quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Os meus amigos objectos


Já alguma vez pensaram em como seria fenomenal se os objectos da nossa casa falassem? Aposto que não. E se alguém alguma vez pensou nisso seriamente, mande para o meu e-mail a candidatura a colaborador do blog, que o Teófilo nunca mais faz o seu regresso e eu tenho-me sentido sozinho. Com a candidatura mande uma fotografia tipo passe se for moço e uma fotografia corpo inteiro se for moça. Se algum moço mandar fotografia corpo inteiro não me responsabilizo com o que o Teófilo fizer à fotografia.

Mas adiante, devia ser espectacular se alguns objectos pudessem falar e comunicar connosco sem nós parecermos candidatos perfeitos à ala psiquiátrica do novo asilo que abriu na cidade. Claro que aí desapareceriam expressões como «as paredes têm ouvidos» porque seria tão banal como dizer «os porcos têm focinho» ou «o meu tio tem osteoporose». Eram factos que ninguém queria saber, simplesmente.

Mas então eu pus-me a pensar. Que objectos comunicariam connosco? E que personalidade e características teriam? Pensei e decidi partilhar com vocês os quatro (que, ocasionalmente passaram a cinco, tendo em conta que um ex-amigo meu, agora novamente amigo, decidiu voltar a vir aqui e a redimir-se de não ter cá posto os pés durante 5 meses) as reflexões a que cheguei:


  • Móveis: 'Deixa-me levar-te para minha casa e montar-te'. Provavelmente seria uma primeira impressão marcante. Os móveis são como aquela moça que conheces na noite e que acede facilmente a qualquer pedido que lhe faças, nomeadamente de cariz sexual. Como os móveis, depois de a montares, exibes como um troféu. (Infelizmente nunca me aconteceu, mas como a fornada de moças que está a chegar agora aos 18 é muito mais estúpida e fácil, pode ser que tenha uma história para vos contar daqui a uns meses ...);

  • Frigorífico: 'O que é que tens aí para mim que me possa agradar neste momento?'. Está fácil de ver que o frigorífico é o dealer da tua casa. Se tem o que queres, levas, se não tem, fica com as coisas para ele até alguém levar. E normalmente acabas por sair satisfeito com o teu dealer, embora te custe dinheiro manter a vossa relação;

  • Almofada: 'Estou aqui para ti'. A almofada é como aquela moça de quem só te lembras quando precisas e que, apesar de querer mais que isso, fazes dela a melhor amiga e a confidente das horas más. Claro que nunca passa disso e, se alguma vez ultrapassar os limites de 'amiga' é naquelas noites em que tens mais álcool no sangue do que vergonha na cara;

  • Tapete: 'Nada do que faças me irá magoar'. O tapete faz-me lembrar aqueles moços que fazem tudo para agradar a alguém que lhe é superior, que pode ser desde o chefe, ao amigo popular ou à moça que quer impressionar. Ser tapete envolve ser calcado a toda a hora, que ninguém se importe se o está a magoar, a que sacudam o lixo para cima dele ou a ser transportado por um marroquino para ser vendido a outros. Este último caso é mais grave, mas ao menos dá dinheiro a alguém;

  • Cobertor: 'Junta-te a mim'. Pensem comigo: no Inverno precisamos do cobertor porque nos mantém quentinhos, mas no Verão encostamo-lo para um canto. Portanto, o cobertor é aquela moça (ou moço, é mais frequente fazerem-nos isso a nós mas só estou aqui a tentar manter uma postura de optimismo e passar a imagem que sou aquele machão que faz das moças um fantoche. Não sou, mas isso não é nenhuma novidade) que está contigo durante o ano todo e te satisfaz, mas que facilmente é deixada para segundo plano para abrirmos alas às 'paixões de Verão';

  • Colher: 'Não te assustes com o que te vou pedir, mas ...'. A colher é aquela pessoa que vem para ti sempre com pedidos extravagantes. É aquele objecto que, se falasse, diria algo como 'põe-me na tua boca e lambe-me toda, vá lá ...', o que equivale a um amigo te pedir para ires com ele a um bar gay só para verem como é o ambiente ou uma moça te pedir para dares o teu número de telemóvel à amiga gorda dela que está interessada em ti mas é muito tímida;

  • Meias: 'Ninguém valoriza aquilo que eu faço'. As meias são como aquelas pessoas que têm um trabalho mesmo xunga, mesmo duro, que mais ninguém quer mas que no entanto nunca são vistos como aqueles que têm o pior trabalho do mundo (embora o seja, ninguém o reconhece). No caso das meias, terão sempre que levar com o discurso de 'ser meia deve ser mesmo xunga, mas ser cueca é capaz de ser pior'. Também acham que ser cueca é pior que ser meia? Imaginem um trabalho em que tinham que estar num espaço fechado durante várias horas, com um odor que pode variar entre o ligeiramente suportável e o acentuadamente tóxico e que, além disso, trabalham com o vosso irmão gémeo e se ele fugir ou desaparecer do mapa há 75% de hipótese de que vocês sejam deitados para o caixote do lixo? Não há nada pior que ser meia;

  • Faca: 'Tás-te a armar oh mano?'. Devia ser a frase típica de uma faca. A faca é uma espécie de mauzão que ameaça os outros mas que sabe que a qualquer momento há-de surgir sempre alguma ameaça maior que ela. O pior pesadelo da faca é o canivete e uma faca sabe que o seu reinado de terror acaba quando surge em cena um canivete. Claro que nem todas as facas são assim. Aquelas facas de peixe que não cortam nada são facas que cresceram nos bairros ricos da cidade e que frequentaram as melhores universidades e conseguiram fugir à vida de gandulo;

  • Computador: 'Comigo o tempo passa a voar'. Aquela pessoa com quem passas imenso tempo, que faz com que todas as outras pessoas o invejem e te digam que não é a forma mais aconselhável e produtiva para passares o tempo. Só que o computador é daquelas moças que te consegue hipnotizar e levar-te a acreditar que não haveria melhor maneira de passar o tempo do que com ela, levando-te mesmo a interpretar que o discurso dos outros é mesmo por inveja. Claro que no fim de tudo, quando te vês livre do computador por uns dias compreendes que os outros tinham razão e prometes que nunca mais irás fazer o mesmo. Mal te apanhas com computador outra vez, cometes os mesmos erros que cometeste anteriormente.

  • Telemóvel: 'Não te consegues ver livre de mim'. É aquele moço que é o teu amigo verdadeiro, companheiro, que graças a ele falas com imensas pessoas e aparentemente só te dá vantagens. Mas também é aquele moço que é capaz de te importunar nos piores momentos, seja quando estás com uma moça, seja quando estás num teste ou quando estás a contar trocos e começa a tocar, desconcentras-te e tens que começar tudo de novo.

  • Jarras de porcelana: 'Hey, olha para mim, estou aqui'. As jarras de porcelana são como aqueles moços que nunca ninguém percebeu ao certo para que servem mas que te saltam à vista na primeira vez que os vês. Depois, quando te habituas a vê-los, às vezes nem notas que eles estão ali, passa um tempo que nem te lembravas de que eles existiam. Assim, são aqueles moços do aparato mas a quem ninguém passa cartão (tirando aquela primeira vez em que os vêem ou naquela que parece que é a primeira vez porque se esqueceram que já tinha havido uma primeira vez e olham, mas depois lembram-se «afinal já tinha visto!»); 

  • Persianas: 'Finge que não se passa nada'. As persianas são como aquelas moças que aparecem com um olho pisado e dizem que foram contra uma porta. Ou como aqueles moços que foram traídos pela namorada, foi ela que acabou o namoro e dizem que acabaram com ela porque já não a podia aturar. Tal como esses moços, as persianas permitem que escondas a tua posição mas que, mesmo assim, através delas, consigas observar o que se passa à tua beira. Claro que sempre que revelas a tua posição é um barulhão. Já alguma vez vos apeteceu matar o vizinho sem ser por ele estar a usar um berbequim ou a partir tijoleira a um domingo de manhã? A mim já, quando se põe a abrir persianas às 5 da manhã.



Para terminar, a melhor metáfora de sempre que me surgiu agora mesmo. O autoclismo é talvez o elemento mais indispensável numa casa e também o seria se fosse uma pessoa. Quem me dera ter um amigo autoclismo, que permitisse que eu lá depositasse toda a minha merda e me livrasse dela para bem longe só por carregar num botão. Pensando ainda mais à frente, ter um autoclismo na nossa vida seria sinónimo de felicidade.



P.S.: Não liguem aquela parte de eu dizer que me apetece matar o meu vizinho. Estava a brincar. Aquela notícia de que um habitante de um prédio foi morto com o seu próprio martelo, que estava a utilizar numa manhã de domingo, ao serem-lhe pregados 40 pregos no peito a sangue frio não tem nada a ver comigo, não se ponham aí com teorias da conspiração. Só me lembrei de dizer isto de matar o meu vizinho como quem se lembra de dizer que o melhor sítio para comprar batatas fritas é numa mercearia, embora batatas fritas não seja considerado uma mercearia e devesse ser mais facilmente adquirido num super-mercado ou num super super-mercado.


2 comentários:

  1. podes sempre ir comprar batatas fritas ao talho e imaginar o que relação o homem do talho poderia ter com os seu utensílios, caso eles falassem...
    Anónima MR

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    1. Acho que o desenho animado do Bob, o Construtor já explica muito da relação do homem com as suas ferramentas.

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