quarta-feira, 13 de março de 2013

Coisas que nunca aconteceram em televisão (pelo menos que eu tivesse visto)


Já sei, já sei, vão dizer que estou outra vez a falar de televisão. Queriam que falasse do quê? Do Tony Carreira outra vez? Depois tinha aí um montão de gente a chegar até ao blog só por fazer a pesquisa no google com o nome do homem, mesmo havendo gente que faça a pesquisa «Tony Carreira nu na praia». Pensando melhor, devia fazer outro texto do Tony Carreira, já que faço tantos sobre cinema e sobre televisão também me podia repetir um bocado nesse aspecto. Mas fica para depois, já escrevi o título, agora vou até ao fim, não vou apagar isto tudo só para pensar num texto novo sobre o Tony Carreira.


Também já chega de bater no Lesoto. Porque é que dou tanto destaque a um país (se país se puder chamar) que nem sequer tem uma selecção de futebol fraquinha? A selecção do Lesoto é um mito urbano, nunca vi ninguém fazer um amigável contra eles sequer. Já vi a Espanha a jogar com o Haiti, Portugal a jogar com o Gabão, a França a jogar contra Seychelles e o Japão a jogar contra o Turcomenistão, mas nunca vi ninguém, e repito, NINGUÉM, a jogar contra o Lesoto. Nem aqueles países todos secos como o Kiribati ou Laos. Ninguém joga contra o Lesoto. Ou eles dão muito pau e não admitem que fazem falta ou então dizem que vão e à última da hora lembram-se que têm um aniversário e não aparecem.


Por falar em mitos urbanos, vou agora falar de mitos televisivos. Há coisas que eu nunca vi acontecer na televisão (e eu vejo muita televisão, cada vez mais. Ainda ontem, não estava a dar nada de jeito e pus-me a ver um canal romeno só para ver se conseguia perceber algumas coisas que eles diziam). Vejam lá a lista que eu arranjei e pensem em mais algumas coisas que falhem aí:



  • A não ser que o tema do filme seja a doença do protagonista, nunca nenhum personagem fica doente no filme. Por exemplo, aqueles espiões que estão a fazer missões de observação nunca espirram, nem tossem, estão sempre bem de saúde. Aposto que nem sequer têm médico de família porque só precisam de ir ao hospital em caso de levar facadas ou tiros e isso é logo para a urgência;

  • Nunca vi um bebé morrer num filme. Nem naqueles em que não há escapatória, parece uma proibição morrer algum bebé no filme (tirando aqueles filmes de abortos e mortes no parto). Pensem bem, morre um montão de gente no Godzilla e nem um bebé. No Titanic não ia nenhum bebé a bordo. Naquele filme que os terroristas sequestram o avião no 11 de Setembro também não se vê um único bebé. Tirando o azar de terem morrido todos, tiveram uma sorte do carago de irem num voo sem nenhum bebé;

  • Todos os filmes realçam algum facto importante ou algum êxito atingido pelo protagonista (ou um fracasso estrondoso) mas nunca ninguém fez um filme que retrataria 80% da população, ou seja, um filme em que não acontecia nada de relevante. Eu penso que, por exemplo, se a minha vida passasse para filme não havia tiros, perseguições de carro, porrada, malas com dinheiro, cientistas a desenvolverem vírus e políticos corruptos. Ia ser um filme gravado quase sempre em transportes públicos e no mesmo café ou em casa do Jorge Abel;

  • Alguma vez houve algum filme em que as memórias e recordações da própria pessoa não fossem retratadas pelo plano do câmera-man? Eu pelo menos quando me lembro de coisas que me aconteceram, a única parte da minha cara que me lembro de ver é o nariz, mas os actores devem aprender no curso que fazem a recordarem situações da sua vida pelo plano geral, vendo-o a ele e ao outro. E ia ser bastante interessante ver como na maior parte das cenas, os olhos do actor não iam estar focados na cara da moça com quem estava a falar;

  • Naqueles filmes de espiões e agentes altamente especializados, nunca apareceu ninguém que estivesse um bocadinho melhor treinado ou que fosse um bocadinho melhor que o protagonista. É assim tão impossível haver alguém melhor numa coisa em que fazemos tremendamente bem? Tipo o Rocky, eu respeitava esse filme até aparecer o Ivan Drago, uma máquina de guerra da URSS, capaz de destruir qualquer pessoa com 2 estalos e leva um enfardamento do Rocky, um quarentão, só para não ganhar um russo. Gostava de ver onde isto acontecia na realidade;

  • Desta tenho a certeza: nunca houve um plano de um génio do mal que resultasse. Ou melhor, resulta ao início, só a fazer um bocadinho de estragos, mas não muitos, até surgir um salvador, o mais improvável e que nenhum mauzão nunca adivinharia que seria por ali que o seu plano ia por água abaixo. Planos elaborados durante anos falham estrondosamente porque a acção impulsiva pensada durante 5 minutos por um artista qualquer resulta em pleno;

  • Gostava de ver um filme em que um especialista em bombas não fizesse um detonador com um fio vermelho. Nas lojas de acessórios para bombas só há fios vermelhos? Podia estar aqui uma fortuna para uma empresa ou um fabricante que fizesse fios de vários cores, só para confundir os ditos especialistas. Grandes especialistas, até eu ia desactivar uma bomba. Chegava lá a faltarem 4 minutos para aquilo explodir, tirava fotografias com a bomba para pôr no Facebook e no último segundo cortava o fio vermelho;

  • Já reparamos que maior parte dos filmes assenta na suposição de que alguém que quer salvar o mundo aborda uma mulher desconhecida, na maior parte das vezes com um porte físico muito atraente, pede-lhe ajuda, asilo e protecção e ela aceita e vai com ele até às últimas consequências, sofre, eventualmente é raptada e torturada, mas no fim salva-se e ainda se apaixona pelo artista. Gostava de ver um filme, mais adequado à realidade, em que uma destas mulheres se recusasse a ajudar e apresentasse queixa na polícia. E que houvesse avisos na polícia para não se atender a este tipo de pedidos extravagantes;

  • Toda a gente nos filmes é especialista em alguma coisa. E sabe mesmo tudo disso! Aqueles cientistas da polícia que sabem quais as componentes químicas da borracha produzida por uma fábrica localizada na Alemanha Ocidental, aqueles mecânicos que conseguem arranjar qualquer problema do carro em 20 segundos e só com as mãos ou aqueles informáticos que em 5 segundos conseguem aceder a relatórios da Polícia sobre alguém. Há mesmo disso na vida real? Porque é que não mostram os filmes aqueles mecânicos típicos que dizem que o carro está pronto nesse dia de tarde e só o entregam passados 3 dias?

  • Na vida real há mesmo dealers nas esquinas das ruas, com droga no bolso, prontinhos a vender a qualquer pessoa e a serem apanhados pela polícia? É que isto não é bem como se vê nos filmes ... A primeira vez que abordei o Ramalho Drogas para lhe comprar uma coisa que queria levar para uma festa de anos ele fez-se de desentendido, que o devia estar a confundir e que da próxima vez que lhe falasse nisso me dava uma coça. Por isso é que fiquei um pouco indeciso se devia falar nisso ou não quando ele passado 2 dias me encontrou na rua e me perguntou se ainda estava interessado. Agora nos filmes não, o que se vê é que eu de repente posso aproximar-me de um moço na rua e pedir-lhe para me vender droga.




Nisto os desenhos animados conseguem ser um bocadinho mais reais que estes filmes. Mas pior que os filmes só mesmo as novelas. Nunca vi nenhuma novela em que não aparecesse um moço a chorar porque não consegue ter a seu lado o amor da sua vida? E o que é isso de «o amor da minha vida»? Acaba por ser uma moça com quem ele é obrigado pelo realizador a contracenar e a trocar beijos técnicos e, ocasionalmente, cenas de sexo fingido. Grande exemplo que dão aos miúdos: larguem os estudos, vão para actores, envolvam-se com miúdas sempre diferentes de novela para novela e finjam que fazem sexo. Uma mensagem muito mais poderosa do que a Igreja tenta fazer passar há anos.






P.S.: Mas fosse só sexo que eles fingiam nas novelas e nos filmes. Fingem casamentos, fingem ser autoridades, fingem morrer, fingem tudo! Pelos vistos os actores podem tudo, por isso não me espantou ver no outro dia o Virgílio Castelo a sair de uma mercearia com um pacote de chiclets no bolso, sem pagar. O Tolentino disse-me que as chiclets deviam ser dele, mas eu não acredito. Até porque se eu fingisse um casamento ou a minha morte e fosse descoberto ia logo preso. Mas os actores não, podem fingir o que lhes apetecer, ainda por cima fingir na televisão, mesmo para toda a gente ver, e depois andam na rua de cara destapada e com pacotes de chiclet nos bolsos.

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