sábado, 31 de agosto de 2013

Fui sair com o Júlio César e a minha noite parecia aquele filme daqueles moços em Las Vegas que não se lembram de nada


Fiz aquilo que o Gary sempre me disse para não fazer: expliquei tudo logo no título. Mas não quero saber, sinto-me rebelde. Ontem também fui sair com o Júlio César e pedi duas cervejas e vim embora sem pagar. Já deve andar a minha fotografia nas esquadras da polícia com uma recompensa para aí de 5€, que eram os 2€ das cervejas e 3€ por danos psicológicos. Não sabia que os danos psicológicos eram tão baratos, mas desde que o meu tio me disse que comprou a dignidade de uma moça por 40€ não me admira nada. Eu também no outro dia comprei 3 Chipicaos por 1€, mas não foi na mercearia do Rebelo, que ele como sabe que eu e o Gary adoramos Chipicaos, vende cada um a 1,50€ só para fazer lucro. O Gary diz que o 1,50€ é pelo Chipicao e pelas aprendizagens por ouvir o Rebelo a falar, mas eu acho que ele só faz isso pelo lucro.



Mas adiante, que o título não é «Como o Rebelo tem lucro na mercearia à custa dos clientes habituais», embora fosse um bom texto. Claro que depois nunca mais lá podia ir e, provavelmente, o Gary deixava de falar comigo para poder continuar a lá ir. Vamos ao título então. Já não estou de férias, nem sei como não escrevi sobre isso. Quer dizer, por acaso até sei. Fiquei tão contente por voltar a ir trabalhar que até me faltaram as palavras. Aqui posso dizer isto, só não podia era dizer nos testes de Português, que a minha professora obrigava-nos sempre a escrever composições de 500 palavras e não podia faltar nem uma, quanto mais no plural. Nunca percebi essa minha professora, a Dona Matilde. Pedia-nos 500 palavras e cortava se fizéssemos menos. Mas se fizéssemos mais, a mostrar trabalho e que sabíamos mais palavras, também nos descontava. Foi a partir daí que soube que nunca teria sorte no amor: se fazia a menos, estava mal; se fazia a mais, também estava mal. E no amor, ao contrário das composições, nunca ninguém nos diz se são 500 ou 600 palavras, nós é que temos de adivinhar.



Nunca fui bom a adivinhas. O meu tio, todos os Natais, dizia-me para eu adivinhar a minha prenda. Nunca acertei. Ele nunca me deu nada, mas eu todos os anos pensava que era nesse ano que ele ia quebrar a tradição. Por isso também nunca adivinharia o que iria acontecer quando fui sair com o Júlio César, ontem. Para mim, ir sair era algo intermédio entre o que faz o Nando Farras que trabalha lá na fábrica e o que faz o Tolentino, que diz que prefere estar sozinho em casa do que comer rissóis de carne. E ele gosta muito de rissóis de carne. Quando o Tolentino fez 18 anos a mãe dele fez-lhe um bolo de rissóis de carne. Eu por acaso não comi, mas os que foram à festa dele, no dia a seguir estavam todos no hospital. O Tolentino disse que foi por causa das misturas com as bebidas, mas eu não acredito nisso, até porque eu já tinha visto o Gary a misturar Trinaranjus com Snappy e nunca foi parar ao hospital por isso. 



A noite com o Júlio César foi espectacular. Fomos só os dois porque o Júlio César diz que, na noite, quanto menos moços juntos, melhor, porque era mais fácil encontrar duas moças para falarmos os dois ou então ele encontrar uma moça enquanto me mandava ir buscar bebidas ou apanhar o táxi para casa. Pensa em tudo o Júlio César. Começamos a beber e a andar de bar em bar e falei com mais moças do que quando andava por aquele site na Internet onde disse «olá» a umas 80 e ninguém me respondeu. Descobri que na noite todas respondem! Mal ou bem, mas respondem. É extremamente difícil manter uma conversa. O meu tio disse-me que na noite devo encher as moças de bebidas e vê-las a beber à minha frente, porque dou dinheiro à casa, deixo a moça bêbada e é mais fácil para a levar para a cama. Mas com 5€ na carteira era difícil fazer isso. As moças são esquisitas. Dizem que gostam de alguém que as ouça e que saiba conversar, mas passados 5 minutos iam todas à casa de banho. Imagino se eu fosse à casa de banho de 5 em 5 minutos, tinha que andar sempre com um rolo de papel higiénico no bolso das calças.



A meio da noite deixei de ter consciência do que fazia. Hoje acordei e senti-me como aqueles moços do filme que estão em Las Vegas a fazer uma despedida de solteiro e acordam com um tigre no quarto. Eu não acordei com um tigre mas acordei com um bilhete da minha mãe a dizer que tinha vomitado na carpete da cozinha e que lhe devia 100€ por ter nascido, porque foi a conta do hospital. Além disso, também devia 40€ da limpeza da carpete, que levou à lavandaria que limpa carpetes numa máquina de lavar de ouro. Depois ainda dizem que há crise. Não me lembrava de nada, liguei ao Júlio César e ele perguntou-me quem é que eu era e como sabia o nome dele. Depois disse que estava a brincar e perguntou-me se eu ainda tinha os dois rins porque ele acordou todo nu numa banheira de gelo. Disse-me que estava a brincar outra vez, que tinha acordado só nu da cintura para cima. Ainda não sei tudo o que se passou na noite passada mas uma coisa é certa, acho que já vomitei tudo e não fiz nada de útil hoje além de estar deitado na cama e a jurar que nunca mais ia beber álcool. Pelo menos até voltar a sair com o Júlio César.






P.S.: Ainda não sei tudo o que aconteceu a partir das 02:30 de ontem. Se alguém me viu, falou comigo ou esteve comigo que me diga por favor. Não é que tenha perdido nada, é só mesmo por curiosidade. É como quando alguém põe um sinal a dizer «Não trespassar» e uma pessoa trespassa só para ver se acontece alguma coisa, se leva um choque, se vem a polícia atrás de nós ou se leva um tiro do proprietário que nos está a ver com uma espingarda. Na fábrica também não é permitido servir duas doses à mesma pessoa e a Xana da cantina faz-me isso. Tinha saudades da Xana da cantina, de me servir uma dose maior que aos outros, de me deixar tirar uma peça de fruta e uma sobremesa e de me dizer que gostava de sentir a minha respiração na nuca dela. Faz-me sempre rir. 

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