quarta-feira, 5 de março de 2014

Porque é que detesto feiras de artesanato


Foi difícil para mim sair de casa estes últimos dias. Disse a toda a gente que estava doente, que estava com preguiça ou que estavam a dar bons filmes na televisão e era impossível sair de casa. Mas a verdade é que é porque fizeram aqui à beira uma feira de artesanato e eu detesto feiras de artesanato. Na verdade, «disse a toda a gente» é uma forma de falar, porque no fundo ninguém me perguntou nada. O Gary é que passou aqui um dia e disse-me que eu não andava a aparecer, mas não me perguntou porquê. Também mandou uma piada sobre o meu comentário ao Lucindo, mas foi à custa desse comentário que já tenho mais uma pessoa na minha festa de anos. Vou então dizer porque é que detesto feiras de artesanato:


  • Parece que sou obrigado a comprar alguma coisa, para defender o artesanato e não participar na morte lenta dessa forma de arte. Como se o futuro do artesanato dependesse em eu fazer uma compra de 6 ou 7€;

  • Por falar em 6 ou 7€, por esse valor trago uma porcaria de nada. É que eles dizem que é tradicional e que é comércio local mas aproveitam-se disso para pôr tudo a preços altíssimos e mesmo caros. É normal que o artesanato esteja a morrer se para se comprar uma coisinha de nada se larga logo ali 8 ou 9€;

  • Outra coisa que detesto nas feiras de artesanato é que dás 8€ ou 9€ por merdas que não servem para nada, só para atrapalhar ou para despachares prendas. As coisas que realmente têm uso custam um dinheirão. Por exemplo, a minha mãe queria comprar uma manta feita de pêlo de urso polar e estavam a pedir 200€ por aquilo;

  • Uma das piores coisas nessas feiras é que vêm barracas de várias terras e de quanto mais longe forem as localidades, mais temos de ter em consideração e pelo menos parar lá e olhar para as coisas com atenção. Mas se prestarmos mesmo atenção reparamos é que a maior parte das pessoas que estão nessas barracas são da terra onde está a feira e não da localidade que diz nas barracas. É tudo um embuste;

  • Mesmo que não compremos nada nessas feiras, alguém há-de comprar alguma prenda para oferecer porque pensam que vamos achar piada ou então só mesmo para dizer que nos ofereceram alguma coisa no aniversário ou no Natal (dependendo da altura em que essas feiras estão activas);

  • Comer nestas feiras de artesanato é um pesadelo. A bem do artesanato, fazem tudo rústico e sem condições quase nenhumas. Metem meia-dúzia de mesas de plástico e cadeiras daquelas que deformam a coluna porque nos obrigam a sentar meios deitados porque de outra maneira não estamos nada confortáveis, servem a comida em cestos e amontoam as pessoas em cima umas das outras. Mas depois vais a pagar e por um pão com chouriço largas ali 3,50€ como se tivesses comido num restaurante em condições e que nada tem a ver com o artesanato;

  • É feira de artesanato mas aparecem sempre lá ciganos a vender balões e pensos, pretos a vender malas e óculos de sol ou índios a tocar aquelas músicas que são mesmo xungas mas que ficam no ouvido durante 2 ou 3 dias. Que é que isso tem a ver com o artesanato? Dos pretos que vendem óculos de sol até sou a favor, que não compro nenhuns Carrera originais por 7,50€ em lado nenhum sem ser ali, mas não gosto de ciganos e os índios são falsos, que uma vez estava a passar no fim de um concerto deles, vi um a tirar a peruca e era um brasileiro que dava aulas de capoeira num ginásio perto de minha casa que fechou;

  • Não há nenhum divertimento nas feiras de artesanato. Nunca há matrecos, máquinas de flippers, nem sequer aquele jogo do disco. E se uma pessoa se quiser divertir através do álcool, é escusado dizer que é tudo caríssimo. Logo o artesanato que surgiu numa altura em que as pessoas bebiam copos de vinho a 20 centavos. Mas o pior mesmo é que as pessoas dizem que antigamente é que se sabiam divertir mas os brinquedos que eles vendem nestas feiras, os tradicionais, são grande porcaria e que não servem para nada. Nem sei como é que me conseguia divertir 5 minutos com as porcarias que eles vendem ali e chamam «brinquedos»;

  • Mesmo que só vá de passagem e não esteja necessariamente na feira de artesanato, encontro sempre alguém conhecido que não vejo há algum tempo e fico a falar com ele/ela durante imenso tempo, ali, no meio da feira de artesanato, para toda a gente me ver e, ainda por cima, a maior parte das vezes que isto acontece, é em frente a uma barraca que vende enchidos e então estou ali vinte minutos ou meia hora a cheirar alheiras e presuntos sem poder comer, porque sei que se quiser comer ali vou ter de largar uns 15 ou 20€;

  • Para acabar, eis o que mais detesto nas feiras de artesanato: à custa de o salvar, espezinham o comércio local e específico. Vou explicar: porque raio vou eu gastar 20€ numas pantufas numa barraca (supostamente) da Guarda quando o Lopes da sapataria vende umas pantufas ainda melhores por 12€? E porque é que vou comprar uma alheira numa barraca (supostamente) de Mirandela a 16€ quando no talho do Arantes (que não vende rissóis de pescada) são bem boas e muito mais baratas? E isto vai mais longe quando se põem a vender cachecóis e camisolas que se encontram em lojas de roupa, colares e brincos que se encontram em ourivesarias e muitos mais exemplos que agora não me lembro porque estou cego pelo ódio.





Ainda bem que isto acabou hoje. Na prática acabou ontem à noite, mas só hoje é que aquilo ficou realmente limpo. É que há sempre aqueles vendedores chatos que ficam até à última para ver se, por serem os últimos a ir embora, alguém vai lá comprar alguma coisa. Outra coisa que detesto nas feiras de artesanato é que a maior parte das coisas que eles vendem lá não têm prazo de validade. Por isso, eles podem andar a vender as mesmas coisas desde 2005 e quem compra o que eles vendem pensam que estão a comprar uma coisa recente ou que foi feita na altura. É que quando passamos pelas barracas, os que estão lá dentro estão sempre a fazer alguma coisa, ou a fingir que fazem, mas nunca é nada do que está à venda. Detesto feiras de artesanato. E detesto ainda mais desde que comprei lá um relógio de cuco e quando o trouxe para casa e aquilo deu as horas saiu de lá de dentro um cuco de madeira que não fez barulho nenhum, como eu vejo nos desenhos animados. 







P.S.: Lucindo, se vires o meu texto, pede ao Gary o meu número porque ele não me dá o teu. Disse-me que não quer ser responsável pelo início da nossa amizade porque se eventualmente nos chateássemos ele ia ser envolvido e já chegou quando teve que resolver uma disputa entre a Paulinha e a prima dela que se atirou a ele no casamento dos tios da Paulinha. Não te quero pedir nada, não te preocupes. Só que estou aqui com uns problemas no lavatório da cozinha e a minha mãe não quer dizer nada ao meu pai porque sempre que ele tenta arranjar alguma coisa aqui em casa ainda faz pior e a despesa ainda fica maior. Por isso, quando puderes, liga-me que preciso que me vejas isto aqui. Até podes lanchar aqui e tudo, tenho sempre CapriSonnes no frigorífico. 

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