O local onde tudo o que é produzido é fruto de delírios alucinatórios. De quem escreve e de quem lê.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Não consigo dormir porque estou a pensar na Rosa
Ouvi um médico uma vez dizer que as insónias eram uma condição médica que provoca grande mal-estar ao indivíduo. Não sei de que indivíduo é que ele falava, mas a mim provoca-me mal-estar. Eu e o indivíduo de que o médico falava já temos algo em comum, talvez até pudéssemos ser amigos. O meu tio diz que para se fazer um amigo é preciso não lhe dever dinheiro. O Gary diz que «InSónia» era o nome de um filme que ele alugou quando o videoclube aqui da zona ainda estava aberto. Perguntei-lhe quem era o actor principal e ele disse que eram 3 mas que não sabia dizer o nome. Isso deixou-me a pensar no injusto que é quando 3 moços entram num filme, como actores principais, e as pessoas que vêem o filme não sabem os nomes deles. Aposto que se fosse só um toda a gente sabia.
Mas ando com insónias e a culpa é da Rosa. Quer dizer, na prática a culpa é minha. Dizer que é culpa da Rosa faz parecer que ela me liga a meio da noite ou me atira baldes de água quando eu estou a dormir. Ou que me acorda ás 04:00 da manhã para ir comprar cigarros. Felizmente o meu irmão já não faz isso porque começou a trabalhar no turno da noite e quando chega a casa às 07:00 já eu estou a pé para ir para a fábrica de tintas. Mas a culpa é minha porque sou eu que penso na Rosa. A Xana da cantina disse-me que a melhor forma de parar de pensar na Rosa é ir para a cama com ela. Perguntei-lhe se havia outra forma melhor e a Xana da cantina disse-me que melhor só mesmo ir para a cama com ela e ficar a pensar nela. Não sei, acho que isso não me ia ajudar em nada. Mas de qualquer maneira, se mais ninguém me der soluções vou tentar esta que a Xana da cantina me disse.
Perguntam vocês no que penso eu. Penso se algum dia poderei ser feliz, só eu e a Rosa, sem mais ninguém. Quer dizer, sem mais ninguém não. Tinha de haver a mercearia do Rebelo para podermos comer alguma coisa. Também tinha de haver a fábrica para eu trabalhar e ganhar dinheiro para comprar as coisas na mercearia. Tinha de haver polícia para proteger a nossa casa dos gandulos. Também tinha de haver o Júlio César para eu ter alguém para ir sair ao fim-de-semana. Pronto, podia ser eu e a Rosa com toda a gente, mas ao menos estarmos juntos. Mas não sempre, que o Venâncio disse que uma vez teve uma namorada com quem passava tanto tempo que ela ao início detestava arroz de polvo e o Venâncio, sem se aperceber, também passou a detestar. E ele que comia às duas doses de arroz de polvo. O meu tio também me disse que passar muito tempo com uma mulher é como levar 25 anos por assalto à mão armada, a diferença é que não se fica com boa reputação.
Só que eu penso e penso e penso em como seria eu e a Rosa. Vi um filme no outro dia em que o moço pediu em namoro uma moça, à chuva, de joelhos. Para já eu não sei se conseguia fazer isso, que a minha mãe dava-me logo uma coça se eu aparecesse com manchas de lama nas calças. É que nos filmes a chuva é água de mangueiras, mas na realidade vem com lama e terra e essas coisas todas. Pior ainda, no filme a moça disse que não e deixou-o ali, à chuva, a chorar. Às vezes as moças são mesmo insensíveis. Podia ao menos dizer-lhe que sim enquanto estavam ali à chuva e depois, quando o moço estivesse seco e já tivesse trocado de meias e de calças, dizia-lhe que afinal não dava, só não queria que ele apanhasse uma constipação. Assim, ao dizer-lhe que não ali, deixou-o de rastos emocionalmente e, ainda por cima, provavelmente com uma gripe das grandes.
E se a Rosa me dissesse que não? E se a Rosa se apaixonar por outro e eu ficar sozinho? E se aquelas calças que eu encomendei pela Internet forem um 40 dos grandes em vez de serem um 40 dos normais, como há nas lojas? O meu tio diz que as duas palavras que as moças usam mais é «não» e «queres que chame a polícia?». Disse ao meu tio que a última era uma frase, mas ele disse-me que à velocidade que as moças lhe dizem isto parece que é uma palavra. Podia haver um polícia do amor. Eu provavelmente iria preso por querer roubar o amor da Rosa. Perguntei ao Gary o que achava disto e ele disse que era uma paneleirice, mas o Júlio César disse-me que era lamechas. O Venâncio disse-me que as moças gostavam de lamechices senão não havia tantas novelas. A Xana da cantina disse-me que gostava mais de coisas à bruta mas que também se derretia com lamechices. Pergunto-me do que gostará a Rosa. Se bem que o que eu queria é que ela gostasse de mim.
P.S.: Um dos meus leitores disse-me que se calhar estou a fazer da Rosa uma substituta da Paulinha. Eu acho que não. No outro dia entrei na fábrica, nem disse «bom dia» à Paulinha e não fiquei triste por isso. Não gosto dela. Acho que estou mesmo apaixonado pela Rosa. O Júlio César também já me disse que estou obcecado pela Rosa. O meu tio disse-me que uma vez andava obcecado com a filha do Paquete das francesinhas mas depois ela foi trabalhar para Inglaterra e aquilo passou-lhe. O Gary disse-me que se eu à hora do lanche, em vez de pensar no que ia comer pensasse na Rosa, então estava apaixonado por ela. Vou ver o que acontece amanhã e já vos posso dizer o que realmente sinto ....
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
O meu maior fetiche
Antes que comecem a pensar que vou fazer um texto à Jorge Abel em que dou os pormenores todos como se este blog se chamasse «Diário do Cérebro», aviso-vos já que não é isso que vai acontecer. Se bem que se houvesse um jornal chamado «Diário do Cérebro» comprava pelo menos uma vez só para ver o que lá vinha. Confesso que já comprei algumas vezes «O Crime» só para ver como as pessoas podem ter uma imaginação fértil. Deixei de comprar porque, ultimamente, com o aumento de séries de televisão ligadas aos crimes, ler o jornal é como se fosse estar a ver uma dessas séries mas sem aparecerem fotografias deles na morgue ou do crime em si. Já para não falar que comprar «O Crime» fica para aí 1,50€, enquanto ver uma série na televisão só me custa uns 45 minutos.
Que artigos viriam no «Diário do Cérebro»? Provavelmente, ao início ia ser um jornal espectacular, cheio de rubricas engraçadas e com coisas novas, mas depois ia virar um jornal todo intelectual, só para cientistas e moços que queiram esfregar na cara dos outros que são cultos e inteligentes só por andarem na faculdade. Por falar em faculdade, no outro dia o Jorge Abel perguntou-me onde é que era a «Universidade da Vida» porque viu no perfil da Xana da cantina que ela tinha estudado lá. Não sei o que é pior, se o Jorge Abel não perceber isto ou gente que diz que estudou na «Universidade da Vida» ou na «Faculdade da Rua».
Mas adiante, que hoje é para falar do meu maior fetiche e esse não é, certamente, conhecer moças que dizem que estudaram na Universidade da Vida. Associa-se a palavra «fetiche», quase em exclusivo, ao acto sexual. Sempre que alguém diz «é o meu fetiche», alguém que esteja a ouvir, de forma descontextualizada, pensa logo que se está a falar de sexo. Mas comigo não é bem assim. O meu maior fetiche é a comida e vou explicar-vos nas próximas linhas o porquê:
- Posso dizer que já fiz 100 km para ir comer leitão à Bairrada ou 200 km para ir ao Festival do Marisco na Corunha, mas nunca fiz mais que 10km para ir comer uma moça;
- Já paguei 40€ por refeições bem confeccionadas e que me deixaram plenamente satisfeito, de bem com a vida e muito bem-disposto. Ao invés, como vocês sabem, uma vez paguei mais de 5€ por um Bailleys que uma moça pediu, quando o combinado era pagar-lhe um café e, além de não a ter comido, nunca mais lhe falei;
- Como moço normal, daqueles que não vai à secção de comida macrobiótica e essas merdas, penso em comida de 3 em 3 horas e como 5 ou 6 vezes por dia. Quando tenho fome, como. Em termos de relações sexuais, não posso dizer o mesmo, porque até posso pensar em sexo o dia todo, mas não posso comer sempre que me apetecer, ao contrário da comida;
- A verdade é que não consigo passar um dia sem comer. Vi um moço uma vez no Odisseia ou num desses canais a dizer que o ser humano aguentava até 3 dias sem comer. Não sei que experiências ele faz lá na cave dele, mas eu não aguento um dia. Se aguentar 9 horas é demais e nessas 9 horas tenho que estar a dormir pelo menos em 8 horas e meia. Depois acordo cheio de fome e como o que me aparecer à frente;
- Às vezes, confesso, tenho desejos tremendamente específicos no que quero comer. Volta e meia, estou com fome e apetece-me comer um gelado, camarão ou uma dose bem servida de pargo assado. Outras vezes apetece-me um Chipicao e um Capri-Son de laranja ou «Um Bongo» de Frutos Tropicais. Dizem vocês que também posso ter desejos muito específicos no sexo. Não sei quão liberal é a vossa namorada, mas pela minha experiência, para a satisfação desses desejos é preciso pagar. E não é pagar 2,40€ como por um Chipicao e um Bongo;
- Outra verdade universal sobre a comida é que consigo comer sozinho, com amigos e com familiares e obter o máximo de prazer nas três situações. Inversamente, nos fetiches sexuais, só consegue comer com amigos quem é esquisito e os que comem com familiares são aqueles depravados que também acompanham francesinha com Compal de pêra ou que dão lucro às sex-shops e aos videoclubes que alugam daqueles vídeos pornográficos esquisitos onde há correntes, máscaras e chicotes;
- Contrariamente ao que acontece nas minhas relações com moças, em termos de comida consigo orgulhar-me das coisas que já comi e dos sítios onde já fui para comer. Além disso, em termos gastronómicos tenho esperança em conseguir comer o que ainda não comi e em comer aqueles pratos incríveis que vejo na televisão;
- Não é que alguma vez tenha sido infiel (pelo menos que me lembre. Até porque para ser infiel tinha que ter uma relação com uma moça não é? Ou posso ser infiel sem ter uma relação? Havia de haver escritórios jurídicos, como têm os notários e os advogados, mas de gente que tirasse dúvidas sobre as relações interpessoais e a legalidade de algumas acções) mas é muito mais fácil ser-me fiel, por exemplo, à «Churrasqueira» do que a uma moça. Até porque se, na «Churrasqueira», onde sou fiel ao frango assado do Vítor Piranha, comer entrecosto ou espetada, não estou a magoar ninguém, pelo contrário, estou a apreciar os seus outros atributos. E ninguém na «Churrasqueira» faz má cara se eu disser «hoje em vez de frango, quero comer espetada».
Por acaso, na «Churrasqueira», só fazem má cara quando alguém pergunta se tem pratos vegetarianos. Aliás, nem é fazer má cara, simplesmente expulsam a pessoa de lá. Odeio estes artistas que vão a uma churrasqueira perguntar se fazem pratos vegetarianos. Era como ir a um hospital perguntar se ajudam a preencher os papéis do IRS, ir a um ginásio perguntar se têm cadeiras de praia ou ir ao quarto do Jorge Abel ver se estava lá alguma moça. Aposto que as pessoas só fazem essas coisas para chatear os outros e para se sentirem um bocadinho mais importantes. Mas só fazem isso a quem está desarmado. Nunca vi esses a irem arreliar polícias ou talhantes, a fazerem-lhes perguntas ridículas. Não fazem porque esses têm uma pistola ou uma faca gigante ali à mão de semear para os pôr na ordem.
P.S.: Não fiz outra vez uma conclusão e vou usar o P.S. para isso. Enervei-me com aqueles imbecis que querem comer pratos vegetarianos. Os vegetarianos estão para a comida como os homossexuais estão para as relações sexuais: é uma escolha deles, que a tenham e sejam felizes, mas que não esfreguem na minha cara aquilo que gostam de comer. Claro que não deixo de gostar de comida por causa dos vegetarianos, até porque eles não comem comida. Era como deixar de gostar de bifes só porque os talhos vendem rissóis de pescada.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Palavras que fazem falta na Língua Portuguesa
No outro dia falei com um tio de um primo de um amigo do meu tio e aprendi uma maneira de pagar menos nos talhos, levando a mesma quantidade de carne. Decidi começar este texto com uma frase tipicamente feminina, para saberem como me sinto quando estou num encontro com uma moça e ela me começa a falar de nomes esquisitos como noras, genros ou enteados. Para mim, família é irmãos, pais, tios, avós e primos. E os primos é aqueles primos normais, não sei que é isso dos graus. De graus só conheço os dos adjectivos e os da temperatura. E mesmo os da temperatura é os graus normais, não é como aqueles moços que usam os Fahreneits ou lá como se chamam esses. Para mim, Fahreneit é um filme medíocre que nunca vi até ao fim.
Por falar em filmes medíocres, o do Jorge Abel com a Rosa já me enjoa e ainda agora começou. Mas vocês lá devem achar piada e então ele continua. A meu ver, é daqueles filmes que além de não cativar pelo enredo, já sei como é que vai acabar. Até me podia armar e dizer-vos, mas desde que disse como é que acabava o Titanic ao Mário Pêras e levei uma «pêra à Mário Pêras», nunca mais estraguei os fins dos filmes a ninguém. Claro que eu não adivinhava que aos 30 anos o Mário Pêras nunca tivesse visto o Titanic ou não tivesse sabido como é que acabava o filme. Disse-me o Mário que lhe estraguei uma excelente oportunidade para ver uma história de amor, ainda que fosse daquelas que cativa as moças e que as faz esquecer que tudo começou com uma traição.
Mas adiante, que não é do Titanic que vamos falar hoje, não vá o Mário Pêras passar aqui por pesquisar o nome dele no Google. No outro dia acusei-vos de não serem nenhuns gramáticos para estarem a medir o tamanho dos meus textos. Posto isso, decidi ser eu a armar-me em gramático e decidi reflectir em palavras que fazem falta na Língua Portuguesa:
- Acho que faz falta uma palavra que defina aqueles movimentos característicos dos intestinos, em que fazem um barulhão, que algumas pessoas até confundem com flatulência. Uns dizem que isso são «contracções intestinais», outros dizem que «são arrotos da barriga» e ainda há os que dizem «isso é das tripas». Portanto, nenhum termo preciso e concreto, daqueles que se possa dizer num segundo. Por exemplo, isso acontece-te num encontro e poderes dizer algo sem ser «ah!, tive uma contracção intestinal». Depois a moça julga-te algum médico e ainda passas por embuste;
- Em relações com moças (ou com moços, numa perspectiva feminina e numa perspectiva esquisita), pode-se dizer que se está «apaixonado» quando se gosta loucamente de uma pessoa ou pode-se dizer que se «ama» alguém quando o sentimento é mais calmo e duradouro. Sim, andei a ler estas merdas, gosto de me informar. Contudo, acho que falta um termo que designe quando gostas de estar com uma moça, de te envolver com ela mas sem qualquer sentimento profundo. Uns dirão que isso é «atracção sexual» outros centrar-se-ão na expressão «ando a comê-la», mas nem uma nem outra serve exactamente para a situação que descrevi;
- Uma das situações mais embaraçosas para a pessoa e mais hilariante para os outros é quando alguém tem alguma coisa presa nos dentes. Mas dizer-se «ter uma coisa presa nos dentes» é algo que demora uns 5 segundos a uma pessoa normal, uns 10 segundos a uma pessoa limitada e uns 15 segundos ao Jorge Abel. Coisa que poderia ser evitada, para as pessoas normais e para as limitadas, se houvesse apenas um termo que descrevesse essa situação em vez de uma expressão de 6 palavras. Até porque numa situação destas, quando a pessoa em questão se apercebe e pergunta «tenho alguma coisa nos dentes?» ainda dá para rir mais;
- Infelizmente, não foi no meu tempo de escola que alguém inventou uma palavra que definisse claramente aqueles moços que copiam os testes todos mas copiam mal e tiram negativa na mesma, por copiarem mal. Na prática, na ausência de um termo específico, fica o popular «que burro!» ou, o ainda usado por alguns, «atrasado mental». Se bem que eu não concordo com este último, que no 7º ano tive um atrasado mental na minha turma e ele teve que mudar de turma porque tirava melhores notas que nós todos e durante os testes desconcentrava-se com o pessoal todo a perguntar-lhe as respostas. «Copiaste por um atrasado mental» podia ser algo com piada para a situação com que iniciei este ponto, mas além de muito grande, não é verdade, porque o atrasado mental da minha turma tinha altas notas;
- Voltando às sensações fisiológicas para as quais não há termos exactos que definam a situação, sabem aquela sensação quando vem um ardiume pela garganta acima e ficam com a boca a saber tipo a ácido? De certeza que sabem, os que não sabem ou nunca beberam álcool em excesso ou então nunca comeram os pickles que o Rebelo vende na mercearia. Uns dizem que isso é azia, mas não, é um bocadinho menos intenso que a azia, é só aquela sensação para aí de 15/20 segundos e que depois passa. Agora imaginem-me a descrever isto a um médico, numa consulta de 10 minutos, ocupava 6 ou 7 só com esta descrição, por não haver uma palavra que defina isto mesmo;
- «Estou farto de estar à espera» é uma das frases mais ouvidas em Lojas do Cidadão, na mercearia do Rebelo (os que não são clientes habituais) e em paragens de autocarro. Não era o mundo um lugar muito melhor para viver se alguém inventasse uma palavra que definisse esta situação? Alguns de vocês podem-me dizer «pode-se dizer que se está cansado ou que se está enfadado». Concordo com vocês, mas depois os outros iam perguntar «com o quê?» e acabavam por ter que dizer «de estar à espera». Faziam a frase toda outra vez. Com um termo exacto não. A não ser que quisessem meter conversa com alguém, aí fazia sentido não usar a palavra exacta;
- Há um hiato muito grande na Língua Portuguesa entre estar sóbrio e estar bêbado. Alguns tentaram pôr aqui no meio o «estar alegre» como estado intermédio, mas eu vou mais além, até porque «estar alegre» é como se está ao fim do 3º copo. Mas e numa noite em que se bebem 40 copos e no qual se fica bêbado ao 30º, o «estar alegre» é responsável pelos efeitos entre o 4º e o 29º copo. É um espaço muito grande para cobrir. Depois, as pessoas, vêem-se obrigadas a contar histórias dizendo que estavam bêbadas, quando na realidade ainda ficaram um pouco longe desse estado. As histórias tornam-se imprecisas ou então aborrecidas por se estar a explicar como se estava realmente, em vez de se contar as peripécias da noite;
- Quando se fala em empréstimo, toda a gente sabe o que é. A minha convicção é que falta uma palavra que defina aqueles que não sabem o que é um empréstimo mas pensam que sabem. Ou seja, aqueles a quem emprestas uma coisa mas nunca mais te devolvem e ou se esquecem que foi emprestado, ou se esquecem que não é deles. Houve uma solução engraçada que passou pelo termo «emprestadado», mas que foi desde logo adoptado por gandulos que pediam «emprestadados» 50 cêntimos aos moços do 5º e 6º ano. Por isso, faz falta uma palavra que defina estes «não-empréstimos» entre amigos, familiares e semi-amigos.
Tinha de acabar um texto sobre palavras específicas para determinadas situações com uma menção aos «semi-amigos», tendo em conta que esse foi um termo que eu criei e ainda ando a testar para definir aquelas pessoas que conheces demasiado e há demasiado tempo para considerares um conhecido ou um colega mas que não atinges um nível de profundidade na relação de tal forma que lhes possas chamar de amigo. Já escrevi um texto sobre isso há uns tempos e não me vou repetir. Não sou como o outro que fala sempre do tio, do Júlio César, da Xana da cantina e, agora, da Rosa e não se cala com isso. Por exemplo, pensei em escrever outro texto sobre coisas que faziam falta há 200 e 300 anos atrás, mas ia parecer que agora só falava de História e então decidi virar-me para o presente. Escrever para as pessoas é isto, Jorge Abel, dar-lhes sempre coisas diferentes e não sempre a mesma coisa. O único que dá sempre a mesma coisa às pessoas e continua a ter sucesso é o Vítor Piranha, que só assa frangos na Churrasqueira e aquilo continua a ter fila para ir buscar frango todos os dias.
P.S.: Adoro ver como este texto ficou grandão. Significa que vou ser criticado outra vez pelo tamanho, ainda por cima por moças, logo elas que dizem que o tamanho não importa. Mas escrevi este P.S., não só por ser uma imagem de marca e porque se não o fizesse ia levar na cabeça do Tolentino, que sempre lhe disse para fazer P.S's e agora era eu que não fazia, mas também para dizer que, quem tiver ideias sobre estas palavras pode deixar nos comentários. Se achar piada a alguma, apago dos comentários antes de alguém ver e depois ando para aí a dizer às pessoas que fui eu que inventei. Quanto muito, vocês podem ficar orgulhosos de vocês próprios em segredo por eu ter escolhido uma sugestão vossa.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
A minha cabeça pensa numa coisa e depois pensa logo noutra. Acho que é a isto que chamam estar confuso.
O Venâncio tinha razão, as mulheres são complicadas e estão sempre à espera que paguemos a conta nos sítios onde vamos. Ao menos nesse aspecto, não me posso queixar da Xana da cantina. Deve ser por isso que a Rosa diz que ela é uma porca. O meu tio diz para estimar as moças que sejam porcas porque fazem tudo o que pedires e ainda por cima fazem com gosto. Pois, mas a Rosa pelos vistos não. Por exemplo, pedi-lhe que me explicasse o que era uma «hiponetusa» porque nunca percebi o que era e depois ouvia sempre o meu irmão a dizer que a nossa vizinha do lado lhe dava grande tusa e aí ainda percebia menos. Mas ela não me quis responder e ainda disse que eu às vezes parecia estúpido. O Gary diz que a única coisa que gostava de mim é que eu era consistentemente estúpido, a Rosa diz-me que eu sou às vezes. E aqui começa a confusão na minha cabeça.
Aliás, parece que toda a gente me quer confundir ultimamente. O meu tio diz que a última vez que se sentiu confundido foi quando viu o anúncio de uma Paola no jornal que dizia que engolia e ele chegou lá e a Paola era um homem. Hoje em dia faz-se anúncios para tudo. Dizer num anúncio que se engole, é como pagar um anúncio para dizer que se respira, que se tosse ou que se urina. Se bem que o meu tio diz que há moços que procuram moças que gostem de urinar. Nunca perguntei à Rosa se gostava de urinar, preferi perguntar-lhe como gosta de temperar os bifes. A Xana da cantina uma vez disse-me que gostava que eu lhe temperasse o bife, mas não sei se ela gosta de alho e pimenta ou só de alho. Quem deve gostar de urinar e de pessoas que urinam é o filho da Dona Mercedes, que vive no casarão ao fundo da rua, que é urologista do hospital daqui.
Descobri o que era um urologista quando o meu patrão me disse que tinha tido uma infecção urinária. Sempre pensei que um médico desses se chamasse urinologista. Já que tratava de problemas urinários e já que se urina nos urinóis, fazia mais sentido, mas eles gostam de complicar nos nomes. É para essas coisas que fazem o 10º ano. A Rosa nisso é como o filho da Dona Mercedes, é esperta, até fez o 12º ano e tudo. Se calhar teve alguma disciplina relacionada com o amor que eu não tive no 9º ano e por isso é que não a compreendo e fico confuso. A Xana da cantina disse-me que a melhor parte do amor era quando eu estivesse em cima dela, na cama dela e, no fim, ela usasse a minha t-shirt que lhe ficava larga. O meu tio disse-me que o melhor do amor era fazer as moças acreditarem que era por amor e no dia a seguir não lhes ligar.
Já pensei em não dizer mais nada à Rosa mas é mais forte que eu e digo-lhe sempre alguma coisa ou convido-a para irmos comer um rissol. Esta última, foi outra coisa que me deixou confuso. Disse que não comia fritos porque faz mal à saúde. A minha mãe sempre me disse que o meu tio só não tem mais hérnias discais porque come fritos todos os dias apesar do médico lhe ter avisado que poderia ter diabetes ou a tensão alta. Dos diabetes o meu tio não tem medo que diz que eles são todos revistados antes de entrarem para um avião e que por isso é difícil haver outra vez algum avião a cair, mas da tensão alta todos temos, que só aqui na rua há dois postes desses, com tensão alta, e tem lá um aviso a dizer «Perigo de morte». Claro que o meu tio diz que não é um poste que o vai obrigar a deixar de comer panados ou rissóis.
Mas voltando à Rosa, ainda penso naquele beijo. Não só porque gostei muito, mas porque me deixou realmente excitado e a pensar em sexo. O Venâncio disse-me que fazer amor com uma mulher é como beber um café quente numa manhã de Inverno e depois ir à casa de banho com o jornal do dia. Se calhar é por isso que as mulheres são tão complicadas para mim, porque não bebo café e normalmente os jornais que leio têm lá o Sudoku e eu nunca sei fazer aquela porcaria. Quando jogo às cartas, dizem-me que os 8's e os 9's não servem, mas para o Sudoku já servem. O mundo é muito confuso. E o amor ainda mais. Se calhar não estou apaixonado pela Rosa. A Xana da cantina já me disse que não, que o amor da minha vida não era a Rosa mas sim outra pessoa que eu conhecia e via todos os dias. Espero que não seja o Júlio César, porque íamos deixar de ser amigos e eu ia deixar de ser heterossexual, logo agora que já me habituei tão bem a isso.
P.S.: Não me dou muito bem com mudanças bruscas. Nesse aspecto sou como o Venâncio, que em 1991 achava o Ford Escort o melhor carro do mundo, e para não ter que mudar de opinião, continua com o mesmo Ford Escort desde essa altura. Se calhar, ando confuso porque a Rosa é uma grande mudança na minha vida. Normalmente as moças nem me costumam falar, quanto mais dar-me beijos ou mandar-me mensagens. O Gary disse-me que uma moça que não goste de rissóis é como um moço que goste de beringela. Não sei o que é beringela, mas gosto de rissóis. Será que a Rosa gosta de mim ou eu era o rissol e ela estava a usar uma metáfora?
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Conselhos para se viver bem na Idade Média
Dizem que tenho textos muito longos mas não quero saber. Acho que foi uma moça que disse ao Jorge Abel e ele veio-me atirar isso à cara como se eu quisesse saber. Ou como se eu acreditasse que ele fala mesmo com moças. No outro dia quando estive na cama com a Paulinha ela disse-me que nem se lembrava de o Jorge Abel lhe ter dito outra coisa sem saber «bom dia», «até amanhã» ou «bom fim de semana». Sim, leram bem. Quando eu estava na cama com a Paulinha. É verdade, os meus textos até podem ser uma merda e demasiados longos, mas ao menos vou para a cama com moças que o Jorge Abel considerava impossíveis.
E já agora, este blog é de e para comidos do cérebro. Não é para professoras de Português a pedirem-me composições com 2000 palavras ou testes de História em que tinha de comprar um porradão de folhas de teste porque se só escrevesse 4 páginas não passava do 12. E mais, o blog é meu, eu é que sei o quão comido quero saber. Se eu quisesse até mudava o nome do blog para «nunca hei-de sair à noite com um pólo amarelo» e ninguém tinha nada a ver com isso. Se bem que esse blog fosse ser útil para alguns moços que insistem em sair à noite com pólos amarelos. E quando digo pólos amarelos não estou a falar do carro, apesar de isso também ser extremamente desagradável para a masculinidade de um indivíduo.
Mas agora que falei de História lembrei-me da Idade Média. O Jorge Abel achava que Idade Média era aquela idade que as pessoas respondiam quando se lhes perguntava «que idade me dás?». Mas como seria viver na verdadeira Idade Média? Aquela altura em que os nobres faziam o que queriam das filhas dos camponeses e em que a Espanha ganhava as guerras todas, tipo como agora no futebol. Não sei, mas decidi pensar em alguns conselhos para se viver bem na Idade Média e se chegar a velho, assim aos 38 ou 39 anos:
- Como já vimos em cima, os nobres faziam o que lhes apetecia. Bastava terem uma espada, um quintal e um cavalo e já tinham free-pass para fazer o que quisessem sem ninguém os levar preso. Só não podiam fazer mal a outros nobres, que esses ainda tinham algum primo no clero e aí era o fim da brincadeira. Por isso, o meu conselho, era ter sempre um amigo que fosse nobre, porque mesmo que ele abusasse um bocado de ti, ia sempre fazer pior às outras pessoas e tu escapavas;
- Há gente que diz que o lado bom de viver nesses tempos é que toda a gente tinha relações sexuais e nem era preciso forçar muito. Dizia-se a uma moça que ela era linda, levava-se para a beira do rio e já estava garantido. Ok, isso parece espectacular, mas três meses depois estava tudo a morrer com doenças infecciosas. Se as moças faziam isso assim tão facilmente, faziam com qualquer um. Por isso, o meu conselho era não levar qualquer uma ao rio, muito menos moças que já tivessem sido desonradas por algum nobre, mesmo que fosse teu amigo;
- Se há conselho essencial para se viver bem na Idade Média é este: tenta ficar grande amigo do moço do talho e do da padaria, porque depois nas crises, guerras ou revoluções, quando toda a gente tiver que estar na fila para ir buscar carne e pão, ele guarda um bocadinho para ti e não precisas de ir para a fila com os outros;
- Afasta-te dos cães. No século XXI, diz-se que o cão é o melhor amigo do Homem, mas na Idade Média eram os que tinham mais doenças. Além disso, a carne do cão não é grande coisa, é mais seca que a do peru. Por alguma coisa os chineses, quando cozinham cão, dizem que é galinha, porque senão ninguém comia. E quem vai a sítios «exóticos» comer «comidas exóticas» como testículos de boi, também comia cão.
- Pelo contrário, tenta arranjar um cavalo a todo o custo. Um cavalo na Idade Média era como ter um free-pass no bar de strip do Lúcio Montes, era só apareceres e vinham moças de todo o lado a querer comer-te tudo, mas principalmente o dinheiro. Claro que este conselho entra um bocado em contradição com aquele de não se andar a comer moças desenfreadamente que dei ali em cima, mas ter um cavalo não é só isso. Eu é que só consigo pensar na quantidade de moças que ia conseguir encavar só por ter um cavalo na Idade Média;
- Nunca insultes, não devas dinheiro, nem peças favores a ninguém do clero. Apesar de hoje em dia ninguém lhes passar cartão, na Idade Média eles eram os reis e os senhores. Até mandavam mais que os nobres. Toda a gente tinha medo do clero e eles aproveitavam-se disso. Eram os grunhos da altura. Por isso, também não podias demonstrar medo. Mas com calma, que se te armasses em galifão eles punham-te logo a arder numa fogueira a um domingo à tarde;
- Saibas o que souberes, finge sempre que és analfabeto e não sabes ler. Os do clero e os nobres detestam espertinhos que saibam mais do que eles ou tanto como eles. Mesmo que saibas perfeitamente que te estão a enganar, finge que não percebes e vai na mesma onda dos outros. Quando vires alguém a esbracejar e a gritar e todos a fazerem o mesmo, faz igual, senão não chegas ao dia a seguir;
- Se conheceres algum revolucionário denuncia-o ao teu amigo nobre ou então fala dele na igreja para algum sacristão ouvir e te vir perguntar de quem estás a falar. É que se o conheceres, falares e parares com ele, e depois se vier a descobrir que ele era revolucionário ou feiticeiro, vais junto com ele para a fogueira, mesmo que não tenhas nada a ver com o que ele faz;
- Sempre que houver uma guerra ou algum navio para África ou para a Índia, alista-te e vai. Além de ficares na história, vais descobrir países novos, ficas lá a viver e vais ter um porradão de moças exóticas a fazerem-te o que tu queres. E essas não têm as doenças que as de Portugal têm, portanto estás à vontade. Esconde-te ou foge é quando for alguma guerra contra Espanha, que aí ou vais morrer ou voltas para casa como um derrotado e passas o resto da tua vida a ser abusado por nobres espanhóis.
Provavelmente o meu pior texto de sempre, pior até daquele que fiz sobre as cadeiras e o que elas diziam às pessoas e nós não ouvíamos. Ou daquele que dizia que as paredes tinham ouvidos. E eu com isso! Não gostam, não leiam. Ou melhor, não gostas, não leias. Acho que assim é mais realista. E por falar em realismo, outra coisa que me esqueci sobre a Idade Média, nunca confies em alfaiates, que eles dizem sempre que as roupas deles são do melhor tecido do mundo e pedem-te um dinheirão por aquilo. Espera uns aninhos, vai comprando roupas mais fraquinhas, que depois se seguires os meus conselhos, vais na caravela para a Índia e vais acabar a tua vida a vestir veludo e caxemira todos os dias, mas sem pagar aqueles balúrdios que pagas hoje em dia. Bons tempos. Quem me dera viver na Idade Média.
P.S.: A única coisa negativa da Idade Média é que os Visigodos já tinham sido extintos há séculos. E, como sabem, o meu segundo maior sonho é ser um Visigodo. O meu maior é trabalhar numa secção de congelados e o meu terceiro maior sonho é acordar um dia e deixar de existir rissóis de pescada. O meu terceiro maior sonho já foi visitar a Ilha do Capitão Iglo, deixá-lo inconsciente, mandá-lo com o barco que me levou embora e eu assumir o controlo da ilha. Mas entretanto ganhei maturidade e desisti disso.
domingo, 15 de setembro de 2013
Ontem à noite dei um beijo à Rosa mas não sei se gosto dela ou se estava bêbado
Começo a escrever-vos precisamente pelo título. Acho que era insultar-vos dizer uma bomba destas no título e depois começar a falar de outras coisas. Ia parecer o Gary, que precisa sempre de fazer três parágrafos de introdução para falar do que escreveu no título. E andei a pesquisar e não é verdade o que ele diz que os livros só explicam o título no meio ou no fim. No outro dia peguei num livro que dizia «Harry Potter e a Pedra Filosofal» e logo na primeira página falava no Harry Potter. Não vi foi nada sobre a pedra filosofal. Mas também como nunca tive Filosofia, que isso eram disciplinas do 10º ano, também não sabia por onde procurar. Provavelmente iam falar dessa tal pedra que sabe de Filosofia lá para o meio do livro, mas aquilo eram 400 e tal páginas, não ia andar à procura.
O que aconteceu ontem à noite não me sai da cabeça. Quer dizer, por momentos saiu, que fiquei a pensar em como seria uma pedra filosofal. Se fosse só uma pedra que filosofava não era muito prática nem produtiva e não ia deixar de ser atirada para rios por catraios ou chutada por moços pensativos e tristes com a vida. Mas adiante. Ontem fui sair com o Júlio César. O Gary diz que agora ando sempre com o Júlio César, que parecemos duas moças em que eu sou a melhor amiga feia do Júlio César que ele apresenta aos amigos como sendo «grande pessoa, mas azarada no amor». O meu tio disse que devemos andar sempre perto de moços que nos devam dinheiro ou que nos tenham vendido um carro, para que eles não fujam. Mas eu ando perto do Júlio César porque com ele é que tenho saído e divertido nos fins de semana, em vez de ficar a ouvir o Tolentino dizer como detesta recordes do Mundo e a ver o Gary a hesitar entre um Chipicao e uma Torta Dan Cake para o lanche.
Ontem foi uma dessas noites e foi quando dei um beijo à Rosa. Para quem não se lembra, a Rosa foi aquela moça que me deu o número dela na semana passada. Fomos falando durante a semana por mensagens, o que me custou um dinheirão. Ela perguntou-me se eu tinha mensagens grátis e eu, só para não dar má imagem, disse que sim. Então, a falar com ela, todos os dias tinha que ir carregar o telemóvel com 7,5€. Na sexta-feira consegui mudar de tarifário, pus mensagens e chamadas grátis. Eu achei isso importante mas o moço lá da Vodafone disse que era uma extravagância. Quando disse à Xana da cantina que já tinha chamadas grátis ela perguntou-me se eu não queria ir lá a casa mostrar-lhe o meu equipamento. Disse-lhe que não tinha comprado um telemóvel novo, só tinha mudado de tarifário. Ela disse-me que eu lhe podia fazer o que quisesse, que também era de borla. Detesto estas coisas. Antes de mudar de tarifário, tinha de pagar tudo, agora que já tinha mensagens e chamadas grátis era toda a gente a oferecer-me isso.
Mas falei tanto com a Rosa que combinei ir sair com ela, uma amiga dela e com o Júlio César. O Gary diz que os encontros a quatro são pior que jogar Monopóli a dois, em que ninguém vende nada ao outro porque sabe que vai ser o único prejudicado. Não sei o que ele quis dizer com isso, mas o Júlio César deu-se muito bem com a amiga da Rosa, foram logo os dois à casa de banho juntos e tudo. As moças que fazem isso são as melhores amigas, por isso aqueles dois tiveram logo ali uma ligação de uma amizade que pode durar anos. Eu estive a falar com a Rosa. Disse-lhe de como gostava mais dos panados, de como adorava o meu trabalho na fábrica de tintas e de como a Xana da cantina me deixava sempre tirar uma peça de fruta e uma sobremesa ao almoço, apesar disso não ser permitido. A Rosa disse-me que a Xana da cantina era uma porca. Fiquei preocupado. Será que cozinha sem lavar as mãos ou que deixa cair cabelo para a comida? Perguntei à Rosa porquê e ela deu a resposta que mais vezes ouço das moças «nada, deixa estar». O Venâncio diz que essa frase vem logo no capítulo 1 do manual que as moças recebem quando têm a primeira menstruação. Só nós, moços, é que não recebemos nada. Depois ainda falam de igualdade.
Fomos falando e bebendo e então aconteceu. Dei-lhe um beijo. Na prática foram dois que tive que parar um bocado para respirar. Não sei como é aqueles moços dos filmes pornográficos estão naquilo quase 2 minutos. O meu tio diz que o truque para beijar bem uma moça é estar a pensar no que lhe vai fazer a seguir. Eu segui esse conselho e estava a beijar a Rosa enquanto pensava em como lhe ia pedir desculpa por isso. Dar um beijo a uma moça ainda é pior que lhe a levar a jantar fora, não sei como agir a seguir. Já por isso é que nunca levei nenhuma moça a jantar fora, só lanchei duas vezes com a Xana da cantina e recusei sempre ir comer a sobremesa a casa dela. Nunca tal tinha ouvido falar em sobremesa do lanche, mas a Xana tem estudos de cozinha, é normal que saiba essas coisas. Depois de beijar a Rosa perguntei-lhe onde estava o Júlio César e a amiga dela. A Rosa disse-me que queria lá saber da amiga. Esta resposta deixou-me com dúvidas se elas eram mesmo amigas ou não. Por isso é que não percebo as moças.
P.S.: Agora que reparei, demorei 5 parágrafos a contar o que aconteceu. Consegui ser pior que o Gary. Será que me estou a transformar nele? Demoro um porradão de linhas a explicar o que está no título, já fico alcoolizado e já dou beijos a moças. Só me falta estar desempregado, ter o privilégio de o Rebelo da mercearia me respeitar ao ponto de não me enganar nos trocos sempre que vou lá e ter conseguido ser feliz com a Paulinha. Mas não quero falar da Paulinha. Vou mandar mensagem à Rosa a perguntar se dormiu bem. O Venâncio disse-me que sempre que saía com uma moça, a primeira coisa que lhe perguntava no dia a seguir era se tinha dormido bem. Menos quando dormia com elas, que aí sabia e já não precisava de perguntar.
terça-feira, 10 de setembro de 2013
Hoje um moço disse que eu era bonito e eu não sabia o que lhe dizer
Foi o irmão da Paulinha, a secretária lá da fábrica. A Paulinha disse-me que ele era estilista e que era normal fazer este tipo de comentários porque estava sempre atrás de modelos. O meu tio uma vez também andou atrás de uma modelo mas depois o tribunal obrigou-o a estar sempre a uma distância de 200 metros. O Venâncio disse-me para ter cuidado com moços que me digam que sou bonito a não ser que sejam da minha família ou o pai de uma namorada. Tudo que saia desse círculo é para ter cuidado. O Venâncio disse-me que quando tinha 17 anos o tio de uma namorada dele lhe disse que ele era bonito e passados dois meses esse tio foi preso por tráfico de droga.
O Gary costuma dizer que uma das coisas que mais ofende as moças é perguntar-lhes se elas são 91. A todas as moças que ele perguntou isso, nenhuma lhe respondeu e ainda houve três ou quatro que o insultaram. Eu tenho uma táctica diferente. Se alguém for perguntar a uma moça se ela é 91 e ela não quiser dizer, vai dizer que não. Eu pergunto às moças se elas são 96. Mesmo que elas digam que não, para me despachar, eu já posso dizer «então temos algo em comum». Claro que elas podem ser 93, 92 ou nem sequer ter telemóvel, mas não estou a mentir e isso é uma coisa que as moças gostam. O meu tio sempre me disse que as moças gostam de alguém que tenha sentido de humor. Também me disse que gostam de levar porrada no sexo e de tirar nódoas difíceis das camisas, mas é difícil verificar isso quando vou sair à noite.
Por falar em sair à noite, tenho ido muitas vezes com o Júlio César. Definitivamente, nesta altura ele é o meu melhor amigo. Claro que mal fique desempregado e o Gary venha lanchar a minha casa todos os dias para não gastar comida em casa dele e formos os dois, mais o Tolentino, aqueles seminários para moços desempregados que não têm nada para fazer e que não podem ir para a praia porque está mau tempo, o Gary vai voltar a ser o meu melhor amigo. Eu até podia dizer que o Gary e o Júlio César eram os meus melhores amigos, mas concordo com o meu tio, isso só existe nos Jogos Paralímpicos, em que todos os que participam são «os melhores» só para eles não se sentirem mal por serem o segundo ou o penúltimo. Para isso já basta sentirem-se mal por serem deficientes. Por isso, digo que o Júlio César é o meu melhor amigo actualmente e o Gary é o segundo classificado. Quando disse ao Gary que ele era o meu segundo melhor amigo ele perguntou-me se isso dava apuramento para a Liga dos Campeões ou se era daqueles campeonatos fraquinhos em que o segundo tem que ir às pré-eliminatórias da Liga Europa. Não percebi e ele desligou a chamada.
Mas fiquei o dia todo a pensar naquilo do irmão da Paulinha me dizer que eu era bonito. Será que a Paulinha, ex-amor da minha vida e actual ex-desilusão amorosa, também me achava bonito? Não podia simplesmente chegar lá e perguntar-lhe isso. Por isso fui perguntar à Xana da cantina, na hora do almoço. Ia-lhe perguntar quando ela me estava a servir mas tinha umas 20 pessoas atrás de mim na fila e lá na fábrica, se demoras mais que 20 segundos a decidir que prato queres, já está tudo a reclamar e a dizer que eu devo pensar que estou na Robialac, que não há hora de almoço, mas horas de almoço, porque são duas. Por isso, esperei que acabasse toda a gente de comer e fui-lhe perguntar. Ela disse-me que me podia responder a essa pergunta em privado, à noite, em casa dela. Mas eu não podia esperar tanto tempo, tinha que saber logo ali. A Xana da cantina disse-me que também me achava bonito, mas que nu e em cima dela devia ser ainda melhor. Fiquei satisfeito com esta resposta e fui trabalhar aliviado. Afinal, não eram só moços que me achavam bonito.
Quando fui para casa nesse dia quis estender as opiniões à minha família. Perguntei à minha mãe se me achava bonito mas ela respondeu-me que não conseguia olhar para mim dessa forma desde que me viu a sair da vagina dela. Perguntei à minha tia se me achava bonito e ela disse-me que por 50€ ela fazia tudo, inclusive chamar-me bonito. Disse-lhe que não era nenhum cliente, mas o sobrinho só que ela respondeu-me que não fazia descontos a familiares. Perguntei ao meu tio e ele disse-me que me respondia a isso se eu o fosse buscar a Valongo nessa noite ás 4 da manhã. O meu irmão ouviu-me a perguntar ao meu tio se eu era bonito e disse-me que para eu ser mesmo bonito só faltava mudar uma coisa na minha cara. Deu-me um soco e disse que afinal se tinha enganado, que ainda tinha ficado mais feio. Amanhã já vou perguntar à Xana da cantina se fiquei ou se o meu irmão me estava a enganar.
P.S.: Com tudo isto esqueci-me de dizer uma coisa importante. Podia escrever mais lá para cima mas decidi pôr assim no fim. Costuma-se dizer que os últimos são os primeiros. Quer dizer, o meu tio diz que nos paralímpicos é que os últimos são os primeiros e os terceiros são os quintos e os décimos são os segundos, porque os deficientes não sabem fazer contas e confundem tudo. Hoje já falei demasiado de paralímpicos. Aquilo que tinha para dizer é que conheci uma moça no sábado à noite, quando fui sair com o Júlio César. Chama-se Rosa. Mas não é como as flores. Pelo menos eu perguntei-lhe se era uma flor e ela disse-me que não, que flor é o Cláudio Ramos. Depois perguntei-lhe se era 96 e ela disse-me que não, que era 91. Foram logo duas coisas em comum.
sábado, 7 de setembro de 2013
Quem me dera trabalhar numa secção de congelados
Pouca coisa dá mais pinta do que se chamar Vítor Pargo. Anteontem sonhei que me chamava Vítor Pargo, era empresário daqueles que só dizem que são empresários mas ninguém sabe especificamente do quê, mas andam sempre de fato, uma mala e conduzem um carro daqueles que as pessoas olham e pensam «este deve estar bem na vida». Mas como não me chamo Vítor Pargo e ainda por cima não fico bem de fato, decidi refrear as minhas expectativas e não ligar a esse sonho. Por isso, ontem esforcei-me em sonhar como sendo o Gary Gaivota e tive alta alucinação. Sim, alucinação, porque não cheguei a sonhar. Quando adormeci sonhei que era o repórter de imagem de uma guerra dos Visigodos contra os Romanos e que no fim fui entrevistar o capitão dos Visigodos que admitiu que o adversário foi superior mas que tinha sido só uma derrota e iam continuar a trabalhar para melhorar.
Bons tempos esses, embora o meu trabalho fosse um pouco perigoso e instável. Às vezes o capitão dos derrotados não podia vir à flash-interview porque tinha morrido ou então alguém pensava que eu era adversário e tentavam matar-me. Ainda bem que esse é só o meu emprego dos sonhos. Uma moça que chegou a dormir comigo disse que eu passava a noite a rir-me e a fazer perguntas. Eu disse-lhe que não se podia queixar muito, queria ver o que ela me tinha para dizer se eu sonhasse que era um Visigodo e estivesse em guerra contra os romanos. É que naquela altura valia tudo nas guerras. Já nem me lembro que moça me disse isso, provavelmente também a alucinei.
Mas voltando à alucinação de que falei ao início, cheguei à conclusão que ia adorar trabalhar numa secção de congelados. Enquanto Vítor Pargo isso seria limitar o meu potencial de acção, mas enquanto Gary Gaivota parece um emprego que iria adorar. Reuni alguns argumentos para vos mostrar o porquê:
- Já tinha uma frase para dizer às moças bonitas que passassem pela secção: «Desculpe mas não pode estar perto da banca.» As que não fossem mal encaradas ou convencidas perguntavam porquê, e aí eu respondia: «é que esse sorriso já me derreteu o gelo todo». Brilhante!
- Trabalhando numa secção de congelados podia dizer aos meus amigos que andava o dia todo à beira de peixe e dar a entender que o peixe eram moças, nem que fosse por uns minutos. Volta e meia também podia começar frases do género «hoje lá no trabalho estive com um peixe» ou «e o que aconteceu hoje lá com um peixe no trabalho?» e enganava inicialmente os mais desprevenidos ou os que não soubessem o que eu fazia na vida;
- Aposto que ia aprender mil e uma piadas sobre douradinhos e sobre os congelados no geral. Além disso, se tivesse colegas de trabalho porreiros, aposto que a minha teoria de que o Capitão Iglo é um predador sexual, que rapta crianças e as leva para uma ilha, obrigando-as a trabalhar e ainda as viola e que, como se não bastasse, põe a pila em todas as caixas de douradinhos que exporta, ia ter aceitação. Depois ainda podíamos discutir o que ganhavam as autoridades com tudo isto, porque sabiam o que se passava na ilha mas mesmo assim os únicos barcos que lá iam era os que iam buscar os produtos;
- Se há coisa que sempre quis fazer foi dar uma chapada a alguém utilizando um peixe, como sempre vi nos desenhos animados. Agarrar no peixe pela cauda e distribuir chapadas. Não podia fazer isso a companheiros de trabalho, que eles já devem saber os truques todos, por isso chamava o Jorge Abel e dava-lhe com uma solha mesmo no focinho. Deve ser daí que nasceu a expressão «comes já com uma solha», provavelmente algum visionário empregado numa secção de congelados;
- Com o tempo, ia passando a dominar cada vez mais os termos dos congelados e ia começando a fazer metáforas à Rebelo. Depois, ia ganhando crédito nisso e as pessoas iam passar a chamar-me de «Rebelo dos Congelados». A vida das pessoas ia ser bem melhor. Iam à mercearia do Rebelo e levavam com as metáforas sexuais e histórias dele. Depois iam buscar um peixe ou uma caixa de rissóis de pescada e levavam com o «Rebelo dos congelados». Era impossível haver dias maus;
- Certamente que ia ser o delírio das velhinhas. Um dos pontos negativos dos congelados é que a maior parte dos clientes são homens que queriam demonstrar que percebiam mais que eu ou velhinhas que me iam achar muito simpático. Mas isto não tinha necessariamente que ser negativo! Ao princípio, ouvia os sabidolas que iam lá demonstrar que sabiam mais que eu e passado uns tempos já os calava e ganhava o respeito deles. Às velhinhas, averiguava se tinham filhas, sobrinhas ou netas solteiras e pedia para ver fotografias. Como já tinha ganho a simpatia delas, facilmente as convencia a apresentar-me de um modo muito favorável;
- Este último ponto fez-me pensar noutra coisa que ia engrandecer o meu trabalho. Tal como o Vítor Piranha da Churrasqueira, que assa os frangos, diz que é o «Rei do Pito», eu também me podia proclamar o «Rei do Peixe». Certamente iria ser respeitado por uns, outros iriam perguntar-me se esse não era o Aquaman e ainda outros iam dizer que para me chamar «Rei do Peixe» teria que me chamar Virgílio Atum. Eu iria venerar quem me dissesse esta última frase;
- Sempre que tivesse algum encontro com uma moça que se rendesse aos meus encantos tinha um porradão de frases lamechas para lhes dizer sobre a minha profissão. Aprendi num seminário a que fui que as moças gostam de chocolate, de novelas, de frases lamechas e de serem assediadas em elevadores. Desta última não tenho a certeza mas quem deu o seminário foi um moço que já tinha sido processado 10 vezes por assédio sexual, portanto alguma coisa havia de perceber do tema. Mas entre as frases lamechas podia dizer, por exemplo: «o mais difícil de trabalhar no meio de tanto gelo é que é incompatível com o meu coração quente» ou «posso dizer que entre peixe congelado e pessoas frias, prefiro os primeiros».
Aposto que aqueles de vocês que se estavam a rir de mim pelo título engoliram o sorriso agora que viram o potencial que há em trabalhar numa secção de congelados. Não sei bem quão difícil é engolir um sorriso. Será mais difícil engolir o sorriso ou um sapo? E na expressão «engolir um sapo», o sapo tem de estar vivo ou pode estar congelado? E é um sapo normal ou daqueles grandões que aparecem nos programas do National Geographic? Por acaso nunca engoli um sapo, nem nunca engoli o sorriso, mas uma vez engoli uma mosca quando ia a correr na praia. Não sei bem se foi um crime involuntário ou se foi um suicídio planeado por parte da mosca. Sei é que não me soube a nada e ainda por cima fez-me aguentar mais tempo a correr. Agora percebo porque é que os chineses, que só comem gafanhotos e baratas, constroem prédios numa semana.
P.S.: Agora só me falta encontrar alguma secção de congelados que esteja a recrutar pessoas e conseguir ser seleccionado. Não sei bem quais os requisitos necessários para se trabalhar na área e para se ser aprovado na entrevista, mas espero que não seja nada que envolva trincar cubos de gelo, nadar 200 metros mariposa num lago gelado ou lutar com um bacalhau pela sobrevivência. Se for para nadar ao menos que seja costas, que assim fazia gelo na minha região lombar e curava a hérnia que fiz nas costas há uns tempos quando o meu quarto estava a ser pintado e eu tive que tirar os móveis todos de lá.
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