quinta-feira, 30 de maio de 2013

Rosinha, mais uma cantora de intervenção incompreendida


Muita coisa na vida muda. Há moços que começam a usar decotes, moças que começam a usar preservativos de mulher e gente que decide começar a escrever aqui como se isto fosse um diário de bordo de um capitão do navio que levou o Vasco da Gama até à Índia. Aposto que o Camões era o responsável por escrever o diário de bordo e quando o Vasco da Gama viu que ele em vez de ter escrito as rotas e as descobertas que fizeram durante a viagem se tinha posto ali a escrever poemas e histórias inventadas sobre monstros atirou-o borda fora. Esperto foi o Camões, que trouxe o livro com ele e depois fez fortuna com aquilo. Ainda hoje deve andar a receber direitos de autor.


Também o Teófilo, no outro dia, enquanto conversava comigo fez-me mudar a minha perspectiva de vida. Antes que perguntem, sim, nós falamos. O Teófilo é uma excelente pessoa para se conversar. Também é excelente a fritar alheiras, a citar cenas de todos os «Velocidades Furiosas» e a jogar à lerpa. Só não é assim grande coisa a escrever e por isso é que nunca mais veio aqui. Descobri que também é bom a fazer mudar as perspectivas às pessoas. Quando me perguntou o que é que eu fazia se emigrasse para o Quirguistão pôs-me a pensar. Talvez a primeira coisa que eu fizesse fosse procurar uma churrasqueira que fizesse panados como a «Churrasqueira» daqui.


Mas adiante, porque a vida não é só histórias de emigrar para o Quirguistão. Se bem que a emigração, com este contexto de crise, seja cada vez mais algo a ponderar. Alguém que tem bem presente nas suas letras (sim, porque a Rosinha canta e vamos falar da Rosinha, não me enganei no título) os grandes dramas da sociedade moderna e contemporânea é a Rosinha, alguém de quem já disseram ser a versão feminina do Quim Barreiros. Eu revejo-me nessa afirmação até porque ambos são cantores de intervenção e uns críticos sociais com uma amplitude de pensamento invejável. Vejam alguns exemplos de músicas:



  • «Quem põe a minhoca sou eu»: o dilema do mundo moderno, em que qualquer um é pescador. Antigamente, pescador era uma profissão para homens robustos e sem medos. Rosinha expõe isso mesmo nesta música, em que o namorado só vai pescar para aliviar a cabeça e que depois, chegada a altura, lhe mete impressão pôr a minhoca no anzol e tem que ser ela a executar tal tarefa. Como se já não fosse mau o suficiente ir pescar só por lazer e roubar mercadoria de trabalho a quem faz disso profissão!

  • «Na conta da tua mãe»: outra música extremamente pertinente. Numa sociedade em que o mal impera e vigaristas espreitam a cada esquina, Rosinha avisa aqueles que têm os pais a viver sozinhos, em aldeias remotas para o facto de haver vigaristas que vão às mercearias, não pagam e põem na conta de idosos que andaram a observar durante dias. Já ninguém cai naquela de ter ganho um colchão e que para isso tinha de comprar 10 enciclopédias, a grande vigarice dos tempos modernos é esta de ir a mercearias, encher os sacos e depois dizer que fica na conta da Dona Ermelinda, que é minha tia e ela depois paga;

  • «Eu chupo»: o título não é condizente com o tema estrutural a que Rosinha se refere no resto da música. Realmente, o paradigma da sociedade está completamente mudado, cada vez mais os papéis de género fazem parte do passado, não há trabalhos para homens e para mulheres. Há homens a ver a novela e mulheres a comentarem jogos de futebol. Rosinha mostra bem a mudança na sociedade recorrendo ao simples exemplo do gelado, que antigamente era coisa de mulher e agora há muito homem por aí a comer gelado. Até aqui não vejo nenhum problema, só vejo problema se for um homem graúdo a comer um Pirulo;

  • «Eu levo no pacote»: esta música revela a tremenda capacidade de adaptação que o cidadão português tem ao contexto de crise. Com os cortes no subsídio de alimentação e com o aumento do IVA na restauração, fica uma fortuna comer todos os dias num restaurante. Com o desemprego a ser também um flagelo (inclusive para mim) é a mulher quem, numa perspectiva de poupar dinheiro, leva o almoço ao emprego do marido, num pacote reutilizável. Assim, além de poupar o dinheiro dos almoços, poupa o ambiente;

  • «Por trás não»: Apesar do que dissemos mais em cima, dos papéis de género cada vez serem algo do passado, a mulher ainda é a maior responsável pelas limpezas e arrumações. Esta música revela bem o lado feminino e o drama subjacente às pessoas que têm entrada principal e traseiras. Já custa muito a manter uma casa limpa se as pessoas entrarem e saírem sempre pela mesma porta, agora imaginem se volta e meia se lembram de entrar pelas traseiras, com as sapatilhas cheias de lama ou com merda de cão. A empregada de limpeza do meu prédio uma vez fartou-se de limpar as traseiras e não limpou mais. Passadas 2 semanas já vivia lá uma família de ratos. E era uma daquelas que tinha para aí 4 filhos, não era um casal só com um filho;

  • «Meu amor eu quero uma mala»: a isto os entendidos chamam de psicologia invertida. Através do choque, Rosinha faz uma sátira aquelas pessoas cada vez mais comuns, que mesmo em contexto de crise e com pouco dinheiro estouram dinheiro em coisas fúteis como numa mala, em 20 cactos ou num livro de Físico Química para o 9º ano. Numa altura em que as pessoas se deviam preocupar em poupar temos sempre que levar com moças destas a pedirem malas só porque sim ou a pedirem um Bailley's quando o combinado foi tomar um café;

  • «Eu lambo a dele e a dela»: sempre ouvi dizer que no aproveitar está o ganho. Também já ouvi dizer que em terra de cegos quem tem olho é rei mas isso de haver uma terra só para cegos era altamente discriminatório. Imagino haver uma polícia dos cegos e sempre que visse algum na rua punha numa carrinha e exportava-o para a terra dos cegos. E para ser rei precisava de ser um ciclope, só com um olho, ou podia cegar-me de propósito de um olho só para ser rei? E porquê rei e não presidente? Muitas perguntas. Mas com esta música a Rosinha quis passar a mensagem que devemos aproveitar tudo, se os outros desperdiçam esse não deve ser o nosso exemplo.



Muitas perguntas ficaram na minha cabeça em relação à viabilidade desta terra de cegos. Havia alguma constituição ou era tudo à vontade do rei? E como é que o rei era proclamado? Será que só o rei podia ter um olho e governava sozinho ou podia ter assessores e secretários? Não imagino o rei a fazer leis, estar em inaugurações, nas reuniões da ONU e a assinar tratados de trocas comerciais tudo ao mesmo tempo. E se tivesse ajudantes tinham que ser cegos ou podiam ter os dois olhos? Só não podiam era ter um, que aí eram concorrentes ao trono. E como se chamaria essa terra? «Terra de Cegos»? Que raio de nome. Era a mesma coisa que a Gâmbia se chamar «Terra de Pretos» ou os Estados Unidos chamarem-se «Terra de Imigrantes». As pessoas que pensem nestas coisas antes de inventarem ditos populares completamente inviáveis.







P.S.: Distrai-me um bocado com a reflexão da terra de cegos e não fiz um comentário final à Rosinha. Podia tê-lo feito se não tivesse já escrito aquilo tudo. Deu trabalho, não ia apagar. Era como quando nos testes de Português a meio da composição via que o que estava a escrever não tinha nada a ver com o tema e em vez de riscar tudo fazia só uma conclusão que tivesse a ver com o tema, sempre tinha alguns pontos em vez de ter tudo mal. E punha-me a escrever palavras grandes e complexas para a professora também valorizar a minha capacidade de escrita apesar de ter fugido ao tema. E a Rosinha tem letras aparentemente superficiais e a fugir para uma tendência de índole sexual mas no fundo faz é críticas sociais contemporâneas. 


terça-feira, 28 de maio de 2013

Já chega de falar de Internet, vou contar o que se passou ontem


Mesmo assim tenho que começar por dizer que acho que vou apagar o meu perfil naquele site. Ninguém me responde! Sei que fugi um bocado ao título mas o Gary disse-me uma vez que todos os autores fazem isso, senão o livro do Camões chamava-se «Vasco da Gama chega à Índia» e os livros do Harry Potter chamavam-se «Feitiçarias e Moços Esquisitos I, II, III e IV». O Gary também disse que se toda a gente fizesse isto a literatura ia ser como ler um livro da Anita, que compramos o «Anita vai à praia» e é só mesmo isso que acontece. Já eu não posso dizer o mesmo, que na última vez que fui à praia fui picado pelo peixe-aranha e acabei na enfermaria.


Não ia escrever tão cedo mas ontem aconteceu uma coisa no trabalho que tenho de contar. Claro que quando disse ao Gary que ia escrever outra vez ele chamou-me Sally e perguntou se eu queria transformar o blog numa série do Disney Channel em que sempre que me sentia alegre ou amargurado escrevia no diário o que me acontecia. Uma vez tive um diário mas a minha mãe usava a parte de trás das folhas para escrever as listas das compras ou os números da lotaria. Pior que isso só quando o meu irmão me roubou um Andante que tinha 10 viagens porque precisava de filtros e eu tive de andar uma semana a ir para a escola no carro do meu tio.


O meu tio conduz bem, não é como a minha tia que trava sempre com o travão de mão porque diz que é mais eficaz. O mal de ir no carro com o meu tio é que ele anda sempre com o rádio numa estação que só passa música rock e aquilo dá-me dores de cabeça. Cheguei a perguntar uma vez ao meu tio qual era a diferença entre música rock e metal e ele disse-me que era o mesmo que lhe perguntar qual a diferença entre gostar de bifes e ser atrasado mental. Não sei bem o que ele quis dizer com isso mas pelo sim pelo não, sempre que vou comer fora peço bifes para ninguém pensar que sou atrasado mental. Ou panados, que na prática são bifes mas com pão ralado. Aposto que na cantina da Robialac não fazem panados, só almôndegas. E depois ainda há quem queira ir para lá.


Ao menos na cantina aqui da fábrica há panados. Adoro a fábrica, tudo aqui é bom. E o chefe pensa mesmo nos trabalhadores. Ontem à tarde houve um seminário sobre assédio sexual, o que foi muito bom para mim porque nunca fui grande coisa nisso do assédio sexual e por isso é que estou solteiro. Como preciso de melhorar esse aspecto até levei um caderno para tirar notas. O meu pai tinha razão quando dizia que se está sempre a aprender. Se tivesse tanta razão quando diz que um garrafão de vinho não faz mal a ninguém se calhar não tinha a tensão tão alta. O Barros que trabalha comigo na fábrica também tem tensão alta mas diz que é por ser muito nervoso e sofrer de stress. Por isso é que todos os dias come fritos ao almoço, que isso acalma-o. 


A mim, o que me acalma é trabalhar na fábrica. Trabalhar no talho também me acalmava mas isso agora é impossível porque aquilo fechou. Nunca mais soube nada do meu antigo patrão, espero que ele continue a ser feliz com as suas camisas castanhas que tanto prezava, com o seu Subaru de 1994 que ele dizia que continuava a ser uma máquina e com as suas aventuras sexuais em cima de rosbifes congelados. O meu patrão na fábrica de tintas é muito mais modesto e contido nesse aspecto. A única coisa de mal que soube dele foi quando o Alves da Contabilidade se demitiu quando descobriu que todos os gabinetes da parte dos escritórios tinham que ter um tapete com um tigre. Pelos vistos num acesso de loucura, o patrão pagou 300€ a um marroquino por 20 tapetes e como só tinha espaço para ter 3 em casa dele, queria dar vazão aos outros 17. Podia-me dar um a mim que gosto muito de tigres e não tenho nenhum tapete no quarto. Mas já me paga cafés, também não vou abusar.







P.S.: Acabo este texto dizendo que fico muito contente por o Tolentino ter arranjado emprego numa empresa de segurança. Ainda me lembro quando eu tentei ser segurança e se riram de mim e ainda me obrigaram a comprar alguma coisa na loja para não terem prejuízo comigo. Ser segurança é um trabalho que dá respeito e o privilégio de tratar as pessoas por «jovem». Agora só falta ao Gary arranjar emprego. Não que ele precise de dinheiro porque ainda vive daqueles 600€ que ganhou no Totobola há uns tempos atrás, mas pelo menos não fica sozinho o dia todo, a ver Canal História e a ir a conferências sobre a influência das condições meteorológicas no aumento de pedreiros no Curdistão. 



domingo, 26 de maio de 2013

Isto da Internet é um mundo mesmo muito estranho


Com o Gary pouco ou nada inspirado, decidi assumir as rédeas aqui do blog. Entre tê-lo a fazer textos só para encher ou eu a contar a minha vida, prefiro os textos do Gary mas o Ramiro, que percebe de blogs porque também tem um dele, disse para eu ir em frente. Claro que já imagino o Gary a barafustar e a dizer para mudar o nome do blog para «Jorge Abel» e criar uma página no Facebook só para mim mas eu não quero protagonismo. Já me chegou naquela vez em que era o número 69 nas finanças e quando a da recepção gritou «NÚMERO 69» toda a gente ficou a olhar para mim. Olharam tanto para mim que eu nem fui e ela chamou logo o 70. Fui lá no dia a seguir e já era um número em condições, o 349.


Por isso é que gosto de ir à Churrasqueira, que não há senhas e não corro o risco de ser o 69. Acho que o Gary já vos falou da Churrasqueira, que só tem um toldo da Sicasal a dizer «Churrasqueira» e toda a gente vai lá. Quando vou lá buscar o almoço está sempre tudo amontoado uns em cima dos outros a ver quem berra mais alto o pedido. O Vítor Piranha, que por trabalhar lá diz às moças que é o «Rei do Pito», só regista os pedidos que ouve ou dos conhecidos. A mim conhece-me e por isso é rápido. Foi uma das vantagens de trabalhar no talho, o Vítor Piranha ia lá buscar a carne para a Churrasqueira e contava sempre histórias dele de como encavava moças ao ar livre, de como comia pão com queijo e mortadela enquanto jogava poker online ou de como o tio dele ganhou uma úlcera por ter bebido Seven Up durante duas semanas.


Mas chega de falar de vida real, vou falar de Internet porque foi isso que me trouxe aqui. Ontem, uma moça naquele site acabou por me responder mas de forma muito esquisita. Disse-lhe «Olá» e ela respondeu-me com um texto de que um anjo do mal tinha descido à Terra e que ia atacar, sob a forma de um lobo, aquele que não partilhasse a mensagem com 7 amigos. Primeiro não tenho 7 amigos. Segundo, nunca partilhei nenhuma dessas mensagens nem cartas, por isso não ia ser agora. E aposto que a moça que me disse isso ou inventou aquilo para eu não falar mais ou então também não tinha 7 amigos e mandou para mim. Mas nunca me dei ao trabalho de partilhar essas coisas. Uma vez, no meu prédio, vi uma carta dessas quando fui ao correio buscar uma carta do banco para o meu irmão e, sem ninguém ver, pus no correio do 3º andar, eles que lidassem com a carta como quisessem. Tanto quanto sei, até pode ter sido o do 3º andar a pôr a carta no nosso correio. Imagino a cara dele quando visse a carta no correio dele outra vez, a pensar que tinha sido o destino.


Também não acredito muito nessas coisas do destino. Menos se algum dia vier a ser taxista, o que é difícil. O meu tio disse-me que os taxistas têm que pagar protecção aos gandulos, como se vê naqueles filmes e avisou-me que quando há crimes há sempre algum taxista envolvido. Eu sou muito esquisito a conduzir, admito, não dava bem para taxista. Só imagino ter que seguir aquele lema do cliente ter sempre razão e algum obrigar-me a mudar para a Rádio Cidade ou a desligar o rádio. Só consigo conduzir com a Romântica FM ligada, acalma-me os nervos e faz-me pensar em como seria a minha vida se eu não tivesse problemas emocionais. Por isso é que o meu tio diz que eu conduzo mal, porque sempre que vem comigo no carro tenho que desligar o rádio, que ele diz que músicas românticas e problemas emocionais é para paneleiros, e então fico demasiado nervoso.


Quando andava na escola, uma vez fui à psicóloga para fazer aqueles testes que dizem o que vamos ser no futuro. A minha mãe sempre pensou que a psicóloga era aquela moça que dava as injecções para a vacina do tétano e então mandou-me ir e disse-me para tentar roubar uma caixa de pensos rápidos. Se soubesse para que servia a psicóloga nem me deixava ir à escola nesse dia. Mas fui à consulta e ela chegou à conclusão que eu devia ser acompanhado mais de perto porque tinha muitos problemas. Eu disse-lhe que já andava no apoio de Matemática porque a professora mandava sempre muitos problemas para casa, às vezes era aos 12 de cada vez, mas ela não percebeu e ainda por cima nem me ajudou a fazer os trabalhos de casa. Nunca mais fui à psicóloga, mas pelo sim pelo não tento andar sempre acompanhado na rua, para seguir o conselho que ela me deu.







P.S.: Esqueci-me de dizer uma coisa importante ali em cima, mas como vocês já sabem, o meu Delete está estragado e então vai ter que ser mesmo aqui no fim. Quando ia a sair da fábrica no outro dia o patrão passou por mim e perguntou onde é que eu comprava as minhas calças de ganga e depois disse-me que eu era dos funcionários mais indispensáveis que ele tinha actualmente. Já me tinham avisado que o patrão sempre que fala com as pessoas faz dois comentários e que o primeiro é sempre absurdo. Mas desta vez fiquei na dúvida se era assim tão absurdo porque compro as minhas calças na Sandra Roupeira e são bem boas. Menos quando ela me tenta vender calças verdes ou roxas, aí é que o meu tio dizia que eu era um daqueles moços que tem problemas emocionais.


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Meti-me num daqueles sites para conhecer moças mas ainda não tive sorte


No outro dia na fábrica, numa pausa para tomar café, o Venâncio, que é o segurança da porta da entrada, disse que tinha ido tomar café com uma moça que conheceu na internet. Enquanto os outros lhe perguntavam se ele a encavou, a que café é que foi ou qual a marca do café que beberam, eu queria saber que site era esse. Também queria saber a marca do café mas o site era o que mais me interessava. Se fosse uma pausa para café na Robialac estávamos ali à vontade para conversar durante meia hora, mas ali são só 5 minutos e passaram a voar. Fiquei  sem saber qual era o site a que o Venâncio ia.


Voltei ao trabalho mas não me conseguia concentrar. Um site onde podia conhecer moças e sair com elas... Se o Venâncio consegue, eu também ia conseguir. O Venâncio tem uma tatuagem de uma cobra no ombro direito e uma de um golfinho nas costas. O meu tio diz que tatuagens é para punks e para moças que gostam de arreliar os pais. O Venâncio está sempre a ouvir Rádio Festival ou cd's do Marco Paulo e vive sozinho, por isso deve haver outro motivo para se fazer tatuagens que o meu tio não saiba. A única tatuagem que eu tive foi uma que saiu no Chipicao uma vez, que era um desenho todo esquisito. Não sei o que era aquilo mas deu-me comichão no braço durante 3 dias.


Quando saí do trabalho já lá não estava o Venâncio, tinha acabado o turno dele. Estava um moço que só é segurança porque a empresa é de um primo dele que lhe fez o favor. É magrinho, mas daqueles magros que come pouco, não é como aqueles magros que conseguem comer 3 panados da Churrasqueira como se tivessem comido um pão com queijo, usa óculos e está sempre a jogar Freecell no telemóvel. Não sei se tem tatuagens como o Venâncio mas numa ocasião ouvi-o a dizer que os seguranças que trabalham na Robialac podem espancar os intrusos à vontade. Parece que tudo é bom e espectacular na Robialac mas não é bem assim. Eles têm lá uma cantina e duas vezes por semana é almôndegas. E ainda por cima mal feitas. Mas adiante, como não estava lá o Venâncio vim embora. Tive de perguntar ao Gary se conhecia algum site desses mas ele disse que não estava a perceber e começou a falar de minotauros.


Sem ajuda de ninguém, fui pesquisar no google. Aparecem coisas incríveis ao pesquisar no google. Escrevi «site para conhecer moças» e apareceu um site que dava para encomendar bonecas insufláveis. Também apareceu um em que podia encomendar 20 cactos por 4€, o que era uma oferta bastante boa mas não era oportuna. Mais tarde voltarei ao site para encomendar os cactos que era um preço muito bom mesmo. Finalmente, descobri um site para conhecer moças. Tive que pôr uma fotografia e criar um perfil onde dizia coisas de que gostava. A fotografia foi fácil, escolhi uma em que estava de tronco nu, de certeza que vai ser mais fácil assim. Difícil foi dizer que filmes gostava ou que músicas ouvia. Uma vez o Gary disse-me que mais importante que a primeira impressão era a terceira. A segunda impressão não importava assim tanto porque estava no meio de duas importantes. Não sei bem o que ele quis dizer com aquilo mas nunca mais me esquecerei.


Investi uns 20 minutos para fornecer algumas informações minhas. Como não sabia o que pôr pensei no que as moças gostam e então pus que gostava de Phil Collins, de Romana e que o meu filme preferido era o África Minha. Também escrevi que gostava de filosofia e de psicologia, que as moças gostam dessas coisas. Perante isto estava pronto para o regabofe e para as conversas. Mas o mundo da internet é um mundo no qual não sei se quero viver. Disse «Olá» para aí a 70 moças e nenhuma delas me respondeu, todas mal-educadas. Depois mudei de estratégia e disse «bom dia» a umas 30 mas o resultado foi o mesmo. Porque vão para o site se depois não respondem a uma pessoa? Ao menos no talho, sempre que dizia «olá» ou «bom dia» às moças respondiam sempre. Agora já percebo porque dizem que a vida real é melhor que a internet.






P.S.: Entretanto descobri que um dos possíveis motivos de não me responderem é de eu só ter uma fotografia. Foi o Tolentino que me disse que quando andava por esses sites desconfiava sempre de moças que tivessem só uma fotografia porque ou eram pobres e não tinham dinheiro para mais, ou eram infelizes e solitárias que só por uma ocasião tinham tido um amigo ou um familiar a tirar-lhes fotografias, ou não percebiam nada de computadores e só tinham conseguido pôr uma fotografia por sorte ou então eram perfis falsos para dar gozo. Por isso, pus outra fotografia quando fui com o Gary e com o Tolentino a um bar de strip, quer dizer, a um bar. Merda. Porque é que me ponho a escrever este texto num teclado que tem o delete estragado ...


quarta-feira, 22 de maio de 2013

Coisas que os animais diziam se os conseguisses ouvir a falar


No outro dia tive alta alucinação. A minha mãe disse que era por causa de estar com gripe mas eu acho que foi por ter comido aqueles cogumelos no Parque da Cidade quando estava à procura de frutos do bosque. Disseram-me uma vez que o Parque da Cidade era um bosque, por isso fui ver se tinha lá frutos do bosque. Tinha moços a correr, moças a andar, moços e moças a encavarem-se e outros moços a verem esses que estavam no encavanço. Também vi cães, patos e gaivotas, mas frutos do bosque nada.


Das duas uma, ou o Parque da Cidade não é considerado bosque ou os frutos do bosque sabiam que tinham sido descobertos e esconderam-se. Ouvi dizer que eles são a maçonaria dos frutos, reúnem-se em segredo para conspirar contra as bananas e as ameixas e têm um triste destino sempre que são apanhados: são transformados em iogurtes de frutos do bosque. Uma parte da minha alucinação foi ter ouvido estas coisas mas não foi a pior parte. 


A pior parte foi uma coisa que nem me deixou dormir direito. Era o Dr. Dolittle português e percebia o que os animais diziam, mas não podia falar com eles, só ouvir. Mas isso já foi escolha minha, que o Dr. Dolittle começou a falar com eles e ficou maluco e eu isso não quero. Vou partilhar com vocês algumas coisas que ouvi então nesta alucinação:



  • Carneiros: a grande decepção dos carneiros em geral é terem uma conotação altamente negativa na linguagem humana. Quando alguém chama carneiro a outra pessoa está a falar de signos. Os carneiros acreditam que podiam ter uma marca muito mais profunda na sociedade para lá de serem apenas um signo. Um deles até disse que um «pontapé à carneiro» podia ser um gesto técnico extremamente difícil e bonito no futebol;

  • Veados: uma das maiores protecções que o Mundo criou em redor dos veados foi o Bambi, que mostrou o lado humano deles. Durante uns tempos a caça ao veado foi muito menor por causa do filme, mas depois toda a gente se esqueceu do filme e desatou a matar veados por causa do estereótipo de se chamar «veado» aos homossexuais. Segundo o que ouvi um veado dizer, os homossexuais comem mais peru e nunca ninguém lhes chamou «perus»;

  • Perus: naqueles debates na televisão estão sempre contra os veados. A Associação dos Direitos dos Perus insiste em dois argumentos que, a meu ver, são fortíssimos. Primeiro, deram nome a um país muito fraquinho, que nunca ganhou uma guerra, nunca ganhou nenhum mundial de futebol e ainda por cima não tem nenhuma bebida alcoólica originária de lá que seja boa. Segundo, porque começam a ser mal vistos na comunidade animal por começarem a roubar protagonismo aos frangos sempre que um guarda-redes comete uma falha grave que resulta em golo. Depois disto ainda queriam que os associassem aos homossexuais? Era o extermínio dos perus;

  • Cabras: os concertos de Marilyn Manson eram os maiores pesadelos das cabras. Durante uma digressão daquele moço esquisito morria sempre a prima de alguma conhecida e eram meses de luto e de luta pela sobrevivência. Entretanto, esse moço deixou de dar concertos e as cabras começaram a ser mais poupadas. No entanto, a associação a moças que deixam a desejar em termos de atitudes e comportamentos fez com que o número de ataques raivosos a cabras por parte de moços amargurados tenha matado umas quantas e mandado outras tantas para o hospital. E o hospital das cabras não é nada barato;

  • Ursos: se ouvissem os ursos a falar, como eu ouvi, iam ficar perplexos com a inteligência deles. Discutem filosofia, o sentido da vida e a conjuntura macro-económica da Europa moderna. Debatem história e a influência dos fenícios na confecção do souflé de caranguejo. Trocam receitas de salmão e de criança perdida no mato. Por isso, imaginem a indignação que vai para aqueles lados quando descobrem que são equiparados a um burro ou a uma carpa por uma espécie que, para eles, cru é bom mas grelhado sabe muito melhor;

  • Vacas: como deve ser do conhecimento humano, as vacas gostam do protagonismo e da atenção. Também têm especial atracção pelos bois, quer as vacas-vacas quer as vacas-humanas. Por isso, não é de estranhar que por aqueles lados andem extremamente irritadas e amarguradas com o facto de muito do mercado das vacas ser agora ocupado pelas porcas. De repente, sem que nada acontecesse para tal substituição, uma porca deixou de ser uma moça que gostasse de comer lápis de cera para ser uma moça que usa calções que parecem boxers. Invadiram o território das vacas. Agora não há aquela distinção clara que havia entre uma porca e uma vaca, como no passado. 





Outras perguntas surgiram na minha cabeça. Por exemplo, o que é um cabrão? Não descobri resposta enquanto percebi os animais, ninguém falou nos cabrões, ninguém os mencionou e muito menos ninguém insultou alguém utilizando esse termo. E acreditem que eles falaram de tudo. De morsas, de pigmeus, de dragões do Komodo e de rouxinóis. Também ninguém falou de vinténs. O que é um vintém? Até aos meus 17 anos pensava que um vintém era uma moeda mas depois um amigo meu, uma vez, disse que eu por uma cerveja dava o cu a três vinténs e então percebi que era impossível ser uma moeda. Adorava descobrir o que é um vintém. Também adorava voltar a ser feliz, mas para já preferia saber o que é um vintém.






P.S.: Esta coisa de estar ausente daqui durante 700 anos tem uma coisa de positivo: não preciso de dar explicações a ninguém no início porque demorei tanto tempo que vocês, mal viram um texto novo, já estavam aí a fervilhar. Depois, também serve para outra coisa muito mais importante: quando não sei mais que dizer no P.S. posso sempre falar porque estive tão ausente e não escrevi nada nos últimos 8 meses e meio. Detesto admitir mas às vezes o Tolentino tem razão, isto dos P.S.'s às vezes é difícil. Também tem razão quando diz que os recordes do mundo são uma estupidez, mas isso fica para outro P.S.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Coisas que estão erradas no Dragon Ball


Sei que já fiz um texto em que abordava o mito urbano-social de que as bolas de cristal do Dragon Ball, depois de ser chamado o dragão, caíam sempre em rios, mares, desertos ou grutas e nunca em nenhuma casa na cidade, em nenhum restaurante ou estabelecimento comercial. Também já pensei para mim mas sem escrever o quanto as companhias de seguro iam lucrar por ano só com os seguros contra danos provocados por bolas de cristal. Ou então como os guerreiros se comprometiam a, uma vez por ano, pedir um desejo que fossem reparadas todas as casas e edifícios atingidas por bolas de cristal, em vez de ressuscitarem o Yamcha pela 63ª vez.


Também sei que alguns de vocês vão pensar que se estou a escrever este texto é porque não gosto do Dragon Ball. Bem pelo contrário, para escrever isto foram necessárias horas intensas de visualização de todos os episódios deixando para segundo plano os estudos, o trabalho, a vida social e amorosa. Claro que fazer isto aos 10 anos fazia sentido. E agora também faz, pensando bem. Mas esse pensamento mostra como os julgamentos antecipados são completamente errados. Antes de julgarem haviam de aprender com os dos estereótipos, que esses podem falhar em dois ou três casos mas no geral acertam sempre.


Quão bons e fortes são os estereótipos? Esse é certamente motivo para outro texto deste vosso pensador social (ainda que exista por aí um moço ciumento que não me reconheça esse mérito) mas por agora fico-me por mostrar algumas coisas que estão erradas no Dragon Ball e que me fazem questionar a sua aplicabilidade:



  • Os crimes cometidos por moços como o Cell não são investigados por autoridades criminais, mas são só resolvidos pelos guerreiros. Depois de eliminados os maus volta tudo ao normal, nunca ninguém foi interrogar o Son Goku para averiguar o que tinha acontecido e para se desenvolver um plano de contingência para os civis. É que toda a gente se preocupa em salvar a Terra mas ninguém se interessa se morrem milhares de civis, desde que o mau morra no fim;  

  • A tecnologia está toda concentrada em casa do pai da Bulma, que nunca deve ter levado uma auditoria, não tem funcionários e não deve pagar impostos nenhuns nem declarar o que recebe. Pelo menos o Son Goku não paga nada e levou pelo menos 2 naves para irem a Namek e aquilo não é nada barato;

  • Sempre me perguntei quem é que justifica as faltas do Son Gohan e que justificação é que utiliza. Porque é que nunca nenhum assistente social foi interrogar a Kika quando uma criança desaparece 3 meses da escola e ninguém lhe põe a vista em cima? E como ficaria a atribuição da custódia da criança se se descobrisse que ele tinha ido para outro planeta combater? Já para não falar que depois quando voltasse à escola ia reprovar de certeza, porque em 3 meses ia faltar para aí a uns 3 testes por disciplina;

  • Os mecanismos de luto são extremamente ambíguos. Como é que alguém explica a uma criança o que é a morte se facilmente se pode ressuscitar alguém? E pior! Como é que uma pessoa normal explica a uma criança o que aconteceu ao tio Valdomiro, que faleceu, quando essa criança vai para a escola, fica na turma de um repetente chamado Son Gohan, que conta histórias de amigos dele que ressuscitaram com as bolas de cristal? É que ainda por cima isso só parece acessível a uma franja privilegiada da população;

  • Quais são os rendimentos económicos do Tartaruga Genial? E como é que ele vive numa ilha minúscula, inexplorada, mas que garante os recursos necessários para que possa ali viver, tendo acesso a água potável e a ingredientes frescos, mais televisão por cabo e, aposto, Internet. Das duas uma: ou tem uma reforma choruda que lhe permite manter estes luxos ou então é mais um a fazer desfalques e a fugir aos impostos. E depois é uma pessoa instável, a merecer avaliação psiquiátrica, tendo em conta que é um idoso, tarado sexual, a viver numa ilha com uma tartaruga gigante, um porco e um gato;

  • Como é que ainda há gente que se arrisca a ir assistir aos ditos «torneios de artes marciais» quando, além de dar na televisão com comentários imperdíveis, todos os anos há tragédias, com milhares de mortos, bancadas destruídas e guerreiros fora de controlo? É que se isso acontecesse na primeira edição, era normal que se apanhassem as pessoas desprevenidas, mas não, é todos os anos o mesmo! E depois são torneios que demoram dias a acabar e as pessoas estão ali, ao sol e sujeitas a serem fulminadas por um ataque qualquer que é tudo menos arte marcial;

  • Percebe-se que a lógica do Dragon Ball está ameaçada não quando entre os cidadãos e meros transeuntes aparecem ursos ou alguns dos polícias são cães. Também não é quando o Satan e o Tenshinan andam por entre as pessoas como se fossem completamente normais e como se um deles não fosse verde. A lógica fica ameaçada quando nas zonas rurais e mais remotas, tipo florestas, existem dragões e dinossauros. E nunca nenhum geólogo ou paleontólogo foi investigar isso, nem nunca ninguém viu (e os que viram não ligaram nadinha);

  • A universalidade do idioma comum extravasa as fronteiras do aceitável. Tudo bem que um dos factores que podem acontecer no futuro é haver um idioma universal e toda a gente se expressar da mesma forma. No entanto, como explicar que pessoas deste planeta viajam para outro (Namek), chegam lá, deparam-se com a existência de um idioma local, mas os habitantes desse planeta dominam plenamente o idioma dos terrestres e até o falam entre eles, utilizando o namekiano, o seu idioma de base, apenas para comunicarem com o dragão, quando o evocam;

  • Por falar em dragões ... Não há meteorologistas no Dragon Ball? Pelo menos na Terra, imagino que em Namek ainda não tivessem desenvolvido a tecnologia para isso, embora tivessem tecnologia para desenvolver bolas de cristal. Pergunto isto porque se existissem meteorologistas já muitos tinham sido despedidos por terem previsto um dia de céu limpo e sol e, de repente, o céu ficava todo escuro por uns minutos sem ninguém perceber porquê. E como é que nunca ninguém viu um dragão de 30 metros e tentou ver de onde é que aparecia? E quando o dragão aparecia toda a gente seguia a sua vida normal como se fosse algo tão normal como um aguaceiro?




Tinha muitos mais pontos de reflexão mas não quero chatear muito e assim, num dia que esteja sem tema ou noutra ocasião em que o Jorge Abel se lembre de me vir aqui atacar e fingir-se dono da verdade, faço o «Coisas que estão erradas no Dragon Ball, Parte 2». Depois dizem que não sou um pensador social, viram bem esta noção de aproveitamento, planeamento e pensamento estratégico? E mais, Jorge Abel, é por confundires o Quirguistão com Paredes que nunca tiraste mais de 3 a Geografia. E só não tiravas negativa porque a professora recuperou de uma depressão com os teus testes, acho que se ria mais do que a professora de Matemática quando te mandava ao quadro de propósito. O Júlio Facadas está no Quirguistão, que ele não mentia ao Rebelo. Podia mentir a um polícia, podia mentir em tribunal (como já o fez), podia mentir a um agente de seguros, mas ele nunca ia mentir ao Rebelo.






P.S.: Falando do Dragon Ball, lembrei-me agora de outra coisa. De onde apareceu o Chaoz? Era um mimo que desenvolveu técnicas de combate (embora levasse sempre nos cornos de qualquer um) ou era uma típica gueisha, por quem o Tenshinan se apaixonou e o tirou daquela vida? E quem é que era mais fraco, o Chaoz ou o Yamcha? O Yamcha faz lembrar aquele típico lindão que vai para o ginásio dois meses, faz duas aulas de karaté e já se acha o maior, mas depois apanha alguém que sabe realmente lutar e leva grandes coças. 

domingo, 12 de maio de 2013

Algumas coisas que quero tirar a limpo


Uma vez disseram-me que eu era uma pessoa sem rodeios. Não sei bem o que é isso de ser sem rodeios. Rodeios é uma palavra utilizada por aquelas pessoas que não dizem «gomos de maçã» mas «rodeios de maçã»? Também já me disseram que rodeios é aquelas cenas que uns moços armados em cowboys fazem nos Estados Unidos, onde se montam em cima de touros e vêem quem é que cai primeiro. Se for caso disso, eu digo «gomos de fruta» e nunca montei nenhum touro. Nem nenhuma toura. Por isso, acho que sim, sou uma pessoa sem rodeios.


Desde que descobri que não tenho piada decidi deixar de vir aqui ao blog escrever numa perspectiva de tentar ser engraçado (ainda que eu nunca vos tenha dito nenhuma piada nem contado nenhuma história engraçada que me tenha acontecido e pudesse servir de piada, só que o Gary disse-me que ninguém me achava piada e eu acredito nele, afinal é amigo do Teófilo e o Teófilo é que é o moço das estatísticas). A minha resolução de meio ano é escrever no blog só sob a forma informativa. Isto das resoluções de meio ano é uma coisa que decidi implementar para mim próprio, acabava por ser muito custoso em termos de memória lembrar-me em Outubro ou Novembro de coisas que tinha pensado em Dezembro.


Há então algumas coisas que quero tirar a limpo, prometo não me alongar muito. Primeiro, Gary, és um bom amigo, sabes fazer boas tostas mistas e originais, graças a ti descobri que uma tosta mista não tem que levar necessariamente queijo e fiambre, para ser mista basta juntar 2 coisas diferentes. Também és um bom jogador de sueca embora sejas um péssimo parceiro, sempre a fazer-me sinais que eu não percebo e a chateares-te comigo quando eu jogo mal uma bisca. Mas não és um pensador social. Longe disso. O meu tio é um pensador social, pensa em termos lógicos e matemáticos, pensa em dilemas estruturais e essenciais como por exemplo se o Nestea copiou o Ice Tea ou se fez só um upgrade do sabor para ser diferente. Tu não. Tu só gostas de falar e como já não podes arreliar o Tolentino, que desde que o voltaste a arreliar a falar de pornografia nunca mais apareceu em tua casa, vens aqui para o blog dizeres que te acham um pensador social.


E mais, para não pensares que tirei o dia para te arreliar, até te vou ajudar com uma coisa. Eu sei o que aconteceu ao Teófilo e não é nada do que tu estás a pensar. Sei bem porque é que ele nunca mais escreveu aqui no blog. O Teófilo nunca teve estatística na vida dele. Aliás, ter teve, mas não ia às aulas. Nem sequer apareceu no exame nacional. Quando não quis escrever mais inventou essa desculpa, que ia tratar das estatísticas e tu caíste que nem um patinho. Acreditas em tudo o que o Teófilo te diz, até mesmo quando ele te disse que o Júlio Facadas foi viver para o Quirguistão para esfaquear horticultores quando ele foi viver para a casa do tio, em Paredes. No Teófilo acreditas, mas quando eu te disse que o meu patrão encavava moças em cima dos rosbifes congelados achaste que era grande mentira e depois quem levou coças do meu tio fui eu, a dizer que não tinha avisado as pessoas.


Outra coisa, ele ficou assim desde que aquele diálogo que vocês fizeram sem mim e sem o Tolentino não teve grande impacto e não vos lançou para uma carreira no mundo da comédia. O Teófilo queria era ser conhecido e quando viu que isto não dava nada decidiu saltar do barco. Grande amigo. Já não chegava uma vez te ter tirado o mp3 sem tu te teres apercebido e te ter apagado as músicas todas que tinhas e substituído tudo por Pavarotti e Il Divo para tu teres grande confusão de identidade, agora isto. Mas já sei como é que vai acontecer, vais achar que eu sou o mau da fita nisto tudo e que ele é que é teu amigo, eu é que invento estas coisas porque estou com ciúmes de ti e do Teófilo, dois amigos que não se falam há meses e que tinham um projecto em comum que o outro abandonou definitivamente. Pode ser que vás com ele e com o Tolentino a outra convenção sobre o impacto dos minotauros na economia da Grécia Antiga, já que é isso que fazes com os amigos.







P.S.: Para aqueles que dizem que isto pode ser ciúmes, porque raio ia eu ter ciúmes de alguém quando fui promovido outra vez na fábrica de tintas? Todos na fábrica querem ir para a Robialac e eu posso-me dar ao luxo de dizer que um executivo da Robialac veio falar comigo para eu ir trabalhar para lá e eu rejeitei. Para que é que ia ganhar mais 300€ quando a fábrica deles fica a 5 paragens do autocarro da minha e só preciso de 10 minutos para lanchar? E mais, o meu tio disse-me que isso de ter ciúmes de um amigo se chamava homossexualidade e mandou o meu irmão dar-me uma coça para ver se me passava. Depois daquela coça, se havia algum ciúme, desapareceu todo. 

terça-feira, 7 de maio de 2013

Estereótipos que podes encontrar na pornografia


Já sei que me vão julgar por isto que vou dizer a seguir mas no outro dia decidi ver um filme porno. Entre outras razões do foro fisiológico, fi-lo essencialmente por três motivos: estou sempre a falar de actores pornográficos, estou sem escrever e sem tema há demasiado tempo e porque não estava a dar nada de jeito na televisão, nem sequer no Canal História. Podia estar a dar alguma reconstituição de quando os Visigodos invadiram uma tribo de Vândalos porque descobriram que os Suevos tinham encontrado uma maneira nova de asar um javali que só os Vândalos sabiam.


Uma vez disseram-me que se aprende com tudo na vida. A princípio discordei porque nunca aprendi nada com a Filosofia, mesmo que tenha tido dois anos daquela porcaria. Também nunca aprendi com os erros. Mas aprende-se muita coisa com a pornografia, muito mais do que vocês, mentes fechadas, pensam que se aprende. Claro que a pornografia é uma arte estragada por uns moços que com a ganância do dinheiro fazem filmes em que só precisam de uma câmara, de uma moça sem preconceitos e de um moço sem vergonha que se põem ali na libertinagem. Sem argumento, sem contexto, sem nada.


Já me disseram que sou um pensador social. Outros disseram-me que sou insensível e frio. Ainda que esta última tenham sido mais outras que outros. Mas acima de tudo, sou um comido do cérebro e é por isso que descobri (e vou partilhar com vocês) alguns estereótipos que podes encontrar na pornografia:




  • Não admira que uma loira não possa andar descansada na rua. Na pornografia, são retratadas como as maiores porcas e as maiores atrevidas. Não há mais filmes a aparecerem num site porno do que quando pesquisas a palavra «blonde». Para se ser actriz porno tem que se ser loira ou pintar o cabelo dessa cor, discriminando-se os outros tipos de cabelo ou é só uma coincidência?

  • A pornografia é uma eterna perpetuadora do racismo. Pelo menos sabes que quando aparece um preto lá vai aparecer um órgão sexual enorme que até te vai fazer sentir mal contigo próprio. Isto não é catalogar as pessoas, dizer que todos os pretos têm uma pila assim? E depois perpetua o racismo porque os brancos vão-se sentir mal e inferiorizados por isso e vão alimentar o ódio perante eles por este aspecto;

  • Por outro lado vêm os chineses. Esses sim fazem-me sentir bem. Vendem t-shirts a 2€, phones a 1,5€ e fazem-me sentir bem com o meu órgão sexual, em comparação com o deles. Quase que me faz esquecer que vendem carne de gato nos restaurantes deles e que cortam as melhores partes na pornografia feita por eles. Mesmo assim, não deixa de ser outro estereótipo;

  • Outra coisa que a pornografia perpetua é que qualquer moça fica sensual com óculos. E sem roupa. Isso acaba por ser verdade apenas para uns 40% da população mundial de moças. Não imagino a prima do Ramiro, uma daquelas moças que os mais simpáticos não chamam de balofa mas dizem que «dá bons abraços», a ficar mais sensual por usar óculos e por estar sem roupa. Bem pelo contrário;

  • Não sei em que mundo vivem os realizadores de filmes pornográficos mas há cada vez mais divórcios e recasamentos e famílias agregadas. A figura do padrasto e da madrasta é algo cada vez mais natural e frequente na sociedade moderna. No entanto, para a pornografia, ainda é altamente provável que um padrasto acabe na cama com a filha da mulher (que não sei o nome, desculpem de não ser um expert em termos familiares. Por exemplo, confundo nora com enteada, mas não é sobre isso que nos vamos focar) só porque não são familiares de sangue;

  • Não há maior estereótipo propagado pela pornografia do que acentuar a disponibilidade sexual das mulheres. É demasiado fácil! Basta ir entregar uma pizza e vai ser regabofe a tarde toda. Basta ir arranjar um cano roto e na volta ainda se arranjam os canos da senhora. Basta conceder uma boleia a uma moça e a paga é encavá-la no carro. Isto não é realidade, desculpem lá! Não que eu não gostasse que assim fosse, mas andam a vender-nos ilusões! E isso é uma coisa muito feia, porque depois há moços que acreditam que é mesmo assim;

  • Na vida real devemos temer os violadores, os pedófilos e os horticultores. Pelo contrário, na pornografia, um pai deve temer é os professores e os médicos. Imagino-me a mim, a ser pai de uma moça que fosse apresentável e não fosse asquerosa. Não fazia um trabalho de casa ou tinha tirado 2 num teste e vinha para casa a cheirar a suor e a vergonha! Ia a uma consulta de rotina no médico e vinha com o mesmo cheiro! E eram pessoas em que eu podia aparentemente confiar, não é como os horticultores que te vendem espargos selvagens e dizem-te que são pimentos verdes;

  • Eu não sei em que mundo vivem os realizadores pornográficos mas eu vivo numa rua em que se sabe tudo. E custa-me imenso a acreditar que ninguém descobrisse nem comentasse se eu me envolvesse sexualmente com uma vizinha trintona ou quarentona, que me aparecesse à porta de casa sem avisar. E mesmo que me safasse da primeira vez, dificilmente me safava à segunda. E que moda é essa das vizinhas irem a casa dos outros para se oferecerem? Só na minha rua, as minhas vizinhas tocam à minha campainha para me avisarem que deixei a luz de fora ligada;

  • Também não sei como funciona o sistema de entrega de encomendas ou os correios nos países onde se fazem os filmes pornográficos, mas aqui eles têm que entregar a encomenda o mais rápido possível porque têm uma carrinha cheia delas para despacharem naquela manhã ou naquela tarde. Nos filmes pornográficos não. Logo na primeira ou na segunda entrega ficam lá hora e meia a encavarem a moça. E depois, ainda por cima, apanham sempre moças sozinhas em casa e com vontade de copular. Os maridos estão sempre fora, também devem entregar encomendas. Ou então devem ser médicos ou professores;

  • O mundo é mais perigoso quando os moços que vêem pornografia acreditam no estereótipo de que é legal, possível e perfeitamente aceitável embebedarem uma moça e encavá-la, como se vê nos filmes. E o mais grave é que nesses filmes, ao início elas estão ali todas revoltadas e a dar luta, mas depois libertam-se completamente e parece que gostam mais daquilo do que os moços que as estão a encavar. Depois da mensagem que pôr as filhas num colégio é ditar a sentença de morte à virgindade delas, esta é a mais perigosa.





Também me disseram uma vez que o que importa não é a meta mas o caminho. Basicamente, é o mesmo que dizer que os meios justificam os fins. Ou que os fins justificam os meios. Ou que os quartos justificam os terços e os meios justificam as quartas partes. Quando eu tinha trabalhos na escola tirava sempre notas baixas porque nunca justificava o texto e então os fins não estavam justificados, nem os meios. Tudo isto para dizer que antes de me julgarem por ter visto tanta pornografia, lembrem-se do propósito pelo qual vi: para pensar sobre o tema, para o explorar a fundo, para dar a conhecer vários pontos de vista, como um bom pensador social faria. E como um bom actor pornográfico também faz nesses filmes, que explora as moças a fundo, em vários pontos de vista.








P.S.: Tolentino, sei que detestas pornografia e já fizeste um texto sobre isso. Desta vez, ao contrário do que fiz com o cinema, não estou a fazer isto para te arreliar. Embora já estejamos todos fartos de te ouvir dizer que detestas recordes do mundo e nunca escreveste nada sobre isso. Pareces o Teófilo. Quer dizer, por acaso não pareces, que o Teófilo quando faz (ou desfaz) a barba tem parecenças com o Enrique Iglesias, enquanto tu pareces mais o José Raposo quando era mais novo. A diferença é que ele aparecia na televisão e tu só me apareces em casa para lanchar.