quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Pessoas como nós


No outro dia mudei sem querer para o Canal História. Pensei que aquele canal era o do futebol mas pus um número a mais e ficou ali. Até porque o comando decidiu deixar de funcionar e então deixei ficar ali, precisava de dormir um bocado e nada melhor que ver esse canal para adormecer. O que vi, fez-me pensar. Era um moço a contar algumas histórias sobre as personagens mais odiosas da história mundial. E esse moço estava a falar dessas pessoas como se fossem autênticos monstros.

Em princípio ficava por aí, adormecia, acordava duas horas depois a perguntar-me porque raio estava naquele canal e mudava para o futebol ou para a bonecada. Só que sofri pressão de uma moça lá no Facebook para fazer um texto novo e este tópico pareceu-me bem. Pelo menos original, fazia as pessoas pensarem «como é que este moço se lembra destas coisas?», ainda que não achem piada nenhuma.

Por falar em não achar piada nenhuma, no outro dia contaram-me uma piada mesmo fraquinha, mas que não vou partilhar agora porque não tem nada a ver com o post. Vejam lá então como é que algumas daquelas pessoas odiosas, para o moço do Canal História, não para mim, são pessoas como nós:


  • Hitler: este é aquele caso em que toda a gente só olha para o que ele fez de mal. Aposto que ninguém sabia que o Hitler era um defensor acérrimo de um pequeno-almoço equilibrado e por isso criou o hoje em dia Bolicao, na altura Bolikahn. Hitler comia Bolikahn todos os dias, de manhã, e era um grande coleccionador dos cromos que saíam da selecção alemã do Mundial de 1938. Sempre que lhe saía uma tatuagem ficava chateado, mas quando saía um cromo, mesmo que fosse repetido, delirava. Após a sua morte, o Bolikahn foi eliminado dos mercados e posto em circulação apenas na década de 90, sob a designação de Bolicao;

  • Mussolini: toda a gente sabe que o Mussolini é como aqueles miúdos que vê o amigo fazer uma coisa e faz tudo igual, mas noutro sítio. Assim que viu o Hitler a criar o Bolikahn, decidiu também contribuir para um pequeno-almoço equilibrado e inventou o Fresky. Só de laranja, que isso é que é bom de se beber de manhã. Foi por causa do Fresky de laranja que se inventou aquele provérbio que laranja de manhã era ouro. Só décadas depois da morte de Mussolini é que começaram a aparecer os Freskys de frutos tropicais e de ananás;

  • Franco: ele bem via o que acontecia aos portugueses, condenados a acabarem numa taberna de mau gosto, todos cebadolas, a enfrascarem vinho como se não houvesse amanhã. Em Espanha também havia disso e foi quando Franco decidiu intervir. Pegou em vinho tinto daqueles das tascas, juntou-lhe dois gomos de maçã, dois de laranja e um de pêra e serviu numa jarra ao seu amigo Simón. Como lhe devia um favor, deixou que ele dissesse que foi ele que inventou essa bebida, que se chamaria sangria, nascendo aí a famosa sangria Don Simón;

  • Napoleão: numa altura em que a França dominava os mares, conquistando cada vez mais terras, Napoleão apaixonou-se pela verdadeira música. Sim, porque ele descobriu que a música francesa era uma porcaria, sempre com moços a queixarem-se e a lamentarem-se por amores perdidos e a falar de como eram infelizes ao som de uma pianica. Farto de ouvir os seus soldados a ouvirem isso nas alturas, nos rádios, Napoleão criou o primeiro protótipo dos auscultadores, que serviam apenas para ser o próprio soldado a ouvir aquela música horrível. Hoje em dia, sempre que vou de transportes públicos, agradeço ao Napoleão;

  • Bin Laden: uma das pessoas em quem mais me revejo é no Bin Laden. Refém das lâminas descartáveis da Gilette durante anos, por não querer dar 10 contos por uma máquina em condições, detesto cortar a barba. É uma função masculina que detesto e da qual abdicaria de bom grado. Principalmente agora que para se arranjar emprego tem que se ir com a barba feita (ou desfeita, nunca percebi bem esta porcaria de fazer a barba quando se está a desfazê-la ...), sou vítima disso. Se pudesse escolher, fazia como o Bin Laden e nunca mais fazia a barba, nunca mais tinha a pele irritada durante o dia em que cortei a barba, não gastava dinheiro em after-shave e cremes hidratantes;

  • Sadaam Hussein: só tenho a dizer que sem o Sadaam Hussein, aquele tipo de bigode nunca teria aparecido na televisão, não geraria modas e o Quim Barreiros seria um personagem muitos menos afável do que é. Além disso, maior parte dos merceeiros não teria bigode e não seriam pessoas tão afáveis, a levar os sacos das velhinhas a casa delas, quando estão pesados, e a enganarem-se no troco para as moças jeitosas, ainda que tenham menos 30 anos que eles;

  • George W. Bush: este faz-me lembrar o Ramalho Drogas. O pai dele tinha uma coisa boa, deixou-a para o filho e o filho estragou-a e só fez porcaria. O pai do Ramalho Drogas tinha (e ainda tem) a melhor drogaria daqui, vende tudo o raio do homem. Ainda no outro dia fui lá comprar daquelas escovinhas para limpar a porcaria das unhas e a bom preço! O pai tem isto e o que fez o Ramalho Drogas? O mesmo que o Bush: porcaria. Estragou o trabalho do pai todo;

  • Imperador Hirohito: o Japão pode ter muitas coisas más como aqueles animes muito fracos ou como a pornografia deles ter censura nas melhores partes. Mas se houve coisa que Hirohito fez e eu valorizo (ao contrário do moço do Canal História, que não falou nisto) foi ter inventado o comando. Quando estivesse a dar porcaria na televisão ou outro filme da Marilyn Monroe, podia mudar de canal sem ter que se levantar. Claro que ele na altura não podia mudar para o futebol, que a liga japonesa era muito fraquinha, mas mudava para o Dragon Ball, que em 1940 devia ir na parte do Frizer destruir o Planeta Namek;

  • Estaline: sem que ninguém o valorize por isso, ele foi o visionário daquilo a que se chama design de interiores e decoração. Alguma vez alguém tinha pensado em cortinados? Não, só havia persianas a separar o nosso mundo do mundo dos outros. Quando Estaline criou a famosa «cortina de ferro», a ideia de ocultar aos de fora o que se passava na nossa casa cativou os russos. Claro que as primeiras cortinas, de ferro, não eram práticas. Só depois da evolução para materiais como o linho é que eles exportaram a ideia para o Ocidente.


Como vêem, não é difícil encontrar o lado humano destas pessoas que, principalmente por aquele moço do Canal História, são considerados monstros e páginas negras da história mundial. Por acaso, o meu livro de história do 7º ano, uma vez ficou marcado a negro porque estava a comer um Bolicao e tinha os dedos sujos do chocolate, que derreteu porque estava um daqueles dias que está muito calor de dia e muito frio à noite, eu ia a mudar de página e ficou tudo cagado de chocolate. Mas também era a página do Mussolini, bastava ler a parte do Hitler e era tudo igualzinho, só com algumas coisinhas diferentes para que ninguém dissesse que ele estava a copiar. Eu também fazia isso nos testes na escola, só que fazia logo nos piores. Copiava sempre em Matemática, mas para a professora não pensar que eu estava a copiar, mudava um número na resposta, em vez de dizer que era 236, dizia que era 226, para não ser tudo igual. Mas ela queimava-me sempre, que nunca tirava positiva.




P.S.: Não era preciso dizer mas sinto-me na obrigação ética e moral de vos garantir que tudo isto resulta de uma pesquisa a fundo das biografias destas pessoas. Não vou revelar as minhas fontes porque isto não é nenhum trabalho para a faculdade, para os professores irem ver se copiei ou não. E se copiei, neste caso, não interessa para nada, interessa é passar a mensagem de que no fundo, estes eram bons moços, como nós. Mas quando digo como nós não incluo aqui o Paulinho Docas, que é violador. Esse é mesmo mau moço, não há nada que se aproveite.

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