Mas, falando de escravatura (já que não tenho nada de novo para dizer sobre o racismo), apesar de já ter sido abolida, esta abolição é só aparente. Ok, já não vemos cargueiros a irem buscar escravos a África para virem trabalhar nas plantações de algodão ou nas de tabaco, mas a escravatura ainda é um fenómeno muito visível na sociedade. Principalmente nos classificados dos jornais onde há moças que se definem como «a tua escrava do prazer» ou moços que que dizem que vão fazer de ti o escravo deles. Curiosamente há quem ligue mais para os segundos.
Contudo não é só aqui que a escravatura persiste na sociedade. A principal forma de escravatura ainda visível na nossa sociedade, que muitos definem como sendo neo-clássica, encontra-se bem perto de nós. Não, não é pelo meu vizinho gostar de sadomasoquismo e volta e meia uma dominatrix tocar-me à campainha porque se enganou no andar, mas sim na área da restauração. Pois é, se pensarmos bem, os empregados de mesa são os escravos neo-clássicos. Eis o porquê:
- Tu pedes o que queres. Se ele trouxer algo que tu não queres podes mandar para trás, reclamar ou simplesmente enxovalhá-lo à tua vontade.
- Têm hora de entrada mas não têm hora de saída. Saem só quando o chefe deixa sair.
- Tal como os escravos, têm que se submeter sempre a ti porque «o cliente tem sempre razão».
- Se lhes deres uma «gorjeta especial» ele trabalha melhor para ti e serve-te mais rápido que aos outros.
- Em alguns restaurantes, a partir do momento em que te sentas numa mesa, ele é o teu empregado. Se falas com outro que não o «teu empregado» ele diz que não é o teu empregado mas de outra mesa qualquer, à qual tem de ser fiel.
- Enquanto tu comes como um alarve e bebes como um camelo ele está ali a trabalhar que nem um animal.
- Faz elogios a escovar-te, chama-te «jovem» se fores velho e «menina» se fores mulher de idade ou trata-te por «amigo» se fores jovem, tudo para ver se lhe dás uma moedinha no fim.
- Tem que carregar as coisas que tu usas e limpar o que tu sujas sem teres que pagar mais por isso.
- Se chamares por ele com um assobio, a estalar os dedos ou a dizer «chefe», ele vem. Pode vir cego, carregado de fúria, mas não te pode dizer nada.
- Para ti ele não tem nome. É só o empregado. Noutros casos pode também ser o «chefe», o «faz favor» ou o «desculpe».
- Sabes que ele te inveja por estar a trabalhar enquanto tu estás num momento de lazer mas isso não te incomoda nadinha e, se estiveres carregado de álcool, ainda gozas com o trabalho dele.
- Tens o estereótipo de que um empregado de restaurante anda sempre de smoking ou pelo menos de camisa branca.
Por isso, o conselho que vos deixo é: se algum dia forem a um restaurante ou a um café em que o Jorge Abel seja o empregado, usufruam desta lista e façam-lhe isto tudo só para vosso gáudio (e nosso também). Quem conseguir fazer tudo o que está na lista ao Jorge Abel, gravar e enviar para o blog, ganha uma t-shirt do Comidos do Cérebro. Basicamente é uma t-shirt branca, lisa, que já tenho desde 1999 e que tenho dormido com ela na última semana.
P.S.: Pegando no raciocínio iniciado ali em cima, se os camelos em vez de beberem água, bebessem álcool na mesma quantidade já se entendia o porquê da troca de mulheres por camelos. Se calhar as mulheres ficavam menos dispendiosas de sustentar.
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