Houve quem dissesse que eu andava desaparecido. Ainda bem que ninguém foi dizer isso à Polícia, senão por esta altura ainda estava desaparecido e isso não ia ser bom. Não tenho nada contra a polícia, só não gosto do agente Calvo que multa toda a gente que tem um médio fundido porque o irmão dele é o dono da oficina daqui e com as multas o pessoal vai lá todo comprar médios para não levar com as multas do Calvo. O agente Calvo também não gosta de mim desde que uma vez quando vinha embriagado de manhã lhe disse que Calvo era o nome de uma marca de atum. Ele levou aquilo a mal não sei porquê. A meu ver, relacionar alguém com um atum é um elogio. Ainda no outro dia a Paulinha disse que eu fazia amor como um leão. Preferia que tivesse dito que eu fazia amor como um atum.
Não tirei férias nenhumas, não perdi a pass do mail, não fui preso, não me escondi por dever 60€ ao Nando Farras nem fiz um périplo pela Europa para descobrir onde é que existem talhos que não vendam rissóis de pescada. Simplesmente tive mais que fazer do que vir aqui. Também não andei a fazer prendas de Natal e, contrariamente ao rumor que anda a circular por aí, espalhado por mim aqui mesmo e, por isso, sem perceber bem como é que já anda a circular por aí se o inventei agora mesmo, não andei a ver todos os filmes em que o Bruce Willis aparecia a andar à pancada com alguém ou a fugir de alguém com um miúdo. Por acaso no outro dia vi o «Assalto ao Arranha-Céus» mas isso é porque sou homem e gosto destas coisas.
Quem olhar para o título pensa que eu gosto do Natal e tenho espírito natalício. Errado. Nem sei onde é que se compra isso do espírito natalício. Assim, já que falamos de coisas que só existem na cabeça das pessoas (ainda que, estranhamente, ninguém lhe chame alucinação colectiva), vou dizer prendas de Natal que eu gostava de ter mas que sei que não vou ter:
- No topo da lista está aquilo que quem me conhecer minimamente já adivinhou: gostava que os minotauros voltassem a existir. Não só para provar a carne deles, acho que no dia que os minotauros voltassem a aparecer o talho aqui do Jaime ia ter logo costoletas de minotauro, mas também para perceber a sua cultura, a sua convivência, os seus rituais de acasalamento e, acima de tudo, se eles iam falar ou não e, se falassem, que idioma;
- Depois dos minotauros, gostava que me oferecessem um pack de DVD's com reconstituições históricas dos Visigodos. Mas não era daquelas reconstituições em que aparece um moço de barba e escudo a olhar para o horizonte e um montão de imagens de monumentos e de planícies enquanto outro moço fala por trás a contar a história. Isso é para dormir! Quero é aquelas reconstituições em que eles andam todos à batatada num campo de trigo e que depois os que ganham voltam às aldeias onde fazem o amor com as mulheres. E neste pack de DVD's essas partes podiam vir à descarada. Assim era Visigodos e pornografia, um 2 em 1 perfeito;
- No outro dia vi um supermercado que na compra de 3 iogurtes de alperce oferecia o quarto. A mim até me podiam oferecer 200 iogurtes de alperce se comprasse 3 que eu não comprava. Alperce é aquele tipo de fruta que os cientistas descobriram e que usaram para champô porque sabia mal. Mas depois vieram outros espertinhos e como os champôs de alperce cheiravam bem, fizeram tudo de alperce e as pessoas compram. Uma vez veio-me um bocado de Garnier de Alperce à boca e aquilo sabia mal como tudo. Mas aqueles iogurtes de menta e eucalipto nem sabem mal. Se uma pessoa se habituasse até conseguia temperar a carne com aquilo. Posto isto, gostava que alguém me desse como prenda a notícia que já não existia alperce no Mundo, tinha-se acabado em todo o lado;
- Há pessoas que oferecem cheques-prenda para as livrarias, lojas de discos ou lojas de roupa. Está muito na moda. Basicamente, um cheque-prenda é uma indirecta do género «para não me ires trocar a merda das prendas ou me obrigares a ir lá eu dar a cara por ti, pega lá isto e vai tu. Se não quiseres ir, o problema é teu, que o cheque-prenda passa de validade». Pessoalmente, não sei que raio faria com um cheque-prenda para discos ou para roupa. Mas sei o que faria com um cheque-prenda para produtos de atum. Estourava-o logo em latas, patês e lasanhas de atum. Ainda que nestas últimas, provavelmente ia comer cavalo;
- Adoro ver futebol, principalmente quando estão a jogar aquelas selecções fraquinhas. Tenho pena que na televisão portuguesa só passem jogos da Alemanha, Espanha, Inglaterra ou Itália. Mas gostava que alguém me desse um canal onde só passassem jogos fraquinhos. Não deve haver melhor que ligar a televisão às 3h da manhã e ver um Turcomenistão x Nepal e tentar adivinhar quais as verdadeiras profissões dos jogadores e quantos deles são primos uns dos outros ou vivem na mesma rua. Eu até defendo a criação de um Campeonato do Mundo para equipas que nunca na vida vão chegar a um Campeonato do Mundo a sério. Até já tenho os cabeças-de-série do sorteio: Quirguistão, Turcomenistão, Nepal e Gâmbia. Depois iam convidando outras selecções e se sobrasse um lugar podiam convidar o Lesoto;
- Para terminar, um desejo de um desempregado por convicção e por falta de oportunidades no mercado de trabalho: gostava que se voltassem a criar jogos de consola e computador em que não tivesse que pensar muito, fosse só andar para a frente, desviar-me de precipícios, pessoas e obstáculos, eventualmente ter que esmurrar alguém na cara para provar um ponto de vista e ir passando níveis. Esse jogo tinha que ter músicas de fundo daquelas que a melodia fica na cabeça e os níveis serem cada vez mais impossíveis até se conseguir passar o último com grande golpe de sorte. Não é como os jogos de agora, que têm 240 comandos diferentes, níveis todos complexos e onde uma pessoa se perde e até desiste de tentar.
Seis desejos, como vêem não peço muito. Basicamente, era apanhar a lâmpada do Jafar no deserto, pedir três desejos, ver para onde ele é que mandava a lâmpada, fingir que não tinha visto nada, deixar passar 2 ou 3 dias e ir lá outra vez e pedir outros 3 desejos. Era mais fácil assim do que estar à espera do Son Goku, que de cada vez que tinha 3 desejos, um deles era para ressuscitar o Yamcha ou o Tenshinan. Estavam sempre a morrer, nunca percebi porque é que o Son Goku nunca lhes disse que já chegava de os safar e para eles irem à vida deles. Quando andava na escola, havia um moço, o Albano, que quando jogávamos futebol enterrava sempre. Foi da minha equipa três vezes seguida e perdemos três vezes por culpa dele. Disse-lhe que ele não jogava nada e que mais valia ele ir brincar com as moças às bonecas e às casinhas. Nunca mais vi o Albano, mas o Lucindo disse-me que ele agora se chama Diana e trabalha na Bershka.
P.S.: Se há coisa que não quero no Natal, além de comer um figo por engano ou de me sentar ao lado do meu sobrinho que come catotas, é de receber roupa da Bershka. Ou roupa no geral. Não sei como raio é possível ter um sobrinho se o meu irmão jogou 5 anos basket num clube aqui da zona e nunca fez um cesto. Ele dizia que o forte dele era o passe. O meu pai também dizia isso, que o passe dele apanhava aí umas 6 zonas diferentes e todos os meses eram quase 60€ a sair dos bolsos do meu pai. Uma vez li num livro qualquer que toda a gente tem sobrinhos e para desconfiar de pessoas que dizem que não têm sobrinhos, que ou têm uma identidade falsa ou me estão a mentir. Ou li ou alucinei, porque não me lembro da última vez que li um livro e não me parece que o Astérix e o Obélix tenham falado de outra coisa sem ser de javalis, poções mágicas ou romanos.
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