domingo, 16 de fevereiro de 2014

A semelhança entre os Gladiadores e os Jogadores de futebol


Ontem, depois de ver um filme do Van Damme em que ele e outro são um protótipo de super-soldados mas que escapam do laboratório e andam a espalhar o caos, não deu nenhum filme em condições na televisão. A Paulinha, que ultimamente me anda a introduzir ao mundo das séries, como já aqui vos dei conta, disse-me que ia dar dois episódios de uma série que se passava no tempo dos romanos e que seguia as histórias dos gladiadores. Fiquei entusiasmadíssimo, não é todos os dias que vemos imagens desses tempos, hoje em dia é só reconstituições históricas em 3D sem piada nenhuma. A Paulinha disse que era uma série feita actualmente mas que às vezes até parecia mesmo naqueles tempos. Perdi o meu entusiasmo ali.



Mesmo assim, por respeito ao argumento da Paulinha de que ultimamente até me tem convencido a gostar de séries por eu adoptar uma postura mais flexível, aceitei ver a série. Em termos de cenários, tudo bem, dava 10-0 a alguns documentários que eu vejo por aí no Canal História e no Odisseia. Mas não percebi porque é que toda a gente falava inglês. Os romanos falavam inglês, os escravos que vinham de todo o lado falavam inglês e os que não falavam inglês conheciam alguém que lhes conseguia traduzir tudo ou então aprendiam num instante. Depois até entre pessoas da mesma nacionalidade falavam inglês, mesmo para os romanos perceber. Se não tivesse tantas moças nuas e moços a combater, eu adormecia passado 5 minutos.



Mas numa coisa a série teve mérito. Fez-me pensar. De certa maneira, os Gladiadores, na altura deles, tinham o mesmo estatuto que os jogadores de futebol têm hoje em dia. Acham estúpido e sem sentido? Então vejam lá os meus argumentos e convençam-se:




  • Sempre que desferiam um golpe vistoso ou o golpe fatal, que lhes dava a vitória, os Gladiadores faziam um festejo característico ou dedicavam a vitória a alguém, como os jogadores de futebol fazem hoje em dia;

  • Há uma grande aposta nas camadas jovens, contratando-se os jovens valores ainda bastante novos. Há determinadas zonas que têm fama de formar melhor. Após algum tempo de trabalho, quando estiver preparado, lança-se o moço nos grandes palcos. Uns eram lançados em combate mais cedo que outros, umas vezes por necessidade ou por falta de mais opções, outras por precipitação de quem decidia, tal como com os jogadores de futebol;

  • Um gladiador era sempre um alvos bastante apetecível para as moças. Aliás, tal como hoje em dia nos jogos de futebol, maior parte das moças só iam aos combates ou para ver os gladiadores, apreciar-lhes os músculos e sonharem um dia envolverem-se fisicamente com um, ou obrigadas pelos pais/maridos, que eram fanáticos pelos combates apesar de elas não serem muito e só irem fazer o favor;

  • Uma das semelhanças mais fortes é que no tempo dos gladiadores, o mercado de transferências fazia mesmo jus ao nome. Os proprietários iam aos mercados e compravam, trocavam e avaliavam os alvos mais apetecíveis. Nem sempre o mercado de transferências estava activo, num claro paralelismo com o que se faz hoje no futebol. Na altura, não era a FIFA que regulava as transferências, mas Roma estava atenta aos preços que se praticavam e aos negócios efectuados;

  • No seguimento do ponto anterior, no tempo dos gladiadores também existiam os agentes, os empresários e os proprietários dos atletas, que encetavam negociações para a aquisição dos direitos de um gladiador ou para a troca por troca, caso houvesse interesse mútuo nos termos do negócio. Tal como se faz hoje em dia, os proprietários mais endinheirados, preferiam comprar os melhores atletas dos proprietários mais pequenos e só em último recurso iam contratar gladiadores livres ao mercado;

  • As arenas enchiam com os grandes nomes. Não era qualquer um que enchia uma arena, às vezes naqueles combates mais xungas ou entre moços que ninguém conhecia, estava meia arena. No entanto, os combates beneficiavam mais o espectador porque como não havia transmissões televisivas, lutavam sempre ou de manhã ou de tarde, eram horários mais apelativos para os espectadores. Mesmo assim, tal como actualmente nos jogos de futebol, fosse à hora que fosse, os eventos cabeça de cartaz ou os mais aguardados, enchiam as arenas, fosse a que horas fosse;

  • Havia os gladiadores que aguentavam uma carreira longínqua e a sua qualidade e mérito eram reconhecidos por todos. Mas também havia outros que prometiam muito mas depois desapareciam depressa e nunca mais ninguém ouvia falar deles. Só aqueles mais conhecedores e que estudavam os Jogos a fundo contavam histórias de Lucas, um jovem promissor que começou a dar nas vistas aos 18 anos, mas que depois de 6 ou 7 aparições onde prometeu muito, nunca mais se ouviu falar nele. Tal e qual como com o futebol;

  • Os adeptos gostavam e deliravam com os gestos técnicos mais ousados e mais espectaculares, que perdurassem na memória. Contudo, quando questionados, os treinadores assumiam preferir a eficácia à beleza artística, ainda que admitissem que esta também fizesse parte do espectáculo e que dava liberdade aos seus atletas;

  • Os Gladiadores tinham um treinador que tentava tirar proveito das suas melhores qualidades. Cada clube ou casa tinha um treinador para os seus Gladiadores, sendo que o proprietário esperava que o treinador formasse bons atletas e obtivesse bons resultados. Por outro lado, o treinador sabia sempre que podia perder os seus melhores atletas, a qualquer momento, para entidades mais endinheiradas. Também sabia que face a maus resultados poderia ser substituído por outro, caso o proprietário assim o entendesse;

  • Os gladiadores trabalhavam e treinavam a semana toda para poderem brilhar nos grandes palcos e conseguirem uma vida melhor, visto que recebiam um prémio monetário por cada vitória. Os que fossem conseguindo gerir bem o dinheiro, escusavam de passar por apertos depois de se retirarem e podiam viver uma vida tranquila. No entanto, a maior parte deles estourava o dinheiro todo enquanto o tinham;

  • Nos treinos dos gladiadores, tal como actualmente os jogadores de futebol, tinham sessões de trabalho de movimentações específicas ou do aperfeiçoamento de algumas técnias, outras de treino integrado para recuperar de lesões ou mazelas contraídas em treino ou em combate, outras de treino de conjunto onde o grupo treinava todo junto, outras de treino individual ou sessões de ginásio e de fortalecimento muscular;

  • Os gladiadores também eram os ídolos dos mais novos. Estes moços, diziam que queriam ser como os Gladiadores, embora os pais dissessem sempre que isso não era uma carreira e que o melhor era investir nos estudos, que isso é que garantia uma vida segura; 

  • Apesar de Gladiador ser considerado uma ocupação que revelava alta masculinidade e da maior parte deles perderem a cabeça com as moças, a verdade é que dentro dos clubes, havia muita paneleirice e alguns deles a comerem-se uns aos outros e a serem homossexuais. Mas sem os dos outros clubes saberem, e muito menos o público;

  • Por último, também chegava uma idade em que os Gladiadores eram considerados veteranos e ou se retiravam ou abraçavam a carreira de treinador, fosse na casa que sempre representaram (ou representaram mais vezes, caso tivessem estado envolvidos numa transferência), fosse noutra que requisitasse os seus serviços (afinal de contas eram profissionais). Eventualmente, alguns deles reuniam-se ocasionalmente, mesmo depois de retirados, para efectuarem jogos de celebração e de veteranos para entreter o público e matarem-se saudades.





Como vêem, mais uma vez, tive razão. Quem é que me consegue dizer, depois disto tudo, que os Gladiadores não foram o passado dos jogadores de futebol actuais? Não me venham outra vez com a história que está tudo na minha cabeça, que estou a alucinar, que só eu é que estou a ver estas coisas e que devia falar com um psiquiatra em vez de me conformar com o facto do Ramalho Drogas ter trocado de número e eu agora não ter acesso a anti-psicóticos. Foi à custa desses discursos cépticos que eu ainda hoje não tenho a certeza se vi o Ricardo Carriço e o Nicolau Breyner à porrada num parque de estacionamento de um shopping ou se só sonhei isso. O único que acreditou que não era um sonho foi o Lucindo, porque me disse que uma vez viu na televisão o Ricardo Carriço a apanhar no pêlo de um careca. Apesar de ser muito mais fácil irritar um careca que um gordo, já estava o precedente aberto, por isso tenho quase a certeza que vi e que não foi um sonho.









P.S.: Antes que duvidem, gosto de futebol, gosto de gladiadores, gosto de Capri-Sones de frutos exóticos e frutos de safari, gosto de panados, gosto de filmes em que o Bruce Willis distribui pancada a torto e a direito, gosto de Visigodos e gosto de um bom estereótipo que se confirme através da observação empírica. Não gosto é de Pirulos, de Compal de pêra, de textos do Jorge Abel, das promessas vazias do Teófilo, de tintas anti-fungo e da palavra «guache». Acho que essa é a palavra mais homossexualizante da Língua Portuguesa. De nenhuma maneira se consegue dizer «guache» sem se soar extremamente gay ou de se parecer que se está a comer um Pirulo numa esplanada enquanto se usa um pólo amarelo e se manda uma mensagem corrente ao Cláudio Ramos. 


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