sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Sabiam que agora trabalho numa fábrica de tintas?


Alguns de vocês sabiam que leram no Facebook do Gary, quando ele publicou o último texto. Até ele ficou entusiasmado por mim. Foi aí que descobri que ele era um bom amigo. Enquanto estive desempregado fez-me companhia, vinha a minha casa lanchar porque dizia que eu não podia estar sozinho numa hora tão delicada como é a do lanche. E ele tinha razão. Desde que me disse isso que nunca mais pensei em como era mau estar desempregado à hora do lanche. Pensava quando acordava ou quando me ia deitar, mas ao lanche nunca mais pensei.

Perguntam vocês como é que consegui este trabalho. Foi por sorte, por acaso. Estava a ir comprar tabaco para o meu irmão às 3h da manhã, que normalmente apetece-lhe fumar mas ele não pode sair a essas horas porque tem um pulmão sensível. Às vezes gostava que ele tivesse um coração sensível em vez de um pulmão, mas não lhe posso dizer isto que uma vez disse e ele encheu-me de porrada a dizer que isso de corações sensíveis é para panascas e se eu queria ter um irmão panasca que pedisse à mãe para adoptar o Teófilo. Ia eu na rua e um moço perguntou-me se eu queria comprar tintas. Perguntei-lhe que tintas e ele disse-me que eram das boas. Como não foi muito explícito, não quis e segui o meu caminho.

Ele veio atrás de mim e insistiu para lhe comprar tintas. Lá acedi a comprar-lhe uma lata mas tinha que ser daquelas anti-fungo porque senão as paredes lá de casa ganhavam humildade facilmente. Ele ficou a olhar para mim e disse-me que eu devia ir trabalhar para a fábrica dele, que tinha uma vaga. Fui lá no dia seguinte e disse ao gerente que me ia candidatar. Quando me perguntou as minhas motivações, disse-lhe que gostava de ser feliz e de ter uma relação séria com uma moça que me amasse verdadeiramente por aquilo que eu era. Ele riu-se durante 5 minutos e disse que adorava trabalhadores com sentido de humor e que, por isso, começava já no dia seguinte.

Fui para casa felicíssimo! Mal podia esperar para contar. Primeiro contei ao meu tio, que me disse que eu devia era ir trabalhar para a fábrica de Chocapic, que assim trazia amostras de Chocapic Duo para casa para ele comer de borla. Disse ao meu irmão e ele deu-me uma coça, que eu devia era ter arranjado trabalho numa fábrica de tabaco, que assim ele escusava de querer fumar às 3h da manhã porque ia passar o dia a fumar. Disse à minha mãe e ela não quis saber e não disse ao meu pai porque não consegui falar enquanto ele me estava a dar uma coça. Fui dormir entusiasmadíssimo por ir começar no dia seguinte. Mal podia esperar.

No dia a seguir só queria começar! O meu turno começava às 9:00 e eu às 7:30 já estava à porta da fábrica. Vi lá o moço que me tinha querido vender as tintas naquela noite e fui falar com ele. Estava com os olhos todos vermelhos. Perguntei-lhe se aquilo era de dormir mal ou era um efeito secundário de trabalhar com tintas. Riu-se e respondeu-me que era por trabalhar com umas tintas especiais e que se eu quisesse alguma vez trabalhar com ele nisso para lhe dizer. Eu fiquei curioso mas por outro lado ficar assim com olhos vermelhos ninguém ia acreditar que era por trabalhar com umas tintas especiais e ia levar grandes coças em casa porque toda a gente ia pensar que eu era drogado. Mas foi bom ver que comecei cedo a fazer amigos no emprego!

Adoro o meu trabalho, embora o patrão seja exigente. Está sempre a dizer que temos que trabalhar bem e de forma intensa, que se quisermos ter regalias que nos candidatemos a trabalhar na Robialac. Não tinha percebido esta boca mas depois explicaram-me que os da Robialac têm 45 minutos para lanchar, fora a hora de almoço e ainda têm um subsídio de bebida, além do de alimentação. Este subsídio de bebida é porque eles têm um café em frente à fábrica, que é da mulher do patrão deles, em que os finos são a 90 cêntimos e eles passam lá a vida. Já houve vários moços que tentaram ir trabalhar para a Robialac mas eu não quero. Gosto do meu patrão, principalmente porque nunca me obrigou a ficar de vigia à porta enquanto ele encavava moças em cima dos rosbifes congelados.





P.S.:  Perguntam-me quanto ganho e eu só vos posso dizer que ganho bem. Muito bem até. Ainda há 2 semanas não ganhava nada e agora ganho o suficiente para poder apostar 300€ com o Gary que a Angelina Jolie já foi ao Lesoto e que uma das crianças que ela adoptou é mesmo do Lesoto. Ele diz que não, que nunca ninguém famoso foi ao Lesoto e que se algum dia alguém famoso fosse ao Lesoto deixava logo de ser famoso. Tipo aqueles moços que são portugueses mas que a partir do momento em que vão viver para outro país durante algum tempo deixam de ser portugueses e passam a ser «luso-qualquer coisa». Por exemplo, o Júlio Facadas, se ficar muito tempo no Quirguistão vai deixar de ser português para passar a ser luso-quirguistanês. Por acaso gosto da água Luso mas é muito cara e por isso bebo Fastio, que é mais barata. 



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