segunda-feira, 29 de abril de 2013

Pessoas de quem deve ser mesmo difícil ser-se amigo


Perguntam-se vocês porque demorei tanto a escrever. E pergunto-vos eu o que têm a ver com isso. Uma pessoa já não tem direito à privacidade? E eu sou algum escritor profissional para ter material para escrever aqui todos os dias? Não queiram fazer isto uma relação de pressões, senão vai parecer que estou a namorar outra vez e eu não sou muito bom em namoros. Claro que seria pior se não existissem floristas e perfumarias, mas mesmo assim consigo ser mau.


Já tinha partilhado com vocês os quatro que ir no elevador com alguém que tenha fúria de viver deve ser desagradável. Pior ainda deve ser amigo de alguém que tenha olhos de água. Já imaginaram? Mas não é de novelas que vamos falar, já falamos disso há pouco tempo e não me vou repetir. Ando sem inspiração e material sobre o qual reflectir, mas não ao ponto de me repetir. Já chegou o Jorge Abel escrever 3 textos num mês para dar má imagem ao blog.


Sendo assim, e porque já esgotei os três parágrafos que de repente passaram a ser a minha imagem de marca, vamos ver pessoas de quem deve ser mesmo difícil ser-se amigo:



  • CSI: não lhe podes dizer uma mentira mínima que ele vai logo investigar ver se é verdade. E o pior é que se for como na televisão, acaba sempre por te apanhar por alguma coisa mínima, por exemplo pelos desenhos na borracha dos teus sapatos ou pela qualidade do linho da tua camisola azul escura comprada na feira;

  • Árbitro futebol: quando vai jogar futebol com os amigos, mal se apanha a perder inventa faltas para a equipa dele e depois vem com o mesmo argumento de sempre «mas quem é que é árbitro aqui? Eu é que sei que é falta, é falta!». E depois não podes falar de futebol com ele porque não podes insultar nenhum árbitro, que eles são todos amiguinhos;

  • Apresentadores de televisão: além de não poderes ires com eles a um shopping sossegado, não lhe podes ligar a pedir o número de alguém que ele só sabe aqueles dos programas de televisão, os 860 800 800. E mesmo quando for ver o número que pediste vai-te dizer com a entoação como se estivesse a dizer aquele 860 800 800 em directo na televisão;

  • Poeta: nunca vais conseguir ter conversas normais. Aliás, nunca vais ter conversas com ele, vais ter «abstracções vocalizadas e passadas para o exterior sob a forma de palavras que trazem consigo pensamentos». Depois, pior que isso, no fim ainda te pede para lhe pagares o café que a vida de poeta não dá riqueza a não ser que conheça alguém no mundo editorial e publique um livro que 7 ou 8 intelectuais vão querer ler só para dizer que lêem muito;

  • Polícia: pode não parecer, mas os polícias ficam extremamente sensíveis às piadas de cacetetes, bastões e strippers vestidos de polícias. Uma vez perguntei a um polícia se comprava as algemas numa sex shop e ele deu-me 2 bastonadas e ainda me prometeu que me ia passar multas por qualquer motivo mal descobrisse qual era o meu carro. Foi por essas coisas que andei 15 dias com o carro do tio do Tolentino e até passava em frente à esquadra para ver se esse polícia me via para pensar que aquele carro era o meu. Depois multava sempre o tio do Tolentino e eu andava sossegado na rua;

  • Meteorologista: já falamos de como deve ser horrível ter esta profissão. Sempre a falar-se no tempo, a estudar e a prever o tempo e depois, quando chega a casa, no fim de um dia longo e intenso de trabalho, os vizinhos no elevador vão falar sobre o tempo. Deve ser saturante. Mas o pior disso é que um meteorologista leva sempre a mal a pergunta inocente «como vai estar o tempo amanhã?». Leva logo para o campo pessoal e responde-te torto. Se estiveres a tomar café com ele não podes falar sobre o tempo nem sobre o clima em geral para não o ofenderes;

  • Jornalista: o mesmo se passa com os jornalistas. Aquela pergunta inocente «viste o que aconteceu aos pedreiros no Curdistão?», que servia como quebra-gelo e introdução de conversa é levada a mal. Vai-te perguntar se achas mesmo que ele, enquanto jornalista, não estava a par de uma coisa dessas. Revolta-se e a noite está estragada logo ali. Quem é que gosta de um amigo assim? Ainda por cima nem precisamos de um amigo jornalista para saber as notícias, vemos isso nos jornalistas amigos de outras pessoas que não nós, pela televisão ou na net;

  • Cantor: não sei porquê mas não me consigo ver a ser amigo do Miguel Ângelo dos Delfins. Não só por ele numa altura da sua vida ter andado com um corte de cabelo que incluía uma palinha amarela, nem por dar concertos de óculos de sol mas também por ele ter uma banda chamada Delfins. Banda que é banda tem um nome como Bandalusa. Mas além disso, os cantores devem ser uns amigos mesmo chatos, que te obrigam a ter as músicas deles no mp3 e se não tiveres ficam chateados contigo e acham que não és amigo deles;

  • Actor: já falamos aqui que os actores fingem tudo. Não podes confiar neles. Se vão sair contigo e dizem que está a ser grande noite, nunca poderás acreditar. Afinal, fingem tão bem, são profissionais na arte de fingir, porque não hão-de fingir na vida real? Para se ser amigo de algum actor, ao menos que se seja de um actor pornográfico, que esses sim, sabem o que é gozar a vida;

  • Nutricionista: um amigo é aquela pessoa com quem falas de bifes às 2h da manhã, chegam à conclusão que querem comer um bife e passados 20 minutos estão a comer um bife. Imaginem agora se tivessem um amigo nutricionista. Falavam de bifes às 2h da manhã mas ele ia desaconselhar fortemente que ingerissem proteínas a essa hora da noite, que à noite só se deve comer uma peça de fruta. É isto um amigo? Se não posso comer um bife com um amigo às 2h da manhã, não vale a pena ter amigos.




Perante tudo isto só tenho a dizer que deve ser mesmo fixe ser amigo de um talhante. Mas um talhante de jeito, não é como o Jorge Abel, que só trabalhava no talho para ir levar os sacos a casa das pessoas e para espreitar à porta do talho a ver se não vinha ninguém enquanto o patrão encavava moças em cima dos rosbifes congelados. Quando eu digo um talhante digo alguém de porte e estatuto, que corte a carne, que faça inventários dos frigoríficos e arque com cabritos inteiros ao lombo. Um talhante é um moço robusto e mestre em metáforas sexuais envolvendo o mundo da carne e dos talhos. Ser talhante é ter estatuto social, ainda que haja por aí uns moços cheios de modernices na cabeça que andem a estragar o bom que é ser talhante e, ao invés, tornar isso uma profissão generalista, como se fosse igual trabalhar num talho e numa drogaria.







P.S.: Ser amigo de um dono de mercearia também, oh Rebelo. Não penses que me esqueci de ti. Adoro ser teu amigo, embora às vezes só vá à mercearia buscar pão ralado e fique lá 2 horas. Também às vezes há metáforas que não percebo e que aceno com a cabeça e me rio só para não parecer mal. Claro que se só fosse teu semi-amigo te pedia para me explicares, mas como sou teu amigo finjo que tens piada e rio-me. Claro que também não lucro nada em ser teu amigo porque nunca me fazes descontos nem me avisas quando vais pôr tudo a 50%, tenho que adivinhar ou perguntar às velhinhas. Mas não deixo de ser teu amigo. Se consigo ser amigo do Jorge Abel também consigo ser teu amigo, já que em nenhuma das duas amizades ganho alguma coisa com isso. 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Motivos para se gostar de música portuguesa


Um dos tópicos que não é bom para se conversar em elevadores é música. Experimentem dizer a alguém, sem o conhecer, que quem ouve música punk gosta de arroz de cabidela com muito sangue e verão essa pessoa dizer que também gosta de arroz de cabidela com muito sangue e não gosta de punk. Aliás, vai-te dizer que ninguém gosta de punk, tirando os moços que gostam de arreliar os pais mas não o suficiente para se tornarem strippers. E tu acabas por ganhar um amigo para a vida à custa de partilhares esse pensamento sobre o punk. E ninguém quer um amigo para a vida, principalmente se se tornou teu amigo através de uma conversa num elevador.


O elevador é um meio de transporte em vias de extinção. Acho que as pessoas daqui a 50 anos vão-se rir de nós por termos perdido tanto tempo em elevadores, como nós nos rimos das pessoas nos anos 50 que iam para a praia vestidas, como se fossem uma gorda com auto-consciência. Pensando bem, devia de haver mais dessas hoje em dia, em vez de andarem aí de leggins à tigre e decotes a mostrar a banha do braço, enquanto comem um gelado numa esplanda mal aparece um raio de sol. E o problema é que não comem gelados normais, é logo daqueles Magnum Caramelo.


Mas não é de elevadores nem de moças gordas que vou falar hoje, isso era repetir temas. Claro que vou falar de música outra vez, mas já não falava há muito tempo, desde que disse que o Tony Carreira tinha esquizofrenia. Hoje vou explicar os motivos para se gostar de música portuguesa:


  • Toda a gente tem a oportunidade de brilhar. Muitos dizem que não, que é só por cunhas mas se o Zé Cabra conseguiu, tudo é possível. Basta acreditar no vosso sonho e fazerem-se notar, seja por serem muito bons ou por serem incrivelmente maus. Mas há espaço para todos;

  • Há igualdade de sexos, não havendo papéis estereotipados. Para verem como eu tenho razão (ao fim e ao cabo é o que interessa) não há só o Quim Barreiros com as suas letras de intervenção profundas (conforme já abordamos aqui no blog) mas também há a sua versão feminina, a Rosinha, igualmente profunda nas letras mas oferecendo o lado feminino;

  • Nota-se na música portuguesa que há uma tradição familiar. Honra-se o valor da família e privilegia-se o princípio da hereditariedade, valorizam-se os genes. Por exemplo, há a família Carreira, em que o patriarca Tony luta contra a esquizofrenia, o filho mais velho Micael luta contra o assédio feminino e o filho mais novo David luta para conseguir ser um bocadinho mais ridículo todos os dias;

  • Como no futebol, na música portuguesa há aquelas grandes promessas que aparecem em grande muito cedo, tipo aos 10 anos, todos antevêem ali uma estrela, faz um sucesso inicial estrondoso mas depois desaparecem tipo o Saúl, que fez uma música, lançou um CD com mais 6 ou 7 que ninguém conhece e depois fugiu para o Turcomenistão;

  • Também como no futebol, acabamos por exportar artistas, uns de melhor qualidade, outros de mais fraquinha e duvidosa. Estes últimos, por vezes, até nos convencemos a nós mesmos que nunca foram portugueses, que já nasceram na Alemanha ou nos Estados Unidos. Mas havemos sempre de ter no nosso «campeonato» artistas como o Emanuel ou a Romana. Esses não saem de cá;

  • A música portuguesa mostra evoluções imprevisíveis, capazes de deixar qualquer um estupefacto. É nos Estados Unidos que aparece uma apresentadora de um programa infantil, singela e inocente, a cantar músicas sobre o abecedário e que anos mais tarde faz shows de strip e aparece na televisão vestida à prostituta como a Ana Malhoa faz aqui?

  • Quem dera aos Estados Unidos que a música deles fosse como a nossa. Aqui não é como lá, em que adolescentes mimadas fazem 1 videoclip e são super-estrelas milionárias. O bonito da música portuguesa é que a adolescente que virou super-estrela e milionária excêntrica fê-lo à base de ser pobrezinha e uma moça do campo parola, como a Floribella;

  • Nenhum outro país dá tanto trabalho a moças como o nosso dá em termos musicais. Todos os cantores têm as suas bailarinas, pelo menos três ou quatro. E aqueles que não têm, quando vão fazer play-back à televisão, tipo ao programa do Goucha ou à Praça da Alegria, eles têm lá sempre duas ou três moças com calças de cabedal e casacos com pele de urso pardo a dançar (ou a fingir que dançam);

  • A música portuguesa é muito inclusiva, muito mais que as dos outros países. Em nenhum outro país se fala tanto de ciganas a ler palmas da mão, de qual é a capital de Cuba, de ainda ontem estar em França e hoje já estar cá, do Cairo ou de Timor. É só ires aos Estados Unidos para os veres eles a discriminarem os «niggas» e os «white trash». Aqui não há nada disso;

  • Por último, há artistas que tentam aquilo que é conhecido pela «via do croissant». Fui eu que inventei este termo, está fixe? Mas já lá vamos. «A via do croissant» é o fenómeno em que uma coisa com um nome estrangeiro vale muito mais do que o seu nome em português. Por exemplo, se alguém cantasse algo do género «it's a bomb, it's a bomb, that makes a sound in my heart» toda a gente perguntava se os Backstreet Boys tinham voltado. Mas não, isto é do Emanuel! Claro que pessoas como o David Fonseca preferem o caminho mais fácil e cantam em inglês.




Claro que há outras coisas que influenciam o impacto de um artista no mundo da música. Por exemplo, alguém chamado Justino Castor em Portugal só podia ser um empresário do ramo da hotelaria, um merceeiro ou um professor de Matemática que não sabia explicar bem o teorema de Pitágoras. Mas nos Estados Unidos não. É um rapazinho com um cabelo esquisito, que nem sequer sei como canta porque nunca ouvi nenhuma música dele e que faz um sucesso do carago. Mais sucesso do que se conseguisse ser um professor de Matemática que não soubesse o que era o teorema de Pitágoras. Até eu sei isso! Aliás, essa é uma das 2 coisas que aprendi no 9º ano em Matemática. A segunda coisa é que há um triângulo chamado Escaleno. Que raio de nome.







P.S.: Humberto Escaleno parece-me ser um bom nome. Depois de Vítor Pargo é o meu nome preferido. Se algum dia trabalhar numa mercearia e as pessoas não me conhecerem vou dizer que me chamo assim. Depois de ficar lá algum tempo as pessoas já diziam que iam à mercearia do Escaleno, que eu era bom moço e levava os sacos a casa quando estavam pesados. Alguns com conhecimentos matemáticos iam dizer que eu não era como aqueles moços da minha idade que são uma besta quadrada. Claro que iam passar por nerds, mas desde que fossem à mercearia estava tudo bem para mim.


terça-feira, 16 de abril de 2013

Tópicos de conversa em elevadores


Não há situação mais embaraçosa que ir num elevador com vizinhos ou desconhecidos. Nessa situação, das duas uma: ou vai haver um silêncio constrangedor durante uns eternos 30 segundos ou alguém vai sentir a necessidade de dizer alguma coisa e vai falar sobre o tempo. «Hoje está sol.», «Parece que parou de chover de vez», «Rais'parta a chuva nunca mais acaba», «Este calor arrasa uma pessoa», «Ouvi dizer que numa ocasião, foi um Inverno tão rigoroso que nasceu um urso polar na Serra da Estrela». Esta última é provavelmente a menos usada, mas todas as outras são frequentes.


Falar num elevador sobre o tempo foi uma grande estratégia ao início, era um tema descomprometedor, toda a gente tem opinião sobre o calor e o frio, o sol e a chuva, o vento e a trovoada. Mas, tal como se gostar muito de Chipicaos e comer-se um, todos os dias, durante 5 anos, falar sobre o tempo com todos os vizinhos e desconhecidos em elevadores desgasta e torna-se cansativo. Por isso, agora que chegamos às 6 mil visualizações no blog temos que ser úteis em alguma coisa (mesmo que alguns desses 6 mil cheguem cá através de pesquisas no google um pouco duvidosas) e decidi começar por fazer serviço público.


Tendo em conta que na televisão, na rádio e principalmente nos elevadores, se está sempre a falar sobre o tempo, vou deixar aqui uma lista de temas que podem surgir como tópicos de conversa em elevadores, para aqueles que não suportarem um silêncio constrangedor nem queiram falar outra vez sobre o tempo:


  • Talhos e o preço da carne. Falar sobre talhos tem muito que se lhe diga, seja pelas preferências, se se gosta mais dos bifes finos ou grossos, de peru ou de frango, seja pelo paradigma do talho moderno que vende rissóis de pescada ou seja pelo preço da carne, que ora sobe, ora desce. Menos o preço das almôndegas, que está igual há 15 anos;

  • Começar perguntas por «sempre é verdade que ...?» e depois inventar qualquer coisa na hora, só para fazer conversa, tipo «sempre é verdade que o Rei do Uzbequistão mandou incendiar todas as plantações de feijão?». A outra pessoa vai dizer que não sabe e perguntar porque é que ele fez isso. Entretanto ou um dos dois sai no seu andar e a conversa fica por ali ou dizes algo do género «não sei, eu ouvi isso por alto, mas posso ter percebido mal», só para ganhar tempo;

  • Falar sobre a selecção nacional dá sempre resultado. Nunca sabemos de que clube uma pessoa é, mas mesmo aqueles que dizem que não gostam de futebol vêem a selecção (aliás, principalmente os que dizem que não gostam de futebol vêem a selecção) e dá sempre para um minuto de conversa, suficiente para aguentar a viagem de elevador;

  • Como é feita a manutenção do elevador, se está actualizada, será que cumpre as normas de segurança e será que o condomínio está a par? Este tema resulta bem em prédios, quer para passar o tempo, quer para as pessoas evitarem ir contigo no elevador e ires à vontade. O bom disto é que não tens que dar respostas, só de disparar perguntas para o ar e o tema vai surgir;

  • Promoções de supermercado. Este é um daqueles que resulta com todos, só tens de adequar os produtos à faixa etária. Aos jovens falas nas promoções na cerveja, aos adultos falas nas promoções nas latas de atum ou no café e aos idosos falas nas promoções no leite ou no chá. Às moças em geral falas nas promoções que há no chocolate. Para este tema tens sempre que roubar um exemplar da Dica da Semana de algum prédio que ainda os receba;

  • Falar do que se comeu uma vez num restaurante. Nem é preciso que se tenha ido lá recentemente, basta ter-se ido uma vez e ter-se gostado de algo que se comeu. Se a outra pessoa conhecer o restaurante, falam de outros pratos, se não conhecer o protagonismo é teu até chegar o teu andar. O melhor disto é que se a conversa for interrompida a meio, retomas na próxima viagem de elevador;

  • Para idosas, tenta ver a capa da TV7 Dias ou da TV Guia e comenta alguma notícia de lá. Para idosos, tenta ver a capa do Jornal de Notícias ou do Correio da Manhã e traz alguma coisa à baila. De certeza que vais gerar algum comentário que vai ocupar a viagem toda e ainda te vão considerar um moço simpático;

  • Qualquer que seja a população que apanhes no elevador, falar de doenças é sempre uma boa forma de ocupar o tempo, só tens que adaptar o discurso e a doença para a faixa etária. Ou então, se fores num elevador com várias pessoas, espera que alguém introduza o tema do tempo e tu arranjas maneira de relacionares alguma doença com o tempo que está;

  • Desgraças. O Mundo está cheio de desgraças: ou é tsunami no Japão, ou terramoto na Turquia, ou mineiros soterrados no Chile, ou guerra na Líbia ou o marido da Juliana, que era pedreiro no Curdistão e entretanto foi despedido porque eles lá agora precisam mais de soldados que de pedreiros. As pessoas adoram falar de desgraças e de manifestar pena, basta informares-te sobre o que se passa no mundo para teres tema de conversa num elevador.





Ouvi dizer que ainda há prédios privilegiados que ainda recebem a Dica da Semana, semanalmente e à segunda-feira. No meu prédio nunca mais recebemos esses exemplares e então tenho que roubar do prédio em frente para saber se é uma boa semana para comprar pepinos ou se devo esperar mais uns dias pela promoção. Ou será que é algum vizinho que nos anda a roubar as revistas mal as põem no chão do prédio? Aposto que é o lixeiro novo, que quando cá andava o Pina nunca tinham desaparecido Dicas da Semana, mas agora este novo deve levá-las a todas. Ouvi dizer que este lixeiro novo está a cumprir trabalho comunitário por ter esfaqueado o Pina numa discoteca, por causa de uma dívida de 20 contos de uns comprimidos que o Ramalho Drogas lhes tinha orientado. Coisa feia. Mas como vêem, é fácil conversar de coisas sem ser sobre o tempo.







P.S.: Claro que vocês não querem ser daquelas pessoas chatas que até evitam em partilhar o elevador com elas. Imagino se o Jorge Abel vivesse num prédio, toda a gente a deixá-lo apanhar o elevador sozinho senão já sabiam que ele ia falar sobre tintas e sobre como a política de contratações da Robialac é imbatível mas ao mesmo tempo desprezível, porque desfalca as empresas de tintas honestas como as do patrão dele. Juro, até eu quando tenho que ir com ele de elevador digo que ressuscitei um trauma de infância e que voltei a ter medo e então vou de escadas. Assim, se ele me seguir, posso ir a correr e escusamos de falar.



sábado, 13 de abril de 2013

Porque é que detesto história


O texto do Gary sobre correntes artísticas fez-me ter más recordações. Recordações das aulas de História, de ter que decorar um montão de coisas e chegar aos testes e tirar sempre 3. Juro que uma vez escrevi uma composição que era para Português sobre o Fernando Pessoa numa resposta num teste de História e tive 3 na mesma. Acho que a professora não gostava muito de mim, ou então tinha pena de mim e dava-me sempre 3. Ao menos podia-me ter dito que era por pena, que assim escusava de perder tempo a tentar estudar, de gastar dinheiro no livro e de andar carregado com aquilo 3 dias por semana. 

Já não chegava ter vivido tudo isto no passado, agora obrigam-me a viver no presente. Por isso vou partilhar com vocês porque é que detesto história:


  • Aquilo é tudo passado! Na escola, quando aprendi os verbos, o primeiro que aprendi foi o presente. Mas para a História não, o presente não interessa para nada, só querem saber do que já aconteceu. A História parece aqueles semi-amigos que reencontramos passado uns 3 anos e que só falam contigo do que aconteceu no passado. Passados 3 dias encontram-te outra vez e falam das mesmas coisas que falaram há 3 dias atrás;

  • Em História só se fala de guerras, impérios e civilizações antigas. Nunca ninguém falou de coisas que realmente interessavam, por exemplo, como foram os testemunhos, na primeira pessoa, do povo que comeu mamute pela primeira vez e qual a diferença entre mamute cru e mamute na brasa, quando eles inventaram o fogo. Também nunca ninguém ensinou em História como vivenciaram os gregos a extinção dos minotauros, se festejaram ou se lhes sentiram a falta por movimentarem a economia. Pelo contrário, tenho que ir a convenções a meio da tarde para saber coisas que devia ter aprendido na escola;

  • Sempre que vejo Canal História adormeço. Sempre que tinha aulas de História de manhã adormecia. Sempre que tinha aulas de História depois de almoço adormecia. Sempre que o Jorge Abel começa a contar histórias do trabalho dele adormeço. Eu é que detesto recordes do mundo, senão dizia que tinha o recorde do mundo de adormecer em História. Por outro lado nunca terei insónias, mas gostar de História por causa disso era como gostar de fazer colonoscopias por isso prevenir um cancro;

  • Em História, tinham e têm a mania de falar de coisas que não lhes compete, tipo economia e agricultura. Como se já não houvesse coisas suficientes para saber em história, ainda se punham a falar de agricultura, a roubar matérias e protagonismo a Geografia. Como se já não houvesse 760 mil reis em todo o Mundo e 540 Impérios para se saber a história deles. Depois claro, fala-se tanto de agricultura em História, que chega-se a Geografia e é só saber as capitais e os nomes dos rios;

  • Às vezes, saber a história de alguns países é como conhecer uma moça gorda que diz que em 1999 foi Miss Universo. Pois, foi. Mas já não é, nem nada que se pareça com isso. Que me interessa que em 1999 tenha sido Miss Universo se agora só era Miss Universo pelo tamanho que ocupa? Do mesmo modo, que me interessa que a Escócia tenha derrotado os ingleses em 1600 se agora nem se conseguem qualificar para os Europeus?

  • Uma das coisas mais inúteis da História é saber como se vestiam os nobres no século XIV, ou como eram feitos os coches no século XVII e que tipo de políticas económicas se levava a cabo no Brasil, a partir de 1900. Isso é como ir a um primeiro encontro com uma moça e dizer que em criança vestia fatos de treino roxos e que o primeiro carro do meu avô foi um Renault Cinco e por isso é que eu conduzo um Ford Fiesta. Não interessa para nada nem a ninguém. Mas também não é só por isso que os meus encontros são uma desgraça;

  • Facilmente se pode enganar alguém com história. Mas alguém pode provar que os fenícios faziam trocas comerciais com os cartagineses, nos portos de Génova, a trocarem especiarias da Índia por porcelanas chinesas? Até eu podia inventar coisas assim! Sabiam que os persas fizeram tambores com as peles dos linces, que eram uma espécie de deus para eles, para os rituais de acasalamento dos chefes das tribos? Eu não sabia, mas inventei agora;

  • Já uma vez me disseram que a história reflecte a perspectiva de quem a conta. Não sei se foram exactamente estas as palavras, se tiverem sido foi grande sorte lembrar-me, normalmente tenho dificuldade em lembrar-me das coisas, o que explica as minhas dificuldades a História. Mas o que quero dizer com a frase? Por exemplo, não acredito que os navegadores portugueses que tenham ido a África tivessem mesmo trocado espelhos por ouro. Aposto antes que essa foi a primeira piada racista que existiu, bem antes das do Tibúrcio do Fernando Rocha;

  • O pior da História é que qualquer coisa dá para fazer um filme. Quando andava na escola, adorava que as aulas de História fossem a ver filmes, que podia adormecer sem dar muito nas vistas. Mas assim é facílimo ser realizador! Não tenho assunto nem ideias, abro um livro de história numa página ao calhas, vejo se já algum realizador teve a mesma ideia e, se não, maravilha, já tenho um filme para fazer. E como sabem eu detesto cinema (http://comidosdocerebro.blogspot.pt/2012/11/porque-e-que-detesto-cinema.html).




Agora que me conhecem um pouco melhor, espero que não se considerem meus amigos. É preciso muito mais que isto para se tornarem meus amigos. Não era bom que as pessoas tivessem uma lista a dizer as coisas que eram necessárias para te considerarem um amigo? Imaginem que para serem meus amigos me tinham que levar a comer um bife a um restaurante a que eu nunca tivesse ido mas sabiam que eu ia sair de lá satisfeito. Ou que, para serem meus amigos, me tinham que mostrar um tipo de música que eu não conseguisse arranjar defeitos nos primeiros 15 segundos que ouvisse. Pelo menos evitava que tirassem conclusões precipitadas como a que tiraram mal acabaram o texto e se acharam mais meus amigos por me conhecerem um pouco melhor.






P.S.: Esqueçam aquele parágrafo. Ainda estava chateado com História, com a professora nunca me subir nem baixar do 3 e com o Rebelo da mercearia, que me garantiu que as tortas Dan Cake de morango eram melhores que as de chocolate e sabiam mesmo mal. Sabem aquele sabor que nem é morango nem framboesa mas parece um morango que esteve uns 3 meses no frigorífico e depois lhe juntaram cereja para disfarçar a falta de sabor? Era a isso que sabia. 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

A verdade sobre as correntes artísticas


Poucos temas nos fazem parecer tão intelectuais como falar de arte, nomeadamente pintura. Aliás, eu só considero arte pintura, porque escultura não é arte nenhuma. Tirando a arte de se fazer estátuas e bustos, que isso sim, é fazer uma pintura em 3D. Mas o que é isto de ser intelectual? Certamente muito mais do que pôr uns óculos e escrever num blog de qualidade duvidosa sobre arte e correntes artísticas. Também é mais do que ficar 1 hora e meia num talho a conversar com os outros clientes sobre a diferença entre um bife do vazio e um ossobuco.


Mas a esta altura estão vocês a perguntar-se porque raio vou eu falar-vos de arte. Será que o blog vai começar a subir de qualidade e a tornar-se relevante para o vosso dia-a-dia? Será que vou começar a ser uma referência no mundo da Internet por vos oferecer uma visão analítica e objectiva da vida? Será que vos farei repensar que toda a mudança é possível e inspirar-vos a serem um modelo para vocês próprios? O meu objectivo não é nenhum desses, mas como vêem, é facílimo armar-me em intelectual, basta fazer as perguntas certas no momento certo.


Pessoalmente, acho a arte um desperdício maior de dinheiro do que moços que se querem embebedar e compram Minis. Por isso, porquê falar sobre arte? Primeiro, porque nunca tinha falado. Depois, porque vou tentar ser engraçado com as diversas correntes artísticas que existiram (e para as quais fiz pesquisa, admito):


  • Expressionismo: ao início os pintores ainda eram ingénuos. Faziam arte só para se expressarem, como o Pinto, filho da Aurora, que faltava a aulas para ir com uns amigos e um primo dele pintar paredes de fábricas abandonadas, que só ele e uns quantos drogados e sem-abrigo iam apreciar. Abandonaram esta ideia do expressionismo quando os primeiros pintores, que nunca saíram de casa dos pais, começaram a morrer à fome. Começaram a vender os quadros que faziam e a comprar heroína, sapatilhas da Adidas e tapetes de Arraiolos;

  • Abstraccionismo: como os pintores viam que havia gente que comprava qualquer coisa, começaram a explorar isso mesmo. Qualquer ricaço comprava uma porcaria qualquer desde que isso fosse considerado um quadro. Como viram que já nem precisavam de se esforçar, faziam qualquer coisa e diziam que era abstraccionismo, que libertava sensações diferentes de pessoa para pessoa e que só aos insensíveis não libertava sensação nenhuma. Como ninguém queria passar por insensível, toda a gente fingia que via alguma coisa, porque ser insensível, no século XVIII, dava cadeia;

  • Fauvismo: como não podia deixar de ser, o que vende mais são coisas com nomes estrangeiros, pois claro. O que é que dá mais dinheiro a um comerciante: pães folhados ou croissants? Fígado ou foie gras? Chouriço italiano ou pepperoni? Claro que o estrangeiro vende mais! A isto chama-se «Introdução ao Marketing» e foram os pintores que o inventaram. Continuaram a fazer basicamente o mesmo, mas deram-lhe um nome estrangeiro, para vender mais. E os tatões dos ricaços continuavam a comprar, a pensar que estavam a comprar uma grande coisa e era igualzinho aos primeiros, mas com outro nome;

  • Cubismo: os pintores não eram propriamente as melhores pessoas do Mundo. Jogavam basket com cargas de ombro, acompanhavam francesinha com Compal, faziam batota no Monopóli e abandonavam a escola antes do 9º ano, apesar dos pais terem posses. De outra forma queria ver quem era o pai que comprava um cavalete de 30 contos a um filho que não tivesse feito o sexto ano. Quando o primeiro pintor a chegar ao 9º ano aprendeu as figuras geométricas descobriu uma nova mina de ouro para os quadros: cubos, paralelepípedos, pirâmides e cilindros. Valia tudo, punha no quadro ao calhas, uns em cima dos outros e diziam que era uma nova corrente artística. Faziam um quadro em 15 minutos e depois podiam passar o dia a jogar à sueca;

  • Futurismo: os ricaços começavam a desconfiar que os estavam a enganar e a passar-lhes a perna. Por isso, os pintores tiveram que se esmerar. Acabaram com as figuras geométricas e fizeram uns desenhos todos estranhos, que ninguém percebia, armaram-se em profetas e diziam que eram visões futurísticas que tinham sobre o que aí vinha. Os ricaços adoraram. O sindicato dos coleccionadores de arte também. Os que ainda eram vivos sentiam saudades dos tempos da Inquisição, em que alguém que tivesse visões do futuro era queimado e fornecia ás pessoas uma tarde de domingo espectacular, a ver autos-de-fé;

  • Dadaísmo: a conversa do futurismo já não enganava ninguém e os pintores tinham que sacar outro golpe de marketing. Como já estavam a ficar sem nomes, tinham que inventar um qualquer, que fosse diferente de todos os outros, para não chamar a atenção. Foi mais ou menos como nos signos, que já não tinham mais nomes e inventaram «Balança». Aqui, os pintores foram mais inteligentes. Inventaram um nome e clamaram que era um grito de revolta, uma fuga aos padrões da sociedade (que eles próprios tinham criado, mas não interessa, o povo gosta é de revoltas e de juntar-se a elas, não necessariamente de perceber o que as causa), um grito de liberdade. Novamente, os ricaços adoraram e encheram os pintores de dinheiro;

  • Surrealismo: o que é que atrai mais as pessoas do que ser diferente? Provavelmente uma moça roliça toda nua a fazer torradas ou um cozinheiro japonês a cozinhar uma santola viva ou até um trolha a furar uma parede com uma broca. Mas ser diferente atrai imenso, principalmente pessoas com um trabalho ou com heranças que possibilitem esbanjar-se dinheiro a comprar-se quadros. Os pintores descobriram isto e inventaram o surrealismo. Algo diferente, algo ... surreal. E os ricaços voltaram a cair que nem patinhos nisto;

  • Sectarismo: esta corrente artística foi uma das mais estudadas no mundo setentrional e na civilização da Mesopotânia. Mas quem é que eu quero enganar? Isto não existiu, eu também quis inventar um nome de  um movimento para me sentir importante. Se algum de vocês, por 1 segundo, ao ler o nome, pensou que tinha existido mesmo, deve sentir-se como os ricaços que foram sendo enganados ao longo dos anos pelos pintores. Só que desta vez foram vocês, enganados por um comido do cérebro.




Alguns de vocês por esta altura estão a perguntar-se: «Mas onde é que ele falou de arte? Isto são só pensamentos absurdos de uma pessoa claramente perturbada». Em primeiro lugar, o Ramalho Drogas mudou de número, não tenho a quem comprar os anti-psicóticos, não tenho culpa. Em segundo lugar, acreditavam mesmo que eu ia falar de arte? Ou estão no blog errado, através de pesquisas assustadoras, tipo aquele moço que cá veio parar por pesquisar coisas sobre o Pirulo Jungly, ou então não sei o que vos passa pela cabeça, se calhar o Ramalho Drogas também nunca mais vos orientou os comprimidos. Ou então são só amigos do Jorge Abel, que trabalham com ele e que ouviram falar sobre o blog. Caso façam parte do último grupo, fiquem a saber que um dia o Jorge Abel veio almoçar cá a casa. A minha mãe fez pargo assado e eu convenci-o que aquilo eram lulas. Ainda hoje ele diz que a minha mãe faz umas lulas que são um espectáculo. 






P.S.: No outro dia fui a um mini-mercado e vi lá uma coisa que me intrigou. Rebelo, se leres isto, só fui ao mini-mercado porque queria comprar uma coisa que não tens na tua mercearia, nunca tiveste e provavelmente não terás, porque se algum dia pensasses em ter, eu deixava logo de ir ao mini-mercado. Mas basicamente, o que eu vi foi um elixir bucal de coca-cola, que elimina as bactérias. O que me intrigou foi que fazem elixires de coca-cola, batatas de cebola mas não fazem a merda de um refrigerante de banana, apesar de haver iogurtes disso.


sábado, 6 de abril de 2013

Guia turístico para países fraquinhos


Já me armei em muita coisa na vida. Uma ocasião armei-me em pescador e disse ao Rebelo que tinha pescado um robalo de 3,5 kg uma vez no Rio Cávado. Claro que ele logo a seguir me disse que já tinha conseguido pescar um peixe inglês de 55kg num bar em Olhão. Obviamente que o peixe era uma mulher, inglesa, foi mais uma das metáforas incessantes do Rebelo. Por isso é que vale a pena ir à mercearia dele, para ouvir estas coisas, porque de resto não compensa nada. Tal como nas mercearias que ainda resistem, quase tudo é ao mesmo preço ou mais caro que nos supermercados, com a agravante do Rebelo confundir alhos franceses com pães de alho.


Também já me armei em jogador de futebol, em professor, em namorado e em amigo. Nunca me armei em semi-amigo, isso ou se é ou não se é. Por isso é que nunca nenhum actor é um semi-amigo, porque não se consegue fingir isso. Os actores só sabem fingir amizades, nisso são eles bons, a fingir amizades e amor. Também são bons a aparecer nos sítios e a saírem de lá com um montão de coisas oferecidas mas já falamos disso e não me vou repetir. Logo hoje que até me vim para aqui armar em outra coisa, além de me armar em engraçado.


Várias vezes me armei em crítico sobre alguns países que existem no Mundo e que não deveriam existir ou existir num mundo secundário, tipo como no futebol, em que os clubes fraquinhos estão na segunda divisão. Mas hoje não. Hoje só me vou armar em guia turístico para países fraquinhos:



  • Arménia: a casa de pedra do Imperador Rashminkov, onde ele ganhou ao rei de França, por capote, no ténis de mesa, é um local de visita obrigatória. Fica situada atrás do Monte Ararat, famosíssimo local da Arménia e um dos mais simbólicos no mundo. O mal desta casa é mesmo a sua vista, que não é muito boa, até porque de costas dá para ver a montanha a parir ratos;

  • Cazaquistão: a capital, Astana, parece Roma nos tempos dos gladiadores. Não é por causa da parvoíce da arquitectura (embora o Cazaquistão seja conhecido pelos seus telhados de vidro), mas pelo facto da sua arena ter combates de boxe todos os dias, a toda a hora. Este investimento no boxe tem dois resultados: primeiro, fazem-me ganhar dinheiro com apostas; segundo, têm uma selecção muito fraquinha e um campeonato paupérrimo;

  • Bangladesh: o grande atractivo deste país é podermos afirmar que estamos no segundo pior país do mundo. Beber do sentimento de alívio exalado pelos cidadãos do Bangladesh por saber que existe o Lesoto é revigorante e inspirador. Concede-nos uma visão muito mais pacífica sobre a vida e que, por muito mal que estejamos, há sempre alguém pior. Mas sem ser isso não têm mais nada. Nem sequer há bolos tradicionais no Bangladesh, é tudo importado do Burundi. E a selecção deles leva sempre grandes pingas nos jogos contra o Uzbequistão ou o Sri Lanka;

  • Suazilândia: dizer-se que se é o rei da Suazilândia faz pensar que se é tão inútil como o Hélder, o rei do Kuduro. E se calhar o rei do Kuduro faz mais dinheiro que o rei da Suazilândia. Mas, porque estou aqui enquanto guia turístico e não enquanto crítico social, vou falar o que devem visitar na Suazilândia: a casa de férias do rei do camarão-tigre, que é um pescador que um dia pescou um camarão-tigre de três metros. Mas este pescou mesmo, não foi como eu que inventei aquela história do robalo;

  • Vanuatu: não há aviões para lá, só chegam às Ilhas Fiji. O atractivo deste país, além dos kiwis, que são os segundos melhores do mundo (melhores só mesmo os do Kiribati) é o circuito de treino para nadadores de competição. Este circuito é o melhor, mais completo, mais avançado e difícil do mundo: uma pista de 13km, entre as ilhas Fiji (onde pára o avião) e a costa do Vanuatu, sempre a direito e com possibilidade de fazer sprints a fugir de tubarões;

  • Saint-Kitts e Nevis: este país tem um dos melhores nomes de país do mundo, só superado pela Gâmbia. Saint-Kitts e Nevis parece uma banda de kizomba composta por 3 moços e em que um deles vai para os concertos com um chapéu de frutas. Mas não é só por isso que devem visitar este país. O grande atractivo é mesmo o beco onde o Rei Carlos XXXI, do Paquistão, foi violado por dois moços indonésios a quem devia 30 contos por causa de um Renault Clio. Isto aconteceu em 1998, e desde então, amantes da arte de violar e candidatos a futuros violadores, visitam esse beco como se fossem visitar o Muro das Lamentações ou a Torre Eiffel;

  • Turcomenistão: o grande atractivo deste país é que tem uma das maiores florestas do mundo. Normalmente este não seria um motivo para visitar um país. Ninguém vai à Hungria para ver aquele bosque gigante que eles têm por lá, mas sim por causa da indústria pornográfica. Também ninguém vai ao Turcomenistão por causa da floresta, mas por causa do centro de estágio que eles fizeram lá no meio. Ali treinam diariamente cerca de 30 aspirantes a entrarem naqueles concursos que só dá na Eurosport de ver quem derruba mais árvores em 3 minutos com um machado ou de quem desfaz mais eucaliptos com uma motoserra;

  • Djibouti: provavelmente os mais desatentos nunca ouviram falar do Djibouti, mas isso não significa que sejam o Lesoto 2. Pelo contrário, quem gostar de cabrito deve visitar o Djibouti. Porque quem gosta de cabrito, gosta de vinho a acompanhar. E quem gosta de vinho a acompanhar o cabrito também gosta de tiro ao prato. O Djibouti leva isto muito a sério e todos os restaurantes têm o menu «Tiro ao prato» em que após 3 doses de cabrito regado com vinho são disponibilizadas carabinas com balas de borracha para se fazer tiro ao prato. E os pratos são da Vista Alegre, não é de uma porcelana qualquer!




Por falar em porcelana, não sei como o Jorge Abel travou conhecimento com a filha do Juíz Porcelana mas é melhor nem saber. Aliás, até é melhor cortar qualquer contacto com ele, eliminá-lo dos amigos do Facebook e apagar o número dele, para que se ele fizer cagada e for processado eu não vir ao barulho. Ainda por cima eu tenho vários motivos para ser processado, quanto mais não fosse pelo Tony Carreira por dizer que ele tinha esquizofrenia, pelo Quim Barreiros por dizer que ele era cantor de intervenção, pelo Teófilo por dizer que ele gosta de ser o escravo do prazer de moços que põem anúncios no jornal e pelo Júlio Facadas por dizer publicamente que ele só ia para o Quirguistão para esfaquear horticultores. 





P.S.: Perguntam-me vocês porque não falei no Quirguistão. Nem no Kiribati. Nem no Belize. Já agora, ia falar de todos os países fraquinhos que existem, querem ver? E depois, se quisesse escrever sobre alguma coisa quando não tivesse tema, não podia fazer um «Guia Turístico para países fraquinhos, parte 2». Tenho que pensar em tudo, não é só em vocês e no que vos interessa. Se bem que um dia talvez possa precisar de vocês como testemunhas de defesa quando o Tony Carreira ou o grupo de fãs dele me processarem.


terça-feira, 2 de abril de 2013

Já que tive férias da Páscoa vou falar sobre elas


Finalmente acabaram as férias. Já não via a hora de voltar à fábrica e trabalhar. Também já não via a hora de voltar a ver a Paulinha, que é a secretária lá dá fábrica. Acho que ela também gosta de mim, pelo menos dá-me sempre os bons dias quando me vê e faz-me um grande sorriso. Não há nada nesta fábrica de que não goste, até do cheiro nas casas de banho gosto, é daqueles Ambipur que cheira a campo, não é como aqueles com cheiro a frutos do bosque, mesmo enjoativos. E o que é isso de frutos do bosque? Tenho um bosque à beira de minha casa e lá só há silvas, ervas daninhas e moços a encavarem moças, nos sítios mais escondidos.


Não soube bem o que fazer durante estas férias. Os dias parecia que demoravam eternidades a passar. Não tinha nada que fazer nem sítio para onde ir. Sempre que ia a casa do Gary ele não estava. Pelo menos a Dona Branca, uma pessoa que eu nunca tinha conhecido e que me falava pelo intercomunicador, dizia que ele tinha saído e não sabia quando voltava. Devem ter sido umas férias da Páscoa espectaculares para o Gary e eu sem nada para fazer. Ainda pensei em implorar ao meu patrão para me deixar ir trabalhar nas férias, mas depois ele ainda pensava que eu ia exigir subsídio de férias e não lhe quis fazer isso. Já chegou o filho dele ter ido trabalhar para a Robialac. Não imagino pior desgosto para um pai.


Como li aqui no blog que o Gary tinha ido a uma convenção sobre o impacto dos minotauros na economia da Grécia Antiga também decidi ir. Primeiro porque não fui convidado pelo Gary e para ele depois não me fazer inveja sobre o que aprendeu lá, também decidi ir. Assim ele já não tem nada para me dizer. Segundo, porque sempre gostei da Grécia Antiga. Também gosto da Grécia moderna, ganhei um montão de dinheiro com eles no Euro2004, mas a Grécia Antiga também me fascina. E uma tarde inteira a ouvir falar de minotauros parecia-me o cenário ideal para acabar a porcaria das férias da Páscoa. Não tinha noção do dinheiro que os gregos estouravam em obras por causa de acidentes com minotauros. Quem me dera que houvesse minotauros hoje em dia, assim a nossa fábrica inventava uma tinta anti-fungo e anti-Minotauros e era mais poderosa que a Robialac.


Sai da convenção muito mais satisfeito. Tinha sido um dia muito proveitoso. Se estivesse a trabalhar não tinha podido ir a esta convenção, porque não tinham horário pós-laboral. Segundo o moço que organizou aquilo, nenhum trabalhador teria interesse naquelas coisas, só moços que não tinham nada que fazer durante o dia e quisessem passar tempo a ouvir parvoíces. Revi-me completamente nessa descrição e percebi finalmente qual o fundamento de ter férias: é para aproveitar estas convenções. Perguntei-lhe quando era a próxima e sobre que tema. Pelos vistos vai ser sobre o uso de toalhas de linho pelo Faraó Ramsés durante o seu reinado. Também gosto do Egipto antigo. Gosto tanto que vi 5 vezes «A Múmia». Mas vi 5 vezes «A Múmia I», porque «A Múmia II» só vi duas vezes. E a segunda foi por engano, pensei que era «A Múmia» mas era «A Múmia II».


Ainda bem que fui à convenção sozinho, detesto ir a convenções com o Gary e com o Tolentino. O Gary está sempre a julgar as pessoas pelo que vestem, pelas palavras que usam, pelos penteados que usam e pelo carro que conduzem. O Tolentino está sempre a dizer que detesta convenções, mas que detesta mais estar desempregado e sem nada que fazer e por isso vai às convenções. Tenho a certeza que o Tolentino tem o recorde do mundo de moço desempregado que já foi a mais convenções, mas ele também detesta recordes do mundo, por isso é melhor nem lhe falar nisto ou ele ainda me processa. E eu não posso ir a tribunal, que desde que conheci a Andreia Porcelana, filha do juiz Porcelana, que ele facilmente me punha na prisão por qualquer coisa.





P.S.: Amanhã volto ao trabalho, finalmente. Por outro lado tenho pena de provavelmente ir perder a convenção do uso de toalhas de linho pelo Faraó Ramsés durante o seu reinado. Sinto que vocês agora ficaram curiosos em relação à Andreia Porcelana. O que é que eu lhe fiz que tenha enfurecido o juiz Porcelana? Eu não lhe fiz nada. O meu tio é que numa ocasião lhe riscou o carro todo por ter confundido o BMW do juiz com o Peugeot 307 de um cliente da minha tia que não lhe pagou tudo e ainda a expulsou do carro em andamento. O meu tio disse que os dois carros eram pretos e a matrícula acabava em «67», por isso é que confundiu.