terça-feira, 10 de setembro de 2013

Hoje um moço disse que eu era bonito e eu não sabia o que lhe dizer


Foi o irmão da Paulinha, a secretária lá da fábrica. A Paulinha disse-me que ele era estilista e que era normal fazer este tipo de comentários porque estava sempre atrás de modelos. O meu tio uma vez também andou atrás de uma modelo mas depois o tribunal obrigou-o a estar sempre a uma distância de 200 metros. O Venâncio disse-me para ter cuidado com moços que me digam que sou bonito a não ser que sejam da minha família ou o pai de uma namorada. Tudo que saia desse círculo é para ter cuidado. O Venâncio disse-me que quando tinha 17 anos o tio de uma namorada dele lhe disse que ele era bonito e passados dois meses esse tio foi preso por tráfico de droga. 



O Gary costuma dizer que uma das coisas que mais ofende as moças é perguntar-lhes se elas são 91. A todas as moças que ele perguntou isso, nenhuma lhe respondeu e ainda houve três ou quatro que o insultaram. Eu tenho uma táctica diferente. Se alguém for perguntar a uma moça se ela é 91 e ela não quiser dizer, vai dizer que não. Eu pergunto às moças se elas são 96. Mesmo que elas digam que não, para me despachar, eu já posso dizer «então temos algo em comum». Claro que elas podem ser 93, 92 ou nem sequer ter telemóvel, mas não estou a mentir e isso é uma coisa que as moças gostam. O meu tio sempre me disse que as moças gostam de alguém que tenha sentido de humor. Também me disse que gostam de levar porrada no sexo e de tirar nódoas difíceis das camisas, mas é difícil verificar isso quando vou sair à noite. 



Por falar em sair à noite, tenho ido muitas vezes com o Júlio César. Definitivamente, nesta altura ele é o meu melhor amigo. Claro que mal fique desempregado e o Gary venha lanchar a minha casa todos os dias para não gastar comida em casa dele e formos os dois, mais o Tolentino, aqueles seminários para moços desempregados que não têm nada para fazer e que não podem ir para a praia porque está mau tempo, o Gary vai voltar a ser o meu melhor amigo. Eu até podia dizer que o Gary e o Júlio César eram os meus melhores amigos, mas concordo com o meu tio, isso só existe nos Jogos Paralímpicos, em que todos os que participam são «os melhores» só para eles não se sentirem mal por serem o segundo ou o penúltimo. Para isso já basta sentirem-se mal por serem deficientes. Por isso, digo que o Júlio César é o meu melhor amigo actualmente e o Gary é o segundo classificado. Quando disse ao Gary que ele era o meu segundo melhor amigo ele perguntou-me se isso dava apuramento para a Liga dos Campeões ou se era daqueles campeonatos fraquinhos em que o segundo tem que ir às pré-eliminatórias da Liga Europa. Não percebi e ele desligou a chamada.



Mas fiquei o dia todo a pensar naquilo do irmão da Paulinha me dizer que eu era bonito. Será que a Paulinha, ex-amor da minha vida e actual ex-desilusão amorosa, também me achava bonito? Não podia simplesmente chegar lá e perguntar-lhe isso. Por isso fui perguntar à Xana da cantina, na hora do almoço. Ia-lhe perguntar quando ela me estava a servir mas tinha umas 20 pessoas atrás de mim na fila e lá na fábrica, se demoras mais que 20 segundos a decidir que prato queres, já está tudo a reclamar e a dizer que eu devo pensar que estou na Robialac, que não há hora de almoço, mas horas de almoço, porque são duas. Por isso, esperei que acabasse toda a gente de comer e fui-lhe perguntar. Ela disse-me que me podia responder a essa pergunta em privado, à noite, em casa dela. Mas eu não podia esperar tanto tempo, tinha que saber logo ali. A Xana da cantina disse-me que também me achava bonito, mas que nu e em cima dela devia ser ainda melhor. Fiquei satisfeito com esta resposta e fui trabalhar aliviado. Afinal, não eram só moços que me achavam bonito.  



Quando fui para casa nesse dia quis estender as opiniões à minha família. Perguntei à minha mãe se me achava bonito mas ela respondeu-me que não conseguia olhar para mim dessa forma desde que me viu a sair da vagina dela. Perguntei à minha tia se me achava bonito e ela disse-me que por 50€ ela fazia tudo, inclusive chamar-me bonito. Disse-lhe que não era nenhum cliente, mas o sobrinho só que ela respondeu-me que não fazia descontos a familiares. Perguntei ao meu tio e ele disse-me que me respondia a isso se eu o fosse buscar a Valongo nessa noite ás 4 da manhã. O meu irmão ouviu-me a perguntar ao meu tio se eu era bonito e disse-me que para eu ser mesmo bonito só faltava mudar uma coisa na minha cara. Deu-me um soco e disse que afinal se tinha enganado, que ainda tinha ficado mais feio. Amanhã já vou perguntar à Xana da cantina se fiquei ou se o meu irmão me estava a enganar.







P.S.: Com tudo isto esqueci-me de dizer uma coisa importante. Podia escrever mais lá para cima mas decidi pôr assim no fim. Costuma-se dizer que os últimos são os primeiros. Quer dizer, o meu tio diz que nos paralímpicos é que os últimos são os primeiros e os terceiros são os quintos e os décimos são os segundos, porque os deficientes não sabem fazer contas e confundem tudo. Hoje já falei demasiado de paralímpicos. Aquilo que tinha para dizer é que conheci uma moça no sábado à noite, quando fui sair com o Júlio César. Chama-se Rosa. Mas não é como as flores. Pelo menos eu perguntei-lhe se era uma flor e ela disse-me que não, que flor é o Cláudio Ramos. Depois perguntei-lhe se era 96 e ela disse-me que não, que era 91. Foram logo duas coisas em comum. 


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