sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Pessoas que nunca deviam ter nascido


No outro dia, enquanto estava a introduzir a Paulinha ao universo do Blade, ela disse-me que às vezes se pensava como seria a vida dela se eu não existisse. Eu achei essa pergunta estranha, até porque já vi alguns filmes em que as moças fazem seguros de vida aos maridos ou namorados sem eles saberem e em que se morrerem, elas são as que recebem os prémios do seguro. Perguntei-lhe, discretamente, se ela tinha alguma amiga chamada Marta e disse-me que não, que a única Marta que tinha conhecido era a enfermeira que lhe tirava sangue quando ela ia fazer análises e que apesar de ser sempre a Marta a tirar-lhe sangue, não eram amigas. Fiquei descansado, não havia grandes possibilidades que essa Marta fosse aquela que atende sempre os telefonemas para a OK Teleseguro e portanto a Paulinha não me tinha feito nenhum seguro de vida e estava a pensar matar-me.



Porém, aquela pergunta fez-me pensar. Como seria a vida da Paulinha se eu não existisse? Provavelmente estaria a namorar com algum moço que via com ela aqueles filmes em que o Hugh Grant está sempre apaixonado por alguma moça que acha piada ao que ele diz mas que andam o filme todo desencontrados até que no fim ficam juntos. Também podia dar-se o caso de ela continuar solteira e andarem moços como o Jorge Abel a falar-lhe em tintas anti-fungo ou como era triste que ninguém aparecesse às festas de anos dele (já que eu não ia existir, acho que ninguém ia às festas de anos do Jorge Abel). E, tenho a certeza absoluta, como a Paulinha não ia ser minha namorada, sempre que fosse à Churrasqueira ia demorar um montão de tempo porque o Vítor Piranha não a ia conhecer e ia deixá-la ali à espera que ele atendesse primeiro todos os amigos, conhecidos e amigos dos amigos dele.



Esta reflexão levou-me um bocado mais longe. Nem vi o Blade em condições por pensar tanto, é a vantagem de já ter visto o filme 12 vezes. Assim, decidi pensar numa lista restrita de pessoas que nunca deviam ter nascido. Esta lista foi a que me lembrei agora, posso passar a vida a fazer destas listas, só que no título acrescento «Parte 2», «Parte 3» ou «Parte 56».




  • Começo esta lista pela pessoa que inventou o Pirulo. Já não chegava para o universo dos gelados, as piadas que se fazem com os Calipos, ainda aparece um gelado pior. Mais ainda, entre tantos nomes de gelados distintos como Solero, Feast, Magnum, Cornetto, Maxibom, Super Maxi, Epá tinha de aparecer um chamado «Pirulo» a estragar tudo. NUNCA DEVIA TER NASCIDO;

  • Depois, o inventor dos decotes para homem também NUNCA DEVIA TER NASCIDO. Aposto que só inventou isso para serem os outros a usar, ele nunca usa nada disso. Pior ainda se tiver sido uma moça a inventar isso. Foi por vingança? É que os «decotes para homem» (até me custa escrever) validam a minha teoria de que tudo o que tem «para homem» no nome NÃO É PARA HOMEM. É só para convencer aqueles moços ambíguos de que «é para homem» e eles compram e usam e depois usam o argumento «mas isto é para homem, até diz no nome e tudo»;

  • Quem tomou a decisão de fazer leggins acima do tamanho M também NUNCA DEVIA TER NASCIDO. Transformou a melhor coisa que aconteceu às moças desde a invenção da pílula num dos maiores perigos da Humanidade. Já as calças de fato de treino não favoreciam as gordas nem muito menos favoreciam a saúde de quem visse gordas a andar de calças de fato de treino, no entanto, as leggins acima do tamanho M vieram aumentar esse flagelo social;

  • Neste ponto divido o desejo de que nunca deveria ter nascido por dois. Primeiro, por quem continua a fazer as tortas Dan Cake de morango recorrendo a framboesa congelada e a cereja. Segundo, por quem continua a deixar que estas sejam comercializadas como sendo de morango apesar de TODA A GENTE SABER QUE AQUELA MERDA NÃO É DE MORANGO;

  • Se em cima dividi o meu desejo por dois, agora vou dividir por três. Os inventores da designação «frutos do bosque», «frutos exóticos» e, principalmente, «tutti frutti» nunca deveriam ter nascido. Quanto aos «frutos do bosque» já sabem a minha argumentação de que primeiro não sei bem o que é um bosque, segundo já estive num bosque e não encontrei lá fruto nenhum, logo a existência desses frutos é falsa. Quanto aos «frutos exóticos» o inventor desse nome nunca devia ter nascido porque não é um critério universal. Para um africano, os frutos exóticos podem ser pêras, diospiros e clementinas enquanto para os que inventaram esses frutos, exóticos fosse o ananás ou a manga. Claro que os iogurtes desses iam ser melhores que os dos africanos. Mas pior é mesmo quem inventou o «tutti frutti». Uma vez comprei um iogurte desses a pensar que ia comer os frutos todos mas não. Só tinha pêra, maçã, laranja, morango e côco. SÃO ESTES OS FRUTOS TODOS QUE EXISTEM?

  • Quem criou os urinóis sem divisão também nunca devia ter nascido. Já quando uma pessoa tem de mijar numa casa de banho pública há sempre aquele desconforto, quanto mais se for numa casa de banho pública em que os urinóis estejam lado a lado, sem divisão. É claro que quando mijamos em público para um muro ou para uma árvore também não há divisões, mas nesses sítios sabemos com o que podemos contar e o que estamos a fazer. Mais, nesses locais, ninguém vem mijar para o nosso lado. Não sei o que passou pela cabeça de quem inventou isso. Se calhar gostava que lhe olhassem para a pila enquanto mijava ou gostava de olhar para a dos outros. Ou se calhar era daqueles que dizia que acreditava num mundo sem divisões, o hippie;

  • Outro que nunca deveria ter nascido foi quem começou a vender os rissóis de pescada em talhos. Mais do que ter feito o que fez, de ter profanado os talhos, aposto que matou de desgosto o inventor dos rissóis de pescada em si. Eu, por exemplo, também gostava de rissóis de pescada, eram uma boa alternativa quando começava a enjoar dos de carne, porque nunca consegui enjoar dos rissóis de camarão. No entanto, a partir do momento em que vi esses rissóis a profanarem os talhos e a serem mais vendidos que Ossobuco decidi nunca mais na minha vida comer tal coisa. Tudo por causa do indivíduo que um dia acordou de manhã e pensou «vou levar meia dúzia de caixas destes rissóis para ver se o Sr. Armindo os quer vender no talho dele»;

  • Para terminar, quem decretou que a palavra «unissexo» significa algo para os dois sexos, também nunca devia ter nascido. Desde quando é que uma palavra que no seu radical tem «uni» significa dois? Para isso dizia-se que eram coisas «bissexuais». E se não quisessem ter a conotação que a palavra «bissexual» tem diziam que era «ambissexo». A meu ver, «ambissexo» tem muito mais lógica que «unissexo». Se não quisessem «ambissexo» também tinham à disposição «polissexo» (como o raciocínio do «poliglota» ou do «polivalente») ou então não inventavam palavra nenhuma e diziam só que «dá para homens e para mulheres». Agora, quem inventou «unissexo» (e também quem fez disso uma palavra que aparece no dicionário) nunca devia ter nascido.




Agora que vejo bem, a emoção que mais aparece no texto é o ódio. Ainda bem. Sinto-me orgulhoso disso. Ter ódio e rancor é de homem. Ao menos não mostro tristeza ou agonia no texto. Deixo a tristeza para os textos do Jorge Abel e a agonia para o meu professor de Geografia no 12º ano que só me deu 15 no 3º período quando eu merecia pelo menos um 17. Agora percebo o que sente o Tolentino no fim dos seus textos onde espalha ódio por tudo e por todos. Por falar no Tolentino, viram o comentário que ele fez na carta do Lucindo? Que estupidez. Viu o Lucindo na rua e não o cumprimentou porque achava que ele não o ia reconhecer mas depois vai comentar um texto do Lucindo a dizer que é um fã dele. Eu se fosse ao Lucindo agora é que não o cumprimentava! E se o Tolentino me contratasse para fazer um serviço de picheleria lá em casa dele, eu aceitava mas não fazia tudo bem, só para voltar lá outra vez e ganhar mais de mão-de-obra. 







P.S.: Apesar da estupidez de comentário do Tolentino, continuo a considerá-lo meu amigo. Arrependi-me um bocado de ter escrito aquele último parágrafo mas o meu 'Delete' está estragado e ainda estava imbuído do espírito do ódio que o texto despertou em mim. Apesar de tudo, não me arrependo do texto que escrevi. Só me arrependo de não ter falado nas pessoas que chamam «bárbaros» aos Visigodos. É que se ainda lhes chamassem «Bárbaros» podia ser o nome de algum chefe deles, na altura em que o nome «Bárbaro» também desse para homem. Não conheço nenhum Bárbaro mas já conheci algumas Bárbaras e algumas delas bem jeitosas. Só nenhuma das que eu conheci achava piada quando eu dizia que elas tinham «barba» no nome.


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A carta que enviei à Seat


Um dos meus maiores prazeres é conduzir. Esta frase está bem? Ou ficava melhor dizer que «conduzir é um dos meus maiores prazeres»? Bem, vai assim. Liguei ao Gary, que ele é que normalmente me tira dúvidas de Português mas ele não atendeu. Ainda hoje é por causa do Gary que eu sei o que é um advérbio, andei estes anos todos a pensar que a minha professora de Português era de alguma aldeia ou que não sabia dizer «verbo» e então dizia «advérbio». Por exemplo, a minha sogra também diz «cháivina» em vez de dizer «chávena». Mas adiante, adoro conduzir e ultimamente, devido à minha condição de desempregado (e também de instável psiquiátrico, foi por causa desse motivo que fiquei inibido de conduzir) não tenho podido usufruir desse prazer. O que me levou a fazer algumas questões à Seat, a marca dos meus últimos carros:



«Boa tarde,

Digo «boa tarde» porque eu, pelo menos, adorava conduzir depois de almoço. Também poderia dizer «boa noite» que era quando gostava mais de conduzir, mas vocês são humanos, não devem obrigar os moços do Departamento de Comunicação a fazerem turnos nocturnos. Ainda poderia dar-se o caso desta carta ir para a vossa sede e o fuso horário ser muito diferente do de Portugal, mas a sede é em Espanha, é só uma hora de diferença. Eu aprendi isto da pior maneira, que quando uma vez fiz férias em Espanha fui almoçar às 13:00 e eles olharam-me todos com cara de espantados por ter ido almoçar tão cedo. Outra coisa que aprendi em Espanha é que «chipirones» são lulas, «pollo» é frango, «cuchara» é colher e «cerdo» é porco. Havia mais palavras diferentes mas que agora não me lembro. Lembro-me é que a Seat é espanhola e é da Seat que vou falar hoje.


Antes que se perguntem o porquê de eu ter escrito esta carta, não entendam isto como uma reclamação, apenas gostava de entender algumas coisas. Até porque o meu antigo psiquiatra me disse que muitos dos meus sonhos e alucinações se deviam a perguntas às quais eu não conseguia obter respostas e então que devia parar de fazer essas perguntas. No entanto, sinto que vocês me podem dar as respostas que eu procuro, nomeadamente por elas serem relativas à Seat. Sei que apesar de tentarem não me iriam conseguir responder a perguntas sobre os ácidos do estômago ou qual a extensão de vocabulário dos pássaros, porque não é a vossa área. Sendo assim, limito-me a questionar situações da esfera da Seat e do mundo automóvel em geral e espero que me consigam satisfazer a curiosidade e a angústia do desconhecimento.


Se há coisa que gosto é de fazer amor com a minha mulher, de beber Capri Sonnes e de pôr gasolina. Tirando a parte de pagar, adoro pôr gasolina. Até acho que fiz mais vezes amor com a minha mulher depois de pôr gasolina do que antes de pôr gasolina, por isso vejam bem o efeito que tem em mim. Felizmente, com os modelos Seat que tive, ia pôr gasolina frequentemente. Os meus amigos diziam que isso era mau e que eu devia arranjar um carro a gasóleo ou um que gastasse menos. Mas agora não tenho amigos e continuo com o meu Seat na garagem, por isso, digam lá se não fiz uma boa escolha? Quer dizer, tenho amigos, mas não são os mesmos que me diziam isso. O facto de ser um picheleiro honesto e competente fez-me ganhar bastantes amigos ao longo dos anos. Foi assim que conheci o Gary, um amigo que me explicou o que era um advérbio e que me incentivou a manter o Seat porque ele também tinha pensado em comprar um Seat quando vocês lançassem o Seat Viduka. 



Eu ainda disse ao Gary que Viduka não era nenhuma cidade espanhola e nos vossos carros, os modelos referem-se todos a cidades espanholas. Alhambra, Córdoba, Altea, Ibiza, León e Toledo. Mas depois o meu amigo Gary alertou-me para o facto de haver um modelo intitulado de Exeo que não é nenhuma cidade espanhola e que mais parece um programa de computador onde se pode fazer gráficos e fórmulas matemáticas. Programas de computador com fórmulas matemáticas, tivesse eu disso quando andava na escola e neste momento, em vez de arranjar autoclismos e canos estava a arranjar intestinos e corações. Mas a minha pergunta é: porque é que abriram esta excepção? Se tinham entrado por uma via onde iam fazer modelos com nomes de cidades espanholas porque é que pararam? Alguém vos obrigou a isso? É que era impossível ficarem sem nomes de cidades espanholas, ainda por cima Espanha que é mesmo grande. Olhem lá se é difícil: Seat Vigo, Seat Granada, Seat Valencia, Seat Ferrol, Seat Numancia, Seat Torremolinos, Seat Vitoria ou Seat Lugo. Têm tantos nomes e vão pôr Exeo? Mais valia terem ido pela sugestão do Gary e terem feito um modelo Seat Viduka. 



Por último, há só mais uma questão que quero deixar. Qual é o problema das pessoas com alguns dos vossos modelos? Eu tive um Seat Ibiza branco durante 2 anos. Adorava aquele carro. Dava pinta, ultrapassava Mercedes na auto-estrada a brincar e levava-me a ir pôr gasolina duas vezes por semana. Adorava tudo naquele carro mas os polícias não partilhavam da minha opinião. Quando tive o Ibiza branco era sempre mandado parar em operações STOP. Obrigavam-me a soprar para o balão, revistavam-me o carro à procura de drogas e perguntavam quem era o meu mecânico e se eu conhecia o Mário das corridas. Quase todas as semanas tinha estas complicações. E ainda por cima nenhum polícia acreditava que eu adorava conduzir às 4h da manhã depois de fazer o amor com a minha mulher. Um deles até me chegou a apreender o carro e a mandar-me para o hospital psiquiátrico, porque disse que não estava em condições mentais para guiar. E logo eu, que dou sempre os piscas e paro sempre nas passadeiras. No entanto, quando mudei para um Seat León cinzento, nunca fui mandado parar. NUNCA! Uma vez até parei voluntariamente e o agente disse-me que não me tinha dito para parar e mandou-me seguir. Eu disse-lhe que queria ser mandado parar porque senão era discriminação quanto aos Seat Ibizas brancos e ele perguntou-me se eu estava bem. Disse-lhe que desde que andava a tomar os anti-psicóticos novos me sentia melhor na maior parte do dia mas que continuava a ter sonhos intrigantes. Ele apreendeu-me a carta e ainda hoje não posso conduzir. Mas sei que foi por eu ter parado, não foi por causa do Seat León cinzento.



Fico então à espera da vossa resposta à minha carta, que espero que contenha respostas às minhas questões em vez de enviarem aquelas cartas escritas por um estagiário ou por um Chefe de departamento preguiçoso, que diz «acusamos a recepção da sua carta, a qual lemos com todo o cuidado e enviamos para o nosso Departamento de Comunicação». Ainda me mandam isto a pensar que eu mandei um currículo e eu não quero trabalhar para a Seat. Só se me pagarem para ir pôr gasolina nos vossos carros de serviço. 



Atenciosamente, do vosso cliente durante anos e admirador confesso, até tenho 'Gosto' na página da Seat no Facebook e uma vez tive uma fotografia do meu Seat Ibiza branco na foto de capa,


Lucindo Sampaio de nascença, Lucindo Sampaio Bonifácio desde o feliz dia em que me casei.»

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Ontem fui a um barbeiro novo que onde eu ia fechou e agora é uma loja que compra ouro


O meu tio sempre me disse que é essencial ter-se um bom barbeiro, um mecânico de confiança e uma moça para encavar frequentemente e com as mínimas compensações financeiras. O meu tio disse-me que há sempre compensações financeiras, quer seja para se pagar o momento, quer seja para se pagar lanches e idas ao cinema ou a gasolina que se gasta para a ir levar a casa. O Venâncio disse-me uma vez que não se arrepende de ter gasto tanto dinheiro em preservativos e em gasolina e que se não fosse isso, a esta hora, estava a gastar dinheiro em pensão de alimentos e em livros escolares. Como não tenho nenhuma moça e como ainda estou a juntar dinheiro para comprar um carro (e, por isso, não preciso de me preocupar com mecânicos para já) resta-me a parte do barbeiro. Eu costumava ir ao Sr. Romeu mas ele entretanto fechou e agora aquilo é uma loja que compra ouro.



Não percebo essas lojas que compram ouro. Aprendi na escola que nem tudo o que reluz é ouro, pelos vistos houve moços que fizeram disso vida e tentam ganhar dinheiro com esse provérbio. Só espero que ninguém ande a tentar fazer dinheiro com aquele que diz que quem semeia ventos colhe tempestades. Devem ser bem caras as sementes de ventos. E onde raio iam eles vender tempestades? Uma professora minha na primária disse-me que eu tinha um coração de ouro, espero bem que os desta loja não tenham sabido disso e não me venham tentar comprar o coração. Por causa disso quando tenho de passar por lá até atravesso para o outro lado, que até lhes deve cheirar a ouro quando alguém passa por lá. Como fiquei sem barbeiro perguntei ao Gary onde é que ele cortava o cabelo. Ele disse-me que cortava no Plácido e eu fiquei logo fã. Plácido é parecido com palácio. Dava um bom nome para o estabelecimento «Palácio do Plácido». Mas quando cheguei lá vi que só tinha um toldo onde dizia «Barbearia».



Como fui lá a primeira vez nem sabia o que dizer nem sobre o que falar. Com o Sr. Romeu falava de tudo um pouco, ele até gostava que eu lhe falasse da diferença entre as tintas anti-fungo e as anti-humidade. Como não sabia nada do Plácido preferi não arriscar, porque o meu tio sempre me disse para não arreliar alguém que tivesse uma navalha na mão e apontada ao nosso pescoço. O Venâncio também me disse para nunca arreliar uma moça que estivesse com o período ou qualquer moça que quisesse a mesma peça de roupa que eu nos saldos. Por isso, mantive-me calado e quando ele me perguntou se tinha gostado do corte disse-lhe que sim e que nunca tinha gostado tanto de me ver ao espelho. Só respirei de alívio quando saí da barbearia e do raio de alcance de uma navalha. O Sr. Romeu era mesmo bom barbeiro, tive pena que se aposentasse e agora passe a vida enfiado no Bingo. 



Hoje, quando me viu na fábrica, a Xana disse-me que me ficava bem o novo corte. Agradeci mas disse-lhe que o mérito tinha de ir para o Palácio. Quer dizer, para o Plácido, engano-me sempre no nome. Ela disse-me que ele tinha cortado mas a cara era minha e eu ficava bem. Depois disse-me que se quisesse ver o corte que ela ia fazer podia ir a casa dela amanhã e via tudo em pormenor. Agradeci a oferta mas amanhã à noite vou com o Sebastião jogar bilhar e não o ia deixar à seca só para ir ver o corte novo da Xana. Ainda por cima a casa dela não fica a caminho da academia onde vamos jogar, na segunda-feira via-a, entre amanhã e segunda passa pouco tempo e o corte vai ficar quase igual. Ela não deve ter percebido a minha argumentação que ficou toda ofendida e a dizer que se fosse a «cabra da Vera» a dizer para eu ir brincar aos números para casa dela eu ia logo. 



Só passado bastante tempo é que percebi que a Xana estava a falar da Vera da Contabilidade. Eu nem sei onde é que ela vive, sei é que ela já disse há imenso tempo que queria ir para a sucursal de Angola e ainda hoje de manhã a vi na fábrica a tomar café. O Venâncio disse-me que uma mulher ferida pelo ciúme é mais perigosa que um coice de um rinoceronte e ele disse-me que sabia do que falava que uma vez foi para o jardim zoológico bêbado, entrou no sítio dos rinocerontes e apanhou com um coice nas costelas. Mesmo assim, o Venâncio disse-me que o ciúme de uma mulher é mais letal. Não sei porque é que a Xana tem ciúmes. A Vera nem sequer parou de jogar Candy Crush no telemóvel para me responder a uma pergunta que lhe fiz, não é como a Xana que me deixa sempre tirar sobremesa e uma peça de fruta. Além disso, a Vera não cozinha como a Xana, leva sempre o almoço de casa num tupperware e aquece lá na fábrica. E às vezes nem aquece, come frio. Já se deve estar a habituar que em Angola, se for mesmo para lá e não for mentira, como está mais calor, a comida à temperatura ambiente fica quente, nem precisa de ser aquecida.







P.S.: Não sei como é que deixam estas lojas que compram ouro existir. Além de terem acabado com uma excelente barbearia como era a do Sr. Romeu, eu ouvi dizer que em África é proibido comprar ouro, que é à custa do ouro que os elefantes estão à beira da extinção. Os caçadores matam os elefantes só para lhes cortarem os dentes e venderem no mercado. Eu já sabia que sempre que visse um restaurante a vender sopa de barbatanas de tubarão para chamar a Polícia e denunciar, mas quanto ao ouro ninguém quer saber. Quando disse ao Gary que estava revoltado com isto, ele disse-me que o Mundo não quer saber dos elefantes e que até há uma selecção africana que vai participar no Mundial este ano que é a Costa do Ouro e que são conhecidos como «Os Elefantes». Agora também vai tudo ao Mundial, nunca ouvi sequer falar desse país e vai ao Mundial. 


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Porque é que detesto programas sobre animais


Hoje foi um belo dia. O Gary já me perdoou por aquele texto anti-super heróis e onde visava de forma mais dura o SpiderMan e perguntou-me se eu ia à convenção que ia haver no COJDIV (o Centro de Convenções para Jovens Desempregados Intelectualmente Vorazes, e que eu nunca percebi porque é que não era antes CCJDIV) sobre a tendência dos jovens salmões para ouvirem música electrónica, frequentarem festas de trance e de drum and bass, consumirem mais álcool e substâncias psicotrópicas e o efeito que esses estilos de vida têm no sistema digestivo dos ursos que os acabam por comer. Aprendi imenso. Por exemplo, o Tiesto foi o primeiro DJ de renome a ir a um festival de música electrónica para salmões e a única coisa que exigiu, para além do cachet, foi botijas de oxigénio. Esta era uma coisa que não aprendia ao ver programas sobre animais e é um dos motivos pelos quais detesto programas sobre animais. Vejam quais são os outros:



  • Nenhum desses programas sobre animais que dá na televisão é nacional. É tudo estrangeiro! Além disso, é quase sempre nos mesmos países e os que aparecem lá ou são ingleses, ou americanos ou franceses. Parece que não há mais nacionalidades no Mundo;

  • Nesses programas a maior parte do tempo é a mostrar predadores que atacam crianças ou velhos e ainda por cima passam impunes. Estão ali imagens dos crimes, provas inequívocas e as pessoas ainda dizem que é o necessário para sobreviverem e ainda mostram compaixão pelo animal. Mas se for um humano já não mostram a mesma compaixão;

  • Esses programas passam também uma mensagem aos moços mais inexperientes e inocentes que é à porrada uns com os outros que se consegue convencer as moças a irem para a cama com eles. Pior ainda, são aqueles programas que mostram que os moços têm de fazer danças ou andar em cantorias para irem encavar uma moça. COMO SE JÁ NÃO FOSSE DIFÍCIL O SUFICIENTE CONSEGUIR CONVENCER UMA MOÇA A IR PARA A CAMA COM UM MOÇO NORMAL COMO EU;

  • Desculpem a parte final do último ponto. Outra coisa que não gosto nestes programas é que são, na prática, reality-shows, ou seja, coisas que acontecem na realidade. Mas eu saio de casa todos os dias e nunca vi nada do que acontece nesses programas no meu dia-a-dia. Já fui para aí a 5 jardins zoológicos e nunca vi um leão a correr atrás de uma zebra, só estão ali deitados ao sol e ocasionalmente soltam um rugido. Pelo contrário, já vi um filme em que um leão, uma zebra e uma girafa são amigos, o que me fez detestar ainda mais cinema;

  • Nesses programas, quando os animais se alimentam é a parte que me causa mais impressão. Os alimentos são todos crus, parece sushi, e eu detesto sushi. Não há ali nem uma receita diferente, nem uma forma diferente de comer gnu ou gazela, é sempre cru. Pior ainda é que alguns animais mastigam de boca aberta e vê-se tudo, parece que estou a ver o Natal dos Hospitais;

  • Se há coisa que detesto são aqueles aproveitadores, que como o nome indica se aproveitam das coisas dos outros e fazem vida disso, sem fazer nenhum. Odeio um programa que dá no Discovery Channel que são dois moços que não fazem mais nada na vida sem ser andarem pelas terras todas a comprar armazéns e depois vendem o que encontram lá e fazem um dinheirão. Porque raio hei-de gostar de programas de pássaros que fazem vida a comer a comida que fica entre os dentes de um hipopótamo ou outros que passam a vida a comer os micróbios e os parasitas que os rinocerontes têm nas costas?

  • Cenas de sexo ou de intimidade física entre humanos são cortadas ou só dão tardíssimo, em horários que só dá para mim porque estou actualmente sem ocupação e sem emprego. Agora, cenas de sexo, e até do violento, entre animais dá a qualquer hora. Ainda no outro dia liguei a televisão às 10:30 da manhã e estava a dar um leão a encavar uma leoa à força toda contra uma árvore. É por estas coisas que depois aparecem aquelas moças a fazer sexo com cavalos e aqueles moços que dizem que a namorada é uma porca;

  • As cenas de sexo entre animais dá a torto e a direito na televisão, mas nem todos os animais. Se repararem só dão as cenas de sexo dos animais terrestres. Nos programas de animais marinhos nunca se viu uma orca a encavar outra nem nenhum cardume de arenques numa orgia desenfreada. Das duas uma: ou há discriminação entre os animais terrestres e os animais marinhos ou querem fazer-nos pensar que os peixes e demais animais que habitam no Oceano se reproduzem por beberem a mesma água;

  • Os narradores dos programas dizem sempre o que os animais estão a fazer, como se nós não possuíssemos olhos para ver ou não tivéssemos suficiente complexidade mental para perceber. Mas pior que isso, interpretam os comportamentos dos animais como se tivessem falado com eles antes ou como se os conhecessem de algum lado. «O tigre ficou ansioso e devastado por ter falhado na sua missão de capturar a gazela». Como é que ele sabe? Está a inventar! Se fosse eu a dizer isto diziam que andava a ser influenciado pelo Gary e que as doenças psiquiátricas se pegam pelo contágio. 





Esta última parte foi a minha mãe que me disse quando eu na semana passada me recusei a comer um bolo que lhe ofereceram no trabalho porque não sabia se era de frutos do bosque ou frutos exóticos. Ela não compreendeu o meu argumento de que se a pessoa que fez o bolo não sabia que tipo de frutos tinha utilizado, então como poderia eu comer um bolo de uma origem desconhecida? Além disso, disse-lhe que o Gary tinha razão, que uma coisa eram os frutos do bosque, que são locais mais recatados e que se cingem a um contexto específico, outra coisa eram os frutos exóticos, que estavam sujeitos ao critério pessoal do que é exótico. Por exemplo, para mim o maracujá não é um fruto exótico porque a minha tia tem um quintal onde crescem maracujás, mas para muita gente pode ser. Ou seja, um bolo de maracujá, para mim, era um «bolo de maracujá» enquanto que para os outros era um «bolo de fruto exótico»






P.S.: Hoje, ao chegar da convenção, passei pelo Lucindo Sampaio Bonifácio. Ele não me conhece, eu também não o conheço a ele, só sei quem ele é. Isso não é o suficiente para dizer que o conheço, nem sequer sei qual é a cor preferida dele, se prefere os bifes mais bem ou mais mal passados ou se gosta dos panados mais secos ou mais oleosos. De qualquer maneira, como escrevemos aqui no blog e eu até me revejo nas cartas que ele escreve pensei em cumprimentá-lo e dizer-lhe que escrevia no mesmo blog que ele. Mas depois daquela conversa com a minha mãe a dizer-me que as doenças psiquiátricas se pegam pelo contágio e como o Lucindo tem mesmo uma, que até já esteve internado e tudo, preferi não arriscar e no próximo texto dele aqui comento e digo-lhe que o vi na rua hoje e que sou fã dele.


domingo, 16 de fevereiro de 2014

A semelhança entre os Gladiadores e os Jogadores de futebol


Ontem, depois de ver um filme do Van Damme em que ele e outro são um protótipo de super-soldados mas que escapam do laboratório e andam a espalhar o caos, não deu nenhum filme em condições na televisão. A Paulinha, que ultimamente me anda a introduzir ao mundo das séries, como já aqui vos dei conta, disse-me que ia dar dois episódios de uma série que se passava no tempo dos romanos e que seguia as histórias dos gladiadores. Fiquei entusiasmadíssimo, não é todos os dias que vemos imagens desses tempos, hoje em dia é só reconstituições históricas em 3D sem piada nenhuma. A Paulinha disse que era uma série feita actualmente mas que às vezes até parecia mesmo naqueles tempos. Perdi o meu entusiasmo ali.



Mesmo assim, por respeito ao argumento da Paulinha de que ultimamente até me tem convencido a gostar de séries por eu adoptar uma postura mais flexível, aceitei ver a série. Em termos de cenários, tudo bem, dava 10-0 a alguns documentários que eu vejo por aí no Canal História e no Odisseia. Mas não percebi porque é que toda a gente falava inglês. Os romanos falavam inglês, os escravos que vinham de todo o lado falavam inglês e os que não falavam inglês conheciam alguém que lhes conseguia traduzir tudo ou então aprendiam num instante. Depois até entre pessoas da mesma nacionalidade falavam inglês, mesmo para os romanos perceber. Se não tivesse tantas moças nuas e moços a combater, eu adormecia passado 5 minutos.



Mas numa coisa a série teve mérito. Fez-me pensar. De certa maneira, os Gladiadores, na altura deles, tinham o mesmo estatuto que os jogadores de futebol têm hoje em dia. Acham estúpido e sem sentido? Então vejam lá os meus argumentos e convençam-se:




  • Sempre que desferiam um golpe vistoso ou o golpe fatal, que lhes dava a vitória, os Gladiadores faziam um festejo característico ou dedicavam a vitória a alguém, como os jogadores de futebol fazem hoje em dia;

  • Há uma grande aposta nas camadas jovens, contratando-se os jovens valores ainda bastante novos. Há determinadas zonas que têm fama de formar melhor. Após algum tempo de trabalho, quando estiver preparado, lança-se o moço nos grandes palcos. Uns eram lançados em combate mais cedo que outros, umas vezes por necessidade ou por falta de mais opções, outras por precipitação de quem decidia, tal como com os jogadores de futebol;

  • Um gladiador era sempre um alvos bastante apetecível para as moças. Aliás, tal como hoje em dia nos jogos de futebol, maior parte das moças só iam aos combates ou para ver os gladiadores, apreciar-lhes os músculos e sonharem um dia envolverem-se fisicamente com um, ou obrigadas pelos pais/maridos, que eram fanáticos pelos combates apesar de elas não serem muito e só irem fazer o favor;

  • Uma das semelhanças mais fortes é que no tempo dos gladiadores, o mercado de transferências fazia mesmo jus ao nome. Os proprietários iam aos mercados e compravam, trocavam e avaliavam os alvos mais apetecíveis. Nem sempre o mercado de transferências estava activo, num claro paralelismo com o que se faz hoje no futebol. Na altura, não era a FIFA que regulava as transferências, mas Roma estava atenta aos preços que se praticavam e aos negócios efectuados;

  • No seguimento do ponto anterior, no tempo dos gladiadores também existiam os agentes, os empresários e os proprietários dos atletas, que encetavam negociações para a aquisição dos direitos de um gladiador ou para a troca por troca, caso houvesse interesse mútuo nos termos do negócio. Tal como se faz hoje em dia, os proprietários mais endinheirados, preferiam comprar os melhores atletas dos proprietários mais pequenos e só em último recurso iam contratar gladiadores livres ao mercado;

  • As arenas enchiam com os grandes nomes. Não era qualquer um que enchia uma arena, às vezes naqueles combates mais xungas ou entre moços que ninguém conhecia, estava meia arena. No entanto, os combates beneficiavam mais o espectador porque como não havia transmissões televisivas, lutavam sempre ou de manhã ou de tarde, eram horários mais apelativos para os espectadores. Mesmo assim, tal como actualmente nos jogos de futebol, fosse à hora que fosse, os eventos cabeça de cartaz ou os mais aguardados, enchiam as arenas, fosse a que horas fosse;

  • Havia os gladiadores que aguentavam uma carreira longínqua e a sua qualidade e mérito eram reconhecidos por todos. Mas também havia outros que prometiam muito mas depois desapareciam depressa e nunca mais ninguém ouvia falar deles. Só aqueles mais conhecedores e que estudavam os Jogos a fundo contavam histórias de Lucas, um jovem promissor que começou a dar nas vistas aos 18 anos, mas que depois de 6 ou 7 aparições onde prometeu muito, nunca mais se ouviu falar nele. Tal e qual como com o futebol;

  • Os adeptos gostavam e deliravam com os gestos técnicos mais ousados e mais espectaculares, que perdurassem na memória. Contudo, quando questionados, os treinadores assumiam preferir a eficácia à beleza artística, ainda que admitissem que esta também fizesse parte do espectáculo e que dava liberdade aos seus atletas;

  • Os Gladiadores tinham um treinador que tentava tirar proveito das suas melhores qualidades. Cada clube ou casa tinha um treinador para os seus Gladiadores, sendo que o proprietário esperava que o treinador formasse bons atletas e obtivesse bons resultados. Por outro lado, o treinador sabia sempre que podia perder os seus melhores atletas, a qualquer momento, para entidades mais endinheiradas. Também sabia que face a maus resultados poderia ser substituído por outro, caso o proprietário assim o entendesse;

  • Os gladiadores trabalhavam e treinavam a semana toda para poderem brilhar nos grandes palcos e conseguirem uma vida melhor, visto que recebiam um prémio monetário por cada vitória. Os que fossem conseguindo gerir bem o dinheiro, escusavam de passar por apertos depois de se retirarem e podiam viver uma vida tranquila. No entanto, a maior parte deles estourava o dinheiro todo enquanto o tinham;

  • Nos treinos dos gladiadores, tal como actualmente os jogadores de futebol, tinham sessões de trabalho de movimentações específicas ou do aperfeiçoamento de algumas técnias, outras de treino integrado para recuperar de lesões ou mazelas contraídas em treino ou em combate, outras de treino de conjunto onde o grupo treinava todo junto, outras de treino individual ou sessões de ginásio e de fortalecimento muscular;

  • Os gladiadores também eram os ídolos dos mais novos. Estes moços, diziam que queriam ser como os Gladiadores, embora os pais dissessem sempre que isso não era uma carreira e que o melhor era investir nos estudos, que isso é que garantia uma vida segura; 

  • Apesar de Gladiador ser considerado uma ocupação que revelava alta masculinidade e da maior parte deles perderem a cabeça com as moças, a verdade é que dentro dos clubes, havia muita paneleirice e alguns deles a comerem-se uns aos outros e a serem homossexuais. Mas sem os dos outros clubes saberem, e muito menos o público;

  • Por último, também chegava uma idade em que os Gladiadores eram considerados veteranos e ou se retiravam ou abraçavam a carreira de treinador, fosse na casa que sempre representaram (ou representaram mais vezes, caso tivessem estado envolvidos numa transferência), fosse noutra que requisitasse os seus serviços (afinal de contas eram profissionais). Eventualmente, alguns deles reuniam-se ocasionalmente, mesmo depois de retirados, para efectuarem jogos de celebração e de veteranos para entreter o público e matarem-se saudades.





Como vêem, mais uma vez, tive razão. Quem é que me consegue dizer, depois disto tudo, que os Gladiadores não foram o passado dos jogadores de futebol actuais? Não me venham outra vez com a história que está tudo na minha cabeça, que estou a alucinar, que só eu é que estou a ver estas coisas e que devia falar com um psiquiatra em vez de me conformar com o facto do Ramalho Drogas ter trocado de número e eu agora não ter acesso a anti-psicóticos. Foi à custa desses discursos cépticos que eu ainda hoje não tenho a certeza se vi o Ricardo Carriço e o Nicolau Breyner à porrada num parque de estacionamento de um shopping ou se só sonhei isso. O único que acreditou que não era um sonho foi o Lucindo, porque me disse que uma vez viu na televisão o Ricardo Carriço a apanhar no pêlo de um careca. Apesar de ser muito mais fácil irritar um careca que um gordo, já estava o precedente aberto, por isso tenho quase a certeza que vi e que não foi um sonho.









P.S.: Antes que duvidem, gosto de futebol, gosto de gladiadores, gosto de Capri-Sones de frutos exóticos e frutos de safari, gosto de panados, gosto de filmes em que o Bruce Willis distribui pancada a torto e a direito, gosto de Visigodos e gosto de um bom estereótipo que se confirme através da observação empírica. Não gosto é de Pirulos, de Compal de pêra, de textos do Jorge Abel, das promessas vazias do Teófilo, de tintas anti-fungo e da palavra «guache». Acho que essa é a palavra mais homossexualizante da Língua Portuguesa. De nenhuma maneira se consegue dizer «guache» sem se soar extremamente gay ou de se parecer que se está a comer um Pirulo numa esplanada enquanto se usa um pólo amarelo e se manda uma mensagem corrente ao Cláudio Ramos. 


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A semelhança entre ter relações sexuais e beber um pack de 10 cervejas


Quem ler o título, vai-se interessar minimamente por saber qual a semelhança entre uma coisa e outra. Seja por gostar de ter relações sexuais, seja por gostar de beber cerveja, seja por gostar das duas coisas mas não andar a fazer nem uma coisa nem outra ultimamente, seja apenas por mera curiosidade. Outros que verão o título e vêm aqui fazer «Page Down» até chegarem à parte dos pontos, que é onde eu realmente debato as diferenças. Para quem estiver a vir aqui a primeira vez, não liguem aos três primeiros parágrafos, sou só eu a delirar sobre coisas que nada têm a ver com o título, façam como os outros que fazem «Page Down». Depois, para outros moços como o Jorge Abel, este texto não tem qualquer interesse pois nem têm relações sexuais, nem bebem cerveja. Se forem como o Jorge Abel gostam é de beber Bayley's de caramelo ou Safari Cola.



Ontem à noite chateei-me com a Paulinha. Estava eu a ver o Pulp Fiction mesmo na parte em que o Bruce Willis aparece e ela começou a dar-me beijos e a tapar-me a visão. Pedi-lhe gentilmente que me deixasse ver a merda do filme e fosse fazer qualquer coisa para a cozinha ou para o computador. Ela foi para o computador e deve ter visto algum filme da Julia Roberts ou aquela porcaria do «Diário de Bridget Jones» que estava para ali a chorar. Quando acabou o Pulp Fiction perguntei se ela queria comer alguma coisa e ela disse-me que já tinha querido, mas que estava a dar o Pulp Fiction. Como detesto sarcasmos e ironias vesti-me e estava a preparar-me para me vir embora, quando ela me pediu desculpa e me disse que não queria ficar chateada comigo. 



Eu nem sequer lhe disse que ia comprar cerveja, porque normalmente sou mais tolerante à ironia quando estou alcoolizado. O sexo foi tão recompensador, que nem precisei de cerveja. Contudo, ao pensar nessa situação de ontem, pensei na semelhança entre ter relações sexuais e beber um pack de 10 cervejas:




  • Independentemente da quantidade de sexo que tivermos ou das cervejas que bebermos, queremos sempre mais, mesmo que nos digam que já tivemos demasiado;

  • A sensação que se tem quando se acaba de se fazer sexo e a de se beber uma cerveja é exactamente a mesma, estamos satisfeitos. O problema surge quando acaba, pelo menos naquele dia, quer o sexo, quer a cerveja. Aí, sentimos tristeza, desalento e pensamos como a nossa vida sem isso é uma merda;

  • Quando não temos nenhum dos dois, durante algum tempo, sentimos muito a falta e uma tremenda necessidade de voltar a usufruir desses prazeres;

  • Quando não temos nenhum dos dois durante algum tempo, quando voltamos a ter, já não aguentamos a mesma dose e demoramos algum tempo a recuperar o ritmo e o andamento com que estávamos antes da paragem:

  • Alimentamos a ilusão que não há nada melhor no Mundo do que ter relações sexuais ou do que beber um pack de 10 SuperBocks;

  • Há sempre um amigo que diz que faz isso melhor que nós, mesmo que não lhe tenhamos perguntado nada;

  • Quando não se tem a possibilidade de se fazer ambas as coisas com alguém, faz-se sozinho. Não é a mesma coisa, mas ao menos obtém-se o efeito;

  • Por falar em não ser a mesma coisa, nos dois casos há os chamados substitutos. Se não pudermos ter relações sexuais, temos sempre a possibilidade da masturbação ou das bonecas insufláveis, assim como no caso de não haver cerveja podermos sempre beber vinho ou outras bebidas. Contudo, por muito que nos queiram convencer disso, não é a mesma coisa, nem sequer tem nada a ver;

  • A nossa namorada não aprecia quando fazemos qualquer uma destas coisas sem ela (ou pelo menos sem o conhecimento dela);

  • Há muita gente interessante com quem se fazer as duas coisas. Mas também há muita gente que mesmo sem se conhecer é fácil chegar à conclusão que nunca na vida iria fazer nenhuma das duas coisas na sua companhia;

  • Conhecemos sempre um moço que achamos que é incapaz de fazer qualquer uma das coisas, ou pelo menos acompanhado, mas depois ele surpreende-nos;

  • Na primeira vez nunca nos saímos grande coisa e o nosso desempenho deixa sempre um pouco a desejar;

  • Há sempre aqueles moços que mudam imenso e têm a mania que são os maiores, depois de terem tido relações sexuais ou depois de terem bebido 10 cervejas;

  • Apesar de muita gente fazer realmente ambas as coisas, há muitos moços que nunca o fizeram (ou que o fizeram pouquíssimas vezes) e que sentem a necessidade de mentir e de inventar histórias sobre isso;

  • Em ambas as situações, dá muito mais prestígio social quando é um moço a fazê-lo, enquanto uma moça que faça qualquer uma das duas coisas é sempre mais facilmente julgada pelos outros.





E é isto. Espero sinceramente que me venham outra vez com a conversa que os meus textos são demasiado longos e extensos. Sabem também o que é que é «demasiado longo e extenso»? A Rússia. E precisamente por ser «demasiado longo e extenso» é que o Napoleão e o Hitler foram derrotados lá, quando na altura eram considerados os exércitos mais fortes do Mundo. Quantos anos vai demorar a haver um bolo chamado «Hitler», tal como há um bolo chamado «Napoleão»? Tenho a certeza que mal apareça um bolo chamado «Hitler», vai aparecer um chamado «Mussolini» que é praticamente igual ao «Hitler» mas só muda algumas coisas, pormenores, para poder usar aquele argumento «não sou nada igual. Sou parecido mas não sou igual!». Foi isso que o Mussolini fez durante 10 anos e mesmo assim, na escola, obrigaram-me a estudar os dois. Eu nunca estudei o Mussolini, estudava o Hitler e depois se saísse alguma coisa sobre o Mussolini, escrevia tudo igual como se fosse para o Hitler mas só trocava «Alemanha» e «nazis» por «Itália» e «fascistas». E tive sempre boas notas a História. 







P.S.: Vieram-me avisar que o Jorge Abel ontem tinha dito no desabafo dele (porque eu faço delírios, ele faz desabafos. Vocês ainda não se cansaram de serem o diário dele?) que eu numa ocasião tinha comido uma daquelas máscaras revitalizantes que as moças usam e que põem no frigorífico para ficarem frescas. Tenho a dizer que infelizmente é verdade. A minha apetência por gelatina traiu-me. Já comi de ananás e laranja, que são laranjas, de limão e banana, que são amarelas, de morango, que é vermelha e de maracujá, que é uma mistura de laranja e amarelo. Mas nunca tinha comido nenhuma gelatina azul. Pensei que fosse para aí de mirtilo ou uma porcaria dessas. Aquilo soube-me muito mal, fez-me lembrar quando usava Head and Shoulders e uma vez no banho veio-me um bocado para a boca e soube-me meio a eucalipto, meio a produtos químicos. Não recomendo a ninguém comer, só recomendo se quiserem vingar-se de algum amigo ou de alguma moça, nesse caso é o ideal. 


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Ontem o Lino voltou a convidar-me para ir jogar e o pessoal ainda fala da sucursal de Angola


Como diz no título, ontem o Lino voltou a convidar-me para ir jogar com o pessoal da fábrica. Assim de repente pareço repetitivo, mas o meu tio diz que ser repetitivo não é mau, porque as moças são repetitivas e nós fazemos tudo para as levar para a cama. E o Venâncio sempre me disse que o mais importante era tratar uma moça de forma igual e conceder-lhe os mesmos direitos e privilégios que se tem sendo-se homem. Por isso, optei por ser repetitivo. Nunca percebi essa cena da igualdade. Para homens e mulheres serem iguais, nós temos de começar a mijar sentados ou elas é que têm de aprender a mijar de pé? Eu nem sei o que preferia. Por um lado, se mijasse sentado como as moças, acabavam-se os urinóis e o desconforto de mijar ao lado de alguém que pode ou não estar a olhar para a minha pila. Por outro lado, se as moças mijassem de pé, perdia a magia espreitar as moças na casa de banho.



Mas adiante, o Lino perguntou-me se eu queria voltar a ir jogar com o pessoal da fábrica e eu disse que sim. Da outra vez tinha gostado e tinha-me sentido integrado. Perguntei se o Sebastião também ia e o Lino disse que não, que lhe disse que estava lesionado e não podia ir. Fiquei preocupado com o Sebastião, não sabia que ele estava lesionado. Quando lhe perguntei que lesão é que ele tinha, ele disse-me que os médicos sempre suspeitaram de algo neuronal mas que nunca tinham conseguido encontrar nada, por isso devia ser só psicológico. Não sabia que não se podia jogar por lesões psicológicas mas o Lino tem mais experiência disto, por isso deve saber essas coisas. Perguntei ao Lino quem é que ia e ele disse-me que iam os mesmos da outra vez que eu tinha ido mas em vez do Sebastião ia o Nando Farras. Depois da pergunta que me fizeram no último texto, perguntei-lhe se não ia jogar o Wolverine e ele disse que ele nunca tinha ido jogar com eles. Perguntei-lhe se era mais perigoso para um avançado o Wolverine ser guarda-redes ou para um guarda-redes o Wolverine ser avançado e o Lino disse-me que perigoso era o Wolverine ser jogador de andebol. 



Estive o dia todo a pensar no jogo. Que camisola devia levar, se devia levar um champô anti-caspa ou um champô amaciador, se devia levar gel de banho ou sabonete e se devia levar desodorizante de roll-on ou de spray. O Venâncio disse-me que sempre que ia jogar com os amigos nunca levava champô porque havia sempre alguém que levava e ele pedia emprestado. E quando levava champô era daqueles dos hotéis, que ninguém lhe pedia emprestado por serem fraquinhos. Como nunca estive em nenhum hotel, optei por levar o anti-caspa, que assim ninguém me pedia emprestado para os outros não pensarem que tinham caspa. Fui jogar e o jogo correu bem. A minha equipa perdeu 8-6 mas eu marquei um golo, não marquei nenhum na própria e não levei nenhuma cueca. O Gary sempre me disse que quando ganhava um jogo mas levava uma cueca ia para casa como se tivesse perdido. Só me enganei quanto ao champô, que emprestei a 3 deles, que nem quiseram saber se era anti-caspa ou não. 



No balneário, antes e depois do jogo, o pessoal só falava na sucursal de Angola e se não deviam arriscar e ir trabalhar para fora. Só eu e o Nando Farras não falamos desse assunto. Eu estava calado a ouvir os outros, enquanto o Nando Farras estava a tentar arranjar companhia para ir à noite dos ritmos africanos que ia haver nessa noite. Agora que penso melhor, se calhar o Nando Farras decidiu ir para a sucursal de Angola e já anda nas noites de ritmos africanos para quando chegar lá não destoar muito. Eu só não disse ao Nando que ia com ele porque no dia a seguir trabalhava e eu bem o vejo a chegar sempre às 11:00, 11:30. E foi o que aconteceu, foi lá para a noite dos ritmos africanos e hoje só chegou quase à hora de almoço. Por falar em almoço, hoje era esparguete à bolonhesa, que é uma das especialidades da Xana, mas ela disse-me que se eu quisesse podia comer «cabra de contabilidade». 



Por acaso nunca comi carne de cabra, só o queijo e sinceramente prefiro o de ovelha. Além disso, já chega de carnes esquisitas, uma vez comi codorniz, que me disseram que era como o frango e aquilo não tinha nada a ver com o frango. Era como eu dizer que o Vítor Piranha assa bem novilho, porque quem assa frangos também assa novilho. Não tem nada a ver. O meu tio também sempre me disse que há uma grande diferença entre as vacas, as cabras e as porcas. As vacas gostam de se mostrar, as cabras gostam de se mostrar mais que as vacas e as porcas não se mostram tanto mas come-se facilmente e de qualquer maneira, ao contrário das vacas e das cabras que requerem mais trabalho. Por mim tudo bem, mas disse à Xana que não trocava a bolonhesa dela por nenhum prato de cabra, vaca, cabra ou ovelha. Ela serviu-me e disse-me que se eu quisesse repetir a dose podia comer mais da bolonhesa dela à noite, em casa dela. Achei melhor não, gosto muito da bolonhesa da Xana, mas comer duas vezes no mesmo dia, ainda me ia começar a fartar e eu não quero que isso aconteça. 






P.S.: O Lino disse-me que para a semana provavelmente íamos jogar contra a Robialac, por ocasião do aniversário do patrão deles e que se eu jogasse bem esta semana podia ser convocado. Não há nada que eu queira tanto como jogar contra a Robialac e ganhar. Adorava vingar-me do Júlio César por ter abandonado a fábrica. O Venâncio disse-me uma vez que a vingança era um prato que se serve frio e por isso é que as moças gostam tanto de se vingar, porque também gostam das saladas frias e das máscaras revitalizantes que até põem no frigorífico. O Gary disse-me que uma vez comeu uma dessas máscaras que estava no frigorífico da Paulinha porque nunca tinha visto gelatina azul e quis experimentar. O meu tio também me disse que a vingança era das melhores coisas do Mundo e que só perdia a piada quando eram os outros a querer vingar-se de nós. Como sou eu a querer vingar-me do Júlio César, acho que é uma coisa boa e vou levar isto para a frente.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Ideias para séries


Eu nem sempre gostei de séries. Se o Jumanji fosse uma série, demoravam 26 episódios para chegar ao fim do jogo, quando no filme chegam ao fim em 1 hora e 40 minutos de puro entretenimento. E chegam ao fim numa hora e 40 minutos, mesmo com o Robbie Williams a passar 25 anos na selva. Se fosse uma série, só para aparecer o caçador, que eu ainda não sei o nome mas sei que era «Von» qualquer coisa, passavam pelo menos uns 4 ou 5 episódios. Há aquelas séries que são uma história e que os episódios vão-se desenrolando como um livro e depois há outras séries que cada episódio é uma história com princípio, meio e fim. Essas séries irritam-me, porque normalmente são aquelas em que corre tudo bem nos episódios e estão desenhados claramente só para as pessoas passarem o tempo.



Mas desde que estou com a Paulinha, que é uma grande amante de séries, comecei a gostar de algumas. A princípio, chateei-me muitas vezes com ela porque eu sabia que o Dr. House ia acertar sempre no diagnóstico ou que os do CSI iam apanhar sempre o assassino e nenhum deles ia morrer nas trocas de tiros com os bandidos. Só que depois comecei a ver séries engraçadas, em que morriam protagonistas, aconteciam coisas que não estava à espera e nem sempre ganhavam os bons. Além disso, a Paulinha utilizou um argumento que eu tive em conta. Normalmente não a ouço quando ela se alonga nas falas, porque sinto que vem um sermão feminino com o qual não vou aprender nada, mas desta vez ouvi o início e foi quando ela me disse que se o Jumanji fosse uma série, eles podiam explorar o que se passou na selva, qual a rivalidade com o caçador e surgir muitas outras personagens que se surgissem em filme, o filme tinha para aí 5 horas e ia ser maior que o «Lawrence da Arábia».



Assim, fiquei um pouco mais amante de séries. No entanto, como a maior parte das séries na televisão é de polícias a resolver crimes, decidi criar séries da minha autoria, que abrangessem espectadores que não acham piada nenhuma a séries que toda a gente sabe que vai acabar em bem. Aqui vos deixo a sinopse (ou breve resumo para quem, como o Jorge Abel, nunca passou do 3 a Português) das minhas ideias para séries:




  • «Tradição»: a série passava-se em Portugal, em 2014, mas com constantes «flashbacks» do passado, para explicar o porquê das coisas estarem a acontecer agora, não vamos fazer como o Harry Potter que simplesmente havia uma escola de magia e pronto, ninguém falava mais nisso, nem como tinha surgido ali. O personagem principal era Nuno Gamba, que contrariamente ao que o nome indica, provinha de uma família conhecida por possuir um talho desde 1894. Contudo, Nuno Gamba teve de fechar o seu estabelecimento em 2011, pelo facto de perder a clientela toda para um talho, na mesma rua, que vendia a carne mais barata, assim como rissóis de pescada, mexilhões e miolo de camarão. Gamba, junta-se a outros talhantes tradicionais e a populares revoltosos e forma uma milícia, que vandaliza talhos modernos, espanca moços que pedem francesinha sem bife e incendeia restaurantes vegetarianos. Ao longo da série vamos percebendo que Nuno roubou um cutelo do talho do pai quando era miúdo e por isso era temido na sua escola preparatória, e que a sua primeira namorada lhe chamava «Morcela» porque adorava comer os dois;

  • «O instrumento»:  Felisberto, um músico promissor abandona a sua carreira a partir do momento em que um concerto de violino num salão paroquial preenchido com 33 pessoas não é pago, nem tem direito a beber um Fresky de frutos exóticos no fim, só sobraram os de laranja. Agastado com a sua vida, esse músico começa a frequentar o ginásio de forma assídua, onde conhece Clóvis. Este, é professor de Muhay Thay e, em troca de ser o parceiro de treino de Felisberto, este tem que começar a frequentar as suas aulas. Com o tempo, Felisberto começa a ganhar um corpo tonificado e aptidão nas artes marciais. Então, Clóvis, já considerado o seu melhor amigo, fala-lhe do seu grande segredo: é acompanhante e sente que «Berto» também podia ser. O ex-músico, após um período de reflexão, aceita o convite. A série acompanha esta transformação e o seu dia-a-dia enquanto acompanhante. Vemos também como a ironia toma conta da vida de Felisberto, que foi preciso ser acompanhante para ser conhecido como «O Músico», visto que atribuía um instrumento a cada moça que contratava os seus serviços e encavava-a de forma condizente com o instrumento escolhido: de sopro, de percussão ou de cordas;

  • «Supremacia»: há um porradão de séries sobre vampiros, mortos-vivos e até de uma moça que fala com os mortos para lhes proporcionar os últimos desejos deles e dar-lhes justiça, mas há poucas (ou nenhuma!) série sobre futebol. Esta série acompanhava os primórdios do futebol, na sua forma mais arcaica, onde não eram só as cargas de ombro que não eram falta, qualquer carga era legal e onde não havia foras-de-jogo. A acção desenrolava-se na altura do Império Romano, onde fora dos limites do Império proliferavam as tribos bárbaras. Entre essas tribos estavam os Rasmundos, liderados pelo temível Rasmus, que já por várias vezes havia combatido e derrotado os romanos em diversos territórios. Quando Rasmus morreu, as várias tribos bárbaras criaram a «Liga de Rasmus», onde jogos de futebol arcaico se disputavam entre as várias tribos, em que os derrotados saíam sem vida. A equipa que se sagrasse vencedora da «Liga de Rasmus» governaria todas as tribos bárbaras. Ao longo dos episódios vamos assistindo aos jogos, aos dramas familiares, à forma como Roma olhava para esta liga e se devia enviar uma equipa para participar e veremos se os Visigodos confirmam o seu favoritismo;

  • «De porto em porto»: a série reportava-se ao período de tempo em que gregos, genoveses, fenícios e cartagineses dominavam o comércio marítimo e andavam de porto em porto em busca de novos produtos, novas trocas e parcerias comerciais, mas também de novas intrigas, histórias, aventuras e moças para encavar. A série tem como protagonista principal o barco de um mercador fenício e, em vez de cada episódio ser num porto diferente, com uma história diferente (como aquelas séries que detesto), às vezes passava 2 ou 3 episódios na mesma cidade, ou porque teve uma rivalidade com um cartaginês ou porque encavou a prima de um grego e este tentou afundar o barco dos fenícios e gerou-se ali grande confusão no porto, com promessas de vingança de parte a parte. O azar do grego é que o fenício andou na escola e sabia que não devia aceitar cavalos de madeira. Depois também havia um episódio em que os piratas atacavam o barco dos fenícios e era porrada velha. Disse isto dos piratas depois do episódio com o grego, precisamente para os espectadores especularem sobre se tinha sido o grego a estar por trás do ataque dos piratas;

  • «Os não-heróis»: as séries focam-se sempre nos que sobrevivem às tragédias, nos moços gordos que estão sempre no banco mas no jogo da final entram e fazem o cesto vencedor, em moços que adquirem poderes e viram super-heróis, em espiões, polícias a resolver todo o tipo de crimes, médicos ou moças a comerem chocolate e a chorar. Esta série não. «Os não-heróis» ia-se focar nos não protagonistas, nos que não sobrevivem, nos que não resolvem as situações, nos que não conseguem acabar bem. Por exemplo, o primeiro episódio mostrava dois amigos que estavam a chegar de uma noite em que se carregaram de ácidos numa festa de trance e nem se inteiraram que a epidemia zombie estava a começar. Nas outras séries, por aparecerem, estes moços iam conseguir escapar e tornar-se os protagonistas. Nesta série, não escapavam, eram mordidos e comidos e depois acompanhava-se a transformação, eles a andarem no meio dos outros, a reacção quando viam humanos e tudo o que envolvia ser zombie, até morrerem com um tiro de um grupo de humanos;




Este é o meu contributo para as séries de televisão, agora quem tiver o curso de guionista que faça o resto. E já muito fiz eu! Que normalmente, a pior parte para os que escrevem as séries, é pensar numa história. Depois, as falas nos episódios é fácil, fazem conversas entre os personagens, metem duas cenas de porrada, uma ou duas de sexo e fazem aparecer personagens novos episódio sim, episódio não. Se a série tiver flashbacks, incide-se nisso e nem é preciso pensar muito no episódio em si, mas sim em explicar o passado. Com isto, temos 2 ou 3 episódios sem grande história e como cada temporada tem sempre no mínimo 10 episódios, os guionistas não têm muito mais trabalho. Depois ainda dizem que se trabalha muito no universo da televisão, quem me dera a mim! O problema é que as produtoras e os canais gostam é de séries convencionais e em que acontece sempre o mesmo, com os bons a ganharem, com o protagonista a sofrer mas sem nunca morrer e a conseguir resolver sempre tudo no final e com os criminosos todos a serem apanhados por equipas policiais altamente eficazes. Depois ainda me perguntam porque é que já vi 22 vezes o «Godzilla», 16 o «Pulp Fiction» e 10 o «Assalto ao Arranha-Céus»






P.S.: Se me dessem liberdade criativa, gostava de fazer uma série de animação com mariscos e peixes. Mas nada como aquilo do «SpongeBob», que os polvos eram todos grandes bananas e os peixes eram todos sovinas. Além disso, nessa série, faziam da Lula um pascaço, quando todos sabemos que as lulas são como aqueles moços que se armam e se metem com toda a gente porque, se lhes acontecer alguma coisa e se alguém responder mal, no dia a seguir as lulas vão chamar os primos, que são os polvos, e está a confusão armada. Ah!, se eu fizesse essa série é que ia ser feliz. Ia haver um personagem chamado Vítor, que ia ser um pargo, para ser «Vítor Pargo» e era um empresário, que no fim do dia ia sempre beber um copo com os seus amigos Miguel Arenque, Mário Goraz, Júlio Lampreia e com o Sr. Faneca.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A carta que enviei à Mars


Reparei que alguns de vocês se reviam nas minhas opiniões perante marcas e instituições que têm como obrigação e dever proporcionar-nos qualidade de vida. Mas é qualidade de vida a sério, não é como aquele meu antigo psiquiatra que dizia que o hospital psiquiátrico era qualidade de vida para mim quando nem sequer me podia sentar na poltrona sem ver se tinha lá vomitado e a televisão estava sempre na RTP1. Como podemos nós ter qualidade de vida quando há tantas coisas que estas marcas fazem mal e sem dar qualquer explicação? Sou um cidadão preocupado (e sem trabalho, mas isso é secundário) e, por isso, hoje vou partilhar a carta que enviei à Mars, a marca de chocolates.



«Bom dia,


Digo bom dia porque a minha mulher adora chocolate e come sempre um quadradinho de manhã para começar bem o dia. Por isso, sendo vocês uma marca reconhecida no fabrico do chocolate, estou certo que também começam o dia cedo quer a comer, quer a trabalhar no chocolate e em prol desse bem inestimável na saúde mental das moças. Escrevo esta carta porque além de ter muito tempo livre, estou preocupado com algumas situações relativas à vossa marca e que gostaria de partilhar e, se possível, ver resolvidas através ou de uma resposta ou de uma mudança de atitude da vossa parte. Até agradecia se tomassem em consideração as minhas propostas e agissem em conformidade em vez de me mandarem uma resposta a dizer que receberam e leram a minha carta com atenção e reencaminharam para os recursos humanos. Começo a achar que nenhuma empresa tem recursos humanos, que isso é só uma fachada para dizer que se deitaram os currículos e as cartas que recebem ao lixo.


Mas adiante, que não é de recursos humanos que vou falar hoje apesar de ser um tema a que posso voltar no futuro, mas não necessariamente numa carta para vocês. Eu já era para mandar a carta há uns tempos mas não sabia para onde havia de mandar. Não sabia se havia de mandar para «Marte» ou para «Mars». Depois também não sabia em que idioma escrever a carta. Tenho um inglês razoável mas não bom suficiente para escrever uma carta em que expusesse as minhas convicções e ideias de forma fiel. Sou péssimo a francês, só sei que «hoje» se diz «aujourd'hui» porque achei piada à palavra, tanta coisa só para se dizer «hoje». Pensei escrever em Português mas depois preocupei-me com a possibilidade de não haver nenhum tradutor de Português para o vosso idioma e que nenhum carteiro soubesse qual o destino a dar a uma carta cujo endereço fosse «Marte» ou «Mars». A situação só foi resolvida quando a minha mulher descobriu o vosso site na Internet e afinal tinham uma delegação em Portugal.


Gostava primeiro de perceber porque é que as moças gostam tanto de chocolate e lhes faz tão bem quando a mim só me dá diarreias fortes? É assim, eu agradeço o efeito, até porque um dos maiores prazeres que tenho na vida é o de esvaziar as entranhas enquanto leio banda desenhada na casa de banho. No entanto, gostava de perceber porque é que esse efeito apenas se manifesta em mim e não na minha mulher, que come um quadrado todas as manhãs e, ocasionalmente, come uma tablete inteira. Inicialmente pensei que o sentimento de culpa que as moças sentiam após comer o chocolate lhes prendia o intestino, mas uma vez comi um Mars que era para o meu sobrinho, fiquei a sentir-me culpado por ter comido mas mesmo assim deu para ler 20 páginas de um livro do Calvin enquanto fazia o que tinha a fazer. Há algum ingrediente especial para isso? Porque não pode um moço como eu comer chocolate sem dar pagar horas-extra ao meu sistema defecativo? 


Além disso, porque raio é que têm o nome «Mars» e não um nome mais terrestre ou terráqueo? Terráqueo parece-me um nome pouco elegante para um habitante do Planeta Terra, mas eles no Dragon Ball estavam sempre a dizer que iam acabar com a Terra e esmagar todos os terráqueos e o nome ficou-me no ouvido. Porque não um chocolate «Terráqueos»? Ficava um nome muito longo para as embalagens? Eu consigo imaginar-me a dizer «vou ali à mercearia do Rebelo comprar um Terráqueo para o lanche, já venho». Agora «Mars» ... Porque é que tiveram que sucumbir à internacionalização do nome? Um «croissant» é «croissant» em todo o lado, mesmo que em Portugal existam sítios onde se escreve «cruaçã». Se queriam manter o nome uniforme, em Portugal podiam ser o «Março», já que não queriam ser o «Marte». Pensem nisso. Já estamos todos fartos do inglês, por isso é que o Tony Carreira enche o Pavilhão Atlântico e os Silence 4 acabaram há anos.


Uma coisa que sempre me perturbou é que apesar da Mars ter inegável qualidade no seu chocolate, as moças preferem comer Twix porque dá a ilusão que estão a comer dois chocolates. No entanto, o Mars até é maior que o Twix, é mais pesado e mais grosso. Ninguém percebe que só o facto de dividirem o chocolate em dois o torna mais pequeno que um só? Claro que as moças também preferem Twix porque é mais fácil de dividir, fica uma barra para cada uma e não dividem seguindo a lei do «dá uma trinca», que é sempre um critério subjectivo e que varia de mandíbula para mandíbula e de carácter para carácter. Mas porque é que vocês não investem numa campanha de marketing agressiva a mostrar isto mesmo, em vez de se deixarem ser ultrapassados pela Twix? Eu trabalhei 5 meses num quiosque, toda a gente que ia comprar chocolate ou era Kit Kat ou Twix. O Kit Kat é mais caro, isso era com as pessoas, mas o Twix é ao mesmo preço e as pessoas preferiam-no ao Mars por causa daquela ilusão que estão a comer mais.


Para terminar, uma dúvida que considero pertinente. São vocês que fazem o chocolate «Lion»? É que aquilo sabe igual ao Mars e o formato do chocolate também é igualzinho, só muda a embalagem, que a vossa é preta com letras vermelhas e a deles é castanha com letras amarelas. Se forem vocês a fazerem o «Lion» mas não dizem a ninguém, retiro o que disse no ponto acima da estratégia de marketing, estão a trabalhar bem, em vez de ser só entre Twix e Mars, as pessoas já têm que optar entre Twix, Mars e Lion e as probabilidades de escolherem um chocolate vosso são maiores. Mas se não forem vocês a fazerem o Lion porque é que nunca os processaram por vos copiarem? É que vocês aí nos escritórios podem não saber, mas nos supermercados, bancas de quiosques e máquinas de venda automática, os Mars e os Lion estão sempre lado a lado. Tenham atenção a isso.


Com isto dou por concluída a minha comunicação. Espero que atendam às minhas considerações e ajam no sentido de as corrigirem e, com isso, tornarem a vossa marca ainda melhor e proporcionarem qualidade de vida às pessoas. Espero também que não me digam que encaminharam a minha carta para os Recursos Humanos, mais vale dizer que a deitaram ao lixo. Ao lixo não, que isso é normalíssimo. Prefiro que me digam que puseram a minha carta numa daquelas trituradoras de papel que só vejo nos filmes mas que adorava ter uma em casa.


Atenciosamente, do vosso consumidor frequente, embora não tão frequente como a minha mulher, que além de me roubar o apelido desde o dia em que nos casámos, ocasionalmente também me rouba os Mars da minha mesinha de cabeceira,


Lucindo Sampaio de nascença, Lucindo Sampaio Bonifácio desde o dia do casamento».

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A fábrica vai abrir uma sucursal em Angola e o patrão andou a perguntar quem é que queria ir para lá


Mal cheguei à fábrica de manhã dei os bons dias ao Venâncio e ele disse-me que toda a gente tinha de ir para o auditório que às 9:30 o patrão tinha uma coisa para nos dizer. Claro que o Venâncio me disse «bom dia» primeiro, é uma pessoa bem formada. E mesmo que não fosse bem formada acho que é meu amigo. Pelo menos estou a pensar convidá-lo para a minha festa de anos. Da fábrica só o vou convidar a ele, ao Sebastião e à Xana. Também pensei em convidar o meu patrão, mas o Sebastião disse-me que eu e o patrão ainda ficávamos amigos a sério e eu começava a almoçar sozinho porque toda a gente pensava que eu era o bufo da fábrica. Por isso, só devo convidar o Venâncio, o Sebastião e a Xana. Espero que ela não se importe de ser a única moça na minha festa, porque a outra ia ser a minha mãe mas que já me disse que nesse dia ia estar ocupada.



Eu fui para o auditório e estava lá quase toda a gente. Só ainda não tinha chegado o Sebastião, o patrão e o Nando Farras. E o Venâncio, claro, que estava à porta, esse é o trabalho dele. Tive que me sentar ao lado da Vera da Contabilidade, que nem sequer me deixou guardar lugar para o Sebastião, disse que se ele quisesse lugar sentado e à minha beira que chegasse a horas ao trabalho, como ela chegou. Enquanto o patrão não chegava tentei meter conversa com a Vera, para o silêncio não ser constrangedor. E já que estava tudo a falar uns com os outros não queria destoar. Perguntei-lhe de onde é que vinha a palavra «auditório», se vinha de «audição» ou de «auditoria». A Vera da Contabilidade disse-me que se recusava a parar de jogar Candy Crush, que já ia no nível 57, para me responder. Disse-lhe que o Gary uma vez tinha chegado ao nível 88 do Tetris no computador dele mas a Vera não pareceu interessada.



Entretanto o Sebastião chegou e só teve lugar nas filas de baixo do auditório. Passou por mim, viu-me e mandou-me mensagem a perguntar «Quem é essa gaja?». Eu respondi-lhe que era a Vera da Contabilidade e ele disse-me para eu perguntar à Vera o que é que ela achava dos telemóveis novos agora virem com Calculadora. Eu disse-lhe que era melhor não que ela estava a jogar Candy Crush e não queria ser interrompida. O Sebastião perguntou-me se ela era 91 e eu disse-lhe que não, que para já era só 57. Entretanto chegou o patrão e foi para a frente do auditório. Vinha acompanhado com outros dois de fato que eu nunca tinha visto. Entretanto recebo uma mensagem da Xana da cantina a perguntar «Quem é essa gaja?». Enquanto lhe estava a dizer que era a Vera da Contabilidade e que o Sebastião tinha feito a mesma pergunta, perdi as primeiras palavras que o patrão disse. Fiquei a rezar para que se houvesse algum teste, não sair nenhuma pergunta com os primeiros 5 minutos.



A Xana respondeu-me a dizer que sabia quem ela era, só não sabia o que é que ela era para mim. O Gary já me tinha avisado que as moças adoram rótulos e etiquetas. O meu tio disse-me que as moças também gostam de umas boas palmadas no sexo e que lhes rasguem a roupa interior. Disse à Xana que ela, para mim, era só a Vera da Contabilidade e a Xana respondeu-me «ok». Fiquei contente por ela ter percebido e termos resolvido a situação e voltei a prestar atenção ao que o patrão estava a dizer. Mas depois lembrei-me que o Venâncio me tinha dito que as moças tinham um critério bastante diferente relativamente a expressões como «ok», «tá» ou «tu é que sabes». Perguntei à Xana o que é que ela queria dizer com o «ok» e ela disse-me que, para ela, tinha sido só um «ok». Fiquei mais descansado.



Basicamente, o patrão queria falar com toda a gente porque a fábrica de tintas anda a dar lucro e, para dar mais, vai abrir uma sucursal em Angola. Eu não percebo porque é que quando uma coisa está a resultar bem as pessoas têm que procurar que fique ainda melhor. Era como se o Vítor Piranha assasse os frangos dez vezes melhor que qualquer outro e quisesse também ser o melhor a fritar sardinhas. O Gary também me disse que as tortas Dan Cake de chocolate começaram a perder qualidade quando também começaram a fazer as de morango, e ainda por cima as de morango sabem a um misto de framboesa e cereja. O patrão disse que quem quisesse ir trabalhar para Angola ia ganhar mais, ter uma casa paga pela fábrica e podia ascender na carreira. Eu até estava a pensar em ir para lá, o meu tio sempre me disse que as moças africanas são mais fogosas na cama e gostava de experimentar isso. Se eu fosse executivo em Angola tudo podia ser mais fácil com as moças. Só que a Vera da Contabilidade mostrou-se interessada em ir e levantou a mão e eu calei-me. Ia para Angola, para longe de tudo, para ser colega de trabalho da Vera da Contabilidade e passarmos os dias a falar de Candy Crush? Não, obrigado.







P.S.: O Sebastião disse-me que não queria nada ir para Angola e que se fosse trabalhar para fora só considerava ir para Itália, porque podia comer massa todos os dias sem ninguém mandar piadas. Pensando bem, também podia comer napolitanas ao lanche todos os dias, que são bem boas e aqui nem sempre encontro à venda. Perguntei ao Venâncio se ele gostava de ir trabalhar para Angola e ele disse que não, porque se progredisse na carreira, de segurança passava para general ou comandante e nas casernas dos comandantes não há Freecell no computador, só aquele jogo das minas. Também não gosto de jogar esse. E se eu fosse para Angola de certeza que não ia poder tirar fruta e sobremesa à hora de almoço, apesar de hoje a Xana não me ter sequer servido e me ter dito para ir chatear outra. Vá-se lá perceber as moças. 


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Porque é que detesto super-heróis


Ou super heróis. Nunca sei se agora com estas mudanças leva hífen ou não. Também detesto a palavra «hífen», não sabiam inventar uma melhor? E o pior é que ou se diz «hífen» ou se diz «tracinho», por isso venha o diabo e escolha. 

Mas devem estar a perguntar-se porque é que detesto super-heróis (ou super heróis) quando toda a gente gosta deles e até se faz um montão de filmes e séries sobre eles e há lojas em centros comerciais que vendem máscaras, fatos, canecas, t-shirts e boxers dessas personagens. Como sempre tenho os meus motivos e vou apresentá-los agora para vocês:



  • 90% deles usam máscaras ou capas. Espero que a moda não pegue e comece a ser expectável que um homem volte a andar de capa. Para andar de capa já me chega um sobrinho meu que anda agora na faculdade e anda sempre de capa, deve pensar que é o Batman. E também detesto máscaras, parece que estamos sempre no Carnaval, e eu detesto o Carnaval. Grandes super heróis estes que têm medo de revelar a sua identidade;

  • Os super heróis fazem das pessoas que os rodeiam burras. Mentem-lhes mesmo mal e todos acreditam sem se questionar. Pior que isso, é que nunca são descobertos! Nunca ninguém faz as perguntas certas, nem está atento a determinados pormenores que os desmascarava num instante. Sei que o Gary me vai matar, mas no Homem Aranha nenhuma das moças com quem ele se envolve nunca acham estranho ele estar sempre a desaparecer e 40 segundos depois aparece o Homem Aranha? 

  • Provavelmente a coisa que mais detesto nos super heróis é que ganham sempre. Já por isso é que eu deixei de jogar Tekken 3 contra o Gary, que ele jogava com o Yoshimitsu e ganhava sempre. Também detesto ver futebol de praia que o Brasil ganha sempre. Porque raio hei-de ver coisas com super heróis quando eles também ganham sempre e sei sempre que aconteça o que acontecer, no fim ele vai ganhar aos outros?

  • Uns dirão que é inveja, eu digo que é puro ódio por super heróis. Desta vez, outro motivo é que qualquer que seja o super herói, envolve-se sempre com alguma moça atraente e sexualmente apetecível. Andam os episódios ou o filme todo a dizerem que querem é alguém com um interior lindo mas depois aparece-lhes alta toura que, por acaso, até tem um interior que vale a pena. Ou se não valer, como é a moça de um super herói, as pessoas assumem que sim, porque acham que um super herói não ia andar aí a encavar moças só pelo aspecto físico;

  • Os super heróis só andam em cidades onde os criminosos são burros ou lentos e que se deixam apanhar sempre. Podem ter o plano mais genial do Mundo, mas falha sempre alguma coisa ou no último momento aparece o super herói e salva a situação. E às vezes os planos são geniais e infalíveis e só falham porque o vilão ou o ajudante do vilão são grandes bananas e estragam tudo. Os super heróis, tirando um ou outro, nunca têm um plano e mesmo assim ganham aos outros;

  • Por falar em vilões, eles são outro motivo porque detesto super heróis. Os vilões têm sempre falas muito melhores que os super heróis, têm muito mais piada e são muito mais imprevisíveis. Na maior parte dos casos, os super heróis são pessoas sem sentido de humor, sérias demais, não percebem as piadas e têm um discurso muito vazio e oco, só querem dar lições de moral e meter os vilões na cadeia. Ainda aparece um ou outro que manda uma piada de jeito, mas os vilões nesse aspecto dão 10-0 e ninguém os valoriza;



    • Quase todos os super heróis têm «Man» no nome. É Batman, Spiderman, Aquaman, Superman e ainda há os X-Men, que com este nome quase que podiam ser uma banda que se junta no Verão para ir dar concertos em coretos de juntas de freguesia. Há assim tanta necessidade de demonstrar a sua masculinidade, mesmo que estejam a usar uma capa ou fatos de licra mesmo justos que dá para ver tudo? É que se eu fosse um super herói usava um nome indefinido, para as pessoas pensarem se eu era um homem ou uma mulher. Claro que não iam desconfiar que era um homem porque não ia andar para aí a lutar com mauzões de calças de licra, a ver-se tudo;

    • Os super heróis têm sempre trabalho ou então são ricos/milionários. Não há um super-herói que esteja no desemprego ou que viva num bairro pobre ou a passar dificuldades. Que mensagem é que isto passa? Que só os empregados ou com rendimentos superiores têm direito a desenvolverem poderes que lhes permita tornarem-se super heróis? Por outro lado, os mauzões são sempre pobres a trabalharem para algum rei do crime ou por conta própria. Queria ver um super herói desempregado e sem subsídio a andar aí a lutar contra os mauzões sem ser remunerado ou se não ia logo assaltar uma ourivesaria para ter dinheiro para comer e pagar a renda.



    Por esta altura, quem chegou até aqui deve-se estar a perguntar porque é que escrevi no título com hífen e no texto sem hífen a palavra «super-heróis» (ou super heróis). Agora que leio bem esta frase parece-me mal construída. Se algum de vocês for professor de Português que me diga, não quero estar a ligar para o Gary agora a perguntar como é que se escreve esta frase, que ele ainda pensa que é um texto a dizer bem dos super heróis e chega aqui, lê isto e apaga-me tudo e nunca mais me convida para ir com ele aquelas convenções para os desempregados nem para ver combates de boxe.





    P.S.: Espero que ele só veja isto amanhã à noite, é que amanhã à tarde vou com ele a uma convenção sobre o impacto que o o ensino obrigatório do Francês tem na escolaridade e no dia-a-dia dos ursos pardos. Quero perceber essencialmente se o Francês é uma língua assim tão fácil de ser aprendida que até um urso a aprende ou se os ursos são animais com uma complexidade mental elevada, que até sabem falar Francês. É que eu tive várias negativas a Francês  e então quero mesmo perceber se é por eu ser estúpido ou se é por aquilo ser difícil.