O local onde tudo o que é produzido é fruto de delírios alucinatórios. De quem escreve e de quem lê.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
A fábrica vai abrir uma sucursal em Angola e o patrão andou a perguntar quem é que queria ir para lá
Mal cheguei à fábrica de manhã dei os bons dias ao Venâncio e ele disse-me que toda a gente tinha de ir para o auditório que às 9:30 o patrão tinha uma coisa para nos dizer. Claro que o Venâncio me disse «bom dia» primeiro, é uma pessoa bem formada. E mesmo que não fosse bem formada acho que é meu amigo. Pelo menos estou a pensar convidá-lo para a minha festa de anos. Da fábrica só o vou convidar a ele, ao Sebastião e à Xana. Também pensei em convidar o meu patrão, mas o Sebastião disse-me que eu e o patrão ainda ficávamos amigos a sério e eu começava a almoçar sozinho porque toda a gente pensava que eu era o bufo da fábrica. Por isso, só devo convidar o Venâncio, o Sebastião e a Xana. Espero que ela não se importe de ser a única moça na minha festa, porque a outra ia ser a minha mãe mas que já me disse que nesse dia ia estar ocupada.
Eu fui para o auditório e estava lá quase toda a gente. Só ainda não tinha chegado o Sebastião, o patrão e o Nando Farras. E o Venâncio, claro, que estava à porta, esse é o trabalho dele. Tive que me sentar ao lado da Vera da Contabilidade, que nem sequer me deixou guardar lugar para o Sebastião, disse que se ele quisesse lugar sentado e à minha beira que chegasse a horas ao trabalho, como ela chegou. Enquanto o patrão não chegava tentei meter conversa com a Vera, para o silêncio não ser constrangedor. E já que estava tudo a falar uns com os outros não queria destoar. Perguntei-lhe de onde é que vinha a palavra «auditório», se vinha de «audição» ou de «auditoria». A Vera da Contabilidade disse-me que se recusava a parar de jogar Candy Crush, que já ia no nível 57, para me responder. Disse-lhe que o Gary uma vez tinha chegado ao nível 88 do Tetris no computador dele mas a Vera não pareceu interessada.
Entretanto o Sebastião chegou e só teve lugar nas filas de baixo do auditório. Passou por mim, viu-me e mandou-me mensagem a perguntar «Quem é essa gaja?». Eu respondi-lhe que era a Vera da Contabilidade e ele disse-me para eu perguntar à Vera o que é que ela achava dos telemóveis novos agora virem com Calculadora. Eu disse-lhe que era melhor não que ela estava a jogar Candy Crush e não queria ser interrompida. O Sebastião perguntou-me se ela era 91 e eu disse-lhe que não, que para já era só 57. Entretanto chegou o patrão e foi para a frente do auditório. Vinha acompanhado com outros dois de fato que eu nunca tinha visto. Entretanto recebo uma mensagem da Xana da cantina a perguntar «Quem é essa gaja?». Enquanto lhe estava a dizer que era a Vera da Contabilidade e que o Sebastião tinha feito a mesma pergunta, perdi as primeiras palavras que o patrão disse. Fiquei a rezar para que se houvesse algum teste, não sair nenhuma pergunta com os primeiros 5 minutos.
A Xana respondeu-me a dizer que sabia quem ela era, só não sabia o que é que ela era para mim. O Gary já me tinha avisado que as moças adoram rótulos e etiquetas. O meu tio disse-me que as moças também gostam de umas boas palmadas no sexo e que lhes rasguem a roupa interior. Disse à Xana que ela, para mim, era só a Vera da Contabilidade e a Xana respondeu-me «ok». Fiquei contente por ela ter percebido e termos resolvido a situação e voltei a prestar atenção ao que o patrão estava a dizer. Mas depois lembrei-me que o Venâncio me tinha dito que as moças tinham um critério bastante diferente relativamente a expressões como «ok», «tá» ou «tu é que sabes». Perguntei à Xana o que é que ela queria dizer com o «ok» e ela disse-me que, para ela, tinha sido só um «ok». Fiquei mais descansado.
Basicamente, o patrão queria falar com toda a gente porque a fábrica de tintas anda a dar lucro e, para dar mais, vai abrir uma sucursal em Angola. Eu não percebo porque é que quando uma coisa está a resultar bem as pessoas têm que procurar que fique ainda melhor. Era como se o Vítor Piranha assasse os frangos dez vezes melhor que qualquer outro e quisesse também ser o melhor a fritar sardinhas. O Gary também me disse que as tortas Dan Cake de chocolate começaram a perder qualidade quando também começaram a fazer as de morango, e ainda por cima as de morango sabem a um misto de framboesa e cereja. O patrão disse que quem quisesse ir trabalhar para Angola ia ganhar mais, ter uma casa paga pela fábrica e podia ascender na carreira. Eu até estava a pensar em ir para lá, o meu tio sempre me disse que as moças africanas são mais fogosas na cama e gostava de experimentar isso. Se eu fosse executivo em Angola tudo podia ser mais fácil com as moças. Só que a Vera da Contabilidade mostrou-se interessada em ir e levantou a mão e eu calei-me. Ia para Angola, para longe de tudo, para ser colega de trabalho da Vera da Contabilidade e passarmos os dias a falar de Candy Crush? Não, obrigado.
P.S.: O Sebastião disse-me que não queria nada ir para Angola e que se fosse trabalhar para fora só considerava ir para Itália, porque podia comer massa todos os dias sem ninguém mandar piadas. Pensando bem, também podia comer napolitanas ao lanche todos os dias, que são bem boas e aqui nem sempre encontro à venda. Perguntei ao Venâncio se ele gostava de ir trabalhar para Angola e ele disse que não, porque se progredisse na carreira, de segurança passava para general ou comandante e nas casernas dos comandantes não há Freecell no computador, só aquele jogo das minas. Também não gosto de jogar esse. E se eu fosse para Angola de certeza que não ia poder tirar fruta e sobremesa à hora de almoço, apesar de hoje a Xana não me ter sequer servido e me ter dito para ir chatear outra. Vá-se lá perceber as moças.
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