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terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Já estamos quase no Natal mas não tenho ninguém para dar o meu coração
Hoje estavam a fazer a árvore de Natal lá na fábrica e de repente apercebi-me que o Natal chega mais depressa do que uma pessoa espera. A Páscoa também, o Verão igual. Na prática, demora tudo o mesmo tempo a chegar, uma pessoa é que pensa que é mais ou menos conforme a expectativa que tem das coisas. O meu tio disse que uma vez fugiu a um polícia durante 20 minutos e parecia que tinha corrido 3 horas. No dia a seguir descobriu que tinha mesmo corrido 3 horas e lhe tinha parecido 20 minutos derivado a uns comprimidos que lhe tinham posto na bebida. O meu tio jurou que tinha sido ele a minar a bebida dele, mas uma vez o Gary disse-me que o que não falta no mundo da noite é pessoas a porem coisas nas bebidas das outras pessoas, por isso acho que o meu tio foi minado. Não percebo qual a intenção, mas desde que li uma notícia no jornal em que um cunhado matou o sogro porque o sogro do irmão lhe devia 50 contos e ele confundiu os sogros, já consigo viver sem explicações e motivos.
Até porque se eu só vivesse com explicações, então não conseguia viver sem saber o porquê do meu coração ainda não ter dona. Principalmente agora no Natal. Há uma música de Natal que ouço todos os anos que é aquela do último Natal, que a moça deu o coração dela a um moço e ele devolveu-o. Ao menos a moça tem sorte. Primeiro, eu não tenho ninguém a quem dar o meu coração e depois, já que não o queria para nada, devolveu-o. O meu tio diz que se lhe dessem um coração a ele sem ele pedir, vendia-o logo no mercado negro e fazia dinheiro à custa da moça. O Venâncio disse-me para ter atenção às moças que oferecem assim o coração, porque as que valem a pena esperam que um moço ofereça o seu coração primeiro. As que dão assim corações à toa é porque têm alguma coisa a esconder. Eu achava que as moças tinham sempre alguma coisa a esconder, mas desde que a Xana da cantina me disse que bastava eu dizer-lhe uma palavra e ela mostrava-me tudo, deixei de acreditar muito nisso.
O Sebastião também é solteiro ou, como ele prefere dizer, «actualmente disponível». O Sebastião disse-me que a palavra «solteiro» remete logo para uma ideia ou de desespero e solidão ou de bandalheira e libertinagem. O «actualmente disponível» revela antes uma ideia de que se está solteiro mas que é por pouco tempo e isso aguça o apetite das moças. O exemplo que o Sebastião usou é que se alguém passar por um talho e vir lá que a pá de porco está em promoção, diz que vai lá no dia seguinte. Mas se passar e vir que é o último dia de promoção, até pode nem querer naquele dia, mas vai comprar. O Venâncio disse-me que se há coisa que as moças gostam é de promoções. Também gostam de champôs de côco, de compras e de chocolate. Principalmente se puderem ir comprar chocolate e champôs de côco em promoção. Não sei como é que o Venâncio está divorciado, o homem é uma enciclopédia de mulheres.
A Xana da cantina disse-me que neste Natal vai trocar os frutos secos pelos frutos exóticos e que em vez de comer nozes vai comer fruta e beber todo o tipo de sumos da Costa Rica. Não sei porquê mas dá-me um bocado de ciúmes ver a Xana com o moço da Costa Rica. Tudo bem que ela continua a deixar-me tirar sobremesa e peça de fruta sempre que vou almoçar, mas agora não me deixa e diz que eu lhe posso tirar tudo, simplesmente nem sequer vê porque está a olhar para o moço da Costa Rica. Não sei de que raio eles falam que o torna tão interessante. No outro dia perguntei-lhe o nome e ele virou-me as costas e foi almoçar. O Sebastião disse-me que em algumas culturas, virar as costas era sinal de respeito e de medo. Perguntei-lhe em que culturas e ele disse que não sabia, que não era nenhum sociólogo e que se fosse, provavelmente não estaria a trabalhar na fábrica de tintas porque ainda hoje estava na expectativa de arranjar emprego na área dele. Não sabia que o Sebastião gostava de ser sociólogo, mas as amizades é isto, descobrir coisas novas todos os dias.
Já que não tenho ninguém para dar o meu coração, comecei a perguntar às pessoas o que gostavam de receber no Natal, para eu lhes poder dar uma prenda, já que vou receber um subsídio de prendas. Perguntei à minha mãe e ela disse-me que queria que eu lhe fosse buscar pão ralado, 4 vezes por semana, nos próximos 19 anos. Não perguntei ao meu pai porque não o vejo há duas semanas. Acho que ele me anda a evitar, mas a minha mãe diz que acha que ele está preso. O meu tio disse-me que gostava que eu lhe desse boleia até Paredes e que esperasse lá por ele até ser hora de vir embora. Disse-lhe que isso não era nenhuma prenda de Natal e ele disse-me que então lhe podia dar boleia e um CD dos Gipsy Kings. Perguntei ao meu irmão e ele disse-me que gostava que eu não lhe desse nada, que assim tínhamos prendas iguais um para o outro. O Sebastião disse-me que a melhor prenda que lhe podiam dar era aquele que ele nunca tinha pensado. Depois pensou melhor e disse que isso não era uma prenda, mas uma surpresa. O Gary disse-me que gostava de comer uma torta Dan Cake de morango verdadeiro e não de framboesa. Ao Júlio César não perguntei porque os amigos dele da Robialac que lhe comprem prendas.
P.S.: Perguntei a toda a gente o que queriam para o Natal, agora vou dizer o que eu gostava. São 3 coisas simples, mas difíceis de arranjar, pelo que vejo ao observar o mundo em que vivo. A primeira, gostava de ter uma moça bonita, por dentro e por fora, a quem pudesse oferecer o meu coração e todo o meu amor. A segunda, gostava de arranjar aquele manual que as moças recebem quando têm a primeira menstruação, de que o Venâncio me falou mas não encontro em lado nenhum. Já fui a 4 ou 5 livrarias, perguntei, e os moços fizeram-se de despercebidos e disseram-me que isso não existia. Vejo muitos filmes, quando algo não existe, as pessoas riem-se de nós e enxovalham-nos. Dizer que «não existe nada disso» ou «nunca ouvi falar disso» é esconderem um segredo. Por último, gostava de comer um ananás a sério. Sempre que compro ananás, venho todo contente para casa mas depois vejo na etiqueta que é abacaxi. Gostava que alguém me oferecesse um ananás verdadeiro. Mas essa era a minha terceira prenda preferida, as outras duas são mais importantes.
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Oferece um "tronco de Natal" à Xana. Aposto que ela desiste logo dos frutos exóticos, Jorge.
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