domingo, 30 de dezembro de 2012

O que a passagem de ano e o início de namoro têm em comum


Uma das coisas que mais gosto no Natal e na passagem de ano é o material que me dá para escrever. Tirando os fenómenos relacionados com o Verão, em que o cérebro da maioria das pessoas parece que fica do tamanho de um pinhão, a época natalícia é a que dá mais azo a escrever. Tanto que até acabei de utilizar «pinhão» numa expressão. Aliás, o «pinhão» é um dos maiores paradoxos do nosso idioma. Quer dizer, existe uma coisa grandona chamada «pinha» e um fruto pequenitates, que 50 deles não dá para encher uma mão, chama-se «pinhão». O gramático que inventou isto que me venha explicar o porquê.

Ainda que considere estas duas alturas do ano como as mais férteis para escrever, não posso desvalorizar o tema predilecto para todos os vizinhos e idosos do mundo. Isso mesmo, a meteorologia. É um tema de conversa leve, capaz de se ter todos os dias, durante um período a oscilar os 20 e os 60 segundos, sem que a outra pessoa te considere rude (por não lhe falares) ou intrometido (por ser um tema que não revela crenças pessoais, tipo de personalidade ou práticas comportamentais). A única desvantagem de falar sobre o tempo é que só tem este impacto positivo com vizinhos e pessoas desconhecidas.

Por isso, como não vou falar sobre o tempo com vocês, vou falar sobre a passagem de ano. Quer dizer, não é bem falar sobre a passagem de ano, mas sim mostrar-vos o que é que a passagem de ano e o início de namoro têm em comum:

  • Fazem-se sempre promessas, umas mais impossíveis que outras, mas a maioria delas acabam por nunca se cumprir;

  • Há exageros que se cometem sem necessidade e que, no dia seguinte, já nos arrependemos de o termos feito (entre estes exageros incluem-se as promessas);

  • Faz-se uma grande festa por uma coisa que não é assim tão importante e que há todos os anos;

  • Em alguns casos terminam na esquadra e a envolver polícia;

  • Ou envolvemos os amigos em demasia ou cagamos para eles. Nunca se encontra um equilíbrio perfeito;

  • Deixamos a família um bocado à parte e aqueles que passam esta altura com a família são vistos como mau aproveitadores do momento;

  • Cada um vive à sua maneira mas há pessoas que têm rituais estranhissimos e que preferes não saber;

  • Quando acaba nunca nos lembramos de tudo o que aconteceu e, se nos lembrarmos, algumas das memórias não são assim muito nítidas;

  • Diz-se sempre que esta vai ser a melhor de sempre e temos uma crença inabalável nisso, embora no ano a seguir já não me lembre de grande coisa do que fiz;

  • Nunca é verdadeiramente como se idealiza;

  • À medida que se vai envelhecendo atribui-se cada vez menos importância;

  • As pessoas não percebem quando dizes que preferes ficar sozinho ou não fazer grande festa.


Sendo assim, não vou desejar um bom ano a ninguém. Qual é o grande motivo de festejo por passar de um ano para o outro? Alguém festeja a passagem de Janeiro para Fevereiro? Ou a de Julho para Agosto? Não percebo. Outra coisa que não percebo é porque é que o dia 1 de Janeiro é considerado feriado. Supostamente, o primeiro dia do ano deveria dar o exemplo, certo? Mas que exemplo é que o dia 1 dá aos outros 364 dias? É feriado, metade do país está a curar a ressaca, toda a gente acorda tarde, indo para a festa ou não toda a gente bebe álcool noite dentro, há acidentes a torto e a direito, normalmente é neste dia que se conhecem os aumentos que vai haver no novo ano e há vários moços a acordar e a pensar «como é que eu consegui comer uma moça tão feia ontem à noite?!?!». 




P.S.: Vamos acabar o ano de 2012 com 5000 visualizações do blog. Portanto, tirando as 4000 visualizações do Jorge Abel, em 40 computadores diferentes e tirando as minhas 150, sobram 850 visualizações divididas pelo Teófilo, pelo Tolentino, por aqueles moços que chegam ao blog através de pesquisas tipo «travesti em Espinho» e por vocês, leitores inocentes daqui do blog. Se me perguntarem se é um bom número eu digo que não, que é horrível. Mas como nunca fui bom a Matemática e, mesmo a copiar, não passava do 3, não sou propriamente a melhor pessoa para falar de números.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A diferença entre conduzir e ir a um estádio de futebol


Acabou o Natal e, com ele, acabaram as mensagens insípidas, deprimentes, previsíveis e iguais que as pessoas insistem em mandar, todos os anos, para toda a gente da sua lista. Não é de estranhar porque é que este ano, das 863 mensagens que recebi desse género, 850 eram de números que eu não conhecia e não tinha guardado na lista telefónica. A parte má disto tudo é que agora está a chegar aí a passagem de ano e voltam a chegar as mesmas mensagens em catadupa, mas ainda piores já que envolve aquela que diz «que o pior do próximo ano seja o melhor deste».

A minha pergunta é simples: quem manda estas mensagens acredita mesmo no que está a enviar? Acredita mesmo que o próximo ano vai ser cheio de alegria e saúde? Nunca vai dar uma constipação ou uma paragem de digestão à outra pessoa só porque eu o desejo? Toda a gente vai ser saudável e feliz e o Mundo vai ser um sítio bem melhor? E os médicos, que lhes acontecia sem ninguém doente? E os advogados, viviam de quê sem criminosos para defender, divórcios para tratar ou heranças para gerir? E para haver heranças tem que morrer gente, não pode continuar tudo vivo! Depois queria ver as farmácias a darem lucro só a vender preservativos ...

Mas adiante, que já estou medicado e só quando não estou medicado é que me perco no raciocínio durante 2 parágrafos. Observem agora atentamente à forma superior como eu vos vou mostrar a diferença entre conduzir e ir a um estádio de futebol (embora note em vocês a descrença habitual antes de eu me pôr aqui a disparar os meus argumentos inquestionáveis):



  • Gostas de ir a um estádio ao fim-de-semana, ao sábado ou domingo à tarde e nem gostas que os jogos sejam muito tarde. A conduzir, pelo contrário, evitas ao máximo andar na estrada principalmente ao domingo à tarde, que é só velhotes a andar a 10 km/h e maçaricos que têm a carta há 3 dias;

  • Quando vais a um estádio de futebol descarregas todas as tuas emoções. Insultas o árbitro, os fiscais de linha, o quarto árbitro, os jogadores e adeptos adversários, até mesmo os jogadores, treinadores e adeptos do teu clube. Quando estás a conduzir só podes insultar o carro da frente quando este não dá um pisca e ele nem sequer te ouve, só te vê esbracejar;

  • Quando vais a um estádio de futebol e passa uma moça jeitosa podes assobiar à vontade. Quando vais a conduzir só podes buzinar, a moça assusta-se e ainda te insulta por cima;

  • Quando vais a um estádio de futebol andas à porrada com adeptos adversários por uma questão de superioridade do teu clube. Quando vais a conduzir, andas à porrada com outro condutor porque te roubou o lugar de estacionamento no shopping;

  • A grande vantagem de conduzir é que podes ouvir a música que tu queres e gostas. Quando estás num estádio de futebol ouves aquelas músicas horríveis que dão na rádio e sujeitas-te ao gosto de outra pessoa. Pior que isso, ocasionalmente, ainda vês algum moço bastante obeso a dançar o «Ai se eu te pego»;

  • Quando vais a um estádio de futebol, para ti, não há melhor clube que o teu. Até pode haver outros que ganhem mais títulos e sejam mais ricos, mas o teu clube é o melhor. Quando estás a conduzir sabes perfeitamente que há milhares de carros muito melhores que o teu. E ainda por cima vê-los a ultrapassarem-te;

  • Quando vais a um estádio de futebol e há tempo de compensação e prolongamento não te importas porque estás na emoção do jogo e, por um lado, sempre é mais futebol que vês. Quando estás a conduzir, se apanhas trânsito e demoras um bocado mais, começas logo a stressar e só queres sair dali;

  • Quando vais a um estádio de futebol e encontras lá uma moça que mostra conhecimentos sobre futebol ficas visivelmente agradado e vais fazer tudo para a conhecer. Quando estás a conduzir, só notas que é mulher se for muito devagar ou se fizer uma grande asneirada. Se conduzir bem, nem sequer reparas;

  • Quando vais a um estádio de futebol podes beber à vontade antes e depois do jogo, que isso só vai aumentar a emoção com que vês o jogo. Quando estás a conduzir também podes beber à vontade, mas se fores apanhado ficas sem carta e ainda pagas uma multa que te deixa sem dinheiro para ires ver um jogo ao estádio.


Viram como eu vos consegui dar a volta outra vez? Ainda é uma comparação estúpida conduzir e ir a um estádio de futebol? A única semelhança entre conduzir e ir a um estádio de futebol é que se fizeres ambas as coisas com a tua namorada ou mulher, ela vai querer sempre dar palpites e opiniões que te enervam e te desconcentram mais do que te ajudam. Mas eu até acho que elas fazem isso de propósito porque vêem que isso nos enerva. Experimentem falar durante a novela sobre cortinados ou sobre o que aconteceu ao primo da filha do tio da vizinha e vejam a reacção delas. Aconselho-vos vivamente a fazerem-lhes isto, mas por outro lado este é um conselho de alguém que anda a tomar anti-psicóticos, que escreve num blog de categoria baixíssima, que não desejou «bom Natal» a ninguém mesmo tendo feito um post um dia antes e que fez com que o seu co-autor se tornasse num ex-amigo que deixou de ler o blog.




P.S.: Vi que houve alguém que chegou até ao blog após ter feito a pesquisa no Google «gordinha de fato de treino». Houve outro (não sei se foi a mesma pessoa mas eu aposto que é) que chegou ao blog através da pesquisa «chocapic é mau para o cérebro?». Não sei mesmo que tipo de pessoas andam na Internet mas desde que cheguem até ao blog e contribuam como uma visualização não quero saber. Tudo isto para dizer que esta porcaria faz um ano de existência no dia 29 e decidi não fazer grande alarido com isso, registando esse facto apenas num pequeno parágrafo, que nem tem nada a ver com o texto escrito em cima. Por isso, parabéns a mim e não esperem outra coisa em troca senão mais e mais delírios alucinatórios convertidos em texto.

domingo, 23 de dezembro de 2012

A moça mais chata da minha vida


Se alguma rapariga que alguma vez tenha saído comigo começar a ler isto a pensar que lhes vou dedicar um texto, ainda que de forma negativa, escusam de estar preocupadas. Não vou falar de vocês. Aliás, na maior parte das vezes nem me lembro de vocês. Nesse aspecto, aquela cabra do Bailley's dá-vos 10-0 porque apesar de nunca mais lhe ter falado, tão cedo não a vou esquecer. Um café e um Bailley's e uma nota de 5€ não chegou. Ainda tive que ir buscar moedas à carteira. Saiu-me cara a brincadeira.

Mas adiante, que isto não é para falar com vocês nem vos dar importância, isto é, se alguma vez vos dei realmente importância. Acho que tenho que começar a mudar isso para poder ser feliz com alguém. Ser feliz com alguém ... Porque raio é que uma pessoa quando é feliz ainda pensa em ser feliz com alguém? Isso é como roubar 1 milhão de euros de um banco sozinho e depois ligar ao primo a oferecer metade, que é para ser feliz com alguém. O que tem a ver roubar um banco com ser feliz não sei, sei é que o palhaço do Ramalho Drogas ainda não me trouxe a merda dos anti-psicóticos.

Por isso, em vez de vos estar aqui a empatar, vou falar na moça mais chata da minha vida e explicar porque é que a defino como tal. Obviamente, estou a falar do antivírus do meu computador. Vejam lá porquê:


  • Tenho que parar tudo o que estou a fazer para o antivírus fazer as coisas dele. Bloqueia-me, não me deixa fazer nada e só posso continuar a minha vida quando ele acabar de se actualizar;

  • Nas vezes em que faz grande aparato, bloqueia-me completamente o que estou a fazer e obriga-me a parar tudo, é quando faz uma porcariazinha de nada tipo instalar 2 ficheiros;

  • Pelo contrário, quando faz uma coisa em grande, tipo instalar 36 ficheiros novos ou fazer 350 actualizações, faz isso num instante, sem me chatear. Nesses momentos até penso que devia valorizar mais o meu antivírus mas depressa me arrependo de pensar isso;

  • Nunca está bem como está. Todos os dias quer coisas novas, actualizações, revisões e essa porcaria toda só para me chatear e só para chamar a atenção;

  • Quer-me convencer a todo o custo que preciso do antivírus e que se não o tiver vou ficar em risco e sem ninguém para o proteger das ameaças. O pior é que consegue convencer-me a não abdicar e continua a chatear-me todos os dias, a pensar que é importante;

  • Os entendidos nisto dizem que eu não sei a sorte que tenho em ter um antivírus que faz essas coisas todas por mim e que devia valorizar mais aquilo que tenho;

  • Está-me sempre a tentar convencer a comprar ou a autorizar coisas para ficar cada vez melhor e mais actualizado. Basicamente fica a mesma coisa, mas garante-lhe pelo menos mais uns meses na minha companhia;

  • Sei que há versões melhores e mais actuais mas eu não troco porque dá muito trabalho e já me habituei, de certa maneira, às manias do meu antivírus;

  • Não consigo compreender como é que há moços que pagam para terem o mesmo que eu tenho de borla e que me mói o juízo. Se calhar é alguma perturbação mental que eu não conheço;

  • Tudo o que vem de fora é uma ameaça. Dá logo sinal que tem potencial nocivo e que pode afectar o sistema. Mas eu aposto que isso é tudo desconfianças e ciúmes;

  • Ultimamente já me deixa mais à vontade, já me deixa fazer as minhas coisas com mais liberdade, sem me bloquear tudo, como fazia ao início.


Alguém me quer convencer que lendo esta lista não conseguimos fazer um paralelo com aquela moça chata que não nos larga, está sempre a sarnar-nos a cabeça com teorias, niquices e detalhes totalmente irrelevantes para nós? Quem não conseguir fazer esse paralelo tenho duas explicações: 1) não sabe a sorte que tem; 2) não tem nenhuma moça assim porque ele próprio faz isso às moças. Sim, este não é um texto sexista, há moços que também fazem o papel de antivírus e ainda conseguem ser mais chatos, melosos e persistentes do que as moças. O único motivo pelo qual não pus «moço» no título foi para não levar as pessoas a pensar que eu de repente tinha arranjado um namorado. Não estou medicado eu sei, mas também ainda não cheguei a esse ponto.




P.S.: Para aqueles crentes que iam achar que ia desejar bom Natal às pessoas que viessem aqui tenho a dizer que deixo esse trabalho de vos desejar isso aquelas pessoas que por esta altura ficam com ainda menos originalidade do que é costume e enviam a mesma mensagem inócua e vazia para a lista inteira e, no fim, para não se comprometerem, mandam «beijinhos/abraços/cumprimentos». Claro que eu acho isto absolutamente deprimente, mas depois de um mês inteiro a ouvir músicas de Natal, qualquer pessoa cai nestes erros sem dar por isso.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Tony Carreira e a luta contra a esquizofrenia


Disseram-me que eu tinha um blog em que só falava de porcaria e não informava as pessoas de nada de jeito. Perguntam vocês quem é que me disse isto e eu sou sincero: ninguém. Aliás, não foi ninguém, fui eu que disse a mim mesmo. Mas não o disse em tom de crítica, pelo contrário, disse-o orgulhoso por aquilo que tenho conseguido fazer aqui: ter 4 ou 5 pessoas a ler a porcaria que eu deito cá para fora em vez de ser só eu ou ocasionalmente uma pessoa que me apanhe em transportes públicos e que consiga ler o pensamento.

Perante isto, decidi manter o meu registo pessoal de inundar a vossa vida com porcaria acessória que ninguém queria saber mas que, de outro modo, ficaria presa para sempre no meu cérebro. E sabemos bem o que acontece aos que ficam presos para sempre: deixam crescer a barba, descuidam-se na higiene, ficam malucos e acabam por se apaixonar pelo seu companheiro de cela. Assim, entre ficar assim ou deixar-vos perplexos, não hesito em optar pela segunda via.

O meu delírio de hoje é algo que nunca vi ninguém a pensar. Dizem que o Tony Carreira é um cantor romântico e que as letras dele reflectem bem o amor e o estar apaixonado. Eu digo que não. Eu digo que as letras dele reflectem sim a relação dele com a esquizofrenia, em várias etapas. Se não acreditam, fiquem para ler os meus argumentos poderosíssimos:


  • «Depois de tantos erros loucos só agora é que vi, que eras tu, a metade de mim eras tu»: mas alguém me quer convencer de que o Tony Carreira não está a falar da esquizofrenia de que sofre? Baseio-me em três coisas: 1) no título do post e na minha convicção incrível que é verdade; 2) nos erros loucos, que é algo normal nos esquizofrénicos, não avaliam bem a realidade os moços; 3) no facto de ser «a metade de mim». Havia aí um filme no cinema que o Jim Carrey fazia de esquizofrénico e que a capa do filme era a cara dele dividida em metade e o filme chamava-se «eu, ela e o outro». Tal como o Tony Carreira, era esquizofrénico;

  • «Só a velha guitarra ficou comigo, só a velha guitarra não me deixou, nunca me abandonou este amor antigo»: o que é isto, Tony? Foi por estas merdas que tiveste que ser medicado e com dose industrial. A tua melhor amiga era uma velha guitarra, que nunca te perguntou nada do teu passado e do teu presente e só ela entende aquilo que és? Tiveste sorte de só te terem receitado os comprimidos e não te terem internado e obrigado a usar um daqueles colete de forças. É que se fizesses uma música a dizer «só o velho carneiro ficou comigo» ainda pensavam que estavas a falar de signos, agora assim não enganas ninguém;

  • «Sonhador, sonhador, mas ao menos a sonhar; tenho amor, tenho amor, que não tenho ao acordar»: ok, Tony Carreira, assim a esquizofrenia até parece algo bom, mas ambos sabemos que não é. E não é com músicas destas que vais ser útil às crianças que não sabem o que é ser esquizofrénico. O mundo do sonho nunca é melhor que a realidade, acredita, porque já sonhei várias vezes que era comido por dinossauros e na realidade, felizmente, eles ainda não descobriram onde é que eu moro;

  • «Nunca foi segredo, mais tarde ou mais cedo, eu tinha que te dizer 'Adeus, até um dia'»: claramente esta música foi feita no seguimento dos efeitos da medicação se começarem a sentir de forma clara. Ao início, quando o efeito ainda era menor, não havia segredo e mais tarde ou mais cedo a doença ia ser controlada. Ao ser controlada, teria que lhe dizer «adeus, até um dia», que é o dia em que o Tony Carreira não vender mais discos e não tiver mais dinheiro para comprar os comprimidos;

  • «Eu sem ti, quem era eu sem ti, um eterno vagabundo à tua espera»: sabe-se que a esquizofrenia é uma doença que destrói completamente uma pessoa, apaga tudo aquilo que ela é, seja mau ou bom. Tony Carreira sabe bem disso e, por isso, cria uma música em homenagem ao psiquiatra que o recebeu e lhe receitou a medicação, visto que, sem este psiquiatra, seria um vagabundo, a vaguear pelo mundo da esquizofrenia, à espera de uma cura;

  • «Depois de ti mais nada, nem sol nem madrugada»: claramente consciente do potencial negativo da doença, Tony Carreira reflecte sobre as implicações que esta tem para a sua vida. Depois da esquizofrenia não há mais nada, não há doença mais grave do que esta, apenas relativamente controlada pela medicação. Não há sol nem madrugada porque uma vez entrando no mundo negro da esquizofrenia, é para sempre;

  • «Tu estás em mim, vá onde for, ande por onde andar, faça o que faça e eu faço a sonhar, contigo a todo o momento»: eu sei, Tony Carreira, esta doença é uma merda, não nos larga. Esqueces-te de tomar a medicação e é o fim do mundo. Os sonhos são horríveis e extremamente lúcidos, principalmente quando acordas dos sonhos e vês que estás no meio do autocarro ou na tua casa de banho, semi-nu, a lavar as paredes com Ajax. 


Mas já agora o que é isto de estar semi-nu? É estar com 50% do corpo descoberto? E qual a diferença entre semi-nu e tronco nu? Porque é que quando estou na praia dizem que estou «de tronco nu» quando estou claramente três quartos de nu? E porque é que estar todo nu só de meias é considerado estar semi-nu? Alguma coisa ser «semi» não deveria indicar metade? Por exemplo, olhos semicerrados é quando estão meio abertos e meio fechados. Semi-frio de chocolate, é uma sobremesa com um nome um bocado amaricado mas que indica que nem é quente, nem é frio e também não é morno senão chamava-se morno em vez de se chamar semi-frio. E no futebol, as meias-finais também se chamam semi-finais. Só na porcaria do «semi-nu» é que o critério não é utilizado vá-se lá saber porquê.



P.S.: É sempre bom ter alguém famoso com o mesmo problema que nós. Uns revêem-se na Britney Spears porque no sexo gostam de dizer «baby, hit me one more time». Moços como o Batman e o Super-Homem gostam do Enrique Iglesias porque ele canta «I can be an hero, baby». E ainda há aqueles que se revêem no José Malhoa porque gostam de apertar com as moças. Não respeito nenhum dos três exemplos anteriores, mas fico contente por ouvir as músicas do Tony Carreira e saber que podia ter sido eu a escrevê-las, visto que a nossa condição de saúde é semelhante e ver que ninguém o julga apesar da sua doença.


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Tipos de amigos que toda a gente tem


No outro dia vi uma coisa engraçada. Estava um moço a falar na televisão e a dizer que toda a gente tinha sentido de humor. É assim, se estava a falar na televisão tinha crédito, porque tinha um programa dele. Quem tem um programa na televisão tem uma opinião de se respeitar senão ou não aparecia na televisão ou aparecia a falar nos programas dos outros. E se isto é verdade significa que apesar de tudo aquilo que vocês dizem sobre mim, eu até tenho sentido de humor!

Mas adiante, isto daquele moço dizer que toda a gente tem sentido de humor pôs-me a pensar. Já me tinham dito que toda a gente tem o direito a ser feliz mas nisso não acredito. Acredito é em coisas palpáveis. Se me dissessem que a felicidade era comer 3 vezes por semana panados ou pagar 1€ para ir ao barbeiro (em vez de se pagar 6 ou 7€ e se ir lá de 3 em 3 meses e depois andar-se por aí a fazer figuras tristes) eu acreditava. Agora, como ninguém me sabe definir felicidade, não acredito que toda a gente tem direito a ser feliz. Até porque por aquilo que eu não sei, ser feliz até pode ser grande porcaria.

Ter amigos é uma coisa palpável e real, não é como a felicidade. Também já me disseram que toda a gente tem amigos e eu não acreditava até o Jorge Abel dizer que eu era amigo. Se ele consegue ter amigos, então toda a gente consegue. Vejam, por isso, alguns amigos que toda a gente tem no grupo (se não forem amigos são pelo menos semi-amigos):


  • Toda a gente tem aquele amigo que, na teoria, está sempre a postos para tudo, mas depois quando se combinam as coisas e lhe falam, ele diz sempre algo do género «hey! desculpa lá, gostava muito mas não posso mesmo! se fosse noutro dia podia, mas neste em particular não posso ...»;

  • Toda a gente tem aquele amigo que em 20 coisas aparece em 2 ou 3, ou seja, na maioria das vezes falha. Pior que isso é que não vai às coisas inventando as piores desculpas possíveis. Nas primeiras 5 vezes ainda pensas que pode ser verdade, mas depois até o convidas para as coisas só para veres que desculpa ele vai dar desta vez para poderes contar aos outros e toda a gente se rir;

  • Toda a gente tem aquele amigo que desvia sempre todas as conversas para implicações sexuais. E, por incrível que possa parecer, este fenómeno não é exclusivo aos grupos de amigos masculinos. Entre um grupo de moças também há sempre aquela amiga que leva sempre as coisas para o lado sexual, é como se fosse a Rosinha na música, que é a versão feminina do Quim Barreiros. Claro que este fenómeno é mais visível nas moças porque os moços já são considerados naturalmente perversos e obscenos;

  • Toda a gente tem aquele amigo que tenta de vez em quando elevar o nível das conversas, para não ser sempre sobre moças, futebol e fardas que já se apanharam noutros momentos de convívio. Em 95% das vezes este elemento do grupo é enxovalhado e toda a gente o goza durante a noite toda por ter tentado falar de política ou economia. Nas outras 5% das vezes, em que consegue por o pessoal a discutir temas estruturais da sociedade, é quando está tudo bêbado e dá para tudo;

  • Toda a gente tem um amigo que consegue captar aqueles momentos que tu rezas para que ninguém tivesse notado e inventa alcunhas que te assentam como uma luva e que toda a gente aprova menos tu próprio. Normalmente esse amigo é o mais difícil de gozar, porque mesmo que tenhas uma piada espectacular para dizeres contra ele, no segundo a seguir ele dá-te uma resposta que acaba contigo;

  • Toda a gente tem um amigo que organiza as coisas, dá atenção aos detalhes para que nada falhe e que, embora toda a gente goze com ele por causa disso, têm perfeita noção que se esse moço saísse do grupo eles não iam fazer metade das coisas que fazem ou, caso fizessem na mesma, ia ser tudo à balda e tudo atabalhoado. Às vezes esse amigo tenta agir como os outros, mas depressa nota que não consegue e volta a ser o «organizado»;

  • Toda a gente tem um amigo que se rege pelo fuso horário da Suazilândia ou da Lituânia. É aquele amigo que diz que demora 15 minutos a chegar e demora 50. Ou que combina uma coisa contigo às 14:00 e às 14:20 «está a sair de casa». Claro que este «sair de casa» implica pelo menos mais 20 minutos à espera dessa pessoa. No entanto, quando numa das raridades do Mundo, esse amigo chega a horas a algum lado e tu te atrasas 2 minutos, critica-te por não seres pontual;

  • Toda a gente tem um amigo que se veste sempre como se fosse jantar fora com uma moça, a um daqueles jantares chiques que tem velas, empregados a servir o pão com pinças e se bebe um daqueles vinhos que só foram feitas 60 garrafas. Por outro lado, no mesmo grupo, há aquele amigo que vai a todo o lado de calças de fato de treino e camisola de carapuço e até estranhas quando o vês bem vestido;

  • Por último, toda a gente tem aquele amigo que sóbrio é um moço porreiro, espectacular, mas a partir do momento em que começa a ficar bêbado não é mais teu amigo, não o conheces de lado nenhum e foges dele. Dois dias depois, quando lhe passa a ressaca e ele volta a aparecer, sóbrio, volta a ser um dos teus melhores amigos.


Existem estes grupos de amigos que podes encontrar por toda a parte e depois existe o meu grupo de amigos composto por um ausente (Teófilo) e que eu até acho que já é mais meu ex-amigo do que amigo, por um moço que não gosta de nada e detesta quase tudo (Tolentino), por um fã incondicional que se diz meu amigo (eu sou o ídolo do Jorge Abel, não é para me gabar, ele é que me disse, o que eu achei um bocado esquisito mas por outro lado quando vou a casa dele é só sentar-me no sofá e pedir torradas que ele traz) e por um moço que é meu amigo mas não sabe (Matthew Praias). Depois ainda existe o Ramalho Drogas, de quem eu me tentei aproximar para criar uma amizade mas ele disse que não era maricas e não estava interessado em relacionamentos com homens além dos comerciais. Por isso é que só lhe compro os anti-psicóticos.




P.S.: Noutro dia falarei sobre aquela coisa de todos termos sentido de humor. Agora não sei mesmo o que dizer. Principalmente porque no outro dia liguei a uma moça, só para a surpreender, e pus-me a ler um dos posts daqui do blog. Ela não se riu nenhuma vez e perguntou se eu estava a tentar ter piada. Falarei sobre isso se entretanto não me aparecer uma ideia melhor ou o Tolentino não vir para aqui fazer um post sobre como detesta ter amigos. Mas voltando aquilo da moça, acho que ela não se riu porque não tenho uma voz cómica. Aposto que se fosse o Bruno Nogueira a ler os meus textos toda a gente se ria. Ou então não e o homem perdia o crédito todo que tem. É que ele aparece na televisão! E tem um programa só dele!




sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A diferença entre o Natal e o subsídio de desemprego


Não, eu não me transformei num moço com espírito natalício, seja lá o que isso for. Não passei a achar piada a ouvir as músicas de Natal, que todos os anos são iguais. Há quanto tempo ninguém faz músicas de Natal? A mais recente deve ser para aí de 1996, quando o Ricky Martin ainda não se tinha lembrado que era homossexual, a Ana Malhoa ainda parecia uma miúda inocente que tinha uma carinha gira e o Abel Xavier ainda não tinha descoberto as maravilhas de pintar o cabelo de amarelo.

Outra coisa que não percebo no Natal é haver gente que tem «Natal» como último nome. Não vejo ninguém chamar-se «Páscoa», «Inverno», «Verão», «Outono» ou «Carnaval». Também não vejo ninguém chamar-se «Primavera» mas esse é um bom nome para se dar a uma confeitaria. Conheço uma que se chama assim e tem grandes bolos lá. Mas o que mais gosto é que lá não há croissants, mas sim «pão italiano». Basicamente, é um croissant, igualzinho, aspecto e sabor, mas tem um nome português e assim vale a pena.

Bem, mas vamos lá andar para a frente com isto e reflectir sobre a diferença entre o Natal e receber o subsídio de desemprego, que eu sei que para já não devem estar a ver muita relação, mas sei que no fim de tudo vão achar que sim:


  • O Natal acontece uma vez por ano e, na prática, dura um mês inteiro, nalguns casos até um bocado mais. O subsídio de desemprego aparece uma vez por mês e na prática dura uma semana;

  • No Natal recebes prendas das pessoas que gostas e que te são mais próximas. O subsídio de desemprego é uma prenda que recebes de alguém que não gosta lá muito de ti;

  • O Natal é para toda a gente, todas as pessoas têm direito a celebrar o Natal. Se o subsídio de desemprego fosse para toda a gente chamava-se rendimento social de inserção;

  • Na altura do Natal, tentas não trabalhar para aproveitares ao máximo a época. Quando recebes o subsídio de desemprego tentas aproveitar ao máximo e não trabalhar até perderes o direito ao subsídio;

  • No Natal estás mais tempo em casa e na companhia da família. Quando recebes o subsídio de desemprego passas mais tempo com os teus amigos, no tasco;

  • No Natal comes quem nem um alarve: é o peru, o bacalhau, as batatas, as rabanadas, o bolo rei, os frutos secos, mil e uma sobremesas. Quando recebes o subsídio de desemprego bebes como se não houvesse amanhã: é cerveja, é vodka red bull, é whisky cola, é favaios, é sangria, é receita, é aguardente ... E depois dizes que não tens dinheiro a meio do mês;

  • Quando acaba o Natal, fica no ar uma nostalgia e sentes saudade, ainda que saibas que para o ano há mais. Quando acaba o subsídio de desemprego ficas em desespero e quase choras por teres que voltar a trabalhar, sem teres a certeza de quando poderás voltar a receber o subsídio;

  • Na época do Natal pensas no que deves mudar e como te tornares uma pessoa melhor; depois quando acaba o Natal, lentamente vais voltando a fazer exactamente o mesmo que fazias. Quando recebes o subsídio de desemprego dizes sempre que vais começar a poupar e a gerir melhor o dinheiro, mas chegas sempre a dia 20 sem nenhum cêntimo;

  • Na época do Natal, as pessoas fazem e decoram uma árvore para simbolizar a época. Quando recebes o subsídio de desemprego o centro de emprego está sempre a tentar fazer-te a cama para simbolizar a vontade do Estado em não te estar a sustentar.


Com o hit do FF a dizer «o meu Verão não acabou» faço duas perguntas a mim mesmo: primeiro, porque raio me lembro destas coisas? Segundo, porque é que ele (ou outro qualquer que lhe quisesse roubar a ideia e o protagonismo) não inventa uma canção mas a dizer «o meu Natal não acabou»? Sempre era sangue novo nas músicas de Natal. Já toda a gente está farto da música da moça que deu o coração dela a um moço no Natal passado e ele estragou tudo, do Natal branco, do outro que diz que deixa nevar como se fosse ele a controlar os fenómenos climáticos ou aquela enganadora que diz que a única coisa que quer no Natal é um moço. Cuidado a pedir isso, vai falar com a moça que canta que deu o coração dela no Natal passado e vê se ela diz que é uma boa ideia ...




P.S.: Sabes que alguém tem falta de originalidade quando todos os anos, pelo Natal, há uma moça amargurada com o amor não correspondido e que partilha no Facebook aquela música recentíssima do «All I want for Christmas is you». Alguém gosta mesmo dessa música ou só a ouvem porque parece bem e porque dá nos shoppings todos os anos, na altura do Natal?


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Porque é que é melhor estar doente que estar apaixonado


Estes dias andei doente. Não, não foi uma daquelas gripezinhas de nada mas que uma pessoa exagera logo a dizer que esteve muito mal. Eu estive mesmo muito doente, quase às portas da morte. Não desejo a ninguém aquilo que eu tive. Nem mesmo se tivesse algum inimigo lhe desejava o que eu tive, porque senão ainda não conseguia resistir e eu deixava de ter inimigos. Encontrar um inimigo é uma coisa que dá muito trabalho, até dá mais trabalho que encontrar a felicidade. Mas adiante, que hoje não é dia de falar nisso.

Hoje é dia de reflectir sobre a vida, sobre o bom que é estar vivo depois de ter estado como eu estive, quase a morrer. Pensei em tudo nestes dias. Quando tinha sido a última vez que tinha comido um Chipicao. Se o último panado que tinha comido tinha demasiado óleo ou se estava no ponto. Se uma sande mista leva obrigatoriamente queijo e fiambre ou se se pode misturar outras coisas. Se o Teófilo é mesmo meu amigo ou se deixou de o ser porque nunca lhe emprestei dinheiro. Muita coisa mesmo.

O meu último pensamento antes de ter deixado de estar doente e ter passado a ficar saudável outra vez (relativamente saudável, a doença psicológica até se agravou com isto tudo) foi que é melhor estar doente do que estar apaixonado. Vejam lá alguns argumentos que eu preparei:



  • Quando estou doente penso em tudo o que acontece no mundo; nas causas e nas consequências; desenvolvo novas perspectivas e faço promessas que me esforço por cumprir; essencialmente, tenho mais tempo para pensar em mim e como melhorar como ser humano. Quando estou apaixonado, não penso, parece que começo a funcionar sem cérebro e o meu pensamento mais profundo é: quero ficar assim para sempre;

  • Quando estou doente, aquilo que mais desejo é ficar novamente bem; depois, quando melhoro, sinto-me muito melhor e feliz por voltar a estar bem. Quando estou apaixonado penso que nunca vou estar melhor, mas depois quando isso acaba, acho que nunca estive pior na minha vida;

  • Quando estou doente toda a gente me dá atenção, me pergunta se preciso de alguma coisa e, caso precise, para ligar ou mandar mensagem; basicamente, toda a gente é muito prestável. Quando estou apaixonado, toda a gente me evita porque sou um chato do carago, estou sempre a falar em como a moça por quem me apaixonei é espectacular e parece que não falo de outra coisa;

  • Quando estou doente faço uma dieta muito mais equilibrada; bebo os tais 1,5 litros de água diários que os médicos recomendam, bebo chá, como pouco e bem. Quando estou apaixonado, como penso que já estou garantido, ponho-me a enfardar que nem um boi e a beber descontroladamente, tudo a bem da felicidade; depois quando acaba a fase da paixão dou por mim com mais 10 kg;

  • Quando estou doente fecho-me em casa, passo mais tempo em casa e saio muito pouco ou nada. Quando estou apaixonado, tendo em conta as figurinhas que faço em público, mais valia ficar em casa, fechado, sem sair;

  • Quando estou doente, como não saio, não gasto dinheiro. Aliás, tudo aquilo que eu preciso quando estou doente é comprado pela minha mãe. Quando estou apaixonado gasto rios de dinheiro em chocolate, cinema e coisas estúpidas tipo ursos de peluche e almofadas a dizer «I love you»;

  • Quando estou doente existe a crença de que «a cama cura tudo». Embora desconfie disso, quando me enfio na cama durante muito tempo, no dia a seguir acordo sempre melhor. Quando estou apaixonado acredito que tudo vai levar à cama, embora só mais tarde descubra que isso não é bem assim que funciona;

  • Quando estou doente, os mínimos gestos e as coisas mínimas sabem-me bem. Quando estou apaixonado não ligo nada a essas coisas, vivo obcecado pelo meu grande amor da minha vida que nunca vai acabar. Até que depois acaba;

  • Quando estou doente acabo por recuperar e voltar ao que era. Quando estou apaixonado, demoro o triplo do tempo a ficar «normal» e nunca volto verdadeiramente ao que era antes.


No fim disto tudo penso: será que alguma vez o Teófilo precisou que eu lhe emprestasse dinheiro mas não me pediu à espera que eu tomasse a iniciativa? E depois ficou sentido por eu não ter percebido a sua necessidade e não ter dito nada? Isto das amizades é muito complicado! É fazer o mesmo que se faz numa relação amorosa mas sem haver recompensas sexuais por se ser atencioso. Ou seja, é muito mais difícil e complexo. Por isso, Teófilo, se é por nunca te ter emprestado dinheiro que desapareceste da minha vida, volta que eu tenho 10€ num envelope, que foi de uma aposta que ganhei ao Tolentino sobre um moço do Cazaquistão a lutar contra um escocês. Claro que a aposta era 30€, mas isso são 6 contos, emprestar assim tanto dinheiro estraga uma amizade.




P.S.: Escusado será dizer que entre estar doente e estar apaixonado, prefiro estar doente. Primeiro porque isso está no título, depois porque quem souber ler e compreender, vê pelos argumentos que é muito melhor estar doente e, por último, porque eu comecei o post a dizer que estive doente e não a dizer que estive apaixonado. Aliás, já não me lembro de estar apaixonado. Mas também que interessa isso? Importa é que estive doente esta semana e, como isso é muito melhor que estar apaixonado, estou novamente feliz. A primeira coisa que vou fazer hoje, já que está frio, é sair de casa de t-shirt e de meias molhadas para ver se fico doente outra vez.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Coisas que eu fazia se fosse animal


«Mas então tu já não és uma gaivota?», pergunta algum engraçadinho, a tentar candidatar-se a que eu o convide para colaborador do blog. Isso querias tu, ó Ramiro! Mas essa não tem piada nenhuma. Até parece que as pessoas que têm «Pinto» no último nome nasceram de um ovo e a mãe deles é uma galinha. Ou aquelas pessoas que se chamam «Pereira» caíram de uma árvore. E aqueles importantes com nome de país, tipo «Nuno Quirguistão» são mesmo naturais desse país. Quando quiseres fazer uma piada, primeiro pensa bem no que vais dizer.

Se há apelido que nunca ninguém terá é «Lesoto». A sério, alguém quer mesmo saber do Lesoto? Ainda há pouco tempo houve amigáveis entre selecções e jogaram países como o Sain Kitts e Nevis, Antígua e Barbuda, Tonga, Ilhas Fiji, Suazilândia e Guiana. Mas ninguém quis jogar contra o Lesoto, nem nenhum destes fraquinhos! Deve ser mesmo uma desilusão ser do Lesoto. Como é que se chama a alguém que é do Lesoto? Lesotês? Lesotano? Nem isso sei sobre eles! Se aparecesse alguém na televisão chamado «Miguel Lesoto» ainda pensavam que ele era um daqueles imigrantes em França que fica com o nome metade português, metade francês tipo Robert Pires.

Mas deixando de falar de países e como já estou no terceiro parágrafo que me esforço por ser uma das minhas imagens de marca, vou reflectir um pouco sobre coisas que eu ia aproveitar para fazer se fosse um determinado animal:


  • Se fosse um cão, primeiro ia ser um cão decente, tipo pastor alemão. Recusava-me a ser daqueles salsichas ou um caniche e muito menos um chihuahua (não sabia que era assim que se escrevia, tive que ir ao google, porcaria de nome). Mas adiante, se eu fosse um cão o que mais ia fazer era ir na rua sossegadinho, a passear com o meu dono e quando visse uma pessoa que não gostasse da cara ou do aspecto, esperava que essa pessoa passasse por mim e ladrava mesmo alto só para a assustar. Ia ser de partir a rir;

  • Via duas grandes vantagens em ser pássaro: primeiro, podia fazer as minhas necessidades fisiológicas em público, em qualquer lugar e sem ninguém me julgar. Tinha ainda o aliciante de poder ver se acertava em alguém. Espectacular! Principalmente quando comparado com a emoção que é mijar para um urinol. A segunda grande vantagem é que podia dizer tudo o que me apetecia, insultar e enxovalhar as pessoas, poder dizer algo do género «ooooooh gordaaaaaaaaaaa!» que tudo o que as pessoas iam ouvir ia ser «piu, piu, piu» e ainda diziam que eu cantava bem;

  • Se eu fosse um búfalo fazia uma dieta mesmo restritiva. Corria todos os dias, evitava os fritos e bebia um litro e meio de água diariamente. Assim, não ficava bidão como os outros todos e quando fosse para fugir dos leões, além de eu ser mais rápido e estar melhor preparado que os outros todos, nenhum leão vinha atrás de mim por eu ser magrinho;

  • Uma das coisas mais fixes de se fazer quando se é mosquito é esperar que a pessoa esteja quase a dormir, principalmente à noite, e se comece a fazer barulho. Havia de ser demais ver o Tolentino quase a dormir, pressentir isso e ir zumbir-lhe para os ouvidos ou fazer rasas à cabeça dele. Fazia isso 4 ou 5 vezes e depois ia-me rir como um perdido para a beira dos outros, na parede. Depois fazíamos apostas a ver quem é que não se ia conseguir safar de levar uma marretada e ficar ali estendido;

  • Se eu fosse um tubarão comia marisco todos os dias e de borla. Melhor ainda, não precisava de limpar as mãos aqueles toalhetes húmidos com cheiro a limão que se usa quando se come marisco, porque nem precisava de descascar. E volta e meia ainda aparecia na televisão numa das vezes que fosse à «Marisqueira do Mar», se estivesse um daqueles moços com fatos de latex e um foco de luz a gravar-me a comer santolas e lulas. Boa vida;

  • Se eu fosse um abutre e estivesse inserido num gang (como qualquer bom abutre) passava a vida a fazer apostas. Fazia apostas sobre tudo: quem ia ser o cristo que ia ser apanhado naquela manada, quanto tempo demorava até que o leão ficasse cheio, qual a primeira parte da carcaça que o leão ia comer, onde é que o tigre ia esconder a comida desta vez, tudo. Como tinha uma visão privilegiada das coisas, dava para apostar em 30 coisas de cada vez. Por isso é que ia ser tão fundamental arranjar alguém de nós que registasse as apostas em condições senão ia ser uma rebaldaria;

  • Se eu fosse um rato ia viver para os esgotos, mas não ficava sempre no mesmo. Andava de esgoto em esgoto, em todas as cidades possíveis. Podia ser que em alguma delas, algum atrasado derramasse um líquido nuclear pelo ralo da banheira ou pelo lavatório e fosse ter ao esgoto onde eu estivesse. Enroscava-me naquilo e ficava igual ao Mestre Splinter, das Tartarugas Ninja. Depois, além de rato, ficava muito maior, inteligente e a andar em duas patas. Ia ser indestrutível e conhecido por «o rei dos esgotos»;

  • Se eu fosse um salmão, quando fosse para ir fazer a desova no sítio onde se nasceu, dizia aos outros que só ia fazer um recado num instante ou que só ia à casa de banho e já os apanhava, deixava-os ir e fugia para outro lado qualquer, para começar uma vida nova noutro sítio onde não houvesse ursos à espera de me apanhar carregado de ovos e me comer à glutão. Depois largava os meus ovos todos nesse sítio, onde não houvesse ursos e ainda ia demorar uns aninhos até os tones dos ursos descobrirem o novo sítio.



Muitos poderão perguntar-se se este post está relacionado com o anterior. Vou responder de forma sincera: é capaz, não sei. Sinceramente, só me lembrei disso agora mesmo, depois de ter acabado de escrever. Não vou apagar tudo e escrever um novo. Nem o vou guardar aqui como rascunho e publicá-lo depois de me ter lembrado de dois ou três textos diferentes, em que não fale de animais. Assim, fica este e pronto, se não gostarem comecem a ler outro blog ou então não venham cá mais, como o Teófilo. Se for preciso fico a escrever para ninguém. Escrever para ninguém é menos grave do que falar sozinho. Por isso é que eu acho que os anti-psicóticos que o Ramalho Drogas me orientou começam a fazer um efeito do carago.




P.S.: Como podem ter reparado não comecei nenhum ponto de reflexão por «se eu fosse um burro» nem por «se eu fosse um urso», nem por «se eu fosse um porco» porque nesta altura da minha vida não tenho a certeza se nunca fui nada disso, se nunca vou ser nada disso ou se nunca vou deixar de ser burro, urso e/ou porco. Por outro lado, não comecei nenhuma reflexão por «se eu fosse um boi» porque isso, nesta altura, tenho a certeza absoluta que já fui, ainda sou e que vou continuar a ser. 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Provérbios do mundo animal


Quem ler o título pensa: «Outra vez provérbios?». Também pode pensar «Outra vez o Gary? Onde está o Tolentino? E o Jorge Abel?». Outros podem pensar algo como «Hmm» e ainda há aquelas pessoas que não pensam em nada ou que não lêem o título. E a minha resposta, para todos, é simplesmente esta: não queriam cinema, não queriam moças, não podia ser religião porque ainda há pouco tempo falei nisso e não podia ser comida. De transportes públicos não tenho mais nada para dizer, só sobrava provérbios. Como já tinha falado de provérbios de pessoas, decidi focar-me nos provérbios do mundo animal.

Mas afinal o que é isso de provérbios do mundo animal? Explicando, são provérbios que alguns animais têm, que reflectem a sua visão sobre o mundo e a sua forma de ser e estar na sociedade. Portanto, são iguais aos nossos provérbios, mas pela perspectiva deles. Como é que sei estes provérbios? Visto não ser como o Dr. Dolittle (quem não conhecer este filme não diga que não conhece, que vá ao google ou então ao Youtube e pesquise e veja vídeos do Eddie Murphy nesse filme, o raio do preto é mesmo engraçado) só podia saber isto de uma maneira: estudando os animais a fundo.

Não posso garantir que o meu estudo seja assim tão a fundo, mas de qualquer maneira, eis os provérbios que descobri que existem no mundo animal. Para não dizerem que sou redutor, até vou dizer que animais utilizam esses provérbios:


  • Come grão a grão e te alimentarão todos os dias. Come à glutão e ficarás de barriga vazia (Galinhas);

  • Ladra para assustar, morde para nunca mais voltar (Cães);

  • Em caixote de areia, cagalhoto de gato (Geral);

  • Só caça com cão quem não tem caçadeira (Veados);

  • Um estábulo e uma coxia não se fazem num dia (Gado);

  • Manda os ratos para a montanha que os pariu (Gatos);

  • Todos os caminhos vão dar ao matadouro (Gado Bovino);

  • Humano a arder, de gasolina tem medo (Gatos);

  • Antes de criticares quem acasala com uma boca de incêndio, entende-o (Cães);

  • Entre crocodilo e leão, venha o do National Geographic e escolha (Animais da selva);

  • Antes só e viver, que acasalar e morrer (Machos de Louva-a-Deus e Viúvas Negras);

  • No gelo, todos os ursos são polares (Peixes);

  • O bom salmão a casa torna (Ursos);

  • Diz-me com quantos andas e eu dir-te-ei se vos ataco (Predadores);

  • No aproveitar está o ganho (Abutres);

  • À primeira caem todos, há segunda já não há ninguém (Peixes);

  • Pela água morre o humano (Peixes);

  • Prejudica o teu vizinho para o teu mal não vir a caminho (Gazelas);

  • Quem feio ama, bonito lhe parece (Leões Marinhos);

  • Tantas vezes o búfalo vem ao rio que um dia acaba por cá ficar (Crocodilos);

  • Para boa refeição meio bisonte basta (Hienas);

  • Devagar não se vai a lado nenhum (Chita);

  • Tudo o que parece, não é (Camaleões);

  • Quando não podes vencer-nos, foge de nós (Tubarões);

  • Quem sai aos seus, acaba na churrasqueira (Frangos);


Claro que cada cabeça sua sentença. Não, este não é de animais, já é mesmo provérbio para as pessoas. Significa que cada um pode interpretar estes provérbios como quiser e como bem entender. Alguns deles são bastante fáceis de perceber mas há sempre aqueles moços que levam para as teorias da conspiração, aqueles que vêem conotações sexuais em tudo na vida, aquelas moças que hão-de interpretar alguns provérbios como sendo machistas e ainda aqueles que não vão perceber nadinha disto porque carregaram demasiado na dose e então ou vão andar a vaguear pelas ruas ou vão para casa, põem no BabyTV e ficam a olhar para a televisão como um boi para um palácio. Nunca percebi bem esta do boi a olhar para um palácio, mas quem inventou devia ter um palácio ou então devia ser um boi.




P.S.: Um dos mitos em redor dos animais é que não têm alma. Outro mito é que não têm um cérebro tão desenvolvido como o nosso. Eu não pedia tanto. Só peço é que nenhum animal saiba ler, porque caso lessem isto, nunca mais podia andar na rua sossegado, sempre com o perigo de ser atacado por um cão, um gato, um rato ou um leão marinho, claramente descontentes com o seu papel nesta publicação. Como os animais não sabem ler, só ando na rua preocupado com o Júlio Facadas aparecer e querer vingar-se do estaladão que lhe dei quando ele estava a tentar roubar na mercearia do Rebelo.