quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Coisas que eu fazia se fosse animal


«Mas então tu já não és uma gaivota?», pergunta algum engraçadinho, a tentar candidatar-se a que eu o convide para colaborador do blog. Isso querias tu, ó Ramiro! Mas essa não tem piada nenhuma. Até parece que as pessoas que têm «Pinto» no último nome nasceram de um ovo e a mãe deles é uma galinha. Ou aquelas pessoas que se chamam «Pereira» caíram de uma árvore. E aqueles importantes com nome de país, tipo «Nuno Quirguistão» são mesmo naturais desse país. Quando quiseres fazer uma piada, primeiro pensa bem no que vais dizer.

Se há apelido que nunca ninguém terá é «Lesoto». A sério, alguém quer mesmo saber do Lesoto? Ainda há pouco tempo houve amigáveis entre selecções e jogaram países como o Sain Kitts e Nevis, Antígua e Barbuda, Tonga, Ilhas Fiji, Suazilândia e Guiana. Mas ninguém quis jogar contra o Lesoto, nem nenhum destes fraquinhos! Deve ser mesmo uma desilusão ser do Lesoto. Como é que se chama a alguém que é do Lesoto? Lesotês? Lesotano? Nem isso sei sobre eles! Se aparecesse alguém na televisão chamado «Miguel Lesoto» ainda pensavam que ele era um daqueles imigrantes em França que fica com o nome metade português, metade francês tipo Robert Pires.

Mas deixando de falar de países e como já estou no terceiro parágrafo que me esforço por ser uma das minhas imagens de marca, vou reflectir um pouco sobre coisas que eu ia aproveitar para fazer se fosse um determinado animal:


  • Se fosse um cão, primeiro ia ser um cão decente, tipo pastor alemão. Recusava-me a ser daqueles salsichas ou um caniche e muito menos um chihuahua (não sabia que era assim que se escrevia, tive que ir ao google, porcaria de nome). Mas adiante, se eu fosse um cão o que mais ia fazer era ir na rua sossegadinho, a passear com o meu dono e quando visse uma pessoa que não gostasse da cara ou do aspecto, esperava que essa pessoa passasse por mim e ladrava mesmo alto só para a assustar. Ia ser de partir a rir;

  • Via duas grandes vantagens em ser pássaro: primeiro, podia fazer as minhas necessidades fisiológicas em público, em qualquer lugar e sem ninguém me julgar. Tinha ainda o aliciante de poder ver se acertava em alguém. Espectacular! Principalmente quando comparado com a emoção que é mijar para um urinol. A segunda grande vantagem é que podia dizer tudo o que me apetecia, insultar e enxovalhar as pessoas, poder dizer algo do género «ooooooh gordaaaaaaaaaaa!» que tudo o que as pessoas iam ouvir ia ser «piu, piu, piu» e ainda diziam que eu cantava bem;

  • Se eu fosse um búfalo fazia uma dieta mesmo restritiva. Corria todos os dias, evitava os fritos e bebia um litro e meio de água diariamente. Assim, não ficava bidão como os outros todos e quando fosse para fugir dos leões, além de eu ser mais rápido e estar melhor preparado que os outros todos, nenhum leão vinha atrás de mim por eu ser magrinho;

  • Uma das coisas mais fixes de se fazer quando se é mosquito é esperar que a pessoa esteja quase a dormir, principalmente à noite, e se comece a fazer barulho. Havia de ser demais ver o Tolentino quase a dormir, pressentir isso e ir zumbir-lhe para os ouvidos ou fazer rasas à cabeça dele. Fazia isso 4 ou 5 vezes e depois ia-me rir como um perdido para a beira dos outros, na parede. Depois fazíamos apostas a ver quem é que não se ia conseguir safar de levar uma marretada e ficar ali estendido;

  • Se eu fosse um tubarão comia marisco todos os dias e de borla. Melhor ainda, não precisava de limpar as mãos aqueles toalhetes húmidos com cheiro a limão que se usa quando se come marisco, porque nem precisava de descascar. E volta e meia ainda aparecia na televisão numa das vezes que fosse à «Marisqueira do Mar», se estivesse um daqueles moços com fatos de latex e um foco de luz a gravar-me a comer santolas e lulas. Boa vida;

  • Se eu fosse um abutre e estivesse inserido num gang (como qualquer bom abutre) passava a vida a fazer apostas. Fazia apostas sobre tudo: quem ia ser o cristo que ia ser apanhado naquela manada, quanto tempo demorava até que o leão ficasse cheio, qual a primeira parte da carcaça que o leão ia comer, onde é que o tigre ia esconder a comida desta vez, tudo. Como tinha uma visão privilegiada das coisas, dava para apostar em 30 coisas de cada vez. Por isso é que ia ser tão fundamental arranjar alguém de nós que registasse as apostas em condições senão ia ser uma rebaldaria;

  • Se eu fosse um rato ia viver para os esgotos, mas não ficava sempre no mesmo. Andava de esgoto em esgoto, em todas as cidades possíveis. Podia ser que em alguma delas, algum atrasado derramasse um líquido nuclear pelo ralo da banheira ou pelo lavatório e fosse ter ao esgoto onde eu estivesse. Enroscava-me naquilo e ficava igual ao Mestre Splinter, das Tartarugas Ninja. Depois, além de rato, ficava muito maior, inteligente e a andar em duas patas. Ia ser indestrutível e conhecido por «o rei dos esgotos»;

  • Se eu fosse um salmão, quando fosse para ir fazer a desova no sítio onde se nasceu, dizia aos outros que só ia fazer um recado num instante ou que só ia à casa de banho e já os apanhava, deixava-os ir e fugia para outro lado qualquer, para começar uma vida nova noutro sítio onde não houvesse ursos à espera de me apanhar carregado de ovos e me comer à glutão. Depois largava os meus ovos todos nesse sítio, onde não houvesse ursos e ainda ia demorar uns aninhos até os tones dos ursos descobrirem o novo sítio.



Muitos poderão perguntar-se se este post está relacionado com o anterior. Vou responder de forma sincera: é capaz, não sei. Sinceramente, só me lembrei disso agora mesmo, depois de ter acabado de escrever. Não vou apagar tudo e escrever um novo. Nem o vou guardar aqui como rascunho e publicá-lo depois de me ter lembrado de dois ou três textos diferentes, em que não fale de animais. Assim, fica este e pronto, se não gostarem comecem a ler outro blog ou então não venham cá mais, como o Teófilo. Se for preciso fico a escrever para ninguém. Escrever para ninguém é menos grave do que falar sozinho. Por isso é que eu acho que os anti-psicóticos que o Ramalho Drogas me orientou começam a fazer um efeito do carago.




P.S.: Como podem ter reparado não comecei nenhum ponto de reflexão por «se eu fosse um burro» nem por «se eu fosse um urso», nem por «se eu fosse um porco» porque nesta altura da minha vida não tenho a certeza se nunca fui nada disso, se nunca vou ser nada disso ou se nunca vou deixar de ser burro, urso e/ou porco. Por outro lado, não comecei nenhuma reflexão por «se eu fosse um boi» porque isso, nesta altura, tenho a certeza absoluta que já fui, ainda sou e que vou continuar a ser. 

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