sábado, 13 de abril de 2013

Porque é que detesto história


O texto do Gary sobre correntes artísticas fez-me ter más recordações. Recordações das aulas de História, de ter que decorar um montão de coisas e chegar aos testes e tirar sempre 3. Juro que uma vez escrevi uma composição que era para Português sobre o Fernando Pessoa numa resposta num teste de História e tive 3 na mesma. Acho que a professora não gostava muito de mim, ou então tinha pena de mim e dava-me sempre 3. Ao menos podia-me ter dito que era por pena, que assim escusava de perder tempo a tentar estudar, de gastar dinheiro no livro e de andar carregado com aquilo 3 dias por semana. 

Já não chegava ter vivido tudo isto no passado, agora obrigam-me a viver no presente. Por isso vou partilhar com vocês porque é que detesto história:


  • Aquilo é tudo passado! Na escola, quando aprendi os verbos, o primeiro que aprendi foi o presente. Mas para a História não, o presente não interessa para nada, só querem saber do que já aconteceu. A História parece aqueles semi-amigos que reencontramos passado uns 3 anos e que só falam contigo do que aconteceu no passado. Passados 3 dias encontram-te outra vez e falam das mesmas coisas que falaram há 3 dias atrás;

  • Em História só se fala de guerras, impérios e civilizações antigas. Nunca ninguém falou de coisas que realmente interessavam, por exemplo, como foram os testemunhos, na primeira pessoa, do povo que comeu mamute pela primeira vez e qual a diferença entre mamute cru e mamute na brasa, quando eles inventaram o fogo. Também nunca ninguém ensinou em História como vivenciaram os gregos a extinção dos minotauros, se festejaram ou se lhes sentiram a falta por movimentarem a economia. Pelo contrário, tenho que ir a convenções a meio da tarde para saber coisas que devia ter aprendido na escola;

  • Sempre que vejo Canal História adormeço. Sempre que tinha aulas de História de manhã adormecia. Sempre que tinha aulas de História depois de almoço adormecia. Sempre que o Jorge Abel começa a contar histórias do trabalho dele adormeço. Eu é que detesto recordes do mundo, senão dizia que tinha o recorde do mundo de adormecer em História. Por outro lado nunca terei insónias, mas gostar de História por causa disso era como gostar de fazer colonoscopias por isso prevenir um cancro;

  • Em História, tinham e têm a mania de falar de coisas que não lhes compete, tipo economia e agricultura. Como se já não houvesse coisas suficientes para saber em história, ainda se punham a falar de agricultura, a roubar matérias e protagonismo a Geografia. Como se já não houvesse 760 mil reis em todo o Mundo e 540 Impérios para se saber a história deles. Depois claro, fala-se tanto de agricultura em História, que chega-se a Geografia e é só saber as capitais e os nomes dos rios;

  • Às vezes, saber a história de alguns países é como conhecer uma moça gorda que diz que em 1999 foi Miss Universo. Pois, foi. Mas já não é, nem nada que se pareça com isso. Que me interessa que em 1999 tenha sido Miss Universo se agora só era Miss Universo pelo tamanho que ocupa? Do mesmo modo, que me interessa que a Escócia tenha derrotado os ingleses em 1600 se agora nem se conseguem qualificar para os Europeus?

  • Uma das coisas mais inúteis da História é saber como se vestiam os nobres no século XIV, ou como eram feitos os coches no século XVII e que tipo de políticas económicas se levava a cabo no Brasil, a partir de 1900. Isso é como ir a um primeiro encontro com uma moça e dizer que em criança vestia fatos de treino roxos e que o primeiro carro do meu avô foi um Renault Cinco e por isso é que eu conduzo um Ford Fiesta. Não interessa para nada nem a ninguém. Mas também não é só por isso que os meus encontros são uma desgraça;

  • Facilmente se pode enganar alguém com história. Mas alguém pode provar que os fenícios faziam trocas comerciais com os cartagineses, nos portos de Génova, a trocarem especiarias da Índia por porcelanas chinesas? Até eu podia inventar coisas assim! Sabiam que os persas fizeram tambores com as peles dos linces, que eram uma espécie de deus para eles, para os rituais de acasalamento dos chefes das tribos? Eu não sabia, mas inventei agora;

  • Já uma vez me disseram que a história reflecte a perspectiva de quem a conta. Não sei se foram exactamente estas as palavras, se tiverem sido foi grande sorte lembrar-me, normalmente tenho dificuldade em lembrar-me das coisas, o que explica as minhas dificuldades a História. Mas o que quero dizer com a frase? Por exemplo, não acredito que os navegadores portugueses que tenham ido a África tivessem mesmo trocado espelhos por ouro. Aposto antes que essa foi a primeira piada racista que existiu, bem antes das do Tibúrcio do Fernando Rocha;

  • O pior da História é que qualquer coisa dá para fazer um filme. Quando andava na escola, adorava que as aulas de História fossem a ver filmes, que podia adormecer sem dar muito nas vistas. Mas assim é facílimo ser realizador! Não tenho assunto nem ideias, abro um livro de história numa página ao calhas, vejo se já algum realizador teve a mesma ideia e, se não, maravilha, já tenho um filme para fazer. E como sabem eu detesto cinema (http://comidosdocerebro.blogspot.pt/2012/11/porque-e-que-detesto-cinema.html).




Agora que me conhecem um pouco melhor, espero que não se considerem meus amigos. É preciso muito mais que isto para se tornarem meus amigos. Não era bom que as pessoas tivessem uma lista a dizer as coisas que eram necessárias para te considerarem um amigo? Imaginem que para serem meus amigos me tinham que levar a comer um bife a um restaurante a que eu nunca tivesse ido mas sabiam que eu ia sair de lá satisfeito. Ou que, para serem meus amigos, me tinham que mostrar um tipo de música que eu não conseguisse arranjar defeitos nos primeiros 15 segundos que ouvisse. Pelo menos evitava que tirassem conclusões precipitadas como a que tiraram mal acabaram o texto e se acharam mais meus amigos por me conhecerem um pouco melhor.






P.S.: Esqueçam aquele parágrafo. Ainda estava chateado com História, com a professora nunca me subir nem baixar do 3 e com o Rebelo da mercearia, que me garantiu que as tortas Dan Cake de morango eram melhores que as de chocolate e sabiam mesmo mal. Sabem aquele sabor que nem é morango nem framboesa mas parece um morango que esteve uns 3 meses no frigorífico e depois lhe juntaram cereja para disfarçar a falta de sabor? Era a isso que sabia. 

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