sexta-feira, 13 de abril de 2012

A minha cama podia ser a minha namorada

Quem vir este título pensa há quanto tempo eu não tenho uma namorada para poder dizer uma coisa destas. Há algum já. E quando digo algum é muito. Na verdade nem me lembro bem de qual foi a última namorada que eu tive e que pelo menos ela soubesse que era minha namorada. 


Contudo, parece-me a mim, no meu perfeito juízo enquanto comido do cérebro, ir divulgar verdades universais sobre aquela espécie de relação humana que se chamou vulgarmente de namoro. Isto do namoro, noutras variantes, poder-se-ia chamar de escravatura, sadomasoquismo, tortura, serviço comunitário, aprisionamento indevido ou privação da liberdade própria e/ou alheia.  Noutros âmbitos mais alargados chamou-se também serviços sexuais a tempo inteiro ou, para moços mais sensíveis, serviços emocionais apenas e só. É verdade, domino isto da legislação e dos direitos.


Passando esta parte à frente, a pergunta que se impõe é: o que tem a minha cama a ver com uma possível namorada minha? Deixo-vos alguns exemplos para reflectirem e servir como pontos de comparação:

  • Quando passo pouco tempo com ela, fico cheio de saudades e não vejo a altura em que vou passar um dia inteiro com ela;
  • No entanto, quando passo muito tempo seguido com ela, chega uma altura que já nem sei o que fazer com ela e fico farto;
  • Trato-a com relativamente mais carinho do que outros objectos que possuo; 
  • Trato-a como se fosse uma «ela»;
  • Quando estou muito pesado ela começa a chiar e ou mudo eu ou mudo de cama;
  • Apesar de gostar muito dela, necessito de outras coisas nela para ser ainda mais feliz (isto é, almofadas);
  • No verão, ela está mais fresca, no Inverno, está com mais roupa;
  • Os meus pais encorajam-me a passar tempo com ela porque faz-me bem mas são os primeiros a criticar-me quando passo tempo demais com ela;
  • Não a divido com nenhum outro homem;
  • Não lhe conto quando durmo noutra cama;
  • Depois de dormir com ela sou obrigado a fazer-lhe algum gesto querido (isto é, fazer a cama. Maior parte das vezes a mando de outra pessoa);
  • Toda a gente me julga quando a deixo destapada ou descoberta;
  • Os meus amigos inventam alcunhas para mim por passar muito tempo com ela e tentam a todo o custo tirar-me da beira dela;
  • Uso menos roupa (ou nenhuma mesmo) quando estou com ela do que no dia-a-dia;
  • É à noite que a nossa relação mais se consuma;
  • Quando estou com ela quero é descansar e dormir mas às vezes ela não me deixa;
  • As pessoas tendem a homossexualizar a nossa relação ao oferecer peluches ridículos ou camisolas (entenda-se por camisolas, colchas, que é outra palavra homossexualizante) com cores berrantes (felizmente não há decotes para camas, como há para homens ...);
  • Nunca falo com ela e, se ela fala comigo, não percebo nada do que ela me diz.
Pensando bem, agora que me lembro, acho que foi por este último ponto que o meu último namoro acabou. E foi com uma pessoa, não com uma cama. Ou foi ... ?

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