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terça-feira, 4 de março de 2014
Recebi uma resposta da CapriSonne!
Quer dizer, não foi bem da CapriSonne, foi de um moço que trabalha lá e que leu a minha carta e me decidiu responder em nome dele e não em nome da empresa. Mas todos sabemos que os jornais vendem com títulos bombásticos, que podem não ser necessariamente verdade ou não corresponder quando se lê a notícia em pormenor. Também há livros que têm títulos que não têm nada a ver com o que está lá dentro, mas já venderam é o que interessa. Por isso é que os escritores são ricos e fazem boa vida enquanto eu, como picheleiro honesto, o máximo de luxo que tive foi quando fui de férias para Monte Gordo. Mas vejam lá a carta que eu recebi:
«Olá Lucindo,
Digo olá porque não sei se vais ler esta carta de manhã, de tarde ou à noite. Não é por ti, que como tu dizes na tua carta, sei que a lerias de manhã, é mesmo por ignorar como funcionam os correios e a que horas esta encomenda te vai chegar a casa e, posteriormente, às mãos. Uma vez estava à espera de um blusão de ganga que ia chegar pelo correio e só o vieram entregar a uma quarta-feira às 15:00, estava eu a trabalhar. Só no dia seguinte é que a minha mãe foi aos Correios buscar o blusão e eu só o pude ver e experimentar quando cheguei do trabalho, ao fim da tarde. Por isso, optei por um «Olá» descomprometido, que fica sempre bem.
Provavelmente esperavas uma carta do Director-Geral da CapriSonne, ou pelo menos o responsável da marca em Portugal, mas eles não quiseram saber da tua carta. Eu, como ando com pouco trabalho e gosto de saber os podres da empresa para um dia conseguir negociar uma rescisão mais elevada através da chantagem no caso de ser despedido, li a tua carta e realmente levantaste questões pertinentes e que, como a CapriSonne nunca te responderia, decidi responder em nome individual. Estou a tratar-te por «tu» como se me conhecesses de algum lado, mas eu sou assim, exagero sempre na familiaridade com as pessoas que acabo de conhecer. Uma vez chamei «amor» à rapariga que me serve sempre na Confeitaria em frente à CapriSonne. Por acaso dessa vez calhou bem que hoje em dia é a minha namorada e temos uma relação bastante satisfatória. Desde que li a tua carta também comecei a beber CapriSonnes de Safari Fruits depois das relações sexuais e a minha vida melhorou significativamente.
Já vou no terceiro parágrafo e ainda não me disse como me chamava. Para não ter problemas no trabalho, não vou dizer o meu nome, a minha data de nascimento, o meu signo nem a minha cor preferida. Posso-te é dizer o meu CapriSonne preferido: é o SafariFruits. A seguir gosto daquele do dragão e em terceiro lugar vem o de maçã e canela. Também ia pôr o multivitamínaco mas não sabia se se escrevia multivitamínaco ou multivitamínico e então preferi o de maçã e canela. Para não continuares sem um nome podes tratar-me por Guilherme. Ou então trata-me por Vanessa, já que foi um nome que nunca ninguém me chamou e assim um dia que eu for na rua e alguém vier ter comigo e me disser «Então, Vanessa, tudo bem?» já sei que és tu. Deixa-me aproveitar que sinto muito pelo teu primo Roberto, até porque o irmão da minha namorada chama-se Roberto e eu ganho-lhe sempre em todos os videojogos que jogo contra ele, por isso gosto muito dele. Adoro ganhar e, por isso, detesto perder. De tal maneira que quando fiz 14 anos expulsei dois amigos meus da minha festa porque me ganharam a mim e ao meu primo ao «Queims». É «Queims» ou «Keims» que se chama aquele jogo de cartas onde se faz o truque quando se tem «peixinho»? Deve ser «Keims» que eles estrangeirizam sempre o nome. Até na CapriSonne. Podiam fazer «Frutos do Safari» mas não, puseram «Safari Fruits» no raio do nome.
Quanto à tua pergunta relativamente aos CapriSonnes de laranja eu tenho uma explicação. Aqui na fábrica, quem trabalha na secção dos CapriSonnes de laranja é a Marta, o Gustavo e uma moça brasileira chamada Danielle. A Marta é 96 desde 1999 e nunca mudou de tarifário, o Gustavo é daqueles gajos que diz que não come carne e a Danielle uma vez deu-me um corte quando lhe perguntei se queria ir jantar comigo. É tudo gente amarga, sem sentido de humor e com uma grande amargura dentro de si. A Marta, por exemplo, reage sempre mal às piadas que o patrão conta, vem lá com o discurso que são piadas machistas e sexistas, como se não fosse precisamente isso que tem piada! Eu acredito que as suas características de personalidade se reflectem no seu trabalho, consciente ou inconscientemente. Aposto que se comprares um CapriSonne de laranja em Espanha ou em França sabe bem. Aqui em Portugal é que não.
Espero ter-te ajudado a encontrar respostas às tuas perguntas e dúvidas. Para terminar, deixo-te só uma novidade em primeira mão. Eles aqui na CapriSonne andam a estudar a possibilidade de começar a comercializar um sumo que leva maracujá, limão, ananás e kiwi e chamar-lhe CapriSonne Fruit Dinamite. Eu ainda sugeri que pusessem um nome melhor do género «CapriSonne Explosão Nuclear» que sempre era um nome português e mais explosivo que a dinamite mas ninguém ligou à minha sugestão e ainda me transferiram durante uma semana para a secção de colar as palhas às embalagens. Estive lá uma semana contrariado por isso, se bebeste algum CapriSonne em que as palhas tinham algum problema, não estavam bem coladas ou estavam sem plástico, provavelmente a culpa foi minha e peço imensa desculpa.
De um trabalhador independente e autónomo desta grande empresa que é a CapriSonne, e esperando que continues a gastar essas verbas mensais em sumos da nossa marca, que assim eu mantenho o emprego (ia ser bastante difícil encontrar um trabalho de que gostasse mais e ainda por cima a ganhar quase 1000€),
O teu novo amigo, Vanessa (ou Guilherme, caso não tenhas achado piada à brincadeira de eu te ter dito para me chamares Vanessa. Juro que não sou um tarado sexual, embora satisfaça sexualmente a minha namorada tal como tu dizes que satisfazes a tua mulher, outra coisa que temos em comum, amigo)».
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