quarta-feira, 19 de março de 2014

A minha aventura nos Correios e o segredo que o Sebastião me contou


Não consigo dormir. Hoje o dia foi intenso demais. Recebi em casa uma carta dos Correios onde eu tinha de ir levantar uma encomenda lá. Não sabia que raio é que me tinham enviado, porque eu não encomendei nada. Ainda por cima ninguém lá em casa quis assinar o documento. O meu tio tinha tomado uns comprimidos que um moço lhe tinha oferecido para as dores de cabeça e disse ao carteiro que não assinava nada sem ler e que ainda o ligavam ao assassinato do comandante dos bombeiros de Viseu em 1998 e ele não queria ir preso por isso. A ir preso, que fosse por espancar polícias, que isso é que dava respeito dentro da prisão. A minha mãe também não quis assinar e confundiu o carteiro comigo e disse que só os homossexuais é que andavam com malas a tiracolo. O moço não levou aquilo a mal, só levou a mal o meu irmão ter dito que tinha uma encomenda para ele e lhe ter espetado um soco.



Pedi ao meu patrão a manhã para ir tratar da situação aos Correios e ele disse-me que se eu quisesse me dava a tarde, a noite, a semana toda, os fins de semana, os ouros, as pratas, o cão e o jipe. Não precisava de tanto, só precisava da manhã. Ainda por cima não gosto de conduzir jipes que são todos grandes e mal vejo a frente do carro. Imagino o pesadelo que não deve ser fazer marcha-atrás num jipe, por isso é normal que o patrão se quisesse ver livre daquilo. Ele disse-me que eu estava dispensado da manhã e que era um bom moço. Fiquei contente por o meu patrão me ter elogiado, mas não tinha percebido porque raio me queria dar o fim-de-semana e o cão. Comentei isso com o Venâncio e ele disse-me que o patrão tinha acabado de sair de um divórcio litigioso e que tinha ficado arrasado. Perguntei ao Venâncio o que era um divórcio litigioso e ele disse-me que era quando um moço se queria separar da mulher mas sem querer reconhecer que o divórcio era culpa dele e que a moça não tinha culpa de nada e por isso ela contratava um advogado que arrasava com o moço e o deixava sem nada e ainda o obrigava a reconhecer que a mulher não tinha tido culpa nenhuma.



Fiquei preocupado com o patrão. Se ele tinha ficado sem nada será que a fábrica ainda era dele ou já era da mulher? O Venâncio disse-me que a mulher o deixou ficar com a fábrica, com a PlayStation do filho e com um quadro do Picasso que ele tinha roubado ao dono da Robialac numa festa de anos. Nunca vi nenhum quadro do Picasso mas vi que o Gary ainda há uns dias falou dele e até comentei com o Venâncio que tinha tido sorte em ficar com isso, que o Gary até gostava de conhecer o Picasso e tudo. O Venâncio disse-me que o Picasso já tinha morrido, então eu disse-lhe que devia ser outro. O Venâncio disse-me que o que arrasou o patrão foi ter perdido a custódia do filho e só o poder ver aos fins-de-semana. Ainda bem que eu não aceitei que o meu patrão me oferecesse os fins-de-semana, senão ainda tinha que ser eu a ir ver o filho dele e eu não me dou muito bem com crianças. Pelo menos quando tinha a idade delas não fiz nenhum amigo. 



Entretanto já eram 10:20 e decidi ir aos Correios e deixar o Venâncio trabalhar. Quer dizer, trabalhar é como quem diz, que nestas alturas de menos movimento ele está ali é a estafar-se a tentar subir a percentagem de vitórias dele no Freecell, que já vai nos 72%. Quando cheguei aos Correios, só estavam lá 2 moços a ser atendidos e um senhor de idade a escrever qualquer coisa lá numa mesa. Quando chegou a minha vez, a da recepção sussurrou lá para o moço do lado e pediram-me para esperar um bocado. Esperei aí uns 40 minutos até aparecer um moço com um saco a tiracolo e me ter dado um soco e me ter dito que aquela era a minha encomenda e que tinha pegado fogo à verdadeira encomenda. Eu não estava a acreditar, tinha perdido a manhã para aquilo e ainda por cima tinha chateado o meu patrão só para chegar ali e me terem dito que tinham queimado a minha encomenda. Perguntei ao moço se ele tinha visto o que era antes de queimar a encomenda e ele só me disse que não me queria era ver mais à frente. Achei pouco provável, já que ele era o carteiro daquela zona, mas ele deu-me uma coça e quando acabou decidi voltar à fábrica.



Ainda cheguei à hora de almoço. Passei em casa só para passar um bocado de gelo na cara, que o moço dava uns socos bem fortes para quem andava com um saco a tiracolo. O Gary sempre me disse para não confiar nas aparências desde que uma vez foi jogar com um moço que tinha um cabelo que pareciam uns cortinados e ele lhe fez duas cuecas. O meu tio também me disse para nunca confiar em moças que usam demasiada maquilhagem porque depois vais a ver e são transsexuais e já é tarde demais. Quando cheguei à fabrica a Xana perguntou-me o que se tinha passado comigo e eu disse que o moço dos Correios me tinha pregado dois socos. Ela disse-me que não havia nada melhor do que ter relações sexuais para curar as feridas físicas e psicológicas, mas como não conhecia ninguém para ter relações sexuais, disse-lhe que ia passar pela farmácia e comprar Hirudoid. Ao almoço, o Sebastião disse-me que a Vera da Contabilidade tinha dito à Sónia da limpeza que antes de ir para Angola gostava de ir para a cama com um dos moços da secção de produção e que, tanto quanto ele sabia, tanto podia ser eu como ele. Espero que a Vera da Contabilidade queira ir para a cama com o Sebastião, senão vou comprar o Hirudoid para nada.







P.S.: Quando ia a sair da fábrica, a Xana chamou-me e perguntou-me se não queria passar a noite a comer croquete com grelo e que isso me ia ajudar. Disse-lhe que não gostava muito de grelos. Também não gosto de espinafres e esparregado, mas que gostava de alface e de pepino. Ela perguntou-me se eu não queria então ir comer uma alface com um pepino. Eu pensei que tinha ouvido mal mas ela repetiu assim mesmo. Que diferença no vocabulário para a Rosa, que tinha feito o 12º ano. Agradeci-lhe mas disse-lhe que depois da coça que tinha levado precisava era de proteínas e de uma boa noite de sono. Ela mandou-me ir à merda. O Venâncio sempre me disse que quando uma moça nos manda à merda devemos respeitar a vontade e afastar-nos antes que estraguemos tudo. O Gary disse-me que sempre que uma moça nos mandar ir à merda devemos fingir que vamos e depois ir para casa. E logo hoje que precisava de ir à farmácia buscar o Hirudoid ...


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