No outro dia falei com um tio de um primo de um amigo do meu tio e aprendi uma maneira de pagar menos nos talhos, levando a mesma quantidade de carne. Decidi começar este texto com uma frase tipicamente feminina, para saberem como me sinto quando estou num encontro com uma moça e ela me começa a falar de nomes esquisitos como noras, genros ou enteados. Para mim, família é irmãos, pais, tios, avós e primos. E os primos é aqueles primos normais, não sei que é isso dos graus. De graus só conheço os dos adjectivos e os da temperatura. E mesmo os da temperatura é os graus normais, não é como aqueles moços que usam os Fahreneits ou lá como se chamam esses. Para mim, Fahreneit é um filme medíocre que nunca vi até ao fim.
Por falar em filmes medíocres, o do Jorge Abel com a Rosa já me enjoa e ainda agora começou. Mas vocês lá devem achar piada e então ele continua. A meu ver, é daqueles filmes que além de não cativar pelo enredo, já sei como é que vai acabar. Até me podia armar e dizer-vos, mas desde que disse como é que acabava o Titanic ao Mário Pêras e levei uma «pêra à Mário Pêras», nunca mais estraguei os fins dos filmes a ninguém. Claro que eu não adivinhava que aos 30 anos o Mário Pêras nunca tivesse visto o Titanic ou não tivesse sabido como é que acabava o filme. Disse-me o Mário que lhe estraguei uma excelente oportunidade para ver uma história de amor, ainda que fosse daquelas que cativa as moças e que as faz esquecer que tudo começou com uma traição.
Mas adiante, que não é do Titanic que vamos falar hoje, não vá o Mário Pêras passar aqui por pesquisar o nome dele no Google. No outro dia acusei-vos de não serem nenhuns gramáticos para estarem a medir o tamanho dos meus textos. Posto isso, decidi ser eu a armar-me em gramático e decidi reflectir em palavras que fazem falta na Língua Portuguesa:
- Acho que faz falta uma palavra que defina aqueles movimentos característicos dos intestinos, em que fazem um barulhão, que algumas pessoas até confundem com flatulência. Uns dizem que isso são «contracções intestinais», outros dizem que «são arrotos da barriga» e ainda há os que dizem «isso é das tripas». Portanto, nenhum termo preciso e concreto, daqueles que se possa dizer num segundo. Por exemplo, isso acontece-te num encontro e poderes dizer algo sem ser «ah!, tive uma contracção intestinal». Depois a moça julga-te algum médico e ainda passas por embuste;
- Em relações com moças (ou com moços, numa perspectiva feminina e numa perspectiva esquisita), pode-se dizer que se está «apaixonado» quando se gosta loucamente de uma pessoa ou pode-se dizer que se «ama» alguém quando o sentimento é mais calmo e duradouro. Sim, andei a ler estas merdas, gosto de me informar. Contudo, acho que falta um termo que designe quando gostas de estar com uma moça, de te envolver com ela mas sem qualquer sentimento profundo. Uns dirão que isso é «atracção sexual» outros centrar-se-ão na expressão «ando a comê-la», mas nem uma nem outra serve exactamente para a situação que descrevi;
- Uma das situações mais embaraçosas para a pessoa e mais hilariante para os outros é quando alguém tem alguma coisa presa nos dentes. Mas dizer-se «ter uma coisa presa nos dentes» é algo que demora uns 5 segundos a uma pessoa normal, uns 10 segundos a uma pessoa limitada e uns 15 segundos ao Jorge Abel. Coisa que poderia ser evitada, para as pessoas normais e para as limitadas, se houvesse apenas um termo que descrevesse essa situação em vez de uma expressão de 6 palavras. Até porque numa situação destas, quando a pessoa em questão se apercebe e pergunta «tenho alguma coisa nos dentes?» ainda dá para rir mais;
- Infelizmente, não foi no meu tempo de escola que alguém inventou uma palavra que definisse claramente aqueles moços que copiam os testes todos mas copiam mal e tiram negativa na mesma, por copiarem mal. Na prática, na ausência de um termo específico, fica o popular «que burro!» ou, o ainda usado por alguns, «atrasado mental». Se bem que eu não concordo com este último, que no 7º ano tive um atrasado mental na minha turma e ele teve que mudar de turma porque tirava melhores notas que nós todos e durante os testes desconcentrava-se com o pessoal todo a perguntar-lhe as respostas. «Copiaste por um atrasado mental» podia ser algo com piada para a situação com que iniciei este ponto, mas além de muito grande, não é verdade, porque o atrasado mental da minha turma tinha altas notas;
- Voltando às sensações fisiológicas para as quais não há termos exactos que definam a situação, sabem aquela sensação quando vem um ardiume pela garganta acima e ficam com a boca a saber tipo a ácido? De certeza que sabem, os que não sabem ou nunca beberam álcool em excesso ou então nunca comeram os pickles que o Rebelo vende na mercearia. Uns dizem que isso é azia, mas não, é um bocadinho menos intenso que a azia, é só aquela sensação para aí de 15/20 segundos e que depois passa. Agora imaginem-me a descrever isto a um médico, numa consulta de 10 minutos, ocupava 6 ou 7 só com esta descrição, por não haver uma palavra que defina isto mesmo;
- «Estou farto de estar à espera» é uma das frases mais ouvidas em Lojas do Cidadão, na mercearia do Rebelo (os que não são clientes habituais) e em paragens de autocarro. Não era o mundo um lugar muito melhor para viver se alguém inventasse uma palavra que definisse esta situação? Alguns de vocês podem-me dizer «pode-se dizer que se está cansado ou que se está enfadado». Concordo com vocês, mas depois os outros iam perguntar «com o quê?» e acabavam por ter que dizer «de estar à espera». Faziam a frase toda outra vez. Com um termo exacto não. A não ser que quisessem meter conversa com alguém, aí fazia sentido não usar a palavra exacta;
- Há um hiato muito grande na Língua Portuguesa entre estar sóbrio e estar bêbado. Alguns tentaram pôr aqui no meio o «estar alegre» como estado intermédio, mas eu vou mais além, até porque «estar alegre» é como se está ao fim do 3º copo. Mas e numa noite em que se bebem 40 copos e no qual se fica bêbado ao 30º, o «estar alegre» é responsável pelos efeitos entre o 4º e o 29º copo. É um espaço muito grande para cobrir. Depois, as pessoas, vêem-se obrigadas a contar histórias dizendo que estavam bêbadas, quando na realidade ainda ficaram um pouco longe desse estado. As histórias tornam-se imprecisas ou então aborrecidas por se estar a explicar como se estava realmente, em vez de se contar as peripécias da noite;
- Quando se fala em empréstimo, toda a gente sabe o que é. A minha convicção é que falta uma palavra que defina aqueles que não sabem o que é um empréstimo mas pensam que sabem. Ou seja, aqueles a quem emprestas uma coisa mas nunca mais te devolvem e ou se esquecem que foi emprestado, ou se esquecem que não é deles. Houve uma solução engraçada que passou pelo termo «emprestadado», mas que foi desde logo adoptado por gandulos que pediam «emprestadados» 50 cêntimos aos moços do 5º e 6º ano. Por isso, faz falta uma palavra que defina estes «não-empréstimos» entre amigos, familiares e semi-amigos.
Tinha de acabar um texto sobre palavras específicas para determinadas situações com uma menção aos «semi-amigos», tendo em conta que esse foi um termo que eu criei e ainda ando a testar para definir aquelas pessoas que conheces demasiado e há demasiado tempo para considerares um conhecido ou um colega mas que não atinges um nível de profundidade na relação de tal forma que lhes possas chamar de amigo. Já escrevi um texto sobre isso há uns tempos e não me vou repetir. Não sou como o outro que fala sempre do tio, do Júlio César, da Xana da cantina e, agora, da Rosa e não se cala com isso. Por exemplo, pensei em escrever outro texto sobre coisas que faziam falta há 200 e 300 anos atrás, mas ia parecer que agora só falava de História e então decidi virar-me para o presente. Escrever para as pessoas é isto, Jorge Abel, dar-lhes sempre coisas diferentes e não sempre a mesma coisa. O único que dá sempre a mesma coisa às pessoas e continua a ter sucesso é o Vítor Piranha, que só assa frangos na Churrasqueira e aquilo continua a ter fila para ir buscar frango todos os dias.
P.S.: Adoro ver como este texto ficou grandão. Significa que vou ser criticado outra vez pelo tamanho, ainda por cima por moças, logo elas que dizem que o tamanho não importa. Mas escrevi este P.S., não só por ser uma imagem de marca e porque se não o fizesse ia levar na cabeça do Tolentino, que sempre lhe disse para fazer P.S's e agora era eu que não fazia, mas também para dizer que, quem tiver ideias sobre estas palavras pode deixar nos comentários. Se achar piada a alguma, apago dos comentários antes de alguém ver e depois ando para aí a dizer às pessoas que fui eu que inventei. Quanto muito, vocês podem ficar orgulhosos de vocês próprios em segredo por eu ter escolhido uma sugestão vossa.
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