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quarta-feira, 2 de julho de 2014
Julho é o meu mês preferido mesmo que o Natal seja em Dezembro
Adoro Julho. É o meu mês preferido, mesmo que o Natal seja em Dezembro e isso me deixe um bocado na dúvida. No entanto, se fosse a fazer uma luta entre Julho e Dezembro ganhava Julho, por isso, Julho é o meu mês preferido. Em Julho vai muita gente de férias lá na fábrica, porque querem aproveitar o calor. Por mim tudo bem, eu também aproveito que está calor e menos gente e assim já não almoço todo transpirado na cantina. Além disso, como há menos gente, a fila é mais pequena e consigo ainda arranjar os melhores bolos, em vez de ficar com os jesuítas ou ser obrigado a tirar uma peça de fruta. Às vezes apetece-me fruta, mas sempre que vejo um bispo nem penso duas vezes. Quer dizer, não pensava duas vezes, agora tenho mesmo que pensar, porque a Xana da cantina ainda está chateada comigo e agora nunca me deixa tirar uma peça de fruta e uma sobremesa, só me deixa tirar uma. Por isso, tenho mesmo de pensar duas vezes, mesmo quando ainda estão lá bispos.
A sorte é que, ultimamente, tenho almoçado com a Vera da Contabilidade e ela é daquelas moças que come pouquinho e então eu acabo por comer metade do prato dela e já nem preciso de comer uma peça de fruta. A Xana, na última vez que me dirigiu a palavra, disse-me que se eu a escolhesse podia comer tudo, não era só metade. Depois disso, agora só fala comigo para me perguntar «então o que vai ser?» e para me avisar «ou é peça de fruta ou sobremesa, não pode ser as duas». O Venâncio sempre me disse que as moças mais perigosas são aquelas que falam pouco, porque depois quando falam é para nos atirar à cara, de uma só vez, tudo aquilo que fizemos de mal. Por me lembrar disso, estou sempre a perguntar à Vera se ela não tem nada para me dizer mas ela diz-me sempre que ainda não é a altura, que é muito cedo e para eu não a pressionar. Por estar mesmo a ver que a Vera é daquelas que quando fala é logo para dizer tudo de uma assentada fui perguntar ao Venâncio o que é que ele faria na minha situação. O Venâncio disse-me que as moças são como os carros: não podemos tentar abrir um Ford Escort com a chave de um Opel Corsa, que além de não dar, vai provocar desgaste e insatisfação até que acabamos por desistir sem sabermos que estávamos apenas a tentar da maneira errada. Depois disse-me que uma vez lhe partiram o vidro do Ford Escort para lhe roubar uma gabardina que ele lá tinha e que quando chegou ao carro e viu o vidro partido foi como se lhe tivessem partido um braço.
O facto da Vera falar pouco fez com que quisesse tirar algumas dúvidas sobre moças com as pessoas que me são mais próximas. Perguntei ao Sebastião o que é que ele achava da Vera falar pouco e ele disse-me que isso era normal, que a formação da Vera era com números e as pessoas sabem que quando falam de números com outras, as que estão a ouvir ou adormecem ou não prestam atenção. Podia ser por isso que a Vera não falava tanto, mas perguntei-lhe se isso se aplicava aos sentimentos. O Sebastião disse-me que sempre que vê novelas, em que é só gente a falar de sentimentos, muda de canal passados dois minutos. A conversa com o Sebastião não me ajudou muito, só para perceber que não foi a ele que emprestei as cassetes com episódios do «Rei do Gado». Faltam-me os episódios 26, 38, 39, 40, 66 e 288 e não sei a quem os emprestei. Sei que o meu irmão uma vez chegou a casa de uma festa qualquer e se pôs a ver um episódio do «Rei do Gado» porque pensou que era pornografia, ainda mais quando os começou a ouvir falar em brasileiro. Depois quando viu que era uma novela e que ainda por cima não percebia o enredo por ter pegado num episódio ao calhas, destruiu-me a cassete, acordou-me e obrigou-me a ir alugar-lhe um filme pornográfico. Eu na altura até fui de bom grado, o pior para mim foi mesmo saber que tipo de filmes é que lhe agradavam mais. Trouxe-lhe um drama em que uma moça casava e depois era violada na noite de núpcias.
Quando apanhei o meu tio em casa perguntei-lhe o que é que achava da Vera da Contabilidade não falar muito e se isso era perigoso para mim. O meu tio disse-me que essa era uma boa conversa para ter enquanto o fosse levar a Vila do Conde. Lá lhe dei boleia e mais uma vez, com o meu tio, aprendi imensas coisas. Segundo o meu tio, era bom que a Vera não falasse muito porque a teoria dele é que as moças que falam pouco, na cama berram mais e ele gostava de moças que berrassem na cama. Perguntei ao meu tio se a minha tia costuma berrar com ele e ele disse-me que isso só acontecia quando ele se esquecia de baixar o tampo da sanita. Depois perguntou-me em que bar é que trabalhava essa Vera e quantas bebidas eram precisas para a levar para a cama. Isso não lhe soube responder, mas sei que a Vera gosta de ir sair com as amigas para bares onde só vão mulheres. Acho que o bar se chama «Noite da Mulher» ou uma coisa assim. O meu tio disse-me que das primeiras coisas que se deve saber numa moça é se o marido é polícia ou criminoso e quais as bebidas preferidas. Foi aí que descobri que não sabia nada sobre a Vera a não ser onde é que ela trabalhava, o nome e que gosta de jogar Candy Crush no telemóvel.
Liguei ao Gary para saber a opinião dele mas não me atendeu. Depois mandou-me uma mensagem a dizer que estava no Tadjiquistão e que não podia atender porque como é fora da União Europeia não há roaming e paga-se uma fortuna em chamadas e que se não tiver dinheiro para pagar as chamadas lhe tiram um rim. Nem o quis incomodar mais porque nem sabia quantas horas a mais eram no Tadjiquistão. Sei é que comentei com o Venâncio que sentia que não conhecia nada da Vera da Contabilidade, mas que sabia que gostava dela. O Venâncio disse-me que não havia nada mais puro que os sentimentos, a não ser a cocaína afegã, mas que ninguém ia preso por ter sentimentos puros no bolso. Perguntei-lhe se às vezes os sentimentos puros não eram uma prisão e o Venâncio disse-me que na vida não havia maior prisão que a da solidão e que os sentimentos por outra pessoa eram a chave das nossas próprias algemas. Depois disse-me que a prisão de ventre também era complicada mas que, com ele, os kiwis acabavam logo com isso. Será que a Vera da Contabilidade também gosta de kiwis? Tenho a chave das minhas algemas na mão mas não sei nada sobre elas. Isto fui eu que disse ao Venâncio e ele perguntou-me se podia dizer isso a moças que ele conhecesse na Internet como se tivesse sido ele a inventar.
P.S.: Agora que escrevo isto, acho que as cassetes do «Rei do Gado» que me faltam estão com o Teófilo. Ele andou este tempo todo ausente e longe daqui para ver se eu me esquecia e agora voltou a fingir que não tinha nada e que está de consciência tranquila. Lembrei-me disso porque quando fui levar o meu tio a Vila do Conde ele disse-me que a melhor técnica para alguém se esquecer que nos emprestou dinheiro é estarmos todos os dias com ele nos primeiros tempos, depois afastamo-nos progressivamente até não lhe dizermos nada durante para aí meio ano. Depois reaparecemos na vida dessa pessoa de repente só para dizermos que estamos vivos e voltamos a desaparecer, mas sem nunca pagar. Por isso, acho que foi isto que o Teófilo fez! No entanto, este P.S. não servia só para isso. No sábado fui sair com a Vera e ela apresentou-me a duas amigas dela. Segundo o Venâncio, isso é sinal que ela quer que as amigas dela me conheçam e saibam quem eu sou, mas segundo o meu tio é sinal de que ela quer envolver as amigas em fantasias sexuais desde que pague um preço justo. Como sinto que não conheço a Vera, não sei o que significou ela ter-me apresentado às amigas. Se quiserem, ajudem-me a perceber e escrevam nos comentários o que acham. Obrigado.
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O facto de ela te ter apresentado às amigas significa que ela quer mostrar que conseguiu um bom moço. Ou então que conseguiu um moço melhor que o delas. Ou então que já não vai ficar sozinha na vida. Ou então que tem mesmo um companheiro. Ou então quer que elas te aprovem como parceiro sexual.
ResponderEliminarDe uma forma ou de outra, se a Vera te considerou nalgum destes campos, acho que és um sortudo. Significa que ela tem uma opinião favorável sobre ti (senão não estava segura ao ponto de te apresentar).
Mas já agora, esclarece-me:
- Foram sair para onde? E a Vera apresentou-te como?
"Ola, este é o Jorge Abel?" ou "Ola, este é o meu... "qualquer coisa"?
Se é para as moças me aprovarem como parceiro sexual então o meu tio tem razão ...
ResponderEliminarQuanto à apresentação disse «é o Jorge Abel, trabalha comigo lá na fábrica». O Sebastião disse-me que já o superei que uma moça com quem ele andava a sair disse às amigas dela que ele era o Serafim.