Sei que já fiz um texto em que abordava o mito urbano-social de que as bolas de cristal do Dragon Ball, depois de ser chamado o dragão, caíam sempre em rios, mares, desertos ou grutas e nunca em nenhuma casa na cidade, em nenhum restaurante ou estabelecimento comercial. Também já pensei para mim mas sem escrever o quanto as companhias de seguro iam lucrar por ano só com os seguros contra danos provocados por bolas de cristal. Ou então como os guerreiros se comprometiam a, uma vez por ano, pedir um desejo que fossem reparadas todas as casas e edifícios atingidas por bolas de cristal, em vez de ressuscitarem o Yamcha pela 63ª vez.
Também sei que alguns de vocês vão pensar que se estou a escrever este texto é porque não gosto do Dragon Ball. Bem pelo contrário, para escrever isto foram necessárias horas intensas de visualização de todos os episódios deixando para segundo plano os estudos, o trabalho, a vida social e amorosa. Claro que fazer isto aos 10 anos fazia sentido. E agora também faz, pensando bem. Mas esse pensamento mostra como os julgamentos antecipados são completamente errados. Antes de julgarem haviam de aprender com os dos estereótipos, que esses podem falhar em dois ou três casos mas no geral acertam sempre.
Quão bons e fortes são os estereótipos? Esse é certamente motivo para outro texto deste vosso pensador social (ainda que exista por aí um moço ciumento que não me reconheça esse mérito) mas por agora fico-me por mostrar algumas coisas que estão erradas no Dragon Ball e que me fazem questionar a sua aplicabilidade:
- Os crimes cometidos por moços como o Cell não são investigados por autoridades criminais, mas são só resolvidos pelos guerreiros. Depois de eliminados os maus volta tudo ao normal, nunca ninguém foi interrogar o Son Goku para averiguar o que tinha acontecido e para se desenvolver um plano de contingência para os civis. É que toda a gente se preocupa em salvar a Terra mas ninguém se interessa se morrem milhares de civis, desde que o mau morra no fim;
- A tecnologia está toda concentrada em casa do pai da Bulma, que nunca deve ter levado uma auditoria, não tem funcionários e não deve pagar impostos nenhuns nem declarar o que recebe. Pelo menos o Son Goku não paga nada e levou pelo menos 2 naves para irem a Namek e aquilo não é nada barato;
- Sempre me perguntei quem é que justifica as faltas do Son Gohan e que justificação é que utiliza. Porque é que nunca nenhum assistente social foi interrogar a Kika quando uma criança desaparece 3 meses da escola e ninguém lhe põe a vista em cima? E como ficaria a atribuição da custódia da criança se se descobrisse que ele tinha ido para outro planeta combater? Já para não falar que depois quando voltasse à escola ia reprovar de certeza, porque em 3 meses ia faltar para aí a uns 3 testes por disciplina;
- Os mecanismos de luto são extremamente ambíguos. Como é que alguém explica a uma criança o que é a morte se facilmente se pode ressuscitar alguém? E pior! Como é que uma pessoa normal explica a uma criança o que aconteceu ao tio Valdomiro, que faleceu, quando essa criança vai para a escola, fica na turma de um repetente chamado Son Gohan, que conta histórias de amigos dele que ressuscitaram com as bolas de cristal? É que ainda por cima isso só parece acessível a uma franja privilegiada da população;
- Quais são os rendimentos económicos do Tartaruga Genial? E como é que ele vive numa ilha minúscula, inexplorada, mas que garante os recursos necessários para que possa ali viver, tendo acesso a água potável e a ingredientes frescos, mais televisão por cabo e, aposto, Internet. Das duas uma: ou tem uma reforma choruda que lhe permite manter estes luxos ou então é mais um a fazer desfalques e a fugir aos impostos. E depois é uma pessoa instável, a merecer avaliação psiquiátrica, tendo em conta que é um idoso, tarado sexual, a viver numa ilha com uma tartaruga gigante, um porco e um gato;
- Como é que ainda há gente que se arrisca a ir assistir aos ditos «torneios de artes marciais» quando, além de dar na televisão com comentários imperdíveis, todos os anos há tragédias, com milhares de mortos, bancadas destruídas e guerreiros fora de controlo? É que se isso acontecesse na primeira edição, era normal que se apanhassem as pessoas desprevenidas, mas não, é todos os anos o mesmo! E depois são torneios que demoram dias a acabar e as pessoas estão ali, ao sol e sujeitas a serem fulminadas por um ataque qualquer que é tudo menos arte marcial;
- Percebe-se que a lógica do Dragon Ball está ameaçada não quando entre os cidadãos e meros transeuntes aparecem ursos ou alguns dos polícias são cães. Também não é quando o Satan e o Tenshinan andam por entre as pessoas como se fossem completamente normais e como se um deles não fosse verde. A lógica fica ameaçada quando nas zonas rurais e mais remotas, tipo florestas, existem dragões e dinossauros. E nunca nenhum geólogo ou paleontólogo foi investigar isso, nem nunca ninguém viu (e os que viram não ligaram nadinha);
- A universalidade do idioma comum extravasa as fronteiras do aceitável. Tudo bem que um dos factores que podem acontecer no futuro é haver um idioma universal e toda a gente se expressar da mesma forma. No entanto, como explicar que pessoas deste planeta viajam para outro (Namek), chegam lá, deparam-se com a existência de um idioma local, mas os habitantes desse planeta dominam plenamente o idioma dos terrestres e até o falam entre eles, utilizando o namekiano, o seu idioma de base, apenas para comunicarem com o dragão, quando o evocam;
- Por falar em dragões ... Não há meteorologistas no Dragon Ball? Pelo menos na Terra, imagino que em Namek ainda não tivessem desenvolvido a tecnologia para isso, embora tivessem tecnologia para desenvolver bolas de cristal. Pergunto isto porque se existissem meteorologistas já muitos tinham sido despedidos por terem previsto um dia de céu limpo e sol e, de repente, o céu ficava todo escuro por uns minutos sem ninguém perceber porquê. E como é que nunca ninguém viu um dragão de 30 metros e tentou ver de onde é que aparecia? E quando o dragão aparecia toda a gente seguia a sua vida normal como se fosse algo tão normal como um aguaceiro?
Tinha muitos mais pontos de reflexão mas não quero chatear muito e assim, num dia que esteja sem tema ou noutra ocasião em que o Jorge Abel se lembre de me vir aqui atacar e fingir-se dono da verdade, faço o «Coisas que estão erradas no Dragon Ball, Parte 2». Depois dizem que não sou um pensador social, viram bem esta noção de aproveitamento, planeamento e pensamento estratégico? E mais, Jorge Abel, é por confundires o Quirguistão com Paredes que nunca tiraste mais de 3 a Geografia. E só não tiravas negativa porque a professora recuperou de uma depressão com os teus testes, acho que se ria mais do que a professora de Matemática quando te mandava ao quadro de propósito. O Júlio Facadas está no Quirguistão, que ele não mentia ao Rebelo. Podia mentir a um polícia, podia mentir em tribunal (como já o fez), podia mentir a um agente de seguros, mas ele nunca ia mentir ao Rebelo.
P.S.: Falando do Dragon Ball, lembrei-me agora de outra coisa. De onde apareceu o Chaoz? Era um mimo que desenvolveu técnicas de combate (embora levasse sempre nos cornos de qualquer um) ou era uma típica gueisha, por quem o Tenshinan se apaixonou e o tirou daquela vida? E quem é que era mais fraco, o Chaoz ou o Yamcha? O Yamcha faz lembrar aquele típico lindão que vai para o ginásio dois meses, faz duas aulas de karaté e já se acha o maior, mas depois apanha alguém que sabe realmente lutar e leva grandes coças.
Sem comentários:
Enviar um comentário