segunda-feira, 31 de março de 2014

Profissões com futuro


Ontem dei por mim a pensar no futuro, quando a Paulinha me perguntou o que é que eu gostava de almoçar hoje. Se me perguntasse isto hoje de manhã, nunca na minha vida ia pensar que estava a pensar sobre o futuro, mas como me perguntou ontem e me obrigou a pensar numa coisa que só ia acontecer no dia a seguir, pôs-me a pensar no futuro. Acho que começo a ser daqueles moços que mudam a partir do momento em que se envolve sexualmente com frequência e em regime de exclusividade com uma moça. Eu nunca tinha dado por mim a pensar no futuro e a Paulinha fez-me isso ontem. Não sei em que mais coisas mudei, se tiver mudado digam-me. Até podem dizer nos comentários, para toda a gente ver, que provavelmente não vou ter nenhum comentário e assim as pessoas vão ver que não mudei assim tanto. As pessoas e eu, que ainda estou aqui um bocado na dúvida.



Mas isto de pensar no futuro é contagiante. O que vou almoçar amanhã? Será que daqui a 50 anos as pessoas vão-se rir desta geração que passava imenso tempo em elevadores? Será que daqui a 10 anos o Mundo se vai esquecer que o Lesoto é um país? Há tanta coisa para pensar sobre o futuro que escrevi 50 temas em papéis, meti-os dentro de um saco de plástico, abanei aquilo tudo, tirei um ao calhas e saiu «Profissões». Não sei que profissões novas podem existir no futuro, por isso comecei a pensar em profissões que não vão existir no futuro como os sapateiros, os amoladores ou os calceteiros. Também não vão existir fotógrafos, porque agora toda a gente é fotógrafa, basta ter uma máquina e Instagram. Por isso, pensei em profissões actuais que têm muito futuro.



Pronto, esta é aquela altura em que podia já ter começado a escrever as profissões com futuro e o porquê, mas que não o vou fazer para manter a minha imagem de marca de 3 parágrafos de introdução, em que o terceiro é ligeiramente mais pequeno. O psiquiatra do Lucindo disse-lhe que o que provoca maior desconforto psicológico são as mudanças bruscas. Eu acho que são mesmo as doenças psiquiátricas, mas para não arriscar, não vou mudar a forma como escrevo os meus textos, por isso, três parágrafos depois, cá vão as profissões com futuro:



  • Nutricionistas. Começo por aquela que acho que vai ter mais futuro e que vai reflectir melhor o paradoxo da sociedade moderna. Por um lado, vai haver cada vez mais gordos e gente a fazer fila no McDonalds e no Burger King, mas por outro lado esses mesmos gordos vão querer, chegando ao ponto sem retorno, ficar em forma e então vão procurar um nutricionista. Nos primeiros 15 dias, fazem tudo direitinho, até vão andar para as marginais e para os parques, mas depois um amigo, uma amiga ou um familiar faz anos e voltam a comer as entradas todas e 3 sobremesas no fim;

  • Electricistas. No outro dia, quando o Lucindo me veio aqui, voluntariamente, reforçar os canos de todos os lavatórios para nunca pingarem, disse-me que daqui a 10 anos não vai haver picheleiros e que nos últimos 10 anos não se fizeram picheleiros honestos e que o casamento dele já fez 10 anos há 8 anos e muitas outras coisas que entretanto não prestei atenção. Mas o que vai haver é electricistas ou, pelo menos, reparadores de microondas, que no futuro quase ninguém vai saber cozinhar e então 80% da população vai fazer do microondas o seu cozinheiro e, sempre que este electrodoméstico avariar até vai haver números de emergência 24h como aquele autocolante dos desentupimentos que há em todas as cidades;

  • Caixa de supermercado. Diz-se que no futuro, muitos trabalhos vão ser substituídos por máquinas ou por robots. Também já vi um filme em que os robots dominam o Mundo e até mandam um moço para o passado para matar uma moça que é empregada de mesa mas que no futuro é alta revolucionária. Lembrei-me de outro filme em que os robots se revolucionam mas há um que é bom e ajuda o Will Smith. Mas se há profissão com futuro é caixa de supermercado, pelo menos para supervisionarem as caixas self-service, que sempre que vou ao supermercado, essas caixas são as mais lentas porque as pessoas querem-se despachar, fazem tudo mal e a moça que lá está anda sempre de um lado para o outro a fazer ela o trabalho, como se fosse uma caixa normal;

  • Técnico Informático. Actualmente, as pessoas dominam cada vez mais as tecnologias e têm um acesso facilitado a tudo isso. Por causa disso, diz-se que as pessoas passam cada vez mais tempo ligadas à Internet do que em contacto pessoal. Por isso, um técnico informático, mais que arranjar computadores e essas coisas todas, vai ser uma espécie de «gestor de relações humanas» porque se alguém tem o computador estragado não comunica com os amigos e isola-se da sociedade. Já para não falar que com a ausência deste contacto, a pornografia vai satisfazer muitos impulsos e os computadores vão andar para aí carregados de vírus. No futuro, o técnico informático, tal como os picheleiros, vai fazer serviços ao domicílio, para as pessoas não terem de sair de casa por causa disso;

  • Advogado. A advocacia é um campo com um vasto passado, com grande aplicação no presente e com uma continuidade inegável no futuro. Se há coisa que nunca vai desaparecer são os advogados, até porque se há coisa que as pessoas nunca vão deixar de fazer é de fazerem merda e de haver quem queira acusar os outros de terem feito merda. Os advogados, por isso, nunca vão acabar, até porque quem acusa precisa de alguém que acuse por si para serem mais incisivos, enquanto que os que fazem merda precisam de alguém que os defenda para que não pareçam desculpas esfarrapadas. Nisso, os humanos são iguais há 500 anos;

  • Chinês. Muitos de vocês, os mais sensíveis, estão para aí a reclamar que já vou ser chinófobo (um termo ainda em aprovação) e lançar um monte de estereótipos e preconceitos sociais contra os chineses e contra os asiáticos em geral, já que é percepção comum de que qualquer pessoa com olhos em bico é «chinoca». Lamento informar que dizer «chinoca» não significa que seja chinês, é um termo generalizado para abranger uma raça humana. Mas, no futuro, chinês vai ser uma nacionalidade e uma profissão, que com o anunciado domínio da China sobre o Mundo, as pessoas vão ter um prazo de 10 anos para aprenderem a falar chinês fluentemente ou então serem fuziladas e vai-se andar para aí a recrutar chineses a torto e a direito para aprenderem a falar a língua deles. Eu vivia 9 anos e 10 meses sem aprender chinês. Depois ia viver para Idanha-a-Nova, que não há chineses aí;

  • Psiquiatra. Hoje em dia está na moda ir-se ao psicólogo. Uma moça chora a ver um filme, está deprimida. Um puto corre na sala de aula, é hiperactivo. Um puto estúpido leva um cachaço de outro puto estúpido e isso é bullying. Um moço confunde um pastor alemão com um minotauro e está com um delírio psicótico e com indícios de esquizofrenia paranóide. Esta última aconteceu-me a mim e acho que foi claramente exagerado. E ninguém acreditou que eu tinha comido frutos do bosque antes mas que não eram de um bosque e que, por isso, podiam bem ter sido drogas. Porém, se os psicólogos estão na moda, os psiquiatras são a profissão de futuro. É que há 100 anos atrás, havia meia-dúzia de malucos com os quais as pessoas se riem, agora o que não falta aí são avariados da cabeça a esfaquearem pessoas porque viram na televisão e acham piada. E imagino daqui a 10 ou 15 anos. Ir ao psiquiatra vai ser como ir ao dentista ou ao ginásio;


  • Actor. Para terminar, vou voltar atrás mas a olhar para a frente. Além disso, deixo os actores para o fim porque graças ao Ricardo Carriço não respeito os actores. Além de ter abandonado de fazer as vozes do SpiderMan para fazer 1001 novelas em que ou fazia de banana ou de vilão, uma vez apanhei-o numa estação de serviço e ele meteu-se à frente de todos na fila só para ir embora mais depressa. O Jorge Abel diz que não era o Ricardo Carriço, mas ele lá sabe, ele só vê novelas brasileiras. Se fosse o António Fagundes ou o Tony Ramos confiava nele, agora para o Ricardo Carriço não. Mas adiante, com as pessoas fechadas em casa sempre a ver séries e filmes na Internet, os actores vão ter muito trabalho e vai ser uma profissão de futuro. Os guionistas, produtores e essa cambada toda também, mas sem actores, queria vê-los a trabalhar.




Se algum de vocês tiver mais alguma profissão que eu não me tenha lembrado, tenho 3 coisas para vos dizer: 1) estas são as profissões que EU acho que tenho futuro, não era suposto serem profissões que VOCÊS acham que têm futuro; 2) se eu fizesse mais alguma profissão ainda vinham para aí voltar a dizer que os meus textos eram longos, enfadonhos e que era desgastante ler tudo e eu não ando para aqui à procura que me elogiem pelos meus textos, prefiro que me elogiem pelo meu corte de cabelo ou pelos meus conhecimentos cinematográficos; 3) se alguém quiser dizer as profissões que se lembrou e que não estão aqui façam um texto no vosso blog sobre isso, quero ver como se safam, que depois vou para lá eu dizer das que se esqueceram, como se isto fosse uma lista de todas as profissões com futuro e não apenas das que me lembrei. Esqueci-me de dizer mais uma coisa, mas não vou mudar ali em cima e dizer que tinha 4 coisas para vos dizer. Assim, vai no P.S., ali em baixo. Olha carreguem lá no 'Page Down'.








P.S.: Se ninguém escrever nos comentários no que é que eu mudei, podem aproveitar para escrever lá outras profissões que vocês se lembrarem. Se alguém escrever nos comentários coisas em que eu mudei só por andar a ter relações sexuais frequentes com a mesma moça em regime de exclusividade, então escrevam para lá profissões à vontade. Se tiverem 3 profissões que se lembraram, façam 3 comentários, que assim ninguém precisa de ver que eu mudei só porque ando a passar mais tempo com a Paulinha. Mas digo-vos já uma coisa em que não mudei: ainda hoje fui sozinho ao COJDIV ver uma conferência sobre as implicações gastronómicas que a descoberta do polvo teve no século XVII na Península Ibérica. 


terça-feira, 25 de março de 2014

Hoje fui trabalhar de directa e jurei que nunca mais


Desta vez vou logo ao título, que noto que as pessoas gostam mais dos textos do Lucindo em que ele fala logo do que diz no título em vez dos textos do Gary onde têm que ler 3 parágrafos ou carregar 5 vezes no 'Page Down' para chegarem à parte onde se fala do título. Ontem foi o aniversário do Lino, aquele que me convidou para ir jogar com o pessoal da empresa. O plano era irmos jogar na mesma entre nós e depois do jogo irmos jantar fora e sair, que a namorada do Gomes era RP de uma discoteca qualquer e metia-nos lá dentro sem esperarmos muito. Curiosamente, quando conhecemos a namorada do Gomes ela chamava-se Bárbara, por isso não sei de onde veio o RP, provavelmente alguma alcunha ou piada sexual que só ela e o Gomes percebiam. O Venâncio disse-me que uma das formas de intimidade de um casal eram as suas piadas privadas, por isso é que o Gomes e a Bárbara já namoram há 4 anos.



Eu a princípio nem me apetecia muito ir. O pessoal é fixe mas tirando o Lino que uma vez me emprestou umas meias para jogar e o Maicon, que é um moço brasileiro que trabalha connosco e que joga muito bem e que me pediu para beber um bocado do meu Isostar no fim de um jogo e desde aí cumprimenta-me sempre na fábrica, não me dou bem com mais ninguém. Só que houve alguém que falhou e o Lino convidou o Sebastião para ir jogar e depois jantar e sair. Com o Sebastião já era diferente, já tinha alguém com quem falar mais tempo e sobre mais temas, que o Gary sempre me disse que era de mau tom ir jantar em grupo e estar o jantar todo só a ouvir as conversas e a rir-me, sem dizer nada ou sem as pessoas me verem a falar com alguém pelo menos. O Venâncio disse-me que sempre que ia jantar com uma moça, antes preparava um conjunto de temas sobre os quais podia falar caso a conversa não fluísse naturalmente. No caminho para o jogo, perguntei ao Sebastião que temas achava que devíamos ter para falar com os outros, mas ele não sabia nenhum e só me disse para não falarmos no divórcio do patrão que o Santos andava a comer a ex-mulher do patrão.



O jogo correu bem. A minha equipa não ganhou mas ao menos não me fizeram nenhuma cueca. Ao Sebastião também não, mas ele era da outra, por isso ganhou mais que eu. Quando estava a tomar banho, reparei que o Lino tinha uma tatuagem de um golfinho no ombro direito. Podia ser um bom tema de conversa ao jantar, falar da tatuagem do golfinho do Lino e perceber se é por ter aquela tatuagem que dá cargas de ombro com tanta força a jogar. Depois até lhes podia dizer que eu também já tive uma tatuagem, era uma caveira que saiu nas chiclets Gorila, mas mal a minha mãe viu aquilo obrigou-me a lavar o braço e fiquei sem ela. O meu tio diz que as moças que têm tatuagens ao fundo das costas são as que dão mais gosto de levar para a cama porque fazem tudo sem restrições. O Venâncio disse-me que o amor é como uma tatuagem, porque até o podemos tapar com outros artifícios mas nunca sai e por vezes arrependemo-nos de ter tomado tal decisão. Foi uma pena o Venâncio ter ficado a fazer o turno da noite e não ter podido vir connosco, ia ajudar muito a este meu tema de conversa.



No jantar, ninguém falou do jogo. Toda a gente estava a contar histórias embaraçosas do Lino ou que tinham vivido com o Lino ou que o Lino lhes tinha feito. Eu e o Sebastião estávamos calados, até que o Gomes se virou e disse a toda a gente que eu andava a tentar comer à força a Vera da Contabilidade. Toda a gente se riu mas eu não achei muita piada. Se calhar sempre é verdade que não tenho sentido de humor, e o Venâncio que sempre que disse que as moças gostam mais de um moço com um bom sentido de humor do que um moço com um bom bícepe. O meu tio, por outro lado, disse-me que as moças gostavam era de um moço que tivesse uma boa conta no banco, enquanto o Gary me disse que as moças gostavam era que as olhassem nos olhos quando estivessem a falar com elas. Até o Sebastião se riu e contou a história daquela vez em que ela se sentou ao meu lado e eu a interrompi de jogar Candy Crush para meter conversa e ela me deu grande corte. Não me deu corte nenhum! Estava era concentrada a jogar Candy Crush e não tinha resposta para a pergunta que eu lhe fiz.



Como o Venâncio sempre me disse que quando teve decepções amorosas se mergulhou no álcool, decidi fazer o mesmo para as decepções pessoais. Bebi tanto que só me lembro de estar na discoteca da Bárbara, ou RP, ainda não percebi a piada mas já que toda a gente diz que ela é RP também a chamo assim, a mandar mensagem à Xana da cantina a perguntar porque é que ela insiste sempre que eu vá lá a casa quando eu nunca a convidei para minha casa. Hoje de manhã tinha uma mensagem da Xana a dizer que em minha casa viviam mais 4 pessoas enquanto na casa dela podíamos fazer barulho por 4 pessoas que só íamos estar lá nós os dois. Com a dor de cabeça com que estava, se havia coisa que não queria hoje era de barulho nenhum. Saímos da discoteca às 6h e tal da manhã e o Lino propôs irmos todos tomar o pequeno-almoço, menos o Santos que estava na casa-de-banho a vomitar e o Sebastião que tinha ido para casa de uma moça. Ele nunca me vai perdoar eu não ter dado por nada nem ter qualquer memória disso. Mas depois ele conta-me tudo direito. Eu sei é que comi um croissant ao pequeno-almoço e bebi Um Bongo, enquanto o Lino e os outros beberam um fino e comeram umas 20 torradas entre todos. Se estivessem com a dor de cabeça que eu estava, de certeza que não tinham comido aquilo tudo.







P.S.: Hoje na fábrica o tempo demorou eternidades a passar. Hoje na pausa para café nem fui falar com o Venâncio, porque como ele tinha feito o turno da noite, hoje de manhã folgou. A Xana veio-me perguntar se eu queria tratar da dor de cabeça em casa dela, que ela na cama tinha uma almofada especialmente eficaz a curar dores de cabeça e o colchão dela também curava dores de cabeça, se eu me deitasse lá com ela. Agradeci a oferta, mas ela só saía às 19:00 e eu mal saísse às 17:30 ia para casa para escrever rápido aqui no blog o que me tinha acontecido e ir dormir. Estou com uma dor de cabeça tão grande que nem vou corrigir os erros nem fazer sublinhados nem nada disso, o Gary que faça. Agora vou dormir e só acordo amanhã. Sem dor de cabeça, espero. Quem seria a moça com quem o Sebastião foi para casa? 

domingo, 23 de março de 2014

A diferença entre ser um pensador social e uma pessoa normal


Por esta altura, algum de vocês mais atento, mais mesquinho, mais exigente, mais perfeccionista e mais implicativo perguntaria porque é que pus «pessoa normal» e não «moço normal» no título. O que eu digo é que essa pergunta é tão mesquinha, tão exigente, tão perfeccionista e tão implicativa que até parece que fui eu que a fiz a mim mesmo e não nenhum de vocês. No entanto, o Ramalho Drogas garantiu-me que com os anti-psicóticos que ele me orientava ia deixar de fazer perguntas a mim mesmo e a responder como se tivesse sido outra pessoa a perguntar-me. Sinto algumas saudades de conversar comigo sem saber que o estava fazer, sempre era mais imprevisível do que falar com o Jorge Abel que agora, mais tarde ou mais cedo, ou fala da Xana da cantina ou fala do Sebastião. 



Os mais previsíveis de vocês os 3 devem estar a perguntar-se o que é que eu entendo por pensador social. Desta vez vou fazer-vos a vontade e responder à vossa pergunta, ainda que tenha sido eu a fazê-la por vocês. Para mim, um pensador social é aquela pessoa que gosta de falar para os que estão consigo como se estivesse a falar em público, reflectindo sobre tudo o que o rodeia, sempre com uma perspectiva crítica relativamente às atitudes de outros (que não necessariamente os envolvidos na conversa) e numa perspectiva de auto-valorização. Os pensadores sociais encontram-se facilmente em lojas do cidadão, em talhos, em supermercados, em transportes públicos, em programas de televisão onde se recebam chamadas telefónicas, nas redes sociais e em locais onde normalmente exista muita gente e se esteja ou à espera de ser atendido ou à espera de chegar a um destino.  



Digo pensador social porque os que pensam sobre a sociedade têm nomes próprios e científicos. Pensador social é um nome tendencialmente depreciativo que qualquer criança ou comido do cérebro podia facilmente inventar. E, por isso, hoje vou explorar a diferença entre ser um pensador social e uma pessoa normal:




  • Uma pessoa normal exprime as suas opiniões sabendo que outras pessoas poderão pensar de maneira diferente. Um pensador social exprime as suas verdades absolutas sabendo que outras pessoas poderão estar completamente erradas ao ter uma perspectiva diferente;

  • Uma pessoa normal fala para ser ouvida pelas pesssoas que estão consigo. Um pensador social fala para que o máximo de pessoas possível ao seu alcance o consiga ouvir, mesmo que não tenham nada a ver com a conversa e não queiram ouvir. Eventualmente, um pensador social pode interpelar os outros, alheios à conversa, com um «não acha?»;

  • Uma pessoa normal procura que os outros concordem consigo e validem as suas opiniões. Um pensador social procura ser idolatrado e que as pessoas ao seu redor vão para casa a pensar «isto sim é um exemplo para a humanidade»;

  • Uma pessoa normal tem opinião sobre alguns temas e sobre outros não fala ou reconhece que tem limitações. Um pensador social é perito em todas as áreas possíveis e tem sempre uma opinião sobre qualquer tema, através da qual consegue ensinar alguma coisa aos outros;

  • Uma pessoa normal procura conversar com os outros, ouvindo e falando. Um pensador social procura ensinar sempre alguma coisa aos outros, onde as interacções dos outros são uma pausa forçada no seu discurso;

  • Uma pessoa normal fala de coisas que faz bem e de coisas que faz mal, numa espécie de equilíbrio. Um pensador social fala de coisas que faz bem e de coisas que os outros fazem mal, também equilibradamente;

  • Uma pessoa normal sabe que pode sempre aprender com os outros. Um pensador social sabe que os outros podem sempre aprender consigo;

  • Uma pessoa normal não tem noção que às vezes fala demais e depois arrepende-se. Um pensador social não tem noção que fala sempre demais e apenas se arrepende de não ter dito mais qualquer coisa. 





Tendo em conta este último ponto poderia pensar-se que o Jorge Abel era um pensador social, mas falha nos outros critérios todos, até porque no outro dia, estava a discutir especificidades do Godzilla com o Tolentino e perguntei ao Jorge Abel se ele achava que o Godzilla tinha surgido dos testes nucleares que os franceses fizeram na Polinésia Francesa ou se foram os americanos que andaram para lá a fazer cagada e depois culparam os franceses. O Jorge Abel disse-me que nunca tinha pensado nisso mas que God em inglês significava «bom». Portanto, nunca um moço destes poderia ser considerado um pensador social, ainda que alguns dos pensadores sociais que apanho por aí (principalmente os de fila de super-mercado e os de paragem do autocarro) tenham uma capacidade mental e intelectual semelhante à do Jorge Abel. E também não viram o Godzilla nem sabem opinar satisfatoriamente sobre esse tema.







P.S.: A Paulinha já viu o Godzilla. Duas vezes. A primeira foi para ver o filme em si, a segunda foi para eu fazer «pause» e comentar alguns aspectos do filme com ela. Ao início não achou muita piada mas depois adormeceu a meio do filme e descansou ela e diverti-me eu, que foi muito melhor fazer os comentários logo no momento, sem precisar de fazer «pause» e explicar tudo direitinho. Amanhã no COJDIV podia haver uma convenção sobre que tipo de peixe preferiria o Godzilla ou sobre as implicações económico-sociais do Godzilla existir e qual a possibilidade dele poder aparecer durante algum jogo do Mundial 2014 e qual o impacto que isso teria para a competição. Mas o Tolentino já me disse que é alguma coisa sobre a prevalência dos nomes italianos para os anúncios de acompanhantes em sites da Internet. 


sexta-feira, 21 de março de 2014

A carta que enviei à Red Bull


Estive à espera de receber mais respostas, mas tirando o moço que trabalha na CapriSonne, não recebi mais nada e, por isso, decidi voltar a escrever para outra marca de um produto que tem características que me incomodam muito por não perceber o porquê ou simplesmente por não concordar com o que eles fazem e dizem. Mas antes de escrever, só quero dizer que graças à minha mulher, que me roubou o apelido mas me ofereceu uma vida inteira de felicidade, voltei a trabalhar e a ir fazer serviços domiciliários de picheleria e sinto-me um homem novo. Fiquei tão contente por isso que até apareci de surpresa em casa do Gary e mudei-lhe todos os lavatórios para uns melhores de borla. Depois ligou-me o Tolentino que tinha lá o cifão da cozinha podre, mas aí já não lhe pude fazer borlas, ainda não somos amigos a sério, só quando for à festa de anos dele. Mas adiante, hoje vou mostrar-vos a carta que enviei à Red Bull:


«Boa tarde,


Escrevo esta carta de manhã apesar de dizer 'boa tarde'. Apenas o faço porque sei como funcionam as grandes corporações, em que os chefões só chegam depois de almoço e só tratam das coisas à tarde se não tiverem nenhuma reunião. No caso de ser algum funcionário menor a ler esta carta, bom dia para si, já que sei que a vai ler de manhã, embora só possa mostrar ao chefe do departamento ou a alguém mais elevado na hierarquia quando chegar depois de almoço. Antes de mais não pensem que escrevo esta carta com o intuito único de vos criticar e de reclamar. Pelo contrário, escrevo apenas para obter respostas que inquietam o meu espírito e que fazem trabalhar a minha mente em horas extraordinárias, já que quando estou a trabalhar, penso apenas no que estou a fazer. Não conseguia arranjar um autoclismo enquanto pensava nas coisas que não entendo que a Red Bull faz, assim como não conseguia pensar em como arranjar um autoclismo enquanto fazia o amor com a minha mulher. Não consigo fazer duas coisas ao mesmo tempo e, por isso, sou bom nas coisas que faço, porque só faço uma de cada vez.


Esclarecidos os motivos que me levaram a escrever-vos, passo agora para o primeiro ponto de reflexão. O que é o Red Bull? Uma bebida, uma bebida espirituosa, uma bebida energética ou uma bebida de acompanhamento? Se não souberem o que é uma bebida de acompanhamento, foi um termo que eu inventei para definir aquelas bebidas que nunca se bebem sozinhas mas sempre a acompanhar alguma coisa, tipo Jói de laranja, Trinaranjus de laranja ou Safari. A minha mulher uma vez bebeu Safari sem nada e ficou toda enjoada, mas já a vi beber uns 5 Safaris Cola e a seguir ainda comer um panike. É que as pessoas dizem-me que é uma bebida energética, mas uma vez bebi um Red Bull depois de 5 horas a mudar a canalização toda de um apartamento e aquilo não me deu energia nenhuma. Por outro lado, vejo sempre os moços e as moças a beberem Red Bull com whisky, vodka ou outras bebidas, mas nunca só Red Bull. Por isso, fico confuso e não sei como definir o vosso produto.


Por outro lado, como podem vocês investir na qualidade do vosso produto, se no outro dia descobri que têm duas equipas de futebol e uma equipa de Fórmula 1? Se calhar algum dos vossos funcionários ainda vai trabalhar bêbado e manda cones e coletes para a equipa de Fórmula 1, mete gasolina nas latas de Red Bull e latas de Red Bull nos cestos dos equipamentos das equipas de futebol. E nem é preciso estar alcoolizado, eu uma vez fui trabalhar cheio de sono e estava a tentar desapertar um parafuso com uma lanterna. O meu psiquiatra disse que isso me passava com uns comprimidos mas eu sei bem como fico se não durmo 8 horas. No entanto, o pior é o nome da equipa de Fórmula 1. As equipas de futebol chamam-se Red Bull, mas a de Fórmula 1 chama-se Toro Rosso. Porque raio não é esse o nome da bebida? Dava muito mais pinta. É sempre tudo em inglês e perde-se a riqueza de um nome como Toro Rosso. Com esse nome, comprava uma lata todos os dias só para poder dizer 'Quero um Toro Rosso por favor'. Se não se quisessem vender ao inglês, só porque é a língua que quase toda a gente fala e percebe, tinham uma bebida com um nome muito mais fixe que 'Red Bull'. 


O que me leva ao vosso logótipo. Se o vosso nome é Red Bull (ou Toro Rosso, caso tencionem seguir o meu conselho, e olhem que de empreendedorismo empresarial sei eu, que trabalho por conta própria desde os meus 19 anos) porque é que aparecem dois touros no símbolo? E ainda por cima a lutar! Estão ali todos agressivos. E sabem porque é que estão todos agressivos? Porque só aparece o nome de um deles na marca. Se vocês fossem pessoas de bem punham 'Red Bulls' ou 'Toros Rossos', em vez de deixarem os touros a competir um com o outro e a odiarem-se porque só um deles pode ter o nome na marca. Quer dizer, anda-se a banir tudo o que incentive à violência e nunca ninguém vos castigou porquê? Não quero que mudem para um touro todo amaricado ou para dois touros abraçados como se as pessoas pensassem que eles eram amigos mas no fundo eram era homossexuais. Já chega de ver homossexuais nas novelas e nos filmes todos como se fosse moda. Só propunha mudar-se o nome ou, se vos der menos trabalho, aparecer só um touro no logótipo. Até pode ser assim todo musculado e tudo e com ar feroz.


Outra coisa que não percebo é o vosso slogan. «Red Bull dá-te asas»? Quem é que quer isso hoje em dia? Só se fosse um mutante. E aposto que se fosse um mutante ia ser gozado na escola por ter asas, iam chamar-lhe o «Asinhas» ou o «Frango». E eu vi num filme que os mutantes são sempre mal-tratados e renegados pela sociedade. É isso que vocês querem? Touros à porrada para terem o nome nas embalagens e mutantes a serem gozados? Além disso, se a Red Bull nos dá asas, onde é que elas iam crescer? Nas omoplatas? Ao longo dos braços? Nas costas? É que se fosse nas costas ia ser lixado para dormir sem magoar as asas ou sem ser desconfortável. O meu sogro que o diga, que tinha uma hérnia discal nas costas e durante 4 anos, para ele, dormir era um suplício, porque só conseguia adormecer de barriga para cima e aquilo fazia-lhe doer a hérnia. Ia ser o mesmo com as asas. Além disso, se crescessem mesmo asas às pessoas ia ser horrível. Imagino eu a beber Red Bull uma vez por engano ou por distracção e cresciam-me logo asas, mesmo sem eu querer.


Pior ainda, é que se me crescessem asas, eu passava a poder voar (ainda que não saiba durante quanto tempo ia ter asas, isso vocês nunca dizem, só dizem que dão asas e depois os outros que se amanhem) e deixava de precisar de ir pôr gasolina, algo que gosto tanto e me dá tanta satisfação. Em vez de ser um prazer, ir pôr gasolina, ia-se tornar num gesto supérfluo e consumista. Vejam bem o que me acontecia só por beber um Red Bull: deixava de poder ir pôr gasolina e, por conseguinte, a minha actividade sexual ia diminuir drasticamente, já que faço mais vezes amor com a minha mulher depois de pôr gasolina do que antes de pôr. Eu e a minha mulher temos um casamento seguro e estável, assente no sentimento que nutrimos um pelo outro mas também se deve ao prazer que consigamos atingir no acto sexual. Com jeitinho ainda me acabavam o casamento! Por isso, porque não investem num slogan mais real e mais prático para o quotidiano, do género «Red Bull dá-te mais potência e apetência sexual» ou «Red Bull faz com que consigas substituir um cilindro sem teres que fazer pausas para descansar»? Se tivessem estes slogans e se não me crescessem asas (ou pelo menos cresciam só a quem quisesse, quem não quisesse não precisava. Tipo as tatuagens dos Chipicaos, só as usava quem quisesse) eu talvez até começasse a beber Red Bull (ou Red Bulls) no trabalho para conseguir mudar um cilindro em metade do tempo. 


Espero que atendam às minhas considerações e propostas e me dissipem todas estas dúvidas que me consomem o espírito. Espero também que não se armem em copiões e façam o mesmo que a Seat, a Mars e a Bom Petisco que não me responderam e me continuam a deixar nesta angústia que é a do não ter respostas. E eu sei bem isso, que até tive boas notas a Filosofia na escola e uma vez fui tratar de umas infiltrações em casa de um professor de Filosofia e estivemos a falar ali umas 2 horas sobre a incessante busca do Homem por respostas apesar de não saber que perguntas deve fazer. Pois, eu sei e já as fiz e, por isso, obter respostas já não depende de mim, o que me retira um bocado a pressão mas não me alivia totalmente.


Aguardando a vossa resposta, de um potencial consumidor futuro caso algumas mudanças estratégicas sejam efectuadas e levadas a cabo, ainda que não sejam obrigatórias todas as que mencionei, não sou assim tão exigente, a não ser com o meu trabalho e com o meu desempenho sexual,


Lucindo Sampaio de nascença, Lucindo Sampaio Bonifácio desde o feliz dia em que me casei com a mulher que gosto mais do que o meu apelido.


quarta-feira, 19 de março de 2014

A minha aventura nos Correios e o segredo que o Sebastião me contou


Não consigo dormir. Hoje o dia foi intenso demais. Recebi em casa uma carta dos Correios onde eu tinha de ir levantar uma encomenda lá. Não sabia que raio é que me tinham enviado, porque eu não encomendei nada. Ainda por cima ninguém lá em casa quis assinar o documento. O meu tio tinha tomado uns comprimidos que um moço lhe tinha oferecido para as dores de cabeça e disse ao carteiro que não assinava nada sem ler e que ainda o ligavam ao assassinato do comandante dos bombeiros de Viseu em 1998 e ele não queria ir preso por isso. A ir preso, que fosse por espancar polícias, que isso é que dava respeito dentro da prisão. A minha mãe também não quis assinar e confundiu o carteiro comigo e disse que só os homossexuais é que andavam com malas a tiracolo. O moço não levou aquilo a mal, só levou a mal o meu irmão ter dito que tinha uma encomenda para ele e lhe ter espetado um soco.



Pedi ao meu patrão a manhã para ir tratar da situação aos Correios e ele disse-me que se eu quisesse me dava a tarde, a noite, a semana toda, os fins de semana, os ouros, as pratas, o cão e o jipe. Não precisava de tanto, só precisava da manhã. Ainda por cima não gosto de conduzir jipes que são todos grandes e mal vejo a frente do carro. Imagino o pesadelo que não deve ser fazer marcha-atrás num jipe, por isso é normal que o patrão se quisesse ver livre daquilo. Ele disse-me que eu estava dispensado da manhã e que era um bom moço. Fiquei contente por o meu patrão me ter elogiado, mas não tinha percebido porque raio me queria dar o fim-de-semana e o cão. Comentei isso com o Venâncio e ele disse-me que o patrão tinha acabado de sair de um divórcio litigioso e que tinha ficado arrasado. Perguntei ao Venâncio o que era um divórcio litigioso e ele disse-me que era quando um moço se queria separar da mulher mas sem querer reconhecer que o divórcio era culpa dele e que a moça não tinha culpa de nada e por isso ela contratava um advogado que arrasava com o moço e o deixava sem nada e ainda o obrigava a reconhecer que a mulher não tinha tido culpa nenhuma.



Fiquei preocupado com o patrão. Se ele tinha ficado sem nada será que a fábrica ainda era dele ou já era da mulher? O Venâncio disse-me que a mulher o deixou ficar com a fábrica, com a PlayStation do filho e com um quadro do Picasso que ele tinha roubado ao dono da Robialac numa festa de anos. Nunca vi nenhum quadro do Picasso mas vi que o Gary ainda há uns dias falou dele e até comentei com o Venâncio que tinha tido sorte em ficar com isso, que o Gary até gostava de conhecer o Picasso e tudo. O Venâncio disse-me que o Picasso já tinha morrido, então eu disse-lhe que devia ser outro. O Venâncio disse-me que o que arrasou o patrão foi ter perdido a custódia do filho e só o poder ver aos fins-de-semana. Ainda bem que eu não aceitei que o meu patrão me oferecesse os fins-de-semana, senão ainda tinha que ser eu a ir ver o filho dele e eu não me dou muito bem com crianças. Pelo menos quando tinha a idade delas não fiz nenhum amigo. 



Entretanto já eram 10:20 e decidi ir aos Correios e deixar o Venâncio trabalhar. Quer dizer, trabalhar é como quem diz, que nestas alturas de menos movimento ele está ali é a estafar-se a tentar subir a percentagem de vitórias dele no Freecell, que já vai nos 72%. Quando cheguei aos Correios, só estavam lá 2 moços a ser atendidos e um senhor de idade a escrever qualquer coisa lá numa mesa. Quando chegou a minha vez, a da recepção sussurrou lá para o moço do lado e pediram-me para esperar um bocado. Esperei aí uns 40 minutos até aparecer um moço com um saco a tiracolo e me ter dado um soco e me ter dito que aquela era a minha encomenda e que tinha pegado fogo à verdadeira encomenda. Eu não estava a acreditar, tinha perdido a manhã para aquilo e ainda por cima tinha chateado o meu patrão só para chegar ali e me terem dito que tinham queimado a minha encomenda. Perguntei ao moço se ele tinha visto o que era antes de queimar a encomenda e ele só me disse que não me queria era ver mais à frente. Achei pouco provável, já que ele era o carteiro daquela zona, mas ele deu-me uma coça e quando acabou decidi voltar à fábrica.



Ainda cheguei à hora de almoço. Passei em casa só para passar um bocado de gelo na cara, que o moço dava uns socos bem fortes para quem andava com um saco a tiracolo. O Gary sempre me disse para não confiar nas aparências desde que uma vez foi jogar com um moço que tinha um cabelo que pareciam uns cortinados e ele lhe fez duas cuecas. O meu tio também me disse para nunca confiar em moças que usam demasiada maquilhagem porque depois vais a ver e são transsexuais e já é tarde demais. Quando cheguei à fabrica a Xana perguntou-me o que se tinha passado comigo e eu disse que o moço dos Correios me tinha pregado dois socos. Ela disse-me que não havia nada melhor do que ter relações sexuais para curar as feridas físicas e psicológicas, mas como não conhecia ninguém para ter relações sexuais, disse-lhe que ia passar pela farmácia e comprar Hirudoid. Ao almoço, o Sebastião disse-me que a Vera da Contabilidade tinha dito à Sónia da limpeza que antes de ir para Angola gostava de ir para a cama com um dos moços da secção de produção e que, tanto quanto ele sabia, tanto podia ser eu como ele. Espero que a Vera da Contabilidade queira ir para a cama com o Sebastião, senão vou comprar o Hirudoid para nada.







P.S.: Quando ia a sair da fábrica, a Xana chamou-me e perguntou-me se não queria passar a noite a comer croquete com grelo e que isso me ia ajudar. Disse-lhe que não gostava muito de grelos. Também não gosto de espinafres e esparregado, mas que gostava de alface e de pepino. Ela perguntou-me se eu não queria então ir comer uma alface com um pepino. Eu pensei que tinha ouvido mal mas ela repetiu assim mesmo. Que diferença no vocabulário para a Rosa, que tinha feito o 12º ano. Agradeci-lhe mas disse-lhe que depois da coça que tinha levado precisava era de proteínas e de uma boa noite de sono. Ela mandou-me ir à merda. O Venâncio sempre me disse que quando uma moça nos manda à merda devemos respeitar a vontade e afastar-nos antes que estraguemos tudo. O Gary disse-me que sempre que uma moça nos mandar ir à merda devemos fingir que vamos e depois ir para casa. E logo hoje que precisava de ir à farmácia buscar o Hirudoid ...


quinta-feira, 13 de março de 2014

Pessoas que gostava de conhecer pessoalmente


Sim, dei a minha password ao Tolentino para ele não me chatear para partilhar os textos dele, agora que gosta de escrever. Não percebo como é que um moço que detesta tanta coisa consiga ter o paradoxo de adorar escrever sobre o que detesta. Até a mim me soa confuso, e eu que percebi logo tudo no Matrix quando a maior parte das pessoas achou confuso. O que é que há de confuso numa vida programada por um computador central, onde os seres humanos são utilizados como fonte de alimentação desse mesmo computador e em que tudo o que as pessoas vivem é uma mera ilusão? Digo já que adorava ter um computador desses, que me pusesse a comer torradas sem eu precisar de me mexer ou a beber um CapriSonne de laranja que não fosse azedo.



Eu sei que não estou no Matrix por causa da evolução da Paulinha. Passou de uma moça com quem eu tinha relações sexuais para a impedir de ver mais um episódio de «Anatomia de Grey» para uma moça com quem tenho relações sexuais porque se interesse pelas minhas coisas e isso enche-me de desejo sexual. Ainda no outro dia, enquanto estávamos a ver um filme em que o Van Damme dá porrada num monte de moços enquanto come o pequeno-almoço num café local, a Paulinha fez-me um dilema: por quem é que eu torcia numa luta entre o Blade e o Godzilla em que o Godzilla tinha roubado o soro que o Blade toma que lhe bloqueia o apetite por sangue humano. Aquilo fez-me pensar durante um bom bocado. Por um lado, o Blade caça vampiros que são moços traiçoeiros que andam para aí a morder pescoços, mas por outro lado o Godzilla destruiu New York ou Nova York, Nova Iorque ou outro nome qualquer, evitando esta discussão. Por isso, a custo, disse que torcia pelo Blade porque é o único filme em que o segundo filme não estraga totalmente o trabalho feito no primeiro, enquanto o Godzilla 2 é um lixo.



Nessa noite sonhei que era o rei dos caranguejos e tinha acabado de assinar um pacto de não-agressão com as lagostas no caso de elementos de ambas as espécies serem colocadas num aquário partilhado numa marisqueira porque isso atrai a atenção dos humanos, que ficam ali a olhar para o aquário e a achar piada aquilo. Mas adorava ter sonhado com o duelo entre o Blade e o Godzilla. Adorava conhecer o realizador do Blade pessoalmente e trocar opiniões com ele sobre o filme e colocar-lhe questões práticas. Eis outras pessoas que gostava de conhecer pessoalmente:




  • O rei D. Sancho. Podia ser o I ou o II que o efeito era o mesmo. Não que eu tivesse particular interesse em conhecer um rei, principalmente quando os reis eram gente que punham um montão de pessoas a assistir ao vivo a ele a ter relações sexuais com a rainha, sempre a fazer a mesma posição e sem tirar o roupão. Eu gostava de conhecer um destes reis por causa do nome. Nunca conheci nenhum Sancho mas sempre ouvi a expressão «és mesmo Sancho» em tom depreciativo. E admiro que alguém chamado Sancho tenha chegado a rei;

  •  O Enrique Iglesias. Não sou fã dele, acho que de todas as músicas que ele fez só gostava da «Rhytm Divine» porque uma moça da minha escola interpretou esse tema numa festa e apareceu vestida de forma sensual e então eu não me esqueci dessa música e confesso que ocasionalmente até a assobiei e cantei mentalmente. Mas gostava de conhecer pessoalmente o Enrique Iglesias para o pôr lado a lado com o Teófilo e perceber se eles são mesmo parecidos quando o Teófilo está com a barba por fazer e está na sombra ou se isso é um mito urbano;

  • Gostava de conhecer o presidente da Robialac só para depois poder esfregar na cara do Jorge Abel que conhecia o inimigo e que ele até vinha à minha festa de anos. Por outro lado, espero que ele viesse sozinho à minha festa e não trouxesse o Júlio César, o ex-amigo do Jorge Abel. A única vez que o conheci perguntei se ele era o guarda-redes brasileiro que tinha jogado no Inter de Milão e ele disse-me que uma vez no Fifa tinha jogado com o Inter e tinha apanhado 3-0. Deprimente. A única vez que respeitei o Jorge Abel foi quando ele acedeu ao universo dos ex-amigos, um conceito criado por mim;

  • O Hitler. Ok, ele fez um montão de coisas más e matou um porradão de gente só através de dar ordens. Mas gostava de o conhecer principalmente para o avisar que o Mussolini se fazia de amigo dele mas o copiava em tudo. Aposto que ele não percebia italiano e que nunca descobriu que o Mussolini o copiou em tudo mas dizia que eram ideias dele. Eu ia ser amigo dele e avisava-o disso. Depois também queria descobrir se sempre era verdade que ele tinha inventado o Bolikhan, que hoje em dia é conhecido como Bolicao, por ser um adepto de pequenos-almoços saudáveis e sustentados ou se fui eu que inventei isso;

  • O Ricardo Carriço para lhe perguntar porque é que passou de fazer as vozes no Spiderman para novelas em que ou faz de banana ou se apaixona pela Alexandra Lencastre ou então faz de banana e de apaixonado pela Alexandra Lencastre. Só queria saber isso e se não gostasse da resposta dava-lhe dois estalos e ia negar a toda a gente que o tinha conhecido pessoalmente. É que ainda por cima ele fazia as vozes de quase todos os vilões, era a parte mais fixe do Spiderman. Também aproveitava para lhe perguntar se conhecia algum actor pornográfico e se eles partilham o mesmo sindicato com os actores normais ou se têm um próprio;

  • O Anselmo Ralph. O Tolentino acha que não leio os textos dele e a verdade é que eu não leio, mas apareceu-me aqui um comentário em que aparecia «Anselmo Ralph» e «Gary» na mesma frase e então eu fui ver o que era aquilo. Com que então o Tolentino gosta de uma música do Anselmo Ralph. Até fui ouvir a música e ele faz um porradão de coisas mal como sair do hotel que foi ele que pagou, compra uma mota na beira da estrada, anda cheio de dinheiro no bolso e, pior de tudo, diz o pin do telemóvel à moça com quem anda. Gostava de o conhecer pessoalmente para lhe dizer o que é que ele fez mal na música e ainda perguntar-lhe a opinião dele sobre um fã que apaga a música dele do mp3 só para o amigo não descobrir que ele gosta dessa música;

  • O Obikwelu. Gostava de conhecer o Obikwelu para perceber como é que um moço que corre como o Deus me livre e vai a campeonatos mundiais e europeus e mais um monte de campeonatos abaixo dos europeus e mundiais mas igualmente importantes, faz uma corrida contra uma velha e perde. A Paulinha não se lembra disso mas o Lucindo disse-me que isso era para um reclame. Que era para um reclame sei eu, mas ele fingiu ou aquilo aconteceu mesmo? É que ela ainda por cima dava-lhe gozo a gritar «Obikweeeeeeeeluuuuuu» e a passar à frente dele mesmo na boa. Depois também gostava de saber se no mundo do atletismo nunca ninguém desconfiou que Obikwelu não é um nome português;

  • O Picasso. Sei que há pessoas que consideraram o meu delírio sobre as correntes artísticas aborrecido, tremendamente longo e até embaraçoso para mim. Se calhar não foi tanto, só me disseram que não acharam piada nenhuma. No entanto, eu gostava de conhecer pessoalmente o Picasso por três motivos: o primeiro, era para saber o que é que ele mandava antes de pintar os quadros dele, que também queria pelo menos experimentar; o segundo era para saber o que é que ele achava de eu usar a expressão «passes à Picasso» quando alguém no futebol faz um passe que mais ninguém percebe a não ser o próprio; o terceiro motivo era para lhe poder mostrar o meu texto das correntes artísticas e dizer a quem o critica «tu é que és uma pessoa esquisita, que até o Picasso achou piada a esse texto».





Para quem não sabe de que texto falei, já que ia mostrar ao Picasso, também vos posso mostrar. É este: http://comidosdocerebro.blogspot.pt/2013/04/a-verdade-sobre-as-correntes-artisticas.html. Já é de Abril do ano passado, vai quase um ano desde isso mas só recentemente fui criticado por causa desse texto. Não sei porquê, até o Picasso achou piada. Mas adiante, se calhar algum de vocês que me conhece melhor está a perguntar-se porque é que eu não disse que queria conhecer pessoalmente um Visigodo ou um minotauro. A resposta é simples: eu não queria conhecer nenhum Visigodo, eu queria ser um Visigodo. E depois não gostava de conhecer nenhum minotauro, aprendi numa daquelas convenções do COJDIV que os minotauros eram pessoas com um trato rude e que nunca aceitavam os argumentos dos outros, só os deles é que estavam certos. Por isso é que acabaram extintos, nenhuma moça gostava de acasalar com um minotauro, se era para serem desrespeitadas ao menos que fosse por um moço normal.









P.S.: Lembrei-me agora de uma pessoa que também gostava de conhecer pessoalmente ou pelo menos saber quem é. Até podia pôr nos pontos mas ia ter que tirar alguém e entre dar dois estalos ao Ricardo Carriço, ter o Picasso a rir-se do meu delírio ou conhecer o único Sancho com sucesso desde sempre, não consegui substituir ninguém. Sim, agora podia substituir, que o meu Delete já não está estragado, que a Paulinha trocou o meu teclado por um dos computadores que está na recepção lá da fábrica quando descobriu que os teclados eram parecidos. Gostava de saber quem é o/a AA que anda para aqui com comentários a todos os textos. E não é só aos meus. A princípio até pensei que fosse a mulher do Lucindo para o controlar mas depois vi que comentava os textos de toda a gente. Também pensei que fosse a Xana da cantina, principalmente quando se pôs a falar mal do Jorge Abel ou o Teófilo a tentar voltar ao blog através de comentários em vez de textos. Mas também se não souber quem é não morro por isso, provavelmente vou morrer de disenteria quando a Peste Negra voltar. 


sábado, 8 de março de 2014

Porque é que detesto música brasileira


Por esta altura devem estar a perguntar-se que tipo de música brasileira é que estou a falar. Que desilusão. Pensei que iam reparar que era o meu segundo texto seguido, sem ninguém vir aqui pelo meio, mas preferem focar-se no tipo de música. Eu faço-vos a vontade: aquela que toda a gente chama de sertaneja e que passou a ser convencional passar em qualquer festa, discoteca ou bar porque aparentemente não há música mais animada e que faça mais as moças dançar do que esse tipo. Até pode ser verdade mas mesmo assim eu detesto. Podia ter posto no título «porque é que detesto música sertaneja» mas vocês já estão fartos de saber pelo Gary que os títulos bombásticos são mais apelativos. Vou então explicar o porquê:



  • Nessas músicas eles nem se dão ao trabalho de fazer rimas ou de passar mensagens profundas. Basta ter um ritmo diferente das outras e depois é só inventar palavras como «tcherere», «le le le», «tchu tcha tcha», «bara bere» ou «tchubirabirom» e está a música feita;

  • Quando não inventam insistem numa palavra ao calhas como «maionese» ou uma expressão como «ai se eu te pego», dizem-na para aí 200 vezes durante a música toda e depois, ainda por cima, o título da música é essa palavra, como se já não bastasse;

  • Todas as músicas têm uma letra básica, não muda quase nada e é sempre a mesma coisa ou às vezes até não tem sentido nenhum como aquela do «tem mel nesse trem». O que me faz detestar ainda mais este tipo de música é que a merda das letras ficam na cabeça durante dias mesmo que não goste da música;

  • Eu detesto música sertaneja (agora que não estou no título já não preciso de frases bombásticas para chamar a atenção) porque faz as moças dançar e até de forma sensual mas também faz os moços fazer as mesmas coisas a pensar que estão a agradar às moças e a fazer-me ver coisas horríveis;

  • Quando estou a fazer coisas como por exemplo jogar algum jogo e está a dar música sertaneja a dar desconcentra-me e faz-me perder sempre. Uma vez perdi um jogo de Damas contra uma moça que estava a tentar impressionar mas impressionei foi por ter perdido tão depressa. Depois o Gary soube disso e uma vez organizou um torneio de poker, meteu um CD só com essas músicas a dar e eu à segunda jogada fiz all-in e perdi;

  • As letras das músicas é sempre sobre galar moças desconhecidas que são altas touras ou sobre amores que não resultaram apesar de supostamente serem perfeitos, como se não houvesse mais nenhum assunto para se fazer músicas sem ser o amor ou a atracção física e sexual por moças;

  • Em 90% das músicas são moços a cantar. Mas quando são moças a cantar a música ainda é pior e ainda me faz detestar isto tudo;

  • Se disser que não aprecio este estilo de música dizem-me logo que tenho mau gosto e que não me sei divertir, como se gostar de música sertaneja fosse condição necessária para avaliar se sou uma pessoa divertida e os outros estilos de música fossem todos uma merda.




Com isto não quero dizer que detesto toda a música brasileira (o título engana propositadamente) ou que detesto os brasileiros. Pelo contrário, quando trabalhei na clínica, o segurança do piso 2 era o Clóvis, era brasileiro e adepto do Corinthians. Eu até brincava sempre com ele a dizer que não gostava nada do Corinthians porque as bolachas coríntias eram enjoativas e que preferia o Cruzeiro porque uma vez fiz um cruzeiro às ilhas gregas e passei a viagem a encavar moças. Se fosse para detestar alguém para além do estilo de música, dizia que detestava o punk, porque uma vez 3 punks pediram-me boleia a sair de um concerto e um vomitou-me nos estofos. O Gary sempre me disse para me afastar dos punks porque se eles estiverem mais que 3 fazem logo mochada uns aos outros e uma pessoa ainda vai parar lá ao meio. Por acaso não me fizeram nada disso, mas entre isso e vomitarem-me nos estofos, preferia que me tivessem feito mochada.







P.S.: Eu também detesto kizomba. Antes desta  moda do sertanejo, a moda era passar-se kizomba ao pontapé em tudo o que fosse discoteca ou festas para chamar moças, que por si chamavam moços. No entanto, quando trabalhei na clínica, ouvi umas 300 vezes aquela música do «Não me toca». A princípio odiei por 1000 motivos, entre os quais o facto de não me sair da cabeça. Mas agora ocasionalmente lembro-me da música e ponho-me a ouvir. Até já a tive no meu mp3, mas pensei que se o Gary um dia me pedisse o mp3 emprestado e apanhasse aquela música perdia o respeito que acho que tem por mim e então apaguei. A sorte é que eu sei que ele agora também não lê os meus textos desde que falei mal do Spiderman e então posso dizer estas coisas à vontade.


quarta-feira, 5 de março de 2014

Porque é que detesto feiras de artesanato


Foi difícil para mim sair de casa estes últimos dias. Disse a toda a gente que estava doente, que estava com preguiça ou que estavam a dar bons filmes na televisão e era impossível sair de casa. Mas a verdade é que é porque fizeram aqui à beira uma feira de artesanato e eu detesto feiras de artesanato. Na verdade, «disse a toda a gente» é uma forma de falar, porque no fundo ninguém me perguntou nada. O Gary é que passou aqui um dia e disse-me que eu não andava a aparecer, mas não me perguntou porquê. Também mandou uma piada sobre o meu comentário ao Lucindo, mas foi à custa desse comentário que já tenho mais uma pessoa na minha festa de anos. Vou então dizer porque é que detesto feiras de artesanato:


  • Parece que sou obrigado a comprar alguma coisa, para defender o artesanato e não participar na morte lenta dessa forma de arte. Como se o futuro do artesanato dependesse em eu fazer uma compra de 6 ou 7€;

  • Por falar em 6 ou 7€, por esse valor trago uma porcaria de nada. É que eles dizem que é tradicional e que é comércio local mas aproveitam-se disso para pôr tudo a preços altíssimos e mesmo caros. É normal que o artesanato esteja a morrer se para se comprar uma coisinha de nada se larga logo ali 8 ou 9€;

  • Outra coisa que detesto nas feiras de artesanato é que dás 8€ ou 9€ por merdas que não servem para nada, só para atrapalhar ou para despachares prendas. As coisas que realmente têm uso custam um dinheirão. Por exemplo, a minha mãe queria comprar uma manta feita de pêlo de urso polar e estavam a pedir 200€ por aquilo;

  • Uma das piores coisas nessas feiras é que vêm barracas de várias terras e de quanto mais longe forem as localidades, mais temos de ter em consideração e pelo menos parar lá e olhar para as coisas com atenção. Mas se prestarmos mesmo atenção reparamos é que a maior parte das pessoas que estão nessas barracas são da terra onde está a feira e não da localidade que diz nas barracas. É tudo um embuste;

  • Mesmo que não compremos nada nessas feiras, alguém há-de comprar alguma prenda para oferecer porque pensam que vamos achar piada ou então só mesmo para dizer que nos ofereceram alguma coisa no aniversário ou no Natal (dependendo da altura em que essas feiras estão activas);

  • Comer nestas feiras de artesanato é um pesadelo. A bem do artesanato, fazem tudo rústico e sem condições quase nenhumas. Metem meia-dúzia de mesas de plástico e cadeiras daquelas que deformam a coluna porque nos obrigam a sentar meios deitados porque de outra maneira não estamos nada confortáveis, servem a comida em cestos e amontoam as pessoas em cima umas das outras. Mas depois vais a pagar e por um pão com chouriço largas ali 3,50€ como se tivesses comido num restaurante em condições e que nada tem a ver com o artesanato;

  • É feira de artesanato mas aparecem sempre lá ciganos a vender balões e pensos, pretos a vender malas e óculos de sol ou índios a tocar aquelas músicas que são mesmo xungas mas que ficam no ouvido durante 2 ou 3 dias. Que é que isso tem a ver com o artesanato? Dos pretos que vendem óculos de sol até sou a favor, que não compro nenhuns Carrera originais por 7,50€ em lado nenhum sem ser ali, mas não gosto de ciganos e os índios são falsos, que uma vez estava a passar no fim de um concerto deles, vi um a tirar a peruca e era um brasileiro que dava aulas de capoeira num ginásio perto de minha casa que fechou;

  • Não há nenhum divertimento nas feiras de artesanato. Nunca há matrecos, máquinas de flippers, nem sequer aquele jogo do disco. E se uma pessoa se quiser divertir através do álcool, é escusado dizer que é tudo caríssimo. Logo o artesanato que surgiu numa altura em que as pessoas bebiam copos de vinho a 20 centavos. Mas o pior mesmo é que as pessoas dizem que antigamente é que se sabiam divertir mas os brinquedos que eles vendem nestas feiras, os tradicionais, são grande porcaria e que não servem para nada. Nem sei como é que me conseguia divertir 5 minutos com as porcarias que eles vendem ali e chamam «brinquedos»;

  • Mesmo que só vá de passagem e não esteja necessariamente na feira de artesanato, encontro sempre alguém conhecido que não vejo há algum tempo e fico a falar com ele/ela durante imenso tempo, ali, no meio da feira de artesanato, para toda a gente me ver e, ainda por cima, a maior parte das vezes que isto acontece, é em frente a uma barraca que vende enchidos e então estou ali vinte minutos ou meia hora a cheirar alheiras e presuntos sem poder comer, porque sei que se quiser comer ali vou ter de largar uns 15 ou 20€;

  • Para acabar, eis o que mais detesto nas feiras de artesanato: à custa de o salvar, espezinham o comércio local e específico. Vou explicar: porque raio vou eu gastar 20€ numas pantufas numa barraca (supostamente) da Guarda quando o Lopes da sapataria vende umas pantufas ainda melhores por 12€? E porque é que vou comprar uma alheira numa barraca (supostamente) de Mirandela a 16€ quando no talho do Arantes (que não vende rissóis de pescada) são bem boas e muito mais baratas? E isto vai mais longe quando se põem a vender cachecóis e camisolas que se encontram em lojas de roupa, colares e brincos que se encontram em ourivesarias e muitos mais exemplos que agora não me lembro porque estou cego pelo ódio.





Ainda bem que isto acabou hoje. Na prática acabou ontem à noite, mas só hoje é que aquilo ficou realmente limpo. É que há sempre aqueles vendedores chatos que ficam até à última para ver se, por serem os últimos a ir embora, alguém vai lá comprar alguma coisa. Outra coisa que detesto nas feiras de artesanato é que a maior parte das coisas que eles vendem lá não têm prazo de validade. Por isso, eles podem andar a vender as mesmas coisas desde 2005 e quem compra o que eles vendem pensam que estão a comprar uma coisa recente ou que foi feita na altura. É que quando passamos pelas barracas, os que estão lá dentro estão sempre a fazer alguma coisa, ou a fingir que fazem, mas nunca é nada do que está à venda. Detesto feiras de artesanato. E detesto ainda mais desde que comprei lá um relógio de cuco e quando o trouxe para casa e aquilo deu as horas saiu de lá de dentro um cuco de madeira que não fez barulho nenhum, como eu vejo nos desenhos animados. 







P.S.: Lucindo, se vires o meu texto, pede ao Gary o meu número porque ele não me dá o teu. Disse-me que não quer ser responsável pelo início da nossa amizade porque se eventualmente nos chateássemos ele ia ser envolvido e já chegou quando teve que resolver uma disputa entre a Paulinha e a prima dela que se atirou a ele no casamento dos tios da Paulinha. Não te quero pedir nada, não te preocupes. Só que estou aqui com uns problemas no lavatório da cozinha e a minha mãe não quer dizer nada ao meu pai porque sempre que ele tenta arranjar alguma coisa aqui em casa ainda faz pior e a despesa ainda fica maior. Por isso, quando puderes, liga-me que preciso que me vejas isto aqui. Até podes lanchar aqui e tudo, tenho sempre CapriSonnes no frigorífico. 

terça-feira, 4 de março de 2014

Recebi uma resposta da CapriSonne!


Quer dizer, não foi bem da CapriSonne, foi de um moço que trabalha lá e que leu a minha carta e me decidiu responder em nome dele e não em nome da empresa. Mas todos sabemos que os jornais vendem com títulos bombásticos, que podem não ser necessariamente verdade ou não corresponder quando se lê a notícia em pormenor. Também há livros que têm títulos que não têm nada a ver com o que está lá dentro, mas já venderam é o que interessa. Por isso é que os escritores são ricos e fazem boa vida enquanto eu, como picheleiro honesto, o máximo de luxo que tive foi quando fui de férias para Monte Gordo. Mas vejam lá a carta que eu recebi:


«Olá Lucindo,

Digo olá porque não sei se vais ler esta carta de manhã, de tarde ou à noite. Não é por ti, que como tu dizes na tua carta, sei que a lerias de manhã, é mesmo por ignorar como funcionam os correios e a que horas esta encomenda te vai chegar a casa e, posteriormente, às mãos. Uma vez estava à espera de um blusão de ganga que ia chegar pelo correio e só o vieram entregar a uma quarta-feira às 15:00, estava eu a trabalhar. Só no dia seguinte é que a minha mãe foi aos Correios buscar o blusão e eu só o pude ver e experimentar quando cheguei do trabalho, ao fim da tarde. Por isso, optei por um «Olá» descomprometido, que fica sempre bem.



Provavelmente esperavas uma carta do Director-Geral da CapriSonne, ou pelo menos o responsável da marca em Portugal, mas eles não quiseram saber da tua carta. Eu, como ando com pouco trabalho e gosto de saber os podres da empresa para um dia conseguir negociar uma rescisão mais elevada através da chantagem no caso de ser despedido, li a tua carta e realmente levantaste questões pertinentes e que, como a CapriSonne nunca te responderia, decidi responder em nome individual. Estou a tratar-te por «tu» como se me conhecesses de algum lado, mas eu sou assim, exagero sempre na familiaridade com as pessoas que acabo de conhecer. Uma vez chamei «amor» à rapariga que me serve sempre na Confeitaria em frente à CapriSonne. Por acaso dessa vez calhou bem que hoje em dia é a minha namorada e temos uma relação bastante satisfatória. Desde que li a tua carta também comecei a beber CapriSonnes de Safari Fruits depois das relações sexuais e a minha vida melhorou significativamente.


Já vou no terceiro parágrafo e ainda não me disse como me chamava. Para não ter problemas no trabalho, não vou dizer o meu nome, a minha data de nascimento, o meu signo nem a minha cor preferida. Posso-te é dizer o meu CapriSonne preferido: é o SafariFruits. A seguir gosto daquele do dragão e em terceiro lugar vem o de maçã e canela. Também ia pôr o multivitamínaco mas não sabia se se escrevia multivitamínaco ou multivitamínico e então preferi o de maçã e canela. Para não continuares sem um nome podes tratar-me por Guilherme. Ou então trata-me por Vanessa, já que foi um nome que nunca ninguém me chamou e assim um dia que eu for na rua e alguém vier ter comigo e me disser «Então, Vanessa, tudo bem?» já sei que és tu. Deixa-me aproveitar que sinto muito pelo teu primo Roberto, até porque o irmão da minha namorada chama-se Roberto e eu ganho-lhe sempre em todos os videojogos que jogo contra ele, por isso gosto muito dele. Adoro ganhar e, por isso, detesto perder. De tal maneira que quando fiz 14 anos expulsei dois amigos meus da minha festa porque me ganharam a mim e ao meu primo ao «Queims». É «Queims» ou «Keims» que se chama aquele jogo de cartas onde se faz o truque quando se tem «peixinho»? Deve ser «Keims» que eles estrangeirizam sempre o nome. Até na CapriSonne. Podiam fazer «Frutos do Safari» mas não, puseram «Safari Fruits» no raio do nome.


Quanto à tua pergunta relativamente aos CapriSonnes de laranja eu tenho uma explicação. Aqui na fábrica, quem trabalha na secção dos CapriSonnes de laranja é a Marta, o Gustavo e uma moça brasileira chamada Danielle. A Marta é 96 desde 1999 e nunca mudou de tarifário, o Gustavo é daqueles gajos que diz que não come carne e a Danielle uma vez deu-me um corte quando lhe perguntei se queria ir jantar comigo. É tudo gente amarga, sem sentido de humor e com uma grande amargura dentro de si. A Marta, por exemplo, reage sempre mal às piadas que o patrão conta, vem lá com o discurso que são piadas machistas e sexistas, como se não fosse precisamente isso que tem piada! Eu acredito que as suas características de personalidade se reflectem no seu trabalho, consciente ou inconscientemente. Aposto que se comprares um CapriSonne de laranja em Espanha ou em França sabe bem. Aqui em Portugal é que não.



Espero ter-te ajudado a encontrar respostas às tuas perguntas e dúvidas. Para terminar, deixo-te só uma novidade em primeira mão. Eles aqui na CapriSonne andam a estudar a possibilidade de começar a comercializar um sumo que leva maracujá, limão, ananás e kiwi e chamar-lhe CapriSonne Fruit Dinamite. Eu ainda sugeri que pusessem um nome melhor do género «CapriSonne Explosão Nuclear» que sempre era um nome português e mais explosivo que a dinamite mas ninguém ligou à minha sugestão e ainda me transferiram durante uma semana para a secção de colar as palhas às embalagens. Estive lá uma semana contrariado por isso, se bebeste algum CapriSonne em que as palhas tinham algum problema, não estavam bem coladas ou estavam sem plástico, provavelmente a culpa foi minha e peço imensa desculpa.



De um trabalhador independente e autónomo desta grande empresa que é a CapriSonne, e esperando que continues a gastar essas verbas mensais em sumos da nossa marca, que assim eu mantenho o emprego (ia ser bastante difícil encontrar um trabalho de que gostasse mais e ainda por cima a ganhar quase 1000€),



O teu novo amigo, Vanessa (ou Guilherme, caso não tenhas achado piada à brincadeira de eu te ter dito para me chamares Vanessa. Juro que não sou um tarado sexual, embora satisfaça sexualmente a minha namorada tal como tu dizes que satisfazes a tua mulher, outra coisa que temos em comum, amigo)».