O local onde tudo o que é produzido é fruto de delírios alucinatórios. De quem escreve e de quem lê.
terça-feira, 28 de maio de 2013
Já chega de falar de Internet, vou contar o que se passou ontem
Mesmo assim tenho que começar por dizer que acho que vou apagar o meu perfil naquele site. Ninguém me responde! Sei que fugi um bocado ao título mas o Gary disse-me uma vez que todos os autores fazem isso, senão o livro do Camões chamava-se «Vasco da Gama chega à Índia» e os livros do Harry Potter chamavam-se «Feitiçarias e Moços Esquisitos I, II, III e IV». O Gary também disse que se toda a gente fizesse isto a literatura ia ser como ler um livro da Anita, que compramos o «Anita vai à praia» e é só mesmo isso que acontece. Já eu não posso dizer o mesmo, que na última vez que fui à praia fui picado pelo peixe-aranha e acabei na enfermaria.
Não ia escrever tão cedo mas ontem aconteceu uma coisa no trabalho que tenho de contar. Claro que quando disse ao Gary que ia escrever outra vez ele chamou-me Sally e perguntou se eu queria transformar o blog numa série do Disney Channel em que sempre que me sentia alegre ou amargurado escrevia no diário o que me acontecia. Uma vez tive um diário mas a minha mãe usava a parte de trás das folhas para escrever as listas das compras ou os números da lotaria. Pior que isso só quando o meu irmão me roubou um Andante que tinha 10 viagens porque precisava de filtros e eu tive de andar uma semana a ir para a escola no carro do meu tio.
O meu tio conduz bem, não é como a minha tia que trava sempre com o travão de mão porque diz que é mais eficaz. O mal de ir no carro com o meu tio é que ele anda sempre com o rádio numa estação que só passa música rock e aquilo dá-me dores de cabeça. Cheguei a perguntar uma vez ao meu tio qual era a diferença entre música rock e metal e ele disse-me que era o mesmo que lhe perguntar qual a diferença entre gostar de bifes e ser atrasado mental. Não sei bem o que ele quis dizer com isso mas pelo sim pelo não, sempre que vou comer fora peço bifes para ninguém pensar que sou atrasado mental. Ou panados, que na prática são bifes mas com pão ralado. Aposto que na cantina da Robialac não fazem panados, só almôndegas. E depois ainda há quem queira ir para lá.
Ao menos na cantina aqui da fábrica há panados. Adoro a fábrica, tudo aqui é bom. E o chefe pensa mesmo nos trabalhadores. Ontem à tarde houve um seminário sobre assédio sexual, o que foi muito bom para mim porque nunca fui grande coisa nisso do assédio sexual e por isso é que estou solteiro. Como preciso de melhorar esse aspecto até levei um caderno para tirar notas. O meu pai tinha razão quando dizia que se está sempre a aprender. Se tivesse tanta razão quando diz que um garrafão de vinho não faz mal a ninguém se calhar não tinha a tensão tão alta. O Barros que trabalha comigo na fábrica também tem tensão alta mas diz que é por ser muito nervoso e sofrer de stress. Por isso é que todos os dias come fritos ao almoço, que isso acalma-o.
A mim, o que me acalma é trabalhar na fábrica. Trabalhar no talho também me acalmava mas isso agora é impossível porque aquilo fechou. Nunca mais soube nada do meu antigo patrão, espero que ele continue a ser feliz com as suas camisas castanhas que tanto prezava, com o seu Subaru de 1994 que ele dizia que continuava a ser uma máquina e com as suas aventuras sexuais em cima de rosbifes congelados. O meu patrão na fábrica de tintas é muito mais modesto e contido nesse aspecto. A única coisa de mal que soube dele foi quando o Alves da Contabilidade se demitiu quando descobriu que todos os gabinetes da parte dos escritórios tinham que ter um tapete com um tigre. Pelos vistos num acesso de loucura, o patrão pagou 300€ a um marroquino por 20 tapetes e como só tinha espaço para ter 3 em casa dele, queria dar vazão aos outros 17. Podia-me dar um a mim que gosto muito de tigres e não tenho nenhum tapete no quarto. Mas já me paga cafés, também não vou abusar.
P.S.: Acabo este texto dizendo que fico muito contente por o Tolentino ter arranjado emprego numa empresa de segurança. Ainda me lembro quando eu tentei ser segurança e se riram de mim e ainda me obrigaram a comprar alguma coisa na loja para não terem prejuízo comigo. Ser segurança é um trabalho que dá respeito e o privilégio de tratar as pessoas por «jovem». Agora só falta ao Gary arranjar emprego. Não que ele precise de dinheiro porque ainda vive daqueles 600€ que ganhou no Totobola há uns tempos atrás, mas pelo menos não fica sozinho o dia todo, a ver Canal História e a ir a conferências sobre a influência das condições meteorológicas no aumento de pedreiros no Curdistão.
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