Já sei que me vão julgar por isto que vou dizer a seguir mas no outro dia decidi ver um filme porno. Entre outras razões do foro fisiológico, fi-lo essencialmente por três motivos: estou sempre a falar de actores pornográficos, estou sem escrever e sem tema há demasiado tempo e porque não estava a dar nada de jeito na televisão, nem sequer no Canal História. Podia estar a dar alguma reconstituição de quando os Visigodos invadiram uma tribo de Vândalos porque descobriram que os Suevos tinham encontrado uma maneira nova de asar um javali que só os Vândalos sabiam.
Uma vez disseram-me que se aprende com tudo na vida. A princípio discordei porque nunca aprendi nada com a Filosofia, mesmo que tenha tido dois anos daquela porcaria. Também nunca aprendi com os erros. Mas aprende-se muita coisa com a pornografia, muito mais do que vocês, mentes fechadas, pensam que se aprende. Claro que a pornografia é uma arte estragada por uns moços que com a ganância do dinheiro fazem filmes em que só precisam de uma câmara, de uma moça sem preconceitos e de um moço sem vergonha que se põem ali na libertinagem. Sem argumento, sem contexto, sem nada.
Já me disseram que sou um pensador social. Outros disseram-me que sou insensível e frio. Ainda que esta última tenham sido mais outras que outros. Mas acima de tudo, sou um comido do cérebro e é por isso que descobri (e vou partilhar com vocês) alguns estereótipos que podes encontrar na pornografia:
- Não admira que uma loira não possa andar descansada na rua. Na pornografia, são retratadas como as maiores porcas e as maiores atrevidas. Não há mais filmes a aparecerem num site porno do que quando pesquisas a palavra «blonde». Para se ser actriz porno tem que se ser loira ou pintar o cabelo dessa cor, discriminando-se os outros tipos de cabelo ou é só uma coincidência?
- A pornografia é uma eterna perpetuadora do racismo. Pelo menos sabes que quando aparece um preto lá vai aparecer um órgão sexual enorme que até te vai fazer sentir mal contigo próprio. Isto não é catalogar as pessoas, dizer que todos os pretos têm uma pila assim? E depois perpetua o racismo porque os brancos vão-se sentir mal e inferiorizados por isso e vão alimentar o ódio perante eles por este aspecto;
- Por outro lado vêm os chineses. Esses sim fazem-me sentir bem. Vendem t-shirts a 2€, phones a 1,5€ e fazem-me sentir bem com o meu órgão sexual, em comparação com o deles. Quase que me faz esquecer que vendem carne de gato nos restaurantes deles e que cortam as melhores partes na pornografia feita por eles. Mesmo assim, não deixa de ser outro estereótipo;
- Outra coisa que a pornografia perpetua é que qualquer moça fica sensual com óculos. E sem roupa. Isso acaba por ser verdade apenas para uns 40% da população mundial de moças. Não imagino a prima do Ramiro, uma daquelas moças que os mais simpáticos não chamam de balofa mas dizem que «dá bons abraços», a ficar mais sensual por usar óculos e por estar sem roupa. Bem pelo contrário;
- Não sei em que mundo vivem os realizadores de filmes pornográficos mas há cada vez mais divórcios e recasamentos e famílias agregadas. A figura do padrasto e da madrasta é algo cada vez mais natural e frequente na sociedade moderna. No entanto, para a pornografia, ainda é altamente provável que um padrasto acabe na cama com a filha da mulher (que não sei o nome, desculpem de não ser um expert em termos familiares. Por exemplo, confundo nora com enteada, mas não é sobre isso que nos vamos focar) só porque não são familiares de sangue;
- Não há maior estereótipo propagado pela pornografia do que acentuar a disponibilidade sexual das mulheres. É demasiado fácil! Basta ir entregar uma pizza e vai ser regabofe a tarde toda. Basta ir arranjar um cano roto e na volta ainda se arranjam os canos da senhora. Basta conceder uma boleia a uma moça e a paga é encavá-la no carro. Isto não é realidade, desculpem lá! Não que eu não gostasse que assim fosse, mas andam a vender-nos ilusões! E isso é uma coisa muito feia, porque depois há moços que acreditam que é mesmo assim;
- Na vida real devemos temer os violadores, os pedófilos e os horticultores. Pelo contrário, na pornografia, um pai deve temer é os professores e os médicos. Imagino-me a mim, a ser pai de uma moça que fosse apresentável e não fosse asquerosa. Não fazia um trabalho de casa ou tinha tirado 2 num teste e vinha para casa a cheirar a suor e a vergonha! Ia a uma consulta de rotina no médico e vinha com o mesmo cheiro! E eram pessoas em que eu podia aparentemente confiar, não é como os horticultores que te vendem espargos selvagens e dizem-te que são pimentos verdes;
- Eu não sei em que mundo vivem os realizadores pornográficos mas eu vivo numa rua em que se sabe tudo. E custa-me imenso a acreditar que ninguém descobrisse nem comentasse se eu me envolvesse sexualmente com uma vizinha trintona ou quarentona, que me aparecesse à porta de casa sem avisar. E mesmo que me safasse da primeira vez, dificilmente me safava à segunda. E que moda é essa das vizinhas irem a casa dos outros para se oferecerem? Só na minha rua, as minhas vizinhas tocam à minha campainha para me avisarem que deixei a luz de fora ligada;
- Também não sei como funciona o sistema de entrega de encomendas ou os correios nos países onde se fazem os filmes pornográficos, mas aqui eles têm que entregar a encomenda o mais rápido possível porque têm uma carrinha cheia delas para despacharem naquela manhã ou naquela tarde. Nos filmes pornográficos não. Logo na primeira ou na segunda entrega ficam lá hora e meia a encavarem a moça. E depois, ainda por cima, apanham sempre moças sozinhas em casa e com vontade de copular. Os maridos estão sempre fora, também devem entregar encomendas. Ou então devem ser médicos ou professores;
- O mundo é mais perigoso quando os moços que vêem pornografia acreditam no estereótipo de que é legal, possível e perfeitamente aceitável embebedarem uma moça e encavá-la, como se vê nos filmes. E o mais grave é que nesses filmes, ao início elas estão ali todas revoltadas e a dar luta, mas depois libertam-se completamente e parece que gostam mais daquilo do que os moços que as estão a encavar. Depois da mensagem que pôr as filhas num colégio é ditar a sentença de morte à virgindade delas, esta é a mais perigosa.
Também me disseram uma vez que o que importa não é a meta mas o caminho. Basicamente, é o mesmo que dizer que os meios justificam os fins. Ou que os fins justificam os meios. Ou que os quartos justificam os terços e os meios justificam as quartas partes. Quando eu tinha trabalhos na escola tirava sempre notas baixas porque nunca justificava o texto e então os fins não estavam justificados, nem os meios. Tudo isto para dizer que antes de me julgarem por ter visto tanta pornografia, lembrem-se do propósito pelo qual vi: para pensar sobre o tema, para o explorar a fundo, para dar a conhecer vários pontos de vista, como um bom pensador social faria. E como um bom actor pornográfico também faz nesses filmes, que explora as moças a fundo, em vários pontos de vista.
P.S.: Tolentino, sei que detestas pornografia e já fizeste um texto sobre isso. Desta vez, ao contrário do que fiz com o cinema, não estou a fazer isto para te arreliar. Embora já estejamos todos fartos de te ouvir dizer que detestas recordes do mundo e nunca escreveste nada sobre isso. Pareces o Teófilo. Quer dizer, por acaso não pareces, que o Teófilo quando faz (ou desfaz) a barba tem parecenças com o Enrique Iglesias, enquanto tu pareces mais o José Raposo quando era mais novo. A diferença é que ele aparecia na televisão e tu só me apareces em casa para lanchar.
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