terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A garagem da vizinha


Para quem pensar que vai ser outro texto a analisar a fundo a música do King Barreiros ou uma ode de elevação a esse artista, pode ficar desiludido, que não é nada disso. No entanto, não posso deixar de aproveitar um título da sua melhor música (em termos de mensagem que passa, porque em termos musicais são todas fenomenais, principalmente aquela do peixe que é um animal que todos devemos comer) para adaptar à minha situação e que é perfeitamente adequada ao título desta música.

Perguntam vocês porquê e eu digo-vos que descobri que tenho uma vizinha do prédio em frente que é uma daquelas moças que eu paro o que estou a fazer para olhar para ela a passar, mas que sei que se um dia a ouvir a falar vai estragar tudo e vou deixar de ficar colado a olhar para ela. No outro dia vi-a carregada de sacos do supermercado e pensei em ir oferecer-me para ajudar, mas desde que vi aquele vídeo do João Kléber em que uma toura estava no aeroporto e os moços que se iam oferecer para a ajudar a levar as malas para casa, chegavam a casa dela e estava lá um cavalão com grande arcaboiço a chamar-lhes «trouxas» e a espetar grande beijo na moça, nunca mais me ofereci para levar nada a ninguém.

Por isso, como ainda não a ouvi falar e como ainda não caí nessa de a ajudar com os sacos, continuo a vê-la como a música do Quim Barreiros diz, como «a garagem da vizinha». E porque é que eu a vejo como uma garagem? Vejam os meus argumentos e façam a interpretação que quiserem:


  • O acesso é-me restrito. Por muito que queira não consigo entrar na garagem dela, embora veja muitos moços a entrarem e a saírem de lá;

  • Posso garantir que sinto um bocado de inveja dos moços que às 2h e tal da manhã saem de casa dela. De outros tenho pena, porque são moços feios que eu sei que são só vizinhos e que estão a sair do mesmo prédio e não necessariamente de casa dela;

  • Penso como seria se eu estivesse naquela garagem em vez de ter o meu carro ao ar livre. A sério, o prédio dela tem garagem e eu tenho que estacionar sempre o carro cá fora e nem sempre tenho lugar em frente a casa e então tenho de estacionar para aí a 200 metros de casa;

  • Nunca entrei naquela garagem mas confesso que sempre que vejo a porta ou uma janela aberta espreito para ver como é que é. Além disso, sempre que ela sai de decote também lhe olho para as mamas;

  • O Quim Barreiros tem razão (mais uma vez!) numa das coisas que diz na música e que se adequa aqui também: está morando sozinha. Claro que dito assim até parece que sou brasileiro, mas só quis copiar como o Quim Barreiros disse. E eu acho que ela mora sozinha porque à quantidade de moços diferentes que já lá vi entrar não deve ter namorado e muito menos deve viver com a mãe;

  • A minha vizinha é como uma garagem porque pelo exterior dá para ver muito pouco do que ela é. Tirando no Verão quando sai à rua de top ou naquela vez que o Teófilo me emprestou uns binóculos do avô dele que esteve na 1ª Guerra Mundial e eu a vi a arrumar a casa só de sutiã e cuecas. É sutiã ou soutien? Nenhuma das formas dá erro e não sei bem qual é a correcta. Ou são as duas? Bem, de qualquer maneira vi-a a arrumar a casa assim, o que achei esquisito mas pronto, também não se pode ter só qualidades;

  • O que é que é preciso pagar para ter acesso a ela? Se for como uma garagem tem que se pagar uma mensalidade, mas quanto? É que uma vez paguei 40€ por mês para ter o carro numa garagem e uns diziam-me que era muito bom e outros diziam-me que era um roubo. Para poder sair com esta minha vizinha, podia-lhe só pagar um lanche ou tinha que subir a parada e pagar um Bailleys como a outra me obrigou a pagar?

  • Como boa garagem que é deve precisar de manutenção para ficar limpa e apresentável. E pelo que vejo essa manutenção não deve ser nada barata. Quem lhe paga isso tudo? Ia ter que ser eu ou ela tem meios de subsistência? Naquela garagem em que pagava 40€, ninguém foi lá limpar aquilo durante 3 meses e era poeira e terra por toda a parte, parecia o deserto do Saara ou a entrada do Tolentino quando eu lhe aparecia em casa depois de estacionar o carro na garagem;

  • Há condições de acesso à minha vizinha? É que há garagens que não permitem carros com muita altura, que andem a GPL e depois há aquelas esquisitas que tens que prestar «provas de idoneidade» para poderes deixar lá o carro. Tanta merda para estacionar o carro num sítio fechado. O que me leva a fazer o paralelo entre garagens e moças, especialmente esta minha vizinha: que condições tenho que satisfazer para poder aceder a ela? E quem me pode responder a estas perguntas sem ter que ser a própria?



Mais um texto com muitas perguntas, só agora é que reparei. Mas se calhar são vocês que neste momento têm uma pergunta para fazer, à qual eu respondo já: sim, é verdade que o melhor acompanhamento para um pargo assado é batata a murro e rodelas de tomate. Se possível com um vinho verde branco, fresquinho. Voltando ao texto em si, tem uma explicação simples: ando muito aborrecido. Não se passa nada na minha rua desde que o Júlio Facadas foi viver para o Quirguistão. Disse ele que era um país que estava a crescer muito no ramo da horticultura e ele adora esfaquear horticultores. Ainda passava alguns dias na mercearia do Rebelo a ouvir as metáforas dele mas entretanto já as ouvi todas e não valia a pena ir lá ouvir as repetidas. Por isso, descobri esta vizinha e pronto, ando praticamente a espiá-la. Espero que isto não dê cadeia, porque numa coisa o Jorge Abel tem razão, na prisão vale cargas de ombro no basket e isso não favorece o meu estilo de jogo.





P.S.: Perguntam-me vocês se eu realmente lhe pagava um Bailleys se isso fosse o necessário para poder entrar na garagem dela, quer dizer, se isso fosse o necessário para a conhecer e sair com ela. E eu digo-vos que caso isso acontecesse, provavelmente ia fazer o que fiz naquela garagem em que pagava 40€ por mês: saía de lá de gás e desaparecia do mapa, nunca mais lá punha os pés e eventualmente escreveria um texto no blog a dizer porque é que saí daquela garagem e a recomendar amigos meus (e semi-amigos) a não irem para lá.



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