O local onde tudo o que é produzido é fruto de delírios alucinatórios. De quem escreve e de quem lê.
sábado, 21 de dezembro de 2013
Foram duas semanas confusas e intensas. Mas mais confusas que intensas.
Fiquei tão confuso estas duas semanas que nem sabia o que pôr ali em cima, no título e essa costuma ser a parte mais fácil. Pelo menos, o meu tio diz que a parte mais fácil é pôr-se em cima. A Xana da cantina, que entretanto também voltou a falar comigo, também me disse que o mais fácil é pôr em cima, o mais difícil é manter o equilíbrio. O que também me provocou confusão foi que eu tinha confundido o estar confuso com o estar enjoado, apesar do Sebastião me ter dito que quando se sentia enjoado achava que o estômago dele estava confuso e não se tinha entendido com o intestino. Perguntei-lhe se os desentendimentos entre o estômago e o intestino não era o que provocava a prisão de ventre mas ele disse-me que quem tinha prisão de ventre era quem tinha tirado o apêndice, porque as cicatrizes ficavam na barriga e pareciam as barras de uma cela da prisão. Agora percebo porque é que o Gary diz que os iogurtes para a prisão de ventre não servem para nada.
De qualquer maneira, andei confuso e não enjoado. Apesar de ter ficado enjoado um dia em que bebi um bocado demais. O Gary disse-me que ficar enjoado é para moças que estão grávidas ou que fingem que estão só para o namorado não fugir durante 2 meses, até não se notar barriga nenhuma e descobrir que foi engodo. O meu tio disse-me que devia fugir sempre das moças que andam enjoadas porque se lhes tocar elas dizem logo que eu sou o pai e exigem-me que pague a pensão dos filhos. Não sei que práticas parentais são essas, mas o Venâncio disse-me que as pensões eram os sítios para onde levava as moças que conhecia na noite e não queria que soubessem onde era a casa dele. Perguntei ao Gary se alguma vez ele já tinha ido com a Paulinha para uma pensão mas ele estava ocupado a pensar em nomes apropriados para se dar a um minotauro caso estes voltassem a existir e não me respondeu.
Não sei porque é que andei confuso. Quer dizer, por acaso sei. O Mundo é confuso com moços que se vestem de moças, carros que estacionam sozinhos, sinais de trânsito onde aparecem bois e tortas de morango que sabem a framboesa. Mas não foi isso que me deixou confuso. O que me deixou confuso foi ter visto a Rosa no café com mais três moças. Se a visse com o moço com quem ela está agora não ficava confuso, agora com três moças deixou-me confuso. Quando eu conheci a Rosa ela disse-me que só tinha uma amiga verdadeira e não confiava em mais ninguém, portanto não sei quem eram aquelas 3. Eu não ia para o café com alguém que não confiasse. O meu tio disse-me que há quatro coisas que não se faz com alguém que não se confia: emprestar dinheiro, dizer o código do multibanco, jogar futebol na mesma equipa e ir para o café, para a mesma mesa, conversar. Ainda por cima, com mais 3 amigas, nem sabia qual era a que a Rosa confiava ou se não confiava em nenhuma e a que era mesmo amiga não foi. Com tantas dúvidas, decidi nem lhe dizer nada.
O Gary disse-me que eu fiz bem em não lhe ter dito nada porque não percebia moças que tinham nomes de flores e que se houvesse nomes de árvores para homem ele gostava de se chamar Eucalipto. Eu não sei se gostava de ter um nome de uma árvore, mas uma vez vi uma editora que se chamava Plátano e ficou-me no ouvido, principalmente porque acho que houve um moço importante na Grécia ou na Lituânia que se chamava Plátano e inventou um montão de teorias. «Plátano, anda almoçar», «empresta-me 50 cêntimos, oh Plátano», «sou eu, tu e o Plátano contra o meu primo, o irmão dele e aquele ali». São frases que me fazem sonhar como é que seria a minha vida se eu me chamasse Plátano. Talvez, se tivesse o nome de uma árvore, conseguiria cativar uma flor como a Rosa. O Venâncio uma vez disse-me que devemos tratar as moças como as flores: bem e carinhosamente até um dia as pisarmos sem querer e fingir que não fomos nós.
Moral da história: fez-me mal ter visto a Rosa. Principalmente porque no dia a seguir vi uma das moças com quem ela estava quando ia para a fábrica e não sabia se a Rosa confiava nessa ou era uma das que ela não confiava. Mas era gira. Pensei em adicioná-la no Facebook mas não sabia o nome dela. Quando cheguei à fábrica perguntei ao Venâncio como é que ele encontrava pessoas no Facebook e ele disse-me que eu não lhe tinha dito «Bom dia». Disse-lhe «Bom dia» e ele disse-me que encontrava pelo nome, pela localidade ou pelos amigos em comum. Estava feito. Não sabia nem o nome, nem a localidade, nem amigos em comum, porque a Rosa podia não ser amiga dela. Mais valia esquecer. Pensei na Rosa outra vez. Perguntei à Xana da cantina, à hora de almoço, o que é que ela fazia para esquecer uma pessoa e ela disse-me que saltava para cima do primeiro moço da Costa Rica que fosse trabalhar para a fábrica. Pela primeira vez, a Xana deu-me um mau conselho e que eu decidi não seguir.
P.S.: O Sebastião mandou-me mensagem agora mesmo a dizer que viu a Rosa no shopping com mais 6 moças. O Venâncio disse-me que as moças gostam de andar em grupos grandes a fazer compras porque sentem-se como um bando de leões a atacar uma manada de zebras e a dar em directo no National Geographic. A princípio não fazia muito sentido mas depois, numa época de saldos, vi duas moças à estalada por causa de uma blusa e percebi a metáfora. Não sei o que o Sebastião está a fazer no shopping, mas provavelmente está a comprar a minha prenda. Eu já fiz as minhas prendas de Natal todas. Só não comprei um coração para me dar a mim mesmo, porque prefiro que me ofereçam. E apesar do meu tio dizer sempre que a minha prenda de Natal é ir buscá-lo à Lixa, às 5h da manhã, também lhe comprei uma prenda.
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