sábado, 8 de março de 2014

Porque é que detesto música brasileira


Por esta altura devem estar a perguntar-se que tipo de música brasileira é que estou a falar. Que desilusão. Pensei que iam reparar que era o meu segundo texto seguido, sem ninguém vir aqui pelo meio, mas preferem focar-se no tipo de música. Eu faço-vos a vontade: aquela que toda a gente chama de sertaneja e que passou a ser convencional passar em qualquer festa, discoteca ou bar porque aparentemente não há música mais animada e que faça mais as moças dançar do que esse tipo. Até pode ser verdade mas mesmo assim eu detesto. Podia ter posto no título «porque é que detesto música sertaneja» mas vocês já estão fartos de saber pelo Gary que os títulos bombásticos são mais apelativos. Vou então explicar o porquê:



  • Nessas músicas eles nem se dão ao trabalho de fazer rimas ou de passar mensagens profundas. Basta ter um ritmo diferente das outras e depois é só inventar palavras como «tcherere», «le le le», «tchu tcha tcha», «bara bere» ou «tchubirabirom» e está a música feita;

  • Quando não inventam insistem numa palavra ao calhas como «maionese» ou uma expressão como «ai se eu te pego», dizem-na para aí 200 vezes durante a música toda e depois, ainda por cima, o título da música é essa palavra, como se já não bastasse;

  • Todas as músicas têm uma letra básica, não muda quase nada e é sempre a mesma coisa ou às vezes até não tem sentido nenhum como aquela do «tem mel nesse trem». O que me faz detestar ainda mais este tipo de música é que a merda das letras ficam na cabeça durante dias mesmo que não goste da música;

  • Eu detesto música sertaneja (agora que não estou no título já não preciso de frases bombásticas para chamar a atenção) porque faz as moças dançar e até de forma sensual mas também faz os moços fazer as mesmas coisas a pensar que estão a agradar às moças e a fazer-me ver coisas horríveis;

  • Quando estou a fazer coisas como por exemplo jogar algum jogo e está a dar música sertaneja a dar desconcentra-me e faz-me perder sempre. Uma vez perdi um jogo de Damas contra uma moça que estava a tentar impressionar mas impressionei foi por ter perdido tão depressa. Depois o Gary soube disso e uma vez organizou um torneio de poker, meteu um CD só com essas músicas a dar e eu à segunda jogada fiz all-in e perdi;

  • As letras das músicas é sempre sobre galar moças desconhecidas que são altas touras ou sobre amores que não resultaram apesar de supostamente serem perfeitos, como se não houvesse mais nenhum assunto para se fazer músicas sem ser o amor ou a atracção física e sexual por moças;

  • Em 90% das músicas são moços a cantar. Mas quando são moças a cantar a música ainda é pior e ainda me faz detestar isto tudo;

  • Se disser que não aprecio este estilo de música dizem-me logo que tenho mau gosto e que não me sei divertir, como se gostar de música sertaneja fosse condição necessária para avaliar se sou uma pessoa divertida e os outros estilos de música fossem todos uma merda.




Com isto não quero dizer que detesto toda a música brasileira (o título engana propositadamente) ou que detesto os brasileiros. Pelo contrário, quando trabalhei na clínica, o segurança do piso 2 era o Clóvis, era brasileiro e adepto do Corinthians. Eu até brincava sempre com ele a dizer que não gostava nada do Corinthians porque as bolachas coríntias eram enjoativas e que preferia o Cruzeiro porque uma vez fiz um cruzeiro às ilhas gregas e passei a viagem a encavar moças. Se fosse para detestar alguém para além do estilo de música, dizia que detestava o punk, porque uma vez 3 punks pediram-me boleia a sair de um concerto e um vomitou-me nos estofos. O Gary sempre me disse para me afastar dos punks porque se eles estiverem mais que 3 fazem logo mochada uns aos outros e uma pessoa ainda vai parar lá ao meio. Por acaso não me fizeram nada disso, mas entre isso e vomitarem-me nos estofos, preferia que me tivessem feito mochada.







P.S.: Eu também detesto kizomba. Antes desta  moda do sertanejo, a moda era passar-se kizomba ao pontapé em tudo o que fosse discoteca ou festas para chamar moças, que por si chamavam moços. No entanto, quando trabalhei na clínica, ouvi umas 300 vezes aquela música do «Não me toca». A princípio odiei por 1000 motivos, entre os quais o facto de não me sair da cabeça. Mas agora ocasionalmente lembro-me da música e ponho-me a ouvir. Até já a tive no meu mp3, mas pensei que se o Gary um dia me pedisse o mp3 emprestado e apanhasse aquela música perdia o respeito que acho que tem por mim e então apaguei. A sorte é que eu sei que ele agora também não lê os meus textos desde que falei mal do Spiderman e então posso dizer estas coisas à vontade.


3 comentários:

  1. Senhor Tolentino,

    Deixe-me que lhe diga que fez uma análise muito bem feita e que muitos se irão identificar com aquilo que diz.
    Só para dar mais peso ao que disse, olhe vejam-me esta musica:
    https://www.youtube.com/watch?v=GtSYZWvygjk

    - É uma moça a cantar;
    - Repete sempre a mesma coisa "ela é bandida" a qual é, também, o título da música;
    - Mete os moços e as moças a dançar, a sorte é que, ao menos, não tem uma coreografia predefinida (essas é que sao assustadoras);
    - Quando der por si, ja apanhou o ritmo do refrao e já está a cantolar que ela é bandida;
    - Veja bem o que ela ensina às moças de agora;
    - Mas repare: ao menos esta musica ainda tem rimas;
    - Ah! Observe bem o estilo do clip que lhe enviei, é outro aspeto problemático das musicas brasileiras. Pensam que o som e a letra cobrem tudo e que as pessoas não vêem mais nada, então nem se dão ao trabalho de apostar no clip. Mas isso até o Anselmo o fez, um clip tão fácil que até o povo português se deu ao trabalho de repetir.

    Olhe, já me alegrou o dia. Espero que hoje, particularmente, se sinta feliz pelo otimo trabalho aqui desempenhado.

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    1. Agora sei como se sentiu o Lucindo quando eu lhe disse que concordava com tudo o que ele tinha escrito. Adoro este sentimento de reconhecimento. Por outro lado, estou arrependido de ter abrido esse vídeo porque agora estou a cantarolar a música enquanto escrevo, o que me faz odiar e adorar esse comentário. E eu detesto ser ambivalente. Pelo menos desde que a psicóloga da minha escola me disse que as moças não gostam de moços ambivalentes.

      O videoclip do Anselmo não é fácil, ele tem que sair do hotel e tudo. Mas eu pessoalmente sempre que ouço a música na Internet ponho sempre um vídeo em que não seja do clip, porque detesto ter que esperar 40 e tal segundos para começar a música.

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    2. Aposto que, embora se sinta ambivalente, está a pesar mais o reconhecimento. Olhe que isso ninguem lho tira.
      Olhe, digo-lhe, também detesto clips cuja música não comece logo de início. Parece-me que temos algo em comum.

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