O local onde tudo o que é produzido é fruto de delírios alucinatórios. De quem escreve e de quem lê.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Um trabalhador de férias é como um desempregado a fazer bricolage, disse-me o meu tio
Felizmente não sei fazer bricolage mas infelizmente sou um trabalhador de férias. Podia dizer que nunca me senti tão mal na minha vida, mas ia mentir. Uma vez, numa festa de anos do Vítor Piranha, da Churrasqueira, estava cheio de sede, vi uma garrafa de Ice Tea e enchi o meu copo. Era de manga, nunca tinha experimentado, mas já tinha bebido «Um Bongo» de todos os sabores e todos os Capri-Sons, não ia ser um Ice Tea de manga que me ia fazer mal. Mal fazia-me se fosse um Compal de pêra, que aquilo é tudo espesso, parece sopa de sumo. Mas enganei-me. Fez-me um mal incrível, fiquei todo agoniado e não parei de vomitar o resto da noite. No dia seguinte, mal me conseguia levantar da cama e só consegui comer um pão o dia todo. O Gary disse-me que o Vítor Piranha guardava o whisky nas garrafas de Ice Tea para os convidados dele não o beberem mas nunca mais bebi Ice Tea de manga, não vá haver mais gente a pensar como o Vítor Piranha.
Nesses dias senti-me mesmo mal, pior que agora até. Mas não significa que agora esteja bem. Contrariamente ao que esperava, as férias até têm algumas coisas boas. Uma delas é que tenho passado mais tempo com o Júlio César, o meu amigo lá da fábrica, que também teve as férias dele agora. Ao início quase não o via que ele passava o tempo todo com uma moça, mas agora que ele fez porcaria e ela nunca mais o quer voltar a ver, temos feito muita coisa juntos. Tenho aprendido muito com o Júlio César. Descobri que ele adorava ser inglês porque podia chamar «boi» aos moços sem ser recriminado pela sociedade. O meu tio disse-me uma vez que uma vez uns ingleses lhe pediram para tirar uma fotografia e ele roubou-lhes a máquina. Passados 20 minutos, encontrou outro grupo de ingleses na rua a quem lhes tinham roubado a máquina e vendeu-lhes a que roubou por 50 euros. O meu tio diz que se arrepende muito, que se soubesse o que sabe hoje, tinha-lhes vendido por 80 ou 90 euros.
Além do Júlio César, também tenho estado muito tempo com o Catarino, que é primo do Júlio César. Mas é daqueles primos que mais parece irmão ou amigo, não é dos outros primos que só aparecem no Natal ou que encontras na rua ocasionalmente e falas do tempo, perguntas se está tudo bem lá por casa, mandas beijos e cumprimentos para todos e segues a tua vida. O Catarino é um moço porreiro mas diz que na escola toda a gente o goza por causa do nome, dizem que copiou e roubou o nome a uma moça. Eu neste aspecto estou com o Catarino. Quem é que pode afirmar com toda a certeza que o nome Catarino é copiado de Catarina e não o contrário? E porque é que também não gozam os Mários de copiarem o nome Maria, ou os Júlios de copiarem o nome Júlia ou os que se chamam Daniel de copiarem o nome Daniela? Já agora, gozem também os Pedros, de terem copiado o nome às pedras. Ao menos o Catarino, se copiou, foi a uma moça, não a uma pedra.
Também tenho falado com a Xana da cantina e até estive com ela. Fui ter com ela à fábrica, quando ela saiu, à hora do lanche. Sei como para as moças a hora do lanche é uma hora sensível e importante do dia. Aprendi isso com o meu tio, que me disse que se a hora do lanche não fosse tão sentimental para as moças os programas da tarde não eram todos com a Fátima Lopes ou com a Júlia Pinheiro a contarem histórias tristes e de fazer chorar. A Xana falou de como vai o trabalho na fábrica, da maneira que gosta mais de passar a esponja no banho e, surpreendentemente, do Gary. Disse que ele era agressivo e fazia tudo à bruta. Eu também lhe disse que o que menos gostava no Gary era quando ele se punha a chamar-me nomes, mas a Xana da cantina disse que disso ela gostava e até a excitava. A Xana tem mesmo piada, perguntei-lhe se não queria escrever no blog mas ela disse que só sabia escrever poemas e ninguém acha piada a poemas. Só achavam piada ao Fernando Pessoa porque ele era um drogado que inventava moços diferentes, mas que eram ele. Disse que escrever poesia apimenta a vida dela. Mal a Xana da cantina falou em pimenta lembrei-me das almôndegas que ela fazia para o almoço, que eram bem apimentadas. Disse-lhe que tinha saudade das almôndegas dela e ela disse-me que estava ansiosa por experimentar as minhas. Decididamente, vou ter de aprender a cozinhar.
O meu tio disse que cozinhar era como fazer amor com uma mulher mas sem se ter uma hérnia discal: podia sair mal mas o que conta é a intenção. Se não for para o lixo, alguém há-de comer. Se for para o lixo, fica para o Amílcar, o mendigo aqui da rua que anda sempre a mexer nos caixotes do lixo. À custa disso, tem sempre as Dicas da Semana actualizadas e encontrou um casaco meu que a minha mãe deitou fora porque não se lembrava que eu vivia lá em casa. O casaco até ficava bem ao Amílcar, mas a mim ficava-me melhor. Por isso, tive de lhe dar 25€ e um abraço pelo casaco. O Amílcar precisa de dinheiro para comer mas também precisa de carinho e conforto emocional. Por mim dava-lhe 1€ e 25 abraços mas o Amílcar cheira um bocado mal e fiquei cheio de comichão depois de o abraçar, por isso foi melhor dar-lhe os 25€. O meu irmão quando soube que o Amílcar tinha 25€ foi procurá-lo à rua e roubou-o. Eu achei isso uma atitude horrível, mas o meu tio disse que um moço chamado Darwin tinha escrito sobre isso há 200 anos atrás, onde dizia que para sobreviver era a lei do mais forte. Pelo menos não lhe conseguiu roubar o abraço que lhe dei.
P.S.: O Teófilo vai mesmo regressar ou o Verão é aquela altura do ano em que o Gary se arma em português do século XVI e espera sempre pelo regresso do D. Sebastião, que desapareceu para sempre numa churrasqueira em África, onde se especializou a assar cordeiros. O Teófilo, que eu saiba, também não é grande coisa na cozinha, mas já me disseram que é muito bom em sítios onde não aparece tipo aqui no blog. O Teófilo é especialista em marketing, quanto menos aparece e menos escreve aqui, mais a expectativa é maior e mesmo que escreva qualquer porcaria vai sempre ser valorizado pelo Gary. Vou ter que pedir o número do Teófilo ao Tolentino para me dar umas explicações sobre isso. Não posso pedir ao Gary senão ele desconfia. Posso dizer isto aqui que ele já não lê os meus textos, nem se dá ao trabalho.
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