quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A carta que enviei à Seat


Um dos meus maiores prazeres é conduzir. Esta frase está bem? Ou ficava melhor dizer que «conduzir é um dos meus maiores prazeres»? Bem, vai assim. Liguei ao Gary, que ele é que normalmente me tira dúvidas de Português mas ele não atendeu. Ainda hoje é por causa do Gary que eu sei o que é um advérbio, andei estes anos todos a pensar que a minha professora de Português era de alguma aldeia ou que não sabia dizer «verbo» e então dizia «advérbio». Por exemplo, a minha sogra também diz «cháivina» em vez de dizer «chávena». Mas adiante, adoro conduzir e ultimamente, devido à minha condição de desempregado (e também de instável psiquiátrico, foi por causa desse motivo que fiquei inibido de conduzir) não tenho podido usufruir desse prazer. O que me levou a fazer algumas questões à Seat, a marca dos meus últimos carros:



«Boa tarde,

Digo «boa tarde» porque eu, pelo menos, adorava conduzir depois de almoço. Também poderia dizer «boa noite» que era quando gostava mais de conduzir, mas vocês são humanos, não devem obrigar os moços do Departamento de Comunicação a fazerem turnos nocturnos. Ainda poderia dar-se o caso desta carta ir para a vossa sede e o fuso horário ser muito diferente do de Portugal, mas a sede é em Espanha, é só uma hora de diferença. Eu aprendi isto da pior maneira, que quando uma vez fiz férias em Espanha fui almoçar às 13:00 e eles olharam-me todos com cara de espantados por ter ido almoçar tão cedo. Outra coisa que aprendi em Espanha é que «chipirones» são lulas, «pollo» é frango, «cuchara» é colher e «cerdo» é porco. Havia mais palavras diferentes mas que agora não me lembro. Lembro-me é que a Seat é espanhola e é da Seat que vou falar hoje.


Antes que se perguntem o porquê de eu ter escrito esta carta, não entendam isto como uma reclamação, apenas gostava de entender algumas coisas. Até porque o meu antigo psiquiatra me disse que muitos dos meus sonhos e alucinações se deviam a perguntas às quais eu não conseguia obter respostas e então que devia parar de fazer essas perguntas. No entanto, sinto que vocês me podem dar as respostas que eu procuro, nomeadamente por elas serem relativas à Seat. Sei que apesar de tentarem não me iriam conseguir responder a perguntas sobre os ácidos do estômago ou qual a extensão de vocabulário dos pássaros, porque não é a vossa área. Sendo assim, limito-me a questionar situações da esfera da Seat e do mundo automóvel em geral e espero que me consigam satisfazer a curiosidade e a angústia do desconhecimento.


Se há coisa que gosto é de fazer amor com a minha mulher, de beber Capri Sonnes e de pôr gasolina. Tirando a parte de pagar, adoro pôr gasolina. Até acho que fiz mais vezes amor com a minha mulher depois de pôr gasolina do que antes de pôr gasolina, por isso vejam bem o efeito que tem em mim. Felizmente, com os modelos Seat que tive, ia pôr gasolina frequentemente. Os meus amigos diziam que isso era mau e que eu devia arranjar um carro a gasóleo ou um que gastasse menos. Mas agora não tenho amigos e continuo com o meu Seat na garagem, por isso, digam lá se não fiz uma boa escolha? Quer dizer, tenho amigos, mas não são os mesmos que me diziam isso. O facto de ser um picheleiro honesto e competente fez-me ganhar bastantes amigos ao longo dos anos. Foi assim que conheci o Gary, um amigo que me explicou o que era um advérbio e que me incentivou a manter o Seat porque ele também tinha pensado em comprar um Seat quando vocês lançassem o Seat Viduka. 



Eu ainda disse ao Gary que Viduka não era nenhuma cidade espanhola e nos vossos carros, os modelos referem-se todos a cidades espanholas. Alhambra, Córdoba, Altea, Ibiza, León e Toledo. Mas depois o meu amigo Gary alertou-me para o facto de haver um modelo intitulado de Exeo que não é nenhuma cidade espanhola e que mais parece um programa de computador onde se pode fazer gráficos e fórmulas matemáticas. Programas de computador com fórmulas matemáticas, tivesse eu disso quando andava na escola e neste momento, em vez de arranjar autoclismos e canos estava a arranjar intestinos e corações. Mas a minha pergunta é: porque é que abriram esta excepção? Se tinham entrado por uma via onde iam fazer modelos com nomes de cidades espanholas porque é que pararam? Alguém vos obrigou a isso? É que era impossível ficarem sem nomes de cidades espanholas, ainda por cima Espanha que é mesmo grande. Olhem lá se é difícil: Seat Vigo, Seat Granada, Seat Valencia, Seat Ferrol, Seat Numancia, Seat Torremolinos, Seat Vitoria ou Seat Lugo. Têm tantos nomes e vão pôr Exeo? Mais valia terem ido pela sugestão do Gary e terem feito um modelo Seat Viduka. 



Por último, há só mais uma questão que quero deixar. Qual é o problema das pessoas com alguns dos vossos modelos? Eu tive um Seat Ibiza branco durante 2 anos. Adorava aquele carro. Dava pinta, ultrapassava Mercedes na auto-estrada a brincar e levava-me a ir pôr gasolina duas vezes por semana. Adorava tudo naquele carro mas os polícias não partilhavam da minha opinião. Quando tive o Ibiza branco era sempre mandado parar em operações STOP. Obrigavam-me a soprar para o balão, revistavam-me o carro à procura de drogas e perguntavam quem era o meu mecânico e se eu conhecia o Mário das corridas. Quase todas as semanas tinha estas complicações. E ainda por cima nenhum polícia acreditava que eu adorava conduzir às 4h da manhã depois de fazer o amor com a minha mulher. Um deles até me chegou a apreender o carro e a mandar-me para o hospital psiquiátrico, porque disse que não estava em condições mentais para guiar. E logo eu, que dou sempre os piscas e paro sempre nas passadeiras. No entanto, quando mudei para um Seat León cinzento, nunca fui mandado parar. NUNCA! Uma vez até parei voluntariamente e o agente disse-me que não me tinha dito para parar e mandou-me seguir. Eu disse-lhe que queria ser mandado parar porque senão era discriminação quanto aos Seat Ibizas brancos e ele perguntou-me se eu estava bem. Disse-lhe que desde que andava a tomar os anti-psicóticos novos me sentia melhor na maior parte do dia mas que continuava a ter sonhos intrigantes. Ele apreendeu-me a carta e ainda hoje não posso conduzir. Mas sei que foi por eu ter parado, não foi por causa do Seat León cinzento.



Fico então à espera da vossa resposta à minha carta, que espero que contenha respostas às minhas questões em vez de enviarem aquelas cartas escritas por um estagiário ou por um Chefe de departamento preguiçoso, que diz «acusamos a recepção da sua carta, a qual lemos com todo o cuidado e enviamos para o nosso Departamento de Comunicação». Ainda me mandam isto a pensar que eu mandei um currículo e eu não quero trabalhar para a Seat. Só se me pagarem para ir pôr gasolina nos vossos carros de serviço. 



Atenciosamente, do vosso cliente durante anos e admirador confesso, até tenho 'Gosto' na página da Seat no Facebook e uma vez tive uma fotografia do meu Seat Ibiza branco na foto de capa,


Lucindo Sampaio de nascença, Lucindo Sampaio Bonifácio desde o feliz dia em que me casei.»

5 comentários:

  1. Lucindo, a sua carta despoletou um raio de curiosidade na minha mente.
    Diga-me: o que pensa dos Seat's Ibiza's vermelhos? Pelo que sei, eles conseguem ultrapassar BMW's e, nalgumas semanas do mês não necessita de ir pôr gasolina, mais do que uma vez, a menos que queira, como diz, passar lá um dos seus bons momentos.

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    1. Nunca tive nenhum Ibiza vermelho. A mim só me mandavam parar quando eu tinha o branco, com o vermelho não sei. Mas um primo meu teve um Fiat Punto vermelho e gostava muito dele. É tudo o que posso dizer.

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    2. Eu conheço uma pessoa com um Fiat Punto azul e sempre que vejo essa pessoa a conduzir, ela vai a sorrir e a abanar cabeça. Suponho que é porque também gosta muito dele.

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  2. Boas Lucindo,

    Desculpa estar a tratar-te pelo nome e por tu, mas detesto estar com rodeios e de acordo com o que a sociedade dita nestas ocasiões. Se te estivesse a contratar para um serviço de picheleria (ou pichelaria, tu entendes) talvez te tratasse por Sr. Lucindo ou Sr. Sampaio Bonifácio (decidi não omitir nenhum dos nomes para não causar problemas) mas como somos parceiros de escrita e ambos amigos do Gary decidi pessoalizar a minha intervenção.

    Acho que não me conheces mas eu na semana passada vi-te na rua. Ia-te cumprimentar mas achei melhor não porque podias não ter sentir à vontade. Só quero dizer que me revejo em quase tudo o que dizes nas tuas cartas, sou um fã. Prometo que da próxima vez que te vir na rua cumprimento-te.


    Tolentino Pirâmides

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    1. Podes-me cumprimentar e, se quiseres, convidar-me para a tua festa de anos.
      Abraço.

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