terça-feira, 16 de setembro de 2014

Há coisas nesta vida que eu nunca vou entender


Mas por mim tudo bem. Afinal, não sei bem quem é que disse, mas não podemos saber tudo. Nem o Rafael Martim, que era da minha turma e que tirava 5 a todas as disciplinas sabia tudo. Por exemplo, não sabia que a Diana gostava dele e andava atrás da Liliana, que não lhe passava cartão e depois vinha-se queixar que trocava todos os 5 dele pela felicidade com uma rapariga. Tanto não trocou nenhum dos 5's dele como nunca descobriu que a Diana gostava dele. Não sei porque me lembrei disto agora, se calhar é verdade aquilo que o Venâncio me está sempre a dizer que as memórias é como ir ao supermercado: às vezes lembramos de trazer tudo, outras vezes pensamos que trazemos tudo mas depois é que vemos que nos esquecemos de algo e parece sempre que nos esquecemos só de uma coisa, mas quando vamos a ver bem é sempre muito mais. Vê-se que o Venâncio fez o 12º e teve Filosofia, que foi coisa que eu infelizmente nunca tive.



O meu tio disse-me que toda a gente é livre de pensar, mas que havia pessoas que deviam ser proibidas de dar a sua opinião, até porque ele também é livre de no pensamento ter relações sexuais com quem lhe apetecer, mas na prática, se fizer só por vontade dele pode ir preso por isso. A Xana da cantina já uma vez me tinha dito uma coisa parecida, que a diferença entre violação e sexo espectacular era se se apresentava queixa no fim ou não. O Venâncio disse-me que a coisa no Mundo que sofre mais violações são os sonhos mas eu depois ouço o Gary a falar todos os dias de violações de expectativas e fico na dúvida. Por via das dúvidas, como violação dá cadeia e os juízes não costumam facilitar muito nisso, evito violar o que quer que seja. O irmão do Sebastião uma vez violou o Código da Estrada e ficou logo sem carta. Até tenho medo disso, eu não tendo carta, se violasse o Código da Estrada o que é que eles me iam tirar?



Entre tudo o que me pudessem tirar, só pedia que não me tirassem a Vera. Também não queria perder o meu trabalho, a amizade do Venâncio, do Sebastião e do Gary e não queria que me tirassem o prazer que tenho sempre que bebo um panaché. O Gary disse-me uma vez que os panachés foram inventados para as moças que não inchassem com a cerveja conseguissem acompanhar a francesinha sem ser com sumo. Disse-lhe que ele me tinha dito que foi para isso que inventaram as Minis e ele disse-me que os panachés também são considerados mini-cervejas, a diferença é que as outras são minis no tamanho, os panachés são minis no conteúdo. Aprendo mais com o Gary, com o Venâncio e com o meu tio do que nas duas vezes que fiz o 9º ano. Mas voltando ao raciocínio, só pedia que não me tirassem a Vera. Só que o Mundo é macabro e há coisas nesta vida que eu nunca vou entender. O Lino foi promovido e mudou de secção. Para o lugar dele entrou uma moça nova na fábrica, chamada ... Vera. Quando o Venâncio me disse que ia trabalhar com uma Vera fiquei triste por ela ter sido despromovida, mas quando vi que era outra Vera fiquei triste por tudo o que isso ia implicar.



Para começar, como é que vou chamar a esta Vera? Sempre que falar nela vou ter que dizer «a Vera do meu departamento»? Partilhei estas dúvidas com o Sebastião mas ele só me disse que ia era tentar saber se ela era 91 e se estava disponível para ir beber um copo, para ele lhe explicar as normas de segurança da fábrica. Fiquei contente por o Sebastião ser uma pessoa prestável e responsável. Mas não me ajudou no meu dilema. O Venâncio disse-me para sempre que me referir a ela usar o apelido, mas depois disse para não o fazer porque a «minha» Vera ia-me perguntar como é que eu sabia o apelido dela se na fábrica nem usamos cartões de identificação. Quando o Venâncio disse «a minha Vera» gostei de ouvir e disse que talvez diferenciasse assim: «a minha Vera» e «a outra Vera». O Venâncio disse-me logo para não o fazer, porque se há coisa que as moças não gostam é de um moço que coma com as mãos e que as trate como propriedade deles. Depois disse-me para também nunca dizer «a Vera nova», como se a outra fosse velha ou já tivesse no meu passado.



Por tudo isto, a Vera continua a ser a Vera e só isso. A moça nova é só a moça nova, não preciso de dizer o nome dela. Até porque nem sou eu que lhe está a dar formação, é o Sebastião. A Xana da cantina disse-me que a Vera lhe tinha dito que o Sebastião a tinha levado para a cama ontem à noite e que tinha se tinha sentido como nunca. Eu não acreditei, disse-lhe que estava a inventar histórias sobre a Vera e que nem ela nem ele me iam trair assim. A Xana sossegou-me logo, disse que não estava a falar da minha Vera, porque a essa Vera chama-a de «nojentinha vegetariana». Eu aconselhei a Xana a usar um nome mais curto, porque eu antes também dizia sempre «a Vera da Contabilidade» e demorava muito mais tempo a contar as histórias do que agora, que só digo Vera. A Xana disse-me que gosta de homens que demorem muito e que a façam chegar ao fim primeiro. De certeza que não teve a minha professora de Português, que nos obrigava sempre a ler rápido para não passarmos a aula toda naquilo. De qualquer forma, esta moça nova veio substituir o Lino, mas continua a ser ele a organizar os jogos do pessoal da fábrica. Ou seja, a única coisa que mudou mesmo foi mais uma Vera na minha vida. Mas não é uma Vera como a minha, só é Vera de nome. 









P.S.: O Sebastião mandou-me uma mensagem hoje a dizer que não ia almoçar comigo porque ia comer a Vera na casa de banho. Ao princípio assustei-me porque pensei que estava a falar da minha Vera (aqui posso dizer «a minha Vera», ao falar com os outros é que não, disse-me o Venâncio, que lhe liguei agora mesmo) mas depois lembrei-me que era a moça nova. Depois também me apercebi que o Sebastião ainda não se habituou ao novo telemóvel e esqueceu-se de dizer que ia comer com ela, na casa de banho. Eu desejei-lhe bom apetite apesar de achar que era um sítio esquisito para se almoçar. Mas cada um com os seus gostos. A Xana da cantina também me disse que adorava que a comessem na dispensa, por isso, depende de cada pessoa. Estava a almoçar com a Vera quando o Sebastião me mandou mensagem a dizer que eu e ele andávamos a comer uma moça chamada Vera. Mais uma vez, esqueceu-se do «com», porque realmente ambos almoçamos com uma moça chamada Vera. 


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Já lá vai quase um mês mas nem parece nada


O Venâncio tem razão, outra vez. Ele disse-me que a melhor maneira de ver como o tempo é subjectivo é a jogar Freecell. Quando joga Freecell na fábrica, faz 10 jogos em 15 minutos mas parece que esteve a jogar durante 1 hora. Quando joga Freecell na casa de banho de casa pensa que só passaram 15 minutos e já passou uma hora. Eu nunca tinha ouvido essa, mas já tinha ouvido o meu tio dizer que a diferença entre um minuto e um segundo dependia se tivesse do lado de dentro da casa de banho ou de lado de fora. Nunca percebi bem isso. Nem isso nem quando o Gary me diz que os primeiros a brincarem com a noção de tempo e a confundirem as pessoas foram os do DragonBall, que havia lá uma sala para onde eles iam treinar que se passassem um ano dentro da sala, cá fora só tinha passado uma semana. Eu essa nunca tinha reparado, mas a Xana da cantina uma vez disse-me que já não tinha um homem na cama dela há anos e afinal só tinham passado dois meses.



Por falar nisso do tempo, estes últimos tempos proporcionaram coisas engraçadas. Quer dizer, não foram assim tão engraçadas, algumas deixaram-me triste. Nem sei por onde começar, se pelas boas se pelas más. Lembro-me que uma vez tinha boas e más notícias para dar ao meu tio e ele disse-me para lhe dar só as más, que assim não estragava as boas. Mas quando fiz a mesma coisa ao meu irmão ele pediu-me para lhe dar as boas e depois deu-me uma coça por ter más notícias para ele e nem sequer lhe cheguei a contar quais eram. Depois só descobriu que a mãe estava no hospital quando fui buscar frango ao Vítor Piranha três dias seguidos para o jantar. Quanto a isso o Venâncio disse-me que dá sempre as boas notícias primeiro porque se dermos as más primeiras as pessoas nem têm cabeça para digerir as boas. Eu nem sabia que se digeriam notícias, mas acredito no Venâncio. Se o Rebelo da mercearia estava sempre a dizer que comia porcas à canzana e as pessoas ficavam lá a ouvi-lo, então também deve ser verdade que se digerem notícias.



Ainda acreditei mais nisto de digerir notícias quando o Sebastião me disse que quando a mãe dele descobriu que o pai a traiu com um travesti vomitou no chão e esteve 3 dias a chá. Teve uma indigestão noticiosa. Mas adiante. Vou começar pelas boas, ainda que eu só tenha sabido que era boa quando falei com algumas pessoas. A Vera, há duas semanas, perguntou-me se me podia fazer companhia de manhã. Eu a início estranhei porque os nossos departamentos na fábrica ficam um pouco distantes um do outro e nem eu posso embalar e rotular as latas na Contabilidade nem ela tem máquinas de calcular no meu departamento para fazer as contas. Só depois é que a Vera me disse que estava a falar em irmos para o trabalho juntos. Em vez de ir de bicicleta, ela vinha comigo de autocarro. Fiquei um bocado na expectativa sobre se devia pagar o bilhete dela, já que eu tenho passe e ela é que se ofereceu para vir comigo, mas ela pagou logo e arrumou logo ali a questão. Quando o Venâncio nos viu deu os bons dias como sempre, mas mal me apanhou na pausa para o café disse que aquele era um grande passo e que quando uma moça quer passar mais tempo connosco é porque gosta mais de nós do que sentir a saudade de estar connosco. Não sei como é possível o Venâncio estar divorciado.



A Xana da cantina é que quando soube que eu e a Vera chegamos juntos me perguntou se também íamos almoçar juntos e se íamos para a cama juntos. Eu disse que a Vera era vegetariana e que não podíamos dormir juntos porque o meu irmão tem um sinal na porta do quarto que diz «Proibida a entrada a pessoas estranhas» e que ele leva muito a sério. Uma vez no Carnaval o meu primo entrou lá mascarado e o meu irmão deu-lhe uma coça que ele nem se levantou só porque não o reconheceu. A Xana da cantina disse-me que a cama dela dava bem para nós os dois e eu prometi que passava a mensagem à Vera. Mesmo assim agradeci-lhe o convite. Mandei mensagem ao Gary a perguntar se alguma vez a Paulinha tinha ido com ele para o trabalho de manhã. Ele não me respondeu. A Vera também nem disse nada sobre o convite da Xana. Só me disse que me ficava muito mais barato se começasse a levar almoço de casa em vez de ir comer todos os dias naquela cantina e levar com a Xana. Eu até gostava da ideia mas a minha mãe acorda sempre às 11:00 e a essa hora já eu estou na fábrica. A Vera ofereceu-se para me levar o almoço todos os dias mas nem lhe respondi. Lembrei-me daquela dica que o Venâncio me deu em que é melhor as moças ficarem a dever-nos favores do que nós a elas.



Agora a má notícia. Anteontem passei por uma rua que já não passava há umas semanas e tive um choque. O talho do Sr. Gustavo fechou. Sempre que passava lá cumprimentava-o e se ele estivesse à porta à espera de clientes ainda lhe falava sobre o tempo ou sobre algum assunto que estivesse a marcar a actualidade. Mas fechou. Agora tenho de ver outro talho de confiança que possa subsitituir o talho do Sr. Armindo, que é onde vou sempre. Mas sempre que o Sr. Armindo não tinha alguma coisa ou estava fechado, ia sempre ao do Sr. Gustavo. Comentei isso com o Sr. Romeu, o meu antigo barbeiro, que se reformou. É verdade. Estive vários meses sem o ver e nas últimas duas semanas vi-o quase todos os dias. Descobri que não tenho tema de conversa com o Sr. Romeu para todos os dias. Sempre que ia à barbearia falava com ele sem parar mas agora descobri que isso se calhar só acontecia porque ia lá de 2 em 2 meses. A relação barbeiro-cliente é muito prejudicada se for feita numa dose diária. Pelo menos nisso, o facto do Sr. Gustavo ter fechado o talho já me deu um tema de conversa quando encontrei o Sr. Romeu agora à vinda para casa.







P.S.: Acho que este texto ficou maior do que é costume. Se sim, confesso que me entusiasmei a escrever. Se não, não liguem, finjam que está tudo igual, deve ser por andar apaixonado, em que tudo me parece maior. A única coisa que não me parece maior nos últimos tempos é a viagem de autocarro de manhã de casa até à fábrica, mas isso é só porque a Vera tem vindo comigo. Ainda na semana passada apanhamos uma carrinha dos Correios estacionada no meio da rua e estivemos mais de 15 minutos à espera que o condutor saísse do café onde estava a tomar o pequeno-almoço para passarmos. Mesmo assim, pareceu-me que demorou menos tempo do que quando a Vera não vinha. Eu acho que é amor, mas o Sebastião acha que é por estar distraído, porque acontece-lhe a mesma coisa quando vai a jogar um jogo de zombies que ele tem no telemóvel. 


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Pobre ou Milionário


Parece que vou fazer algum desabafo onde elogio o meu patrão para ver se ele vê e me aumenta o ordenado e onde manifesto dúvidas sobre se devo encavar uma moça ou não só por ela trabalhar na Contabilidade. Para aqueles que não perceberem isto, bem-vindos ao blog. Para aqueles que perceberem, o que é que ainda andam aqui a fazer? Se precisarem de um picheleiro o número do Lucindo vem na lista telefónica. O sogro dele exigiu que ele ficasse com o nome de família da mulher mas deixou que fosse o nome dele a vir na lista e não o da mulher. Até porque a mulher é dermatologista ou uma merda dessas e não trabalha ao domicílio. Se a quiserem encontrar vão ao hospital, se quiserem o Lucindo procurem na lista.



Ainda agora começou o texto e já disse «merda» uma vez. Duas se contarem com esta. Mas eu invoco a premissa daquele ditado «nunca digas nunca» em que diz para não dizermos «Nunca» mas só no provérbio dizemos duas vezes. Depois vêm os linguísticos dizer que essas duas vezes é só para dar o exemplo e não conta. Logo, só disse «merda» uma vez e não as 3 que vocês já viram a palavra escrita. Adiante. Aqueles que não forem mesquinhos o suficiente para estarem escandalizados com o uso de um palavrão tão cedo devem-se estar a perguntar sobre o que significa o título. Outros devem estar a perguntar-se porque é que eu nunca fui tomar café com o Lucindo ou nunca aceitei o problema de saúde como ele aceitou o dele. Se eu fosse como o Lucindo também estava aqui a escrever como sendo o Gary Lopes ou o Gary Tomilho. Casava-me logo com uma moça que tivesse «Tomilho» como apelido. A Paulinha não é «Tomilho» mas também não vou dizer qual o apelido para não irem logo pesquisar para o Facebook.



Assim, chegamos ao terceiro parágrafo da tradição onde eu explico o título. Hoje vou-me centrar numa questão muito específica. Se for novidade para vocês, já me começam a enervar com essa merda da novidade e de ser diferente. Por isso, vou partilhar alguns pontos de reflexão que me surgiram após, nas últimas semanas, ter jogado Monopólio mais que uma vez, com diferentes desfechos:




  • Como diz no título, ou és pobre ou milionário. Quando estás bem, estável e contente com o que tens não podes simplesmente ficar assim e ires à tua vida. Não. Ou tens de ir à ruína e perder ou tens de construir um império e nadar em dinheiro e ganhares. Grande mensagem para os miúdos, sim senhor;

  • Eu sempre joguei num Monopólio com escudos e onde comprava coisas a 2 contos e a 1 conto e 500. Depois, metem-me a jogar um Monopólio com euros e quando antes comprava casas por 1500 escudos, agora compro-as a 150 euros. Isso são 30 contos! Como é que eu me posso aguentar se estou habituado a uma coisa e depois tenho uma realidade bem diferente? E no Monopólio com euros metem para lá moedas, mesmo para confundir as pessoas;

  • Por falar em moedas, as regras do jogo são chatas. Não posso ir aos pobres e atirar-lhes moedas, não posso fumar um charuto sempre que faço um grande negócio, não posso abrir uma garrafa de champanhe quando abro um hotel num sítio e não posso fazer desfalques ou lavagens de dinheiro. Assim claro que toda a gente acha o Monopólio uma seca e toda a gente prefere jogar poker ou à sueca;

  • A grande diferença entre o Monopólio e ter relações sexuais é que se for só com outra pessoa não tem tanta piada do que se for com mais. Eu não sou daqueles moços que quer ir para a cama com duas moças. Já às vezes fico sem fôlego para aguentar a Paulinha, o que faria com duas. Ia precisar de muitas torradas com manteiga e não ia ser eu que ia fazer essas torradas. Mas adiante, no Monopólio, jogar só com uma pessoa acaba por ser chato porque se ganhares, só ganhas a um. Se perderes, és sempre o primeiro a arrumar e a ir à falência;

  • Não posso voltar a confiar a 100% numa pessoa quando ela no Monopólio é boa a fazer negócios e consegue que eu faça aquilo que ela queria desde o início. Por exemplo, no outro dia, a jogar com o Artur dos pneus, que nunca falei aqui mas não é por o ter mencionado que agora vou contar a história da vida toda dele ou dizer que reprovou a Fisíco-Química no 9º ano porque queria ir para Humanidades no 10º. Estava a dizer, a jogar com ele, fez-me uma proposta muito alta por uma casa que eu tinha e depois disse que afinal não queria. Andei 5 jogadas a tentar vender-lhe a casa por um preço aproximado dessa proposta até que ele me disse que me comprava pelo preço que me tinha dito na primeira vez desde que eu pagasse o dobro quando calhasse lá. Depois disse-me que isto era o que fazia sempre na oficina. E eu que lhe comprei pneus ao dobro do preço dos normais porque ele me dizia que eram de grande qualidade! Afinal estava só a jogar Monopólio na realidade!

  • Que as pessoas apanhem sempre o mesmo autocarro para irem para o trabalho, que comprem sempre os mesmos iogurtes porque é o que lhes sabe melhor, que tenham relações sexuais sempre com a mesma moça por uma questão de fidelidade e que vão sempre ao mesmo barbeiro por uma questão de princípio tudo bem. Agora, não entendo aqueles que jogam Monopólio e compram sempre as mesmas casas e ficam chateados quando não conseguem comprar as que querem! Tem uma piada fazer sempre a mesma coisa. Parece o Tolentino, que no Fifa joga sempre com o Rosenborg porque uma vez ganhou 50 contos no Totobola à custa do Rosenborg e nem vê as outras equipas;

  • No Monopólio as pessoas não se importam de ir para a prisão e, quando vão, até parece uma coisa de criança. Ou pagam ou jogam nos dados e saem logo. Não há sofrimento na prisão, não há penhora de bens, não há nada. Era bem mais difícil sair da prisão quando jogava aos Polícias e aos Ladrões na escola. E quando eu era Polícia os ladrões bem sofriam que eu até incitava os outros Polícias a darem uma coça aos ladrões, já que eles estavam na prisão;

  • Para terminar, quando ninguém está a ver pode-se roubar dinheiro do banco facilmente e ninguém nota, porque ninguém está ali a contar as notas. Tem é que se fazer bem feito. Mesmo assim, se alguém nos apanhar o que é que nos acontece? Se formos para a cadeia, no jogo, ali é uma brincadeira, não tarda estou a sair; se formos apanhados ou devolvemos o dinheiro ou acaba o jogo. Não há consequências graves de se roubar bancos e depois ainda aparecem aí séries com moços a assaltarem um banco para irem para a mesma prisão do irmão e tirá-lo de lá. Só bons exemplos para as crianças.




Pronto, por hoje é tudo. Agora vou pensar se vos volto a deixar aí por 15 ou 20 dias, enquanto o Jorge Abel vem aqui escorrer os seus desabafos desinteressantes e incongruentes na lógica. Ou enquanto o Teófilo vos promete mais regressos até nunca, enquanto o Tolentino descobre mais coisas que há-de odiar mas no fundo não odeia, que eu bem o vejo a consumir águas tónicas sempre que vou com ele a um bar de praia e enquanto o Lucindo publica cartas que escreve com tanto afinco como se estivesse a trocar as minhas torneias por uma misturadora. Caso mude de ideias e não quero que nada disto aconteça, venho para aqui falar de tudo o que me vier à cabeça. Por exemplo, venho traduzir algumas músicas que passam na rádio, ver como ficavam em Português e que artista as poderia cantar. Por exemplo, aquela da Rhianna, do «Debaixo do meu guarda-chuva» era uma música que eu imagino o Nuno Guerreiro a cantar. A voz é parecida e tudo.







P.S.: Não me perguntem como acabei a jogar Monopólio com o Artur dos pneus, uma parte dos anti-psicóticos que o Ramalho Drogas me orientava era dotar-me de memória e de consciência nestes momentos. Só sei é que joguei contra ele e sei que não fizemos o amor porque nessa noite dormi com a Paulinha e ela também me disse que jogou e que até me vendeu duas casas ao preço de uma. Não se pode misturar os sentimentos com os negócios, isso aprendi com o tio do Jorge Abel e com o Rebelo da mercearia, que me disse que se dava 100% no sexo com as moças, elas também tinham que lhe dar 100% do preço dos produtos na mercearia dele. 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Carta que escrevi ao Ministério da Saúde


Por minha vontade, eu vinha aqui, saudava os leitores e mostrava a carta que tinha escrito para o Ministério da Saúde sem mais demoras. Só que o Gary avisou-me para a vossa exigência, de quererem saber porque é que uma pessoa ficou tanto tempo sem escrever aqui e exigem uma explicação. O Gary também me disse que só não exigiram isso ao Teófilo e não exigem nunca ao Jorge Abel que ele tenha rigor na pontuação. Eu, como picheleiro honesto que sou, também sou honesto quanto à pontuação, sendo isso algo que me caracteriza enquanto ser humano. Por isso, antes de mostrar a carta que enviei ao Ministério da Saúde, devo-vos a explicação que nos últimos meses fui contratado para um trabalho de fundo num centro de saúde local, o que me levou à escrita desta mesma carta que agora, depois da futilidade da vossa exigência, vos apresento:



«Bom dia,


Saúdo-vos com os bons dias mesmo sabendo que ninguém vai ler esta carta de manhã, porque durante o tempo em que fui encarregado das obras de picheleria de um Centro de Saúde, que por respeito aos seus profissionais e ao meu código deontológico de picheleiro que respeita a confidencialidade, manterei no anonimato, me obrigavam a lá estar às 08:30. Digo-vos também que não sabia a quem escrever para denunciar esta situação, mas como não há uma Ordem dos Picheleiros e como a Ordem dos Médicos agora só quer saber de greves e protestos, decidi escrever para vocês, que ao fim e ao cabo mandam na Ordem dos Médicos apesar de vocês não o saberem e eles não o admitirem. 


Ainda que não sejam os médicos o motivo da minha queixa, eles também não são parte isenta de responsabilidade pelo Inferno (e sim, escrevi Inferno com letra maiúscula ainda que seja um lugar metafórico e que, se existir e um dia for lá parar, não me fará confusão depois do que passei naquele Centro de Saúde, que também escrevo com letras maiúsculas tal como escrevi Inferno) que eu passei nos cerca de dois meses em que lá efectuei o meu honesto, respeitável e competente trabalho. Como tal, nos próximos parágrafos vou mostrar os principais motivos pelos quais eu e o Márcio, um trolha da minha confiança que tive que recrutar para esta empreitada, porque ao contrário de outros picheleiros não me considero um especialista em tudo, terminamos o nosso trabalho sem ter sentido o prazer de uma obra acabada, mas antes o alívio de uma tortura que havia chegado ao fim.


Para começar, é natural o olhar de desconfiança que muitas pessoas nos lançam mal sabiam o que éramos. Mas o pior é que nunca ninguém dizia que éramos «o trolha e o picheleiro» mas sim «os trolhas» ou «os picheleiros». Uma vez tive uma secretária a perguntar-me porque é que o Centro de Saúde não a aumentava há 5 anos mas tinha dinheiro para contratar dois picheleiros. Quando lhe expliquei que não éramos dois picheleiros mas um picheleiro e um trolha, virou costas e foi tirar fotocópias só porque um médico mandou. Mas sabem porque é que é natural aquele olhar que nos lançam? Por causa dos primeiros picheleiros! Quem foi o picheleiro responsável pelas obras naquele Centro de Saúde? Quem é que vocês contrataram? Um intrujão! Tudo mal feito, tudo acabado às três pancadas, cheio de silicone por todo o lado só para se dar a ilusão que está bem preso e seguro e, por isso, bem feito. O silicone na picheleria é como o silicone nos seios das mulheres, o efeito é visualmente atractivo mas no fundo está tudo mal feito. Depois, eu é que tenho que dar a cara por esses picheleiros sem brio e sem honra profissional. Estou casado com a minha mulher há quase 10 anos e continuo a sentir a mesma atracção sexual por ela que tinha no primeiro dia e ela nunca pôs silicone. Porque raio é que os outros picheleiros vêem no excesso de silicone a solução para tudo? 


Outra coisa que nunca compreendi foi a situação das casas de banho. Nunca na minha vida me aconteceu tal coisa. Logo no primeiro dia, a minha mulher fez-me almôndegas para o almoço. Na confecção das almôndegas, ela usa um molho espesso e picante, como eu gosto, mas que me provoca movimentos intestinais agressivos, que me levam a ter de andar sempre com uma revista ou um jornal para ir à casa de banho com tempo. Mas eis que peço a uma funcionária para me indicar onde era a casa de banho e ela diz-me que nós, eu e o Márcio, usávamos a casa de banho dos deficientes para não sujar as normais. A início senti-me insultado por nos estarem a atribuir tal casa de banho, mas depois deixei de ser egoísta, que isso não é digno de um picheleiro honesto, e pensei que o insulto era para os deficientes. Afinal, a casa de banho deles pode estar suja que não há problema? E pode estar ocupada? É este o respeito que há pelos deficientes num centro de saúde? E no caso do insulto ser para nós, é este o respeito que há pelos picheleiros e pelos trolhas num centro de saúde? Quando vamos às casas das pessoas usamos a casa de banho normal, não nos metem um balde e um pote para fazermos tudo ali. 


Quanto a esta situação, disse-me uma empregada de limpeza que nós sujávamos as casas de banho todas e que por isso é que nos pediram tal coisa. E nós é que temos culpa disso? Andávamos o dia todo a partir parede, tijoleira e a mexer em cal e queriam que estivéssemos limpos? Se queriam aquilo limpo que limpassem! Têm empregadas de limpeza para quê? Para esfregarem o chão uma vez e depois ficarem a falar durante 2 horas e a assediar o Márcio só porque ele tem 35 anos mas parece que tem 25 e é solteiro? Elas que nos deixassem trabalhar e depois fossem lá limpar, que esse é o trabalho delas, não é o de adivinhar se o Márcio era 91, 92 ou 96. E mais! Eu vi médicos com manchas de gordura e de molho nas batas e ninguém os olhava de lado ou ninguém os julgava por isso. Mas a nós, que tínhamos as sapatilhas sujas do nosso trabalho e não por termos ido almoçar fora, já toda a gente nos olhava de lado. 


Mas o pior, a meu ver, era a postura perante a comida. Se fazíamos uma pausa para comer uma maçã era como se tivéssemos cometido um crime. Então se fosse para fumar um cigarro, neste caso o Márcio, era o fim do Mundo, quase que só faltava dizer que tínhamos ido ali para brincar e não queríamos trabalhar. Como se eu não visse lá os médicos a irem fumar quase de hora em hora. E uma vez quando estive no hospital, os que mais fumavam eram os neurocirurgiões. E agora digam que os neurocirurgiões não gostam de trabalhar. Só que o pior era aquelas máquinas que agora há em todo o lado que têm bebidas e comidas. Ninguém pagava nisso. Os médicos e as secretárias iam falar com o segurança, ele anotava, abria a caixa e dava-lhes o que quisessem mas nós pagávamos tudo! Nem um cafézinho nos ofereceram. E eu via médicos e enfermeiros a irem tomar café 4 e 5 vezes ao dia! Se isto não é discriminação profissional e a luta de classes então não sei o que é. Poderia enviar esta carta para o Sindicato dos Picheleiros mas não existe. Pelo menos eu acho que não existe, se existir peço-lhes desculpa por em 20 anos de profissão nunca ter pago uma quota que fosse. 


Para terminar, denuncio só uma situação que, infelizmente, é algo com que recorrentemente nos deparamos: a incompreensão das pessoas face ao nosso trabalho. Toda a gente queria aquilo pronto mas quando pedíamos para desligar a água ou a luz ou quando fazíamos algum barulho parecia que estávamos a pedir dinheiro ou um rim às pessoas. Faziam cada cara que só apetecia pegar nas coisas e ir embora, algo que só não fiz porque nunca deixei um trabalho por acabar. E não é acabar à pressa a encher tudo de silicone como fez o anterior picheleiro daquele centro de saúde. Faziam cara de mal dispostos e depois lá iam desligar o que tínhamos pedido. A minha conclusão é que no centro de saúde é tudo gente mal disposta, por isso é que ninguém quer ir lá. Estou mortinho por voltar aos serviços ao domicílio, que aí ao menos as pessoas sabem que precisam mesmo de nós e até nos oferecem cafés e água. Além disso, nos serviços ao domicílio as pessoas tratam-nos ao mesmo nível, no centro de saúde não. Toda a gente nos via como inferiores. Até um moço todo espinhoso, devia ter para aí 20 anos, da Informática, nos veio perguntar se íamos demorar muito e se não podíamos fazer menos barulho porque ele se queria concentrar. Queria ver se ele arranjava a canalização toda do centro de saúde só a carregar no «Enter» e no «Shift Delete». Mas se calhar, esse, também não pagava lá nas máquinas de venda de comida e bebida, mas nós sim.


Posto isto, termino a minha carta. Não sei se algum dia volto a um Centro de Saúde para trabalhar lá. Posso eventualmente voltar caso descubra que não tenho o boletim de vacinas em dia ou caso a minha estimada mulher queira alterar o nosso plano alimentar e nos leve a uma consulta de Nutrição. Por acaso, a Nutricionista era a pessoa mais simpática do Centro de Saúde, que uma vez até nos disse que os picheleiros e os nutricionistas faziam um trabalho semelhante, que mexiam nos interiores, modificavam o que estava mal e proporcionavam um melhor funcionamento às pessoas. Eu adorei a comparação, o Márcio é que não, que ele não é picheleiro, é trolha. E a minha mulher disse-me que esperava que eu nunca mais visse essa nutricionista. 


Do vosso ex-colaborador, que passou dois dos piores meses da sua vida em termos profissionais, ainda que no final dos trabalhos tenha visitado o Centro de Saúde só para ir ver os lavatórios e para ir abrir a água em todas as casas de banho para estar orgulhoso do meu trabalho (e do do Márcio, claro, que eu não fiz tudo sozinho, só na parte da picheleria),


Lucindo Sampaio de nascença, Lucindo Sampaio Bonifácio desde a radiante data em que entrou na minha vida a pessoa mais espectacular, mais sexualmente compatível comigo e mais ciumenta face a nutricionistas que fazem comentários profundos e brilhantes sobre a minha actividade profissional. Ainda que a minha mulher também goste de elogiar a minha profissão, atenção. Não a trocava por uma nutricionista, que certamente não ia fazer molho para as almôndegas, iam mesmo assim, sem molho, todas desconsoladas.»


quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Top dos meus pensamentos enquanto comia atum


Sei que, o mais mesquinho ou mesquinha de vocês, que isto da mesquinhez não é só coisa de moça nem daqueles moços que só gostam de moças para serem o amigo gay ... Ok deixem-me recomeçar depois deste pensamento. Sei que o mais mesquinho ou mesquinha de vocês, englobo aqui os dois sexos não só para não me considerarem sexista e machista, ainda que o termo «machista» não seja necessariamente mau. Por exemplo, no mundo animal, o macho é o dominador e o que providencia alimento para todo o seu grupo. Ok, terceira tentativa, ainda que gostasse de mostrar os conhecimentos que adquiri ao longo destes últimos tempos em que alterno o Hollywood com o National Geographic, a pedido da Paulinha. Sei que o mais mesquinho ou mesquinha de vocês vai dizer que eu já fiz o top dos meus sonhos há uns tempos. Não sei o que é que sonhos e atum têm a ver, a não ser que sonho com atum muitas vezes.



Muita gente pode achar estranho eu pensar em alguma coisa mais sem ser no sabor do atum e nas formas como gosto do atum ou de qual o lugar do atum entre os peixes, sendo que o 1º é o meu preferido e o 20º é o último classificado da primeira divisão. Depois os outros não interessam. Alguém sabe equipas da segunda divisão de França ou da Alemanha? Não! Só sabem da primeira. Aqui é igual. Se quiserem digo os 20, se não quiserem digo só que o atum é o meu 2º peixe preferido. Mas penso em mais coisas enquanto como atum e coisas até complexas. O atum tem Omega 3 ou lá o que é, que dá força ao cérebro e vitaminas que fazem pensar. Os comboios andam a carvão, os carros verdadeiros a gasolina ou a gasóleo e os cérebros lá a essa coisa de Omega 3. Ainda que eu ache que se estiver acordado 3 dias seguidos sempre a comer Omega 3 o meu cérebro não funciona por falta de sono.



Assim, feitos os 3 parágrafos habituais, para que ninguém, mesquinho ou não, possa dizer que mudei só porque estou envolvido numa relação amorosa, vou agora dar o meu top dos pensamentos enquanto comia atum. Não vou dizer que é top 3, top 5, top 10 ou top 20. Assim escrevo os que me apetecer e não preciso de mudar nada no título.




  • 1: Porque é que, em mais de 90% dos casos, a francesinha sem bife é mais cara que a francesinha normal com bife? Tenho 3 possíveis explicações para isso e todas elas me surgiram enquanto comia atum: 1) as francesinhas sem bife são consideradas «pratos exóticos» e, por isso, o preço agrava; 2) os estabelecimentos fazem um agravamento do preço pela violação da tradição de comer uma francesinha com bife; 3) as francesinhas já estão todas feitas e, sempre que alguém pede sem bife, está lá um moço que com uma precisão de neurocirurgião retira o bife, o que encarece o prato;

  • 2: Se eu fosse namorado de uma actriz pornográfica não via nenhum filme dela. Assim, além de não sentir vontade de matar os outros artistas, nem de sentir ciúmes por eles serem pagos para terem relações com ela enquanto eu, além de não pagar, ainda ter que ir passear com ela e pagar-lhe lanches, se ela não me quisesse fazer alguma coisa em termos sexuais não lhe podia dizer «quer dizer, nos filmes fazes, mas comigo não». Por outro lado, ao ser o namorado de uma actriz pornográfica tinha mesmo que ser bom no lado emocional, porque fisicamente ia haver sempre algum marmanjão lá dos filmes que me metesse num bolso;

  • 3: A minha solução para o desemprego de vários jovens portugueses é muito simples. Através da droga, dos roubos ou de trabalhos temporários, todos aqueles que não tiverem o 9º ano e souberem jogar minimamente futebol, juntam dinheiro e vão viver para o Luxemburgo, para o Lichtenstein, para San Marino, para Malta ou para as Ilhas Faroé. Aí, começam a jogar numa equipa pequena, mas como sabem jogar muito melhor que os cepos que eles lá têm, passado uns anos naturalizam-se e jogam pela selecção deles. Essas selecções apanham sempre porrada nas qualificações das outras selecções mas pode ser que algum clube em condições goste de um desses jovens e o contrate;

  • 4: Se eu fosse guia turístico entre as histórias verdadeiras por trás dos monumentos, ruas ou localidades que eu mostrasse aos turistas, inventava algumas histórias pelo meio. Por um lado, queria ver se alguém desconfiava e, se desconfiasse ou não acreditassem, tinha que trabalhar melhor a história, melhorar alguns detalhes ou não exagerar tanto. Por outro lado, ao fazer estas coisas aos turistas fazia com que o meu trabalho não fosse tão repetitivo e monótono e acordava todos os dias com vontade de ir trabalhar e inventar coisas novas, em vez de mostrar sempre o mesmo, todos os dias, a contar as mesmas coisas;

  • 5: Se eu fosse traficante de droga e andasse com droga no carro conduzia sempre da mesma maneira. Se um polícia me mandasse parar e me perguntasse porque é que eu achava que ele me tinha mandado parar não mandava nenhuma piada nem me tentava safar. Dizia que tinha excedido um pouco o limite de velocidade e que tinha noção disso. Recebia a multa, o polícia pensava que tinha cumprido o seu papel mas tinha-lhe escapado um traficante com o carro cheio de droga só com uma multinha de excesso de velocidade. Além disso, dizia sempre às pessoas que eu só recebia ordens do meu patrão, que assim toda a gente pensava que eu tinha um superior e a Polícia não queria saber de mim, que eles só andam atrás dos grandes;

  • 6: Aquelas pessoas que aparecem naqueles vídeos no Youtube dos Apanhados são mais espertas do que parecem. Eu usava a técnica delas. Quando fosse entrevistado dizia frases sem sentido ou daquelas bombásticas, que depois as pessoas fossem ver ao Youtube e me tornassem famoso por um instante. Olhem se aquele moço do skate não andou por aí em entrevistas e em programas de televisão só porque fez figurinhas na Internet. Por isso, sempre que for entrevistado, seja para o que for, vou utilizar a técnica dos «Apanhados». Depois, se o jornalista for em condições, não tenho sucesso. Mas se o jornalista for mau e andar à procura de ser engraçado, consigo o que quero.






Já tive outros pensamentos, mas não como atum há uns dias e, por isso, o meu Omega 3 já foi todo. Acho que já foi todo. No outro dia liguei ao Ramalho Drogas, que agora que a Polícia já se conformou que não tem jurisdição no Turcomenistão, onde ele esteve a dar workshops de contrafacção de sofás e colchões sem pagar os impostos associados aos bens móveis, ele voltou. Liguei para lhe perguntar se o Omega 3 tinha influência nos anti-psicóticos que ele me deu. Ele perguntou-me quem é que eu era, como tinha o número dele e porque lhe falava em coisas que ele não percebia. Desliguei meio na dúvida mas depois ele apanhou-me na rua e disse-me que aquele número ainda estava sob vigilância e deu-me o novo número dele. Agora é 93. Ele diz que assim não paga se tiver que fazer chamadas. O problema é que eu pago. E foi aí que vi que ele até me tinha em boa conta porque me disse para lhe dar um toque que ele me ligava de volta. 








P.S.: Hoje vi um anúncio da Robialac e lembrei-me do Jorge Abel. Lembrei-me porque fiz um comentário num texto dele onde dizia que a Xana da cantina era uma moça fácil. Fácil é. Demasiado fácil. Ela até já me disse que sabia que eu namorava e que me desejava as felicidades, mas se eu quisesse comer um bife suculento para não enjoar do arroz de frango, que lhe ligasse e ficava só entre nós. Bem, a partir do momento que escrevo aqui fica entre nós, entre o Jorge Abel e entre o Lucindo, que ainda no outro dia me disse que leu os meus textos todos que escrevi aqui duas vezes para aprender comigo. Não gosto de pensar que a Paulinha é o meu arroz de frango, até porque enjoo facilmente de arroz de frango. A Paulinha é a minha lasanha de atum e isso consigo comer todos os dias, sem precisar de bifes pelo meio. 

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Há quem diga que as emoções e os sentimentos é coisa de moças mas não é bem assim


Nos últimos dias tenho sido inundado de emoções e de situações emocionais. Eu não sabia o que era uma situação emocional, a Vera é que me disse que era uma situação da vida que me causasse emoções fortes. Nunca tinha percebido como as emoções são como os cafés: há as fortes e as fracas, depois há aquelas pessoas que não têm emoções como há cafés que não têm cafeína e há pessoas que gostam de emoções fortes como gostam do café cheio ou gostam de emoções em dose pequena como gostam do café curto. Eu não gosto do café curto, dou um gole e já não há café. Por isso, sempre que vou à máquina que tem lá na fábrica peço um «Café Longo» e aquilo quase que me enche o copo de plástico. Se calhar, por gostar do café longo ou comprido, também sou uma pessoa que gosta das emoções fortes. Ou pelo menos tenho tendência a isso.



Tudo começou quando vinha do trabalho e encontrei o meu antigo barbeiro, o Sr. Romeu. Durante anos fui à barbearia do Sr. Romeu. O que mais adorava no Sr. Romeu é que não precisava de lhe explicar como queria o corte porque ele fazia-me sempre o mesmo. Assim, aproveitava o meu tempo na barbearia para falar com o Sr. Romeu sobre assuntos do dia-a-dia, ainda que ele insistisse vezes demais nos mesmos temas: ou era sobre política, ou sobre futebol ou sobre as pessoas que conhecia no obituário do jornal. Uma vez perguntei ao Sr. Romeu se no obituário do jornal vinham lá as pessoas que tinham morrido no amor e ele disse-me que uma pessoa nunca morre no amor e que, no dia em que morrem no amor, morrem mesmo para a vida. Nessa vez, o Sr. Romeu até me fez lembrar o Venâncio. Fiquei muito contente por ver o Sr. Romeu, não sei é se ele ficou contente por me ver a mim. Quando contei ao Sebastião ele disse-me que era normal que o Sr. Romeu não ficasse contente por me ver porque ele se tinha habituado a receber dinheiro sempre que me via e desta vez isso não aconteceu.



Esse reencontro fez-me pensar noutros reencontros que eu poderia ter. Por exemplo, enquanto trabalhar na fábrica de tintas nunca posso dizer que encontrei o Venâncio na rua porque o vejo todos os dias. E ainda bem. Acho que neste momento, depois da Vera e do Sebastião, a pessoa que menos queria perder na minha vida era o Venâncio. Aprendo com o Venâncio todos os dias e por isso perguntei-lhe o que é que ele achava sobre os afastamentos e os reencontros com as pessoas. O Venâncio disse-me que sempre que se afastava de alguém nunca invalidava um possível reencontro porque a vida dá sempre uma segunda oportunidade. Já o meu tio sempre me disse que nem todas as moças dão uma segunda oportunidade e por isso é que ele quando liga a marcar hora pergunta sempre se tem direito a segunda oportunidade. Gosto da simplicidade com que o meu tio leva a vida dele: pergunta directamente se tem direito a segunda oportunidade, nunca empresta dinheiro a ninguém que não conheça há pelo menos 5 anos e faz sempre a barba antes de ir a uma entrevista de emprego. Às vezes gostava de perguntar à Vera se ela me daria uma segunda oportunidade caso houvesse necessidade disso, mas depois não tenho coragem e não pergunto.



Como está muita gente de férias na fábrica, é mais fácil falar com as pessoas. Até o meu patrão almoçou na cantina esta semana. Aproveitei que o meu patrão é uma pessoa mais vivida, porque não é qualquer pessoa que é dono de uma fábrica de tintas, e perguntei-lhe o que é que achava dos reencontros e se a vida dava segundas oportunidades. O meu patrão disse-me que se a vida não desse uma segunda oportunidade então não valia de nada todas as bebidas que oferece às moças na noite agora que é divorciado. Lembrei-me de dizer ao meu patrão um conselho que o Gary me deu uma vez: nunca oferecer bebidas a uma moça sem antes ter falado com ela, senão é só derreter dinheiro. O meu patrão disse-me que não precisava de falar com uma moça, precisava era de a levar para a cama. Se calhar é  isto que distingue os patrões e os empregados: os patrões não têm emoções. Agora que penso, o meu patrão bebe sempre café curto. Aproveitei para falar com a Xana da cantina sobre isto, já que ela estava com pouco trabalho. Ela disse-me que eu agora não queria saber dela, mas se ela me reencontrasse, me levava para casa dela e me ia dar forte e feio. Pelos vistos a Xana da cantina leva os reencontros ainda mais a sério do que eu. Nem sabia que ela era assim tão dada às emoções. Sempre é verdade o que o Venâncio me disse uma vez: uma moça sem emoções, não é uma moça em condições.



Nesse aspecto, a Vera é uma moça em condições apesar da Xana da cantina me dizer que ela é uma porca e uma aproveitadora. Não se pode agradar a todos. Por exemplo, o Venâncio acha que o Candy Crush é um atentado aos jogos e que prefere mil vezes o Freecell, enquanto a Vera adora jogar Candy Crush no telemóvel. Uma vez esperei 25 minutos que a Vera me dissesse se tinha dormido bem porque ela estava a acabar o nível 78 no Candy Crush. A Vera disse-me que a parte que mais a preocupava nos reencontros era o facto de em algum dia se ter afastado da pessoa que reencontrava e se tinha sofrido muito com isso. Eu, pelo menos, já sofri muito com reencontros e ainda hoje sofri outra vez porque falei ao meu irmão sobre ter reencontrado o meu antigo barbeiro e ele me ter dado uma coça porque se lembrou do «Ponto de Encontro» e a música do programa não lhe saía da cabeça. A Vera também não me tem saído da cabeça nestes últimos dias. Mas ao contrário do meu irmão, não me apetece bater em ninguém por causa disso. Se calhar o meu irmão não sabe o que é o amor. E agora estou com aquela música do Alexandre Pires na cabeça, aquela em que ele diz «você não sabe o que é o amor». 







P.S.: O Sebastião disse-me que a Vera tem uma amiga dela que trabalha com ela na Contabilidade que é gira e solteira. Eu disse ao Sebastião que não é por trabalhar na mesma secção da Vera que são amigas, até porque eu trabalho na mesma secção do Luís e não sou amigo dele. Aliás, até só falei dele hoje passado este tempo todo que estou lá na fábrica. Mas o Sebastião disse-me que elas eram amigas no Facebook e que as moças só são amigas no Facebook se forem mesmo amigas ou se forem inimigas mortais. Depois, pediu-me para dizer à Vera que ele estava interessado na amiga e se ela podia arranjar uma forma de eles os dois se encontrarem. Não sei se deva fazer isso. A Vera está habituada a mexer em números e a arranjar os números e mexer com números e com pessoas não é a mesma coisa. A não ser se for para pessoas como o meu patrão, sem emoções e que gostam de cafés curtos. Se a amiga da Vera estiver interessada no Sebastião então eles que se encontrem, como eu encontrei a Vera ou como reencontrei o Sr. Romeu.


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Porque é que detesto ir à praia


Para começar, eu não detesto ir à praia. Eu detesto ir à praia em Julho, em Agosto e aos fins de semana. Essa sim, é a verdade, mas como os títulos têm de ser bombásticos e polémicos para chamar a atenção das pessoas, preferi pôr assim. Para títulos demasiado longos e descritivos já chega o Jorge Abel. O Gary tinha um amigo que era o Matthew Praias, que também era amigo do Teófilo. Dizem que os amigos devem ter coisas em comum, esse Matthew tinha em comum com o Teófilo o gosto em desaparecerem sem deixar rasto. Ainda que em textos publicados o Teófilo esteja a ganhar 2-1 ao Matthew Praias. Mas adiante, não é para falar de outros semi-colaboradores aqui no blog que vim cá hoje, não sei quantas semanas depois. Vou explicar porque é que detesto ir à praia (em Julho, Agosto e aos fins de semana):




  • Sabem aquele provérbio «preso por ter cão e por não ter»? Na praia é igual. Todas as moças assumem que, quando passam por mim, eu lhes fico a olhar para o rabo. Na maior parte das vezes nem olho, mas quando olho, seja por movimento voluntário ou porque aquilo me aparece no meu campo de visão, as moças reparam e ainda fazem cara de enjoadas por eu estar a olhar. Se não queriam que ninguém olhasse que fossem para a praia de calças de fato de treino daquelas largas;

  • Maior parte das crianças que lá está ou é atrasada mental ou então não são mas parecem. Às vezes, têm um espação para jogar à bola e vão-se pôr a jogar mesmo no meio das pessoas. Depois, acertam-te com a bola, pedes-lhes para terem cuidado e irem jogar para o espação que está sem ninguém. Eles acenam com a cabeça, pedem desculpa e passados 30 segundos estás a levar com a bola outra vez. E o filme repete-se até eles irem à água ou irem comer alguma coisa que a tia de 200kg que os levou trouxe de casa;

  • O maior perigo de se deixar ir as crianças para a praia em grupos não-supervisionados é elas irem com amigos ou amigas que aproveitam que estão sozinhos, sem familiares ou professores por perto e falam com palavrões como se não houvesse amanhã. Eu não sou daqueles que bate com o cotovelo na esquina de uma mesa e grita «POÇA!», nem sou daqueles que quando falha um golo de baliza aberta num jogo com amigos diz «Opa caramba!» mas ouvir estes miúdos a falarem uns com os outros na praia à base dos palavrões faz-me lembrar aqueles que vão às festas de anos dos amigos e comem gomas e fatias de bolo à fartazana porque sabem que no espaço de um mês não vão poder voltar a fazer isso;

  • Se os putos não vão com os amigos para a praia vão com os familiares o que, muitas vezes, ainda é pior. Isto porque em muitos casos, a praia é o espelho clássico de como muitas práticas parentais se resumem ao berro e ao estalo. Quais psicólogos quais quê a dizerem que a comunicação e as regras resolvem tudo, se o menino mandar areia para o pai enquanto este está a fumar o cigarro come com um estaladão e acabou-se a brincadeira. O problema é que estes pais só recorrem ao estalo quando são chateados, pois não importa que o menino tenha estado 2 horas a chatear todas as pessoas que estavam à volta;

  • A ida ao mar é a melhor parte de ir à praia. No entanto, nas idas ao mar acontece um fenómeno com o qual não consigo conviver bem. Toda a gente mija no mar e toda a gente sabe disso. No entanto, quando vou ao mar e ouço alguém a dizer aos amigos «esperem aí que estou a mijar» fico enojado e só me apetece sair do mar a correr. É um fenómeno muito semelhante ao de assistirmos sem querer aos nossos pais a terem relações sexuais: sabemos que tiveram que as fazer pelo menos uma vez, mas nunca queremos imaginar isso e muito menos ver;

  • Os vendedores de bolas de Berlim, gelados, água, cerveja e tudo o resto dão-me pena. Dão-me pena porque fazem-me sentir culpado de eu estar ali deitado sem fazer nada e eles andarem a arrastar uma mala, muitas vezes bastante efeminada, pela praia fora enquanto gritam para toda a gente ouvir e, muitas vezes, ainda são chamados só para gáudio de alguns grupos de jovens que acham piada a assobiar e a chamar e depois fingirem que não o fizeram. E eu detesto isso porque me estragam um bom momento, fazem-me pensar que devia estar a fazer alguma coisa útil quando eu devia era estar sem pensar em merda nenhuma. Só não tenho pena é dos que vão para a praia vender torrões, como se isso não fizesse sede;

  • Outra coisa que detesto na praia é que parece que as pessoas, moços e moças, com tatuagens têm um estatuto social superior e são muito mais bem vistos do que aqueles que não têm nenhuma tatuagem. Qualquer tatuagem, nem que seja um golfinho num tornozelo, demonstra que não se é medricas, que tem gosto pelo risco e pela aventura e que tem uma vida que vale a pena conhecer, não é como esses cromos que não têm tatuagens nenhumas. Cromos como eu que não pagam 60€ para alguém fazer desenhos com agulhas na minha pele. Uma vez fiz um desenho na parede e aquela merda saía com lixívia e levei uma coça digna de ter sido na praia;

  • Não tenho nada contra pessoas gordas. Pelo contrário, até lhes louvo a coragem de irem para a praia. Eu, por exemplo, não tinha coragem de sair à noite se tivesse a cara cheia de acne ou não conseguia aparecer numa entrevista de emprego se tivesse um furúnculo gigante na testa. Agora, o que eu detesto na praia são aquelas moças gordas demasiado à vontade com o seu corpo abastado de gordura e que vão para lá com bikinis que ficam demasiado bem a moças normais mas demasiado horrível a moças desse calibre. Não digo para as moças gordas irem para a praia de fato de banho, isso é mesmo à anos 20, mas para não estragarem os bikinis reduzidos como estragaram as leggins;

  • Para terminar, uma coisa que eu detesto na praia são os grupos de pretos. Não sou racista nem sou daqueles que dizem que os pretos não precisam de ir para a praia. Se eu vir um preto na praia, tudo bem, nada contra. Se eu vir dois pretos na praia, também tudo bem. Mas se eu vir um número superior a 3 pretos juntos na praia, passa a ser um grupo de pretos e que fazem uma das coisas que mais detesto na praia: falam alto, umas vezes em português outras vezes em crioulo, sem critério nenhum, cantam, tocam jambé ou djambé ou lá como é que se escreve e o pior é que se fosse eu, o Gary e o Lucindo a fazer isso éramos uns parolos, mas como é um grupo de pretos até vão para lá moças porque acham piada. E mais! Os ciganos quando estão na praia ou no metro também se põem a cantar e toda a gente foge deles. Até os grupos de pretos. 





Perante isto, já não vou para a praia há mais de um mês. Agora é esperar que passe Agosto e que continue sem emprego para poder aproveitar bem Setembro e Outubro, que depois começam a entrar os dias de frio e deixa de se poder fazer praia. O pior é que tem sido extremamente difícil arranjar algo que fazer sem ser ir à praia. O COJDIV está fechado em Agosto, o Gary disse-me que não pode sair porque está a avaliar de 0 a 10 o desempenho do Bruce Willis em todos os filmes em que entra para depois escrever um ensaio só para passar o tempo e o Lucindo disse-me que eu já tenho tudo arranjado em minha casa e ele não tem mais trabalho aqui. Por isso, lembrei-me disto e pronto. Se alguém se sentiu ofendido que comente, que eu estou a precisar de alguma coisa para fazer.







P.S.: Não me lembrava se fazia PS's ou não mas afinal fazia. Não sei bem o que fazer neste. Alguém sabe se há uma relação entre moços musculados e moços com tatuagens? Eu acho que para aí 95% dos moços que fazem musculação têm uma tatuagem e explico porquê: os moços que andam no ginásio gostam mais de treinar peito e braço e, por isso, ficam muito mais inchados em cima do que nas pernas. Mas acredito que esse gosto se deva ao facto de também fazerem mais tatuagens nos membros superiores do que nos membros inferiores e, por isso, quanto maior for o braço ou o peito mais espaço há para fazerem tatuagens. Quem não concordar que o diga nos comentários para podermos debater isso até Setembro. Quem concordar, que deixe o nome e a morada para enviar o convite para a minha festa de anos. 


terça-feira, 29 de julho de 2014

Já não escrevia há 19 dias mas já vão perceber porquê


Olá. Pode parecer estranho ter ficado tanto tempo sem vir aqui mas já vão perceber porquê. De facto, tenho que dar razão ao Gary, é mesmo complicado chegar aqui passado um montão de dias sem dizer nada e estar para aqui com explicações sem fazer disto o meu diário e sem dizer logo tudo nas primeiras 3 linhas e depois ficar sem mais nada para dizer. Mais vale fingir que ainda ontem estive aqui a fazer um texto e ignorar o facto de não ter dito nada durante 19 dias. O Venâncio disse-me que essa é uma técnica muito utilizada por moças de forma a induzir as saudades nos moços, que os leva a fazerem gestos mais românticos para as ter de volta. O Venâncio também me disse que essa técnica tem resultados muito maiores quando já houve actividade sexual entre o moço e a moça. Já o meu tio sempre me disse o contrário, que mal se tenha actividade sexual com uma moça deve-se acabar o romantismo, porque já não é preciso para nada.



Por falar em romantismo, acho que estou apaixonado pela Vera. Antigamente chamava-lhe Vera da Contabilidade mas ainda esta semana estava a falar com o Venâncio sobre ela e ele disse-me que chamar-lhe «Vera da Contabilidade» era como se tivesse uma irmã chamada Vera ou, pior ainda, como se andasse a sair com outra moça chamada Vera e então tivesse que as diferenciar pelo ramo em que trabalhavam. Ia ser-me estranho chamar-lhe só «Vera». O Sebastião disse-me que quando namorava raramente chamava a moça pelo nome, ou lhe chamava «amor», «bebé», «princesa», «gominha» ou «fadinha». Depois disse-me que se arrependia de ter chamado esses nomes todos e que se soubesse o que sabia hoje chamava a moça pelo nome, de modo a não conseguir parecer um autêntico homossexual mesmo que andasse a namorar com uma moça. Acho que nunca chamei a Vera por nenhuma alcunha. Quem gosta disso é a Xana da cantina, que sempre me disse que lhe podia chamar o que eu quisesse. Já que ela me deixou escolher optei por lhe chamar «Xana da cantina», que assim no dia em que conhecer outra Xana, pelo menos sei que não é «a da cantina», essa é outra.



Mas adiante que tenho mais coisas para contar e ainda não contei quase nada. Eu conheço muita coisa da Vera. Sei que o jogo preferido dela é o Candy Crush, sei que se estiver à espera do autocarro para ir para casa mais do que 3 minutos vai logo começar a jogar, sei que a actriz preferida dela é a Charlize Theron porque ela põe sempre 'Gosto' nas fotografias dela no Facebook e sei que a cor preferida em écharpes é roxo. Nesta parte tenho que dar crédito ao Venâncio que me disse que as moças detestam moços que dizem «cachecóis» em vez de «écharpes» porque revela insensibilidade e desconhecimento do universo feminino. Eu há muita coisa que desconheço do universo feminino, mas mais vale começar por algum lado. O meu tio nisto não foi grande ajuda porque me disse que as únicas coisas que devemos conhecer do universo feminino é como lhes dar prazer e como evitar ficar a conversar muito tempo com elas no pós-sexo. Certo é que apesar de saber muito sobre a Vera não estava preparado para o que ela me propôs no outro dia: convidou-me para ir para a praia. 



Lembro-me que uma vez a Xana da cantina me disse que se eu alguma vez a levasse para a praia que levasse uma toalha e uma garrafa de vinho e depois o resto era por nossa conta. Isso não me ajudou nada. Hoje em dia vejo aqueles moços na praia de cuecas, outros vão para lá com aqueles calções que parecem boxers e outros vão com aqueles calções grandões. E eu não sei o que levar. A Xana da cantina dizia-me que nem precisava de levar nada, que a toalha cobria-nos, mas ao contrário dela eu não conheço nenhuma praia de nudistas nem me parece que a Vera quisesse ir para uma logo na primeira vez que íamos os dois para a praia. Além disso, o Venâncio sempre me disse para ter cuidado porque a fronteira entre mostrar o que valemos e o exibicionismo é muito ténue e por isso é que ele deixou de andar de gabardina, que sempre que passava em parques públicos era olhado de lado e com desconfiança. Quando disse ao Sebastião que a Vera me tinha convidado para ir à praia com ela ele perguntou-me se a Vera usava bikini ou fato de banho. Disse-lhe que não sabia e o Sebastião disse-me que era importante saber isso, porque se ela fosse de fato de banho ia estar toda a gente a olhar para ela porque quem usa fato de banho na praia são as cinquentonas ou as nadadoras salvadoras. Aquilo intrigou-me ainda mais.



O meu tio disse-me que não gosta de ir à praia, que para olhar para moças despidas que não pode tocar mais valia ir para Amesterdão, que ao menos aí podia-se fumar ganza à vontade e se oferecesse dinheiro a uma dessas moças ela não levava a mal e ainda ia para a cama com ele. Quando partilhei as minhas preocupações com o Venâncio ele disse-me que ir para a praia com uma moça num dos primeiros encontros é sempre significativo porque vamos vê-la quase nua e ela a nós. Perguntei ao Venâncio se o que importava não era o convívio e ele disse-me que para «só conviver», convivíamos numa esplanada, vestidos e sem estarmos deitados um ao lado do outro. Aquilo assustou-me. Nunca tinha pensado na praia como numa prova de fogo que as moças nos faziam passar para avaliarem se seríamos bons amantes ou não. Sempre pensei que o que contava era a personalidade. E pensar que todas aquelas vezes que guardei lugar à Vera na mesa da cantina enquanto ela ia lavar as mãos ou na quantidade de mensagens que lhe enviei ou nas horas que fiquei por dormir por estar a trocar mensagens com ela à noite podia ir tudo por água abaixo no momento em que eu tirasse a camisola na praia ou que levasse uns calções ou demasiado curto ou demasiado compridos. A Vera quer ir à praia no sábado. Até lá, vou ser consumido por estas preocupações.







P.S.: Disse no título e na primeira linha do texto que vocês iam perceber porque é que não escrevia há 19 dias. Podiam pensar que tinha sido por causa do convite da Vera para ir à praia com ela mas não foi, isto foi uma coisa recente. Primeiro, descobri recentemente que sei jogar poker. O Lino convidou o pessoal lá da fábrica para ir a casa dele jogar um torneio. Ele faz sempre isto em Julho e Agosto, quando maior parte está de férias, para ninguém se descair e a polícia saber que ele organiza estes torneios. A primeira vez fui lá para beber uma cerveja e estar com o pessoal, já que agora é Verão e o pavilhão está fechado e então já não jogamos. Mas descobri que sei jogar mais ou menos bem e então tenho ido bastantes vezes. Com isso, durmo menos horas e depois em vez de vir aqui escrever prefiro ir dormir. O Gary diz que é o que eu faço melhor. É bom ter um amigo como o Gary que se preocupa com o meu bem-estar por dormir menos do que estou habituado. Mas quanto ao assunto da Vera, se alguém tiver alguma sugestão, por favor deixe nos comentários. Ajudem-me. Obrigado. 

terça-feira, 22 de julho de 2014

Uma ideia que vale milhões de euros


Depois de ter inventado protótipos de séries, provérbios para uma franja da população e para o mundo animal e revelado sinopses de filmes e trajectos turísticos em países aleatórios, senti que nem me lembrava que tinha sugerido inventar tanta coisa. Se me tivesse aplicado assim em Físico-Química hoje sabia a diferença entre um Ampere e um Volt. O meu professor de Físico-Química mandava sempre uma piada para não confundirmos uma carga de volts com uma carga de voltas a França. Ainda no outro dia vi que estava a dar Volta a França na televisão. Nunca percebi isso das «Voltas». Do que eu aprendi, dar uma volta acontece quando se começa o percurso num ponto, se segue por vários caminhos e no fim se volta ao mesmo ponto. Mas eles lá nas voltas no ciclismo começam sempre num ponto e acabam noutro e chamam-lhes «Voltas». Se eu fizesse isso num teste tinha negativa.



Mas adiante. Esta ideia já me surgiu há algum tempo, até escrevi sobre ela aqui no blog, mas voltei a lembrar-me dela ontem, quando estava a dar uso à canalização da Paulinha, na casa de banho dela. As casas de banho das casas das moças têm um problema: têm demasiados cremes e loções corporais e depois uma pessoa não tem revistas para ler, põe-se a abrir e a cheirar os cremes. Eu sai de lá com uma mão a cheirar a alperce e outra a cheirar a papaia. Parecia um iogurte. Ainda parecia mais já que há uns tempos atrás uma companhia de iogurtes fez um com sabor a Aloé Vera. Já não bastava as moças se empanturrarem de cremes, agora também os iam comer.



Então, que ideia é essa, perguntam os mais curiosos e sem saber que os 3 parágrafos de introdução são a minha imagem de marca. É simples: antes ou depois de qualquer Campeonato do Mundo, realizava-se o Campeonato do Mundo de equipas que nunca na vida vão chegar a um verdadeiro Campeonato do Mundo. Com o tempo, alguém iria dar um nome à competição para que não fosse assim grandão. A organização funcionava por convites às selecções que nunca sequer estiveram perto de entrar num Mundial a sério e sempre que alguma dessas começasse a evoluir, deixava de ir a estes Campeonatos do Mundo. Vejam lá como seria organizado:




  • Numa primeira edição, à imagem dos Campeonatos do Mundo a sério, ia ter menos equipas. Podia-se começar com apenas 16, divididas em 4 grupos de 4 selecções cada. Mas, contrariamente aos Mundiais a sério, os cabeças-de-série nesta competição iam ser as equipas que menos hipótese tivessem de realmente disputarem um Mundial a sério. Nesse sentido, já tenho 4 cabeças-de-série pensados: Quirguistão, Turcomenistão, Nepal e Gâmbia;

  • No segundo pote, ou seja, as equipas que não são tão fracas como as cabeças-de-série mas que podiam bem ser, na primeira edição estavam Tonga, Burundi, Bangladesh e Antígua e Barbuda. Eventualmente, as Ilhas Fiji seriam colocadas neste pote, mas como eles se podiam lembrar de levar para lá a selecção de rugby, é melhor não arriscar;

  • O pote 3 continha aquelas selecções que sabiam que 4-4-2 era uma táctica e não um indicativo de telefone de um país ou de um gang. Assim, para este grupo penso por exemplo no San Marino, em Barbados, no Malawi e na Namíbia;

  • Por último, o pote 4 era o extremo oposto dos cabeças-de-série, ou seja, eram aquelas equipas que conseguiam fazer 3 passes seguidos sem ser à sorte e que tinham um treinador que não ia para os treinos com um apito só porque ia a seguir ter ensaio do rancho folclórico. Assim, aqui podiam ficar, por exemplo, Luxemburgo, Ilhas Faroé, Serra Leoa e El Salvador;

  • O sorteio era feito à sorte, às vezes selecções do mesmo pote ficavam no mesmo grupo porque o que estava a fazer o sorteio se enganava a tirar as bolas mas não havia problema. Servia-se álcool, havia aparições de humoristas e um combate de boxe no fim. Assim, as pessoas assistiam a um espectáculo divertido e acabava-se com o estereótipo que na FIFA só há gente manipuladora, demasiado séria e calculista;

  • A organização da prova ficava a cargo de um país que tivesse participado no Mundial a sério. Eventualmente até podia ser no mesmo país que organizou o Mundial a sério, para as pessoas poderem ver mais futebol de selecções e se rirem mais um bocadinho. O objectivo era animar a vida das pessoas e dar a oportunidade a alguns países de disputarem um Mundial, ainda que não fosse a sério, como o outro;

  • Durante as transmissões dos jogos, os espectadores tinham a possibilidade de responder a perguntas sobre os intervenientes. Por exemplo, durante o Quirguistão x Barbados, surgia a seguinte pergunta no ecrã: «Antes de ser padeiro, Ceri Daho, médio esquerdo de Barbados, trabalhava num talho, num supermercado ou a vender máquinas de lavar louça?». Depois, no fim do jogo ou ao intervalo, consoante a pergunta surgisse na 1ª ou na 2ª parte, as pessoas sabiam se tinham acertado ou não. Não ganhavam prémios, só a consolação de terem acertado. Quer dizer, podiam ganhar, bastava terem feito uma aposta com alguém que estivesse a ver o jogo com eles;

  • As flash-interviews no fim dos jogos não iam ter a formalidade que têm as dos Mundiais a sério. Por exemplo, o jornalista presente no Luxemburgo x Malawi podia perguntar ao avançado do Luxemburgo se alguma vez tinha conseguido ter relações sexuais com uma moça enquanto namorava com a irmã gémea dela. Ou perguntar ao treinador do Malawi se era verdade que o guarda-redes suplente ao pequeno-almoço pegava sempre em 3 Bolicaos e levava para o quarto para comer a meio da noite quando lhe desse a fome. 




Como vêem, ia ser algo que juntava futebol, Mundial e humor. Não havia melhor! Inicialmente, grande parte da população-alvo seriam desempregados, pessoas que consumissem substâncias psicotrópicas, viciados em apostas, alcoólicos, idosos ou aqueles moços que não sabem como passar o tempo entre o fim do Mundial a sério e o início dos campeonatos nacionais. Assim, viam mais Mundial mas um Mundial para rir e onde o tempo passava a voar. Mas depois, com o tempo, ia chamar a atenção de muito mais gente. Além disso, lembrei-me agora de uma regra, mas que não vou criar um ponto ali em cima só porque me lembrei agora: sempre que uma equipa empatasse 0-0 somavam 0 pontos, já que tinha sido isso que tinham somado à vida das pessoas: 0 golos, 0 emoção. Se uma equipa perdesse um jogo 2-1 ou 3-2, ganhava 1 ponto, enquanto a outra ganhava 3 e empates de 2-2 para cima dava 2 pontos, em vez de 1. Tudo bem que eu sonho vezes demais com marisco, mas é impossível dizerem-me que isto não dava milhões de euros à FIFA







P.S.: Quando estava a dizer que sonhava vezes demais com marisco não era uma crítica. Podia parecer, mas não é. Eu gosto de sonhar com marisco, se pudesse sonhar sempre com marisco adorava. Mas infelizmente nem tudo o que uma pessoa adora acontece. Basta pensar em como nunca vai haver um Mundial para equipas que nunca na vida vão a um Mundial. Não só porque ninguém vai partilhar da minha capacidade visionária de facturar milhões de euros à custa de países fraquinhos no futebol, mas também porque não tenho um nome para esta ideia. E ainda por cima não me sai nada, só me sai porcaria como «Mundial B» ou «Mundial dos Pequeninos» ou então títulos grandões como «Campeonato do Sub-Mundo Futebolístico». Relativamente aos títulos que tenho para esta ideia, sinto-me o Jorge Abel a fazer títulos para os textos dele. 

quarta-feira, 16 de julho de 2014

A semelhança entre os sonhos e o alcoolismo


No outro dia a Paulinha disse-me que tinha sonhado comigo. Por mim tudo bem, o problema foi quando ela me disse que não se lembrava do que eu tinha feito no sonho mas que ela tinha ficado chateada comigo. Isso também não me preocupou muito, afinal de contas, ela só tinha ficado chateada por causa de uma opinião dela, não de algo que aconteceu realmente. O pior foi quando eu próprio, umas noites depois, sonhei que o Rebelo fazia uma promoção na mercearia de cortar 40% ao preço das pêras, eu ia lá, trazia maçãs, trazia laranjas, trazia limões, pêssegos, morangos e kiwis mas esquecia-me de trazer as pêras. Depois voltava lá, mas quando chegava o Rebelo já tinha vendido as pêras todas e já não havia promoção. Nessa noite, arrependi-me de ter sonhado.



De resto, os sonhos nunca me serviram para grande coisa. Nunca sonhei que tinha um berbequim, nunca sonhei que tinha sido eleito o melhor lateral esquerdo do campeonato do Cazaquistão, nunca sonhei que sabia fazer polvo à lagareiro sem ter que ler as instruções e sem ter que ligar à minha avó e também nunca sonhei que tinha sido eleito democraticamente o Presidente da Associação dos vinhos de Alijó. Ainda que uma vez tenha sonhado que era um ditador de um país, não percebi bem qual, mas sei que quando ia à praia tinha para aí 5 escravos a abanarem-me folhas de palmeira enquanto eu bebia cerveja e era júri de uma competição de bikinis. Deve ter sido o meu melhor sonho de sempre sem envolver marisco.



Lembro-me que quando fiz aquele texto sobre os meus melhores sonhos houve gente que disse que eu parecia maluco (Paulinha). Houve outras pessoas que me disseram que tinham achado piada aos meus sonhos mas que detestavam sonhar (Tolentino), outra que me disse que a sua maior desilusão na vida era nunca ter tido um sonho erótico (Jorge Abel) e houve outro que não me disse nada porque embora tenha regressado aqui ao blog, às vezes parece que é 96 e como paga as mensagens para 91 não me diz nada (Teófilo). Mas pronto, agora vejam lá qual é a semelhança entre os sonhos e o alcoolismo:




  • As outras pessoas contam-te histórias que tu fizeste (seja nos sonhos ou nas festas de anos dessas pessoas) que a ti te parecem surreais e não tens qualquer consciência e/ou memória de as teres feito. E o pior é que na maior parte delas ou fizeste cagada ou figuras tristes;

  • Quando contas o que se passou contigo aos outros que não estiveram lá, as histórias soam todas a mentira, parecem confusas, desconexas e até tu, quando estás a contar, parece que não fazem qualquer sentido e que falta ali qualquer coisa que não consegues explicar;

  • Envolves-te com moças que não conheces de lado nenhum e que na altura te parecem ser muito boas no que fazem e serem daquelas moças que qualquer um ia ficar com inveja de ti, mas no dia a seguir já duvidas que fossem realmente assim tão boas e até tens medo de saber quem era mesmo a moça com quem te envolveste;

  • Se alguém te interromper a meio de uma situação em que estás com uma (ou mais, em alguns casos) moça sentes mais embaraço de toda a situação do que orgulho;

  • Em situações mais confusas e que te fogem claramente ao controlo, podes ter situação desconfortáveis para ti em que tens uma interacção mais próxima do que seria desejável com outro homem (no caso das moças é ao contrário);

  • Alguns dos teus valores e princípios são completamente atropelados em nome da satisfação de caprichos pessoais e da obtenção de prazer próprio;

  • Em ambos os contextos acabas por te sair muito melhor do que quando estás sóbrio e consciente em determinadas tarefas e/ou situações específicas, seja pela noção que tens da situação, seja por realmente te teres saído bem;

  • Em ambas as situações, quase nada do que tu faças está ao alcance e ao controlo da tua consciência, respondes quase sempre por impulsos e pela satisfação das tuas necessidades;

  • Quem passa por ti e te apanha ou a sonhar ou alcoolizado das duas uma: ou se ri do que vê e/ou ouve e no dia a seguir conta-te para gozar contigo mas num ambiente descontraído ou fazes/dizes alguma coisa que vai deixar o outro completamente desconfortável e a pensar se deve abordar o assunto na próxima vez que te vir ou falar contigo.





Este texto é sobre a semelhança mas, como é hábito, no parágrafo de conclusão vou ter de mencionar aquilo em que os sonhos e o alcoolismo diferem. Nos sonhos, estou frequentemente rodeado de marisco, seja em situações agradáveis onde eles me proclamam o representante deles no Parlamento dos Oceanos, seja em situações menos agradáveis onde eu e uma garoupa somos assaltados por uma lampreia. No entanto, quando estou alcoolizado nunca me apetece comer marisco. Nem sequer aqueles patês de creme de sapateira, esses normalmente até como no início de uma noite que vai ser regada a álcool. A Paulinha diz que não me gosta de ver alcoolizado porque falo com toda a gente e confundo o Egipto com um tio dela que se chama Egídio e então estou sempre a chamar Egídio ao país e Egipto ao tio dela. Ainda que Egipto fosse um nome que desse mais pinta e estilo do que Egídio.








P.S.: Alguém mais preocupado com as questões gramaticais e com a correcção da Língua Portuguesa perguntar-me-ia porque é que no título falo de «alcoolismo» e não de «eu, sujeito individualizado e com personalidade própria personalizada» (é uma definição digna de constar na Diciopédia, admitam) estar «alcoolizado». Eu, com a minha sinceridade, posso dizer-vos que optei por «alcoolismo» porque me apeteceu. O blog é meu e eu é que sei os títulos que dou aos meus textos. E se me apetecer até mudo os títulos todos dos textos do Jorge Abel só porque me apetece. Aí sim, iam ver como o blog era meu em vez de se porem para aí a duvidar e a questionar os meus títulos. 

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A vida podia ser como uma nota de 5€: simples mas valiosa


No entanto, não é bem assim. Esta conversa tive-a com o Venâncio no outro dia, quando falávamos de como a vida é complicada e como as pessoas ainda a tornam mais complicada ainda. Tivemos este tempo todo para falar porque é Julho, está um montão de gente de férias na fábrica e então todos temos menos trabalho e mais tempo livre. O Venâncio até já me disse que aprendeu a jogar aquele jogo das minas no computador e teve tempo para criar uma sessão dele no computador da entrada, assim o moço do turno da noite quando jogar Freecell estraga a estatística ao «Geral» e não na sessão do Venâncio. Já antes de falar com o Venâncio, por várias vezes, tinha pensado como a vida é demasiado complexa quando podia ser tão fácil. A primeira vez que falei sobre este tema foi com o Sebastião. Ele disse-me que a vida é como aqueles jogos de computador em que nós jogamos no «Fácil» e chegamos ao fim sem dar pica. Depois jogamos no «Médio», dá mais pica e tem mais dificuldade mas chegamos ao fim na mesma. Depois vamos jogar no «Difícil» estamos sempre a perder e a levar pancada, desistimos e jogamos outra vez no «Médio».



Uma vez, quando ia levar o meu tio a Felgueiras, ele disse-me que levar uma moça para a cama era fácil, difícil era conseguir que ela no fim nos emprestasse dinheiro para o táxi, esquecendo-se que tínhamos sido nós a dar-lhe boleia até casa ou até ao hotel. Isso fez-me pensar em como cada pessoa vê a vida de uma maneira muito pessoal. O meu tio disse-me que era fácil levar uma moça para cama mas era difícil pedir-lhe dinheiro emprestado, quando para mim é bastante difícil levar uma moça para a cama, mas ainda anteontem eu só tinha uma nota e a Vera da Contabilidade pagou-me o café lá na máquina da fábrica. Lembro-me que a Xana da cantina uma vez me disse que nem todas as moças gostavam que as levassem para a cama e que ela, por exemplo, se contentava em que eu a levasse para a casa-de-banho ou para a dispensa da cozinha. Nunca tinha entrado numa dispensa da cozinha, mas já tinha entrado uma vez por engano numa casa-de-banho de mulheres. Passados uns dias fui ter com a Xana e perguntei-lhe se podíamos ir ver a dispensa mas ela disse-me que não porque estava lá o Sr. André. O Venâncio tem razão, as promessas das moças têm prazo de validade.



O Gary sempre me disse que nunca devemos fazer pelas moças mais do que um quarto daquilo que elas podiam fazer por nós, porque isso ia fazer com que elas elevassem as expectativas para o sexo masculino, ia aumentar os padrões de exigência e a percentagem de solteiros crónicos ia aumentar drasticamente, pondo em perigo a humanidade. Por outro lado, o Venâncio sempre me disse que devemos exigir às moças um quarto daquilo que elas nos exigem a nós, de maneira a que elas tenham o poder da relação e assim, se um dia acabar, quem comandava é que tem culpa, não nós. Toda esta confusão levou a que repensasse a minha situação com a Vera da Contabilidade. Ela a mim só me exigiu que eu fosse sempre sincero, que nunca traísse a confiança dela e que lavasse sempre as mãos depois de ir à casa de banho, mas o Venâncio sempre me disse que as maiores exigências das moças são aquelas que elas nunca nos disseram. O que é estranho, já que o meu tio me diz que as únicas exigências que as moças lhe fazem é que ele pague adiantado e em dinheiro. 



Até com o meu patrão falei sobre isto, que ele é divorciado e, por isso, percebe mais do assunto. Além disso, todos os anos conduz um seminário sobre assédio sexual e o Venâncio disse-me que desde que ele lá está que já entrevistou no escritório dele umas 10 secretárias, ainda que a secretária dele seja a mesma desde 2005. Encontrei-o na pausa para o café, que ele estava a fumar um cigarro e ele disse-me que o segredo em ter sucesso com as mulheres é como o segredo para deixar de fumar: toda a gente sabe qual é mas é tão difícil de conseguir que uma pessoa passado algumas tentativas desiste de vez. Perguntei ao meu patrão o que é que achava mais complicado, a vida ou as moças, e ele disse-me que eram as moças porque se não existissem moças a vida era muito mais simples. Fiquei a pensar nisso por um bocado e não concordei com o meu patrão. Além da Vera, na Contabilidade trabalham lá mais 5 moças e o Sr. Matos. Depois tem a Xana na cantina e as empregadas de limpeza são todas mulheres. Sem mulheres, ia gastar um dinheirão a ir almoçar todos os dias ao café, que o Sr. André só sabe fazer torradas e tostas mistas. 



Depois de tudo isto acabei por tirar uma conclusão: as pessoas é que complicam a vida. O meu tio disse-me uma vez que para se levar uma vida tranquila é preciso não dever dinheiro a ninguém, não ter dormido com a mulher de ninguém importante e não ter agredido nenhum polícia. O Sebastião disse-me que que para se levar uma vida tranquila é preciso ter-se um sistema para se garantir que se fechou o carro e que se desligou o gás. Isso não me ajudou em nada com as minhas dúvidas perante a Vera, mas lembrou-me que a minha mãe às vezes se lembra de ligar o gás para não gastar luz, porque o gás é mais barato que a luz. O Venâncio disse-me que a vida deve ser vivida como uma nota de 5€: é simples, muita gente não lhe dá o devido valor, mas é valiosa e quando nos inteiramos, já gastamos os 5€ em coisas fúteis. Depois deste conselho do Venâncio, decidi mandar uma mensagem à Vera mas não consegui porque não tinha saldo. Só depois de sair da fábrica é que fui carregar o telemóvel, com uns valiosos 5€. Valiosos porque foi à custa deles que consegui mandar mensagem à Vera da contabilidade.







P.S.: A Vera respondeu-me pouco depois de lhe ter mandado mensagem. Disse-me que hoje o dia na Contabilidade tinha sido caótico e que ela nem saiu do gabinete para ir almoçar, que comeu um chocolate da máquina. Perguntei-lhe que chocolate e ela disse-me que gostava de estar comigo hoje à noite. Eu fiquei contente pelo interesse dela em estar comigo quando podia muito bem ficar em casa a jogar Candy Crush no telemóvel, que eu sei bem como ela gosta disso, mas fiquei sem saber que chocolate é que ela comeu. É que uma vez comi um Snickers e aquilo deu-me bem para uma tarde inteira, mas já houve um dia em que comi um Kit Kat e passados vinte minutos estava a comer uma torrada. Certo é que fiquei a pensar se ela tinha comido um Kit Kat e passado fome o dia todo ou se tinha comido um Snickers e tinha ficado bem o resto do dia. Percebi que a Vera é a minha nota de 5€ que eu vou guardar na minha carteira e só gastar quando for mesmo necessário. E quando digo carteira, digo o meu coração, foi uma metáfora. Se eu tivesse aprendido isto na escola, as minhas composições nos testes de Português davam para eu subir para o 4.