Estes dias andei doente. Não, não foi uma daquelas gripezinhas de nada mas que uma pessoa exagera logo a dizer que esteve muito mal. Eu estive mesmo muito doente, quase às portas da morte. Não desejo a ninguém aquilo que eu tive. Nem mesmo se tivesse algum inimigo lhe desejava o que eu tive, porque senão ainda não conseguia resistir e eu deixava de ter inimigos. Encontrar um inimigo é uma coisa que dá muito trabalho, até dá mais trabalho que encontrar a felicidade. Mas adiante, que hoje não é dia de falar nisso.
Hoje é dia de reflectir sobre a vida, sobre o bom que é estar vivo depois de ter estado como eu estive, quase a morrer. Pensei em tudo nestes dias. Quando tinha sido a última vez que tinha comido um Chipicao. Se o último panado que tinha comido tinha demasiado óleo ou se estava no ponto. Se uma sande mista leva obrigatoriamente queijo e fiambre ou se se pode misturar outras coisas. Se o Teófilo é mesmo meu amigo ou se deixou de o ser porque nunca lhe emprestei dinheiro. Muita coisa mesmo.
O meu último pensamento antes de ter deixado de estar doente e ter passado a ficar saudável outra vez (relativamente saudável, a doença psicológica até se agravou com isto tudo) foi que é melhor estar doente do que estar apaixonado. Vejam lá alguns argumentos que eu preparei:
- Quando estou doente penso em tudo o que acontece no mundo; nas causas e nas consequências; desenvolvo novas perspectivas e faço promessas que me esforço por cumprir; essencialmente, tenho mais tempo para pensar em mim e como melhorar como ser humano. Quando estou apaixonado, não penso, parece que começo a funcionar sem cérebro e o meu pensamento mais profundo é: quero ficar assim para sempre;
- Quando estou doente, aquilo que mais desejo é ficar novamente bem; depois, quando melhoro, sinto-me muito melhor e feliz por voltar a estar bem. Quando estou apaixonado penso que nunca vou estar melhor, mas depois quando isso acaba, acho que nunca estive pior na minha vida;
- Quando estou doente toda a gente me dá atenção, me pergunta se preciso de alguma coisa e, caso precise, para ligar ou mandar mensagem; basicamente, toda a gente é muito prestável. Quando estou apaixonado, toda a gente me evita porque sou um chato do carago, estou sempre a falar em como a moça por quem me apaixonei é espectacular e parece que não falo de outra coisa;
- Quando estou doente faço uma dieta muito mais equilibrada; bebo os tais 1,5 litros de água diários que os médicos recomendam, bebo chá, como pouco e bem. Quando estou apaixonado, como penso que já estou garantido, ponho-me a enfardar que nem um boi e a beber descontroladamente, tudo a bem da felicidade; depois quando acaba a fase da paixão dou por mim com mais 10 kg;
- Quando estou doente fecho-me em casa, passo mais tempo em casa e saio muito pouco ou nada. Quando estou apaixonado, tendo em conta as figurinhas que faço em público, mais valia ficar em casa, fechado, sem sair;
- Quando estou doente, como não saio, não gasto dinheiro. Aliás, tudo aquilo que eu preciso quando estou doente é comprado pela minha mãe. Quando estou apaixonado gasto rios de dinheiro em chocolate, cinema e coisas estúpidas tipo ursos de peluche e almofadas a dizer «I love you»;
- Quando estou doente existe a crença de que «a cama cura tudo». Embora desconfie disso, quando me enfio na cama durante muito tempo, no dia a seguir acordo sempre melhor. Quando estou apaixonado acredito que tudo vai levar à cama, embora só mais tarde descubra que isso não é bem assim que funciona;
- Quando estou doente, os mínimos gestos e as coisas mínimas sabem-me bem. Quando estou apaixonado não ligo nada a essas coisas, vivo obcecado pelo meu grande amor da minha vida que nunca vai acabar. Até que depois acaba;
- Quando estou doente acabo por recuperar e voltar ao que era. Quando estou apaixonado, demoro o triplo do tempo a ficar «normal» e nunca volto verdadeiramente ao que era antes.
No fim disto tudo penso: será que alguma vez o Teófilo precisou que eu lhe emprestasse dinheiro mas não me pediu à espera que eu tomasse a iniciativa? E depois ficou sentido por eu não ter percebido a sua necessidade e não ter dito nada? Isto das amizades é muito complicado! É fazer o mesmo que se faz numa relação amorosa mas sem haver recompensas sexuais por se ser atencioso. Ou seja, é muito mais difícil e complexo. Por isso, Teófilo, se é por nunca te ter emprestado dinheiro que desapareceste da minha vida, volta que eu tenho 10€ num envelope, que foi de uma aposta que ganhei ao Tolentino sobre um moço do Cazaquistão a lutar contra um escocês. Claro que a aposta era 30€, mas isso são 6 contos, emprestar assim tanto dinheiro estraga uma amizade.
P.S.: Escusado será dizer que entre estar doente e estar apaixonado, prefiro estar doente. Primeiro porque isso está no título, depois porque quem souber ler e compreender, vê pelos argumentos que é muito melhor estar doente e, por último, porque eu comecei o post a dizer que estive doente e não a dizer que estive apaixonado. Aliás, já não me lembro de estar apaixonado. Mas também que interessa isso? Importa é que estive doente esta semana e, como isso é muito melhor que estar apaixonado, estou novamente feliz. A primeira coisa que vou fazer hoje, já que está frio, é sair de casa de t-shirt e de meias molhadas para ver se fico doente outra vez.
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