sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Mais coisas que eu só vejo acontecer nos filmes ou nas séries de televisão


Eu até podia fingir que ia ser original e pensar num tema novo e o título ser «Coisas que eu só vejo acontecer nos filmes ou nas séries de televisão» mas depois alguém descobria o texto que fiz há uns tempos (http://comidosdocerebro.blogspot.pt/2012/07/coisas-que-so-acontecem-nos-filmes.html) e enxovalhava-me em público. Não gosto daqueles que se fingem originais e depois vai-se a ver e é tudo copiado. Tipo o Mussolini. Ainda no outro dia estava a ver um documentário do Mussolini no Canal História e aquilo era tudo copiado do Hitler, nem disfarçava. Depois fazia-se amiguinho do Hitler só para lhe copiar as ideias e as políticas e fazer furor no país dele, como se tivesse sido ele a inventar aquilo tudo. Eu tinha um assim na minha turma, o Alcino, que tinha os amigos na turma B mas ficou na nossa. Passava os intervalos com os da turma B e quando voltava para as aulas contava as piadas que tinha ouvido dos outros como se fossem dele.



Mas a sociedade não gosta dos originais. Ainda ontem contei uma piada incrível que inventei sobre o King Kong e só uma pessoa é que se riu. Também só contei a uma pessoa, por isso não me posso queixar muito. A piada era assim: como é que o King Kong fica logo com o dia estragado? Quando está a subir um prédio e bate com o mindinho num andaime. A pessoa em questão riu-se. Acho que não fui eu, eu lembro-me de ter contado a alguém. Ou não. Se calhar fui eu que me ri sozinho. De qualquer maneira, a piada é minha, ao menos fui original. A Paulinha diz que gosta quando eu sou original porque o antigo namorado dela ao lanche pedia sempre torradas. A primeira vez que ela me disse que gostava que eu fosse original pensei que estava a falar relativamente ao sexo, mas não, era sobre os lanches. Afinal o estereótipo de que os moços só pensam em sexo é capaz de ser verdade.



Outra coisa que tem acontecido muito é a Paulinha ir trabalhar e eu ficar na cama dela a ver televisão, que ela tem televisão por cabo no quarto e então passo lá os dias. Tenho 9 ou 10 horas para pensar em lanches originais e no resto do dia estou ali deitado. E foi aí que voltei a pensar em mais coisas que só acontecem nos filmes ou nas séries de televisão:




  • Os pretos, quando fazem de vilões, têm sempre barba, seja em que feitio for. Nos últimos 160 filmes que vi, isto aconteceu sempre. A maior parte deles anda sempre de óculos de sol, mas todos eles têm barba, perinha, bigode, o que seja. Não sei qual é a finalidade disso, se para lhes dar mais credibilidade ou só por uma questão de estilo;

  • Sempre que alguma moça está deprimida ou triste vai chorar, cantar ou pensar para a beira de um rio ou de uma ponte. Também há um montão de videoclips com moços numa ponte a olharem para o horizonte e a fingirem que cantam enquanto pensam numa moça mas nos filmes é mais dramático para realçar o sofrimento que existe por não se conseguir encavar aquela moça em particular;

  • Por falar em deprimidos e pessoas tristes com a sua vida ... Se repararem, nos filmes ou séries, sempre que uma moça está triste com a sua vida, profissional, familiar ou amorosa, quando chega a casa bebe sempre um copo de vinho, sozinha ou com alguma amiga caridosa e com paciência para a ouvir. Eu não sei onde é que as moças vão buscar aqueles copos, mas são daqueles grandões que com uma copada acaba a garrafa de vinho. Os moços, pelo contrário, bebem sempre um copo de whisky (se estiverem mesmo mal o normal é pedirem um duplo sem gelo) mas ao menos é em copos que sei que existem no dia-a-dia;

  • Vê-se logo que os filmes são quase todos feitos nos Estados Unidos por uma coisa que acontece sempre: os estrangeiros, que estão sossegados nos países deles, falam e percebem inglês prá Mundial! Não usava esta expressão há algum tempo, mas como estamos quase em 2014 e é ano de Mundial achei por bem usar. Mas nesses filmes ou séries, seja em que país for, o inglês ou americano está para lá a falar e percebe tudo e ainda lhe responde mesmo dizendo que só fala um bocadinho de inglês. É mesmo irrealista. Uma vez conheci uma moça indiana que só falava inglês e eu só percebia os pontos essenciais do que ela dizia. Acho que esse foi sempre o meu mal com as moças, problemas de comunicação;

  • Os mauzões, mesmo que sejam assassinos treinados durante anos a fio, quando estão a trocar tiros contra os bons nunca acertam em ninguém. Quer dizer, na prática acertam mas é só em figurantes que vão a passar ou num sítio que magoe o bom mas não o fira mortalmente. E o pior é quando há reféns no meio, desprotegidos, e nem assim o mauzão acerta em ninguém;

  • Ou os programadores informáticos são todos uma grande merda ou os bons deixaram-se da programação e tornaram-se hackers. É incrível que em cada filme ou cada série há um deles que sabe fazer tudo, entra nos sistemas todos e faz o que lhe apetece. Foi por essas coisas que deixei de ter dinheiro no banco e agora digo a toda a gente que o tenho no colchão quando na realidade está noutro lado, para o caso de alguém ouvir e ir lá a casa procurar no colchão. Na televisão eles invadem os sistemas informáticos só para ajudar os bons, mas na vida real quem sabe o que é que eles andam mesmo a fazer;

  • Toda a gente é fascinada pelas culturas dos outros países. Naqueles filmes que se passam naqueles países todos esquisitos, os que vão lá sabem sempre as tradições, palavras, expressões e apesar de falarem o idioma fluentemente, só mostram que sabem para se armar, que depois falam sempre em inglês. Raros são os filmes em que um moço normal como eu, que apesar de tudo me considero normal mesmo que por vezes diga que sou um comido do cérebro e isso possa suscitar a dúvida em vocês de quem eu realmente sou, apareça a mandar piadas sobre a cultura e os costumes do país para onde vai.




Este sou eu a querer tornar a televisão mais real e a acabar com estes mitos. Já disse que, ultimamente, ao menos os filmes deixaram-se daquelas coisas de desarmar bombas no último segundo quando já toda a gente está à espera disso menos os que estão a fingir tudo, no filme. Mesmo assim, continuam a haver filmes com amores lindos, reencontros emocionantes após anos separados, mauzões que são derrotados pelos bonzinhos com muito menos armas mas mais inteligência e força de vontade e moças gordas e feias que acabam por ser amadas pelo seu interior e não pelo seu físico. Foi por causa destas merdas que às vezes vejo televisão sem som e faço eu os comentários ou as falas das personagens. A Paulinha disse-me no outro dia que eu devia tornar-me guionista e ir para Hollywood. Disse-lhe que se me quisesse mandar para o caralho, ao menos que o dissesse abertamente. 








P.S.: Apesar deste último parágrafo continuo com a Paulinha. Até nos damos bem menos quando ela se põe a falar de sentimentos e a perguntar o que é que eu sinto. Se há vício que me enerva nela, mas que acho que é comum em todas as moças, é quando estamos em silêncio e ela está a olhar para mim há 20 minutos, eu olho para ela um segundo e ela me pergunta «no que é que estás a pensar?». Ainda ontem me perguntou isso e eu respondi-lhe que estava a pensar na diferença entre um urso pardo e um urso parvo. Ela perguntou qual era e eu disse-lhe: «o urso parvo dá-se ao trabalho de te conhecer antes de te comer». Acho que ela não sabe que existem mesmo ursos pardos e pensa que fui eu que inventei o nome só para a anedota. 


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