinção dos estereótipos.



A minha vida anda como aqueles carrosséis em que toda a gente quer andar um dia mas que quando passa por lá só vê os outros a andar e comenta com os outros que deve ser uma excitação e deve ser preciso muita coragem para andar naquele carrossel. Estas não são palavras minhas, só achei piada quando o Venâncio disse isso sobre o casamento quando estava a falar no outro dia, na pausa do café. Na altura, o Lino, que é aquele calmeirão que organiza os jogos entre o pessoal da fábrica e que dá muitas cargas de ombro, disse que se o casamento fosse como um carrossel ele estava bem arranjado que tem altura para entrar em todos. Toda a gente se riu menos o Saraiva que se divorciou há duas semanas e ainda não se refez do choque. O Venâncio disse-me depois que não era por causa do Saraiva que a metáfora dele deixava de fazer sentido, pelo contrário, que o Saraiva tinha andado no carrossel mas tinha enjoado, tinha saído mais cedo e quando chegou cá fora pôs-se a vomitar os pães com chouriço e todas as coisas boas que tinha comido antes de entrar no carrossel.



O meu tio sempre me disse que estar casado é como estar preso, a diferença é que o maior problema não é apanhar o sabonete no banho. Depois perguntei-lhe se isso se aplicava para o casamento gay e ele disse-me que não sabia nada disso e que eu também não devia saber. Mas depois lá pensou mais um bocado e disse-me que o casamento gay também era como estar preso mas onde o companheiro de cela era o mesmo que nos fazia apanhar o sabonete no banho, logo, isso deixava de ser problema. Quando partilhei esta metáfora com a Vera da Contabilidade ela disse-me que o meu tio era mesmo porco e homofóbico. Já era a segunda vez que usava a mesma palavra para caracterizar duas pessoas diferentes. Quando eu fazia isso nas composições em Português a professora descontava-me logo e eu achava injusto. Agora vejo que é mesmo injusto, porque o meu tio e o Gary não têm nada a ver um com o outro, até se dão um bocado mal porque supostamente uma vez o meu tio comprou duas grades de SuperBock na mercearia do Rebelo e pôs na conta do Gary, e a Vera da Contabilidade usou a mesma palavra para os descrever. Disse supostamente porque o meu tio jurou a toda a gente que o Gary lhe disse que lhe oferecia duas grades de SuperBock se a Coreia do Norte fosse ao Mundial da África do Sul mas o Gary nunca confirmou isto.



O Sebastião disse-me que a Coreia do Norte é uma ditadura e que nas ditaduras há sempre um clube de futebol que ganha mais títulos porque é o clube do ditador. Eu nunca conheci um ditador, apesar do meu tio sempre me ter dito que quando vai para a cama com uma moça ele é que manda e elas só têm que cumprir as ordens que ele dá. Acho que os ditadores também são mais ou menos assim. O Gary uma vez disse-me que os reis também eram ditadores só que eram pessoas mais alegres porque contratavam bobos e palhaços para os fazerem rir enquanto os ditadores eram pessoas sisudas e sérias. Agora que me lembro dessa conversa, perguntei à Xana da cantina se ela gostava mais de reis ou de ditadores e ela disse-me que gostava era que fizessem dela uma escrava e a obrigassem a fazer tudo o que quisessem dela. Aproveitei a boa disposição da Xana para lhe pedir para me oferecer um Santal de frutos tropicais, que estava calor e não me apetecia água. Ela disse-me que se eu quisesse podia ir a casa dela depois do trabalho, que também ia estar calor e ela podia oferecer-me mais que um Santal. Foi pena que me tivesse convidado logo no dia em que tinha combinado ir ao cinema com a Vera da contabilidade.



O Venâncio sempre me disse que as moças são como aqueles jogos de porrada da PlayStation: dizem sempre que não querem jogar ou que nunca jogaram mas quando pegam no comando parece que são profissionais e só querem distribuir pancada. Quando disse à Xana da cantina que ia ao cinema com a Vera da Contabilidade ela começou-me logo a dizer que a Vera já tinha dormido com o patrão quando ele ainda era casado e que pedia sempre batata frita quando almoçava na cantina, logo, daqui a 10 ou 15 anos ia estar um pote, enquanto ela era saudável e por cada relação sexual queimava 750 calorias. Eu não sabia porque é que ela me estava a dizer aquilo tudo quando a Vera só me tinha dito que achava que a Xana era perita em fazer-se a tudo o que mexia. O meu tio sempre me disse que satisfazer uma moça é uma tarefa árdua, mas que satisfazer duas moças sem que nenhuma das duas saiba da existência da outra é uma ciência e um dom. Agora sim compreendo-o. Nesse dia, a Xana serviu-me mesmo pouquinho ao almoço e quando ia a tirar uma sobremesa ela disse mesmo alto «ou é fruta ou é sobremesa, não é as duas». Depois fui ao cinema com a Vera da contabilidade, disse-lhe o que se tinha passado e ela deu-me um beijo. Não consegui agradar às duas, só a uma. 







P.S.: Encontrei o Tolentino na rua e estive a falar com ele para aí uma hora. Entretanto fui embora porque lhe ligou um primo e ele tinha que o ir buscar ao aeroporto, que ele chegava naquele dia do Cazaquistão. Depois encontrei o Sebastião e ele disse-me que um português no Cazaquistão só podia ser político, vendedor de aspiradores ou jogador de futebol. Perguntei-lhe se o Cazaquistão era uma ditadura mas o Sebastião disse-me que só sabia que eles não iam a este Mundial. Depois contei-lhe que tinha ido ao cinema com a Vera da Contabilidade e que ela me tinha dado um beijo e tinha mandado uma mensagem a dizer que estava a gostar muito de me conhecer. O Sebastião perguntou-me que filme fomos ver e eu não me lembrava. Nunca me tinha acontecido! Se o Gary sabe disto nunca mais me convida para ver uma maratona do Blade em casa dele. Já não faz isso desde 2011, mas nunca se sabe quando vai voltar a fazer.


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