terça-feira, 29 de abril de 2014

Quinta-feira entro de férias. Obrigadinho pelas sugestões!


Não dá para notar mas no título estava a ser irónico. Mas só na segunda parte, porque é verdade que quinta-feira entro de férias, infelizmente não há ironia nenhuma nessa parte. Só estava a ser irónico na parte em que agradecia as vossas sugestões quando ninguém me ajudou a decidir. Fui lá falar com o meu patrão na sexta-feira, como ele me tinha dito para fazer mas ele estava numa reunião. Eu um dia gostava de chegar a chefe ou a uma posição alta para ter uma secretária que dissesse às pessoas que eu estava numa reunião. Quando eu não quisesse aturar ninguém ou quisesse estar à vontade com uma moça no meu gabinete de chefe ou de posição superior ia pedir à minha assistente que dissesse às pessoas que eu estava numa reunião, para parecer que estava sempre ocupado e a fazer coisas importantes. Aposto que nunca ninguém pensou nisto.



A secretária do patrão disse-me que depois me informava quando o patrão pudesse falar comigo. Descobri que o meu patrão era uma pessoa muito ocupada e que gerir uma fábrica de tintas sem ser a Robialac dá mesmo trabalho e consome muito tempo da vida de uma pessoa, já que o meu patrão só me chamou hoje ao gabinete dele. Fui lá uma pilha de nervos. O Isaías «Ponta-de-lança» perguntou-me se eu ia ser despedido, o Lino perguntou-me se eu não tinha ficado com o champô dele quando fomos jogar ontem entre o pessoal da fábrica e o Sebastião perguntou-me se eu já sabia que datas é que ia propor ao patrão para as minhas férias. De todas as perguntas, a que mais me intrigou foi a do Isaías «Ponta-de-lança». Ultimamente ele anda a falar muito comigo e antes quase não queria saber de mim. O meu tio sempre me disse que quando um moço mostra muito interesse na nossa vida ou nos quer roubar dinheiro ou nos quer comer a namorada. Pelo sim, pelo não, comecei a ir trabalhar sem dinheiro na carteira, o Sebastião paga-me tudo e ao fim do dia ele passa em minha casa e eu pago-lhe o que lhe devo.



O Venâncio encaminhou-me até ao escritório do patrão. Pelo caminho aconselhou-me a não mostrar nervosismo perante o patrão e que ir falar com o patrão era como ir num encontro com uma moça: temos sempre de causar boa impressão, mesmo que não haja qualquer futuro na relação. Perguntei de que valia causar boa impressão se não houvesse futuro na relação e o Venâncio disse-me que as moças e os patrões falam sempre de nós aos outros e que se tivéssemos deixado boa impressão, então, fosse com outro patrão ou com outra moça, podíamos ter mais sorte no futuro. Lembrei-me desse conselho e decidi que na reunião com o patrão ia fazer o que faço normalmente nos meus encontros com as moças. O Gary uma vez disse-me que a regra mais básica nos encontros é não gozar com nomes próprios até a moça dizer como se chamam os pais. Como esse conselho não me ia servir de nada, optei por seguir os meus e os do Venâncio.



Quando entrei no gabinete o meu patrão estava ao telefone e a escrever umas coisas num bloco. Fiquei sem perceber o que raio fazia a secretária, já que ele estava ali a fazer duas coisas ao mesmo tempo e ela, quando eu estava à espera, estava no Facebook a ver fotografias de gatos e de bebés. Até pensei em denunciar essa situação ao patrão mas o meu tio sempre me disse que ninguém gosta de bufos, nem mesmo os polícias gostam de bufos, só os usam porque os fins justificam os meios. Se o meu patrão não gostasse de bufos, ia estar a violar o conselho do Venâncio e violar conselhos é quase tão grave como violar menores, depois ia preso e em menos de uma semana era esfaqueado na prisão. Quando o patrão desligou e parou de escrever expus a minha situação e ele perguntou-me se eu já tinha pensado quando queria ter férias. Disse-lhe que o deixava escolher a altura do ano em que gostaria de se ver livre de mim. O meu patrão riu-se e disse que o que mais gostava nos trabalhadores era o sentido de humor e o não estarem sindicalizados. Disse-lhe que não conhecia nenhum sindicato mas tinha um amigo picheleiro. O meu patrão riu-se outra vez e depois pediu-me o número do Lucindo, que estava a precisar de uns arranjos em casa.



O Sebastião sempre me disse que preferia que o patrão lhe devesse um favor do que ele devesse um favor ao patrão. Ao dar o número do Lucindo estava a fazer um favor ao meu patrão, o que era perfeito. Decidi dar-lhe outro favor e disse-lhe que podia ser ele a escolher as minhas férias. Ele aceitou e propôs que começasse quinta-feira, dia 1 e estendesse até segunda-feira, dia 12 de Maio. Ainda pensei em perguntar se tinha de ser já, mas mais vale o nosso patrão ficar a dever-nos dois favores do que apenas um. Aceitei a proposta. Só assinei lá uns papéis e voltei ao trabalho. Quando comentei com o Sebastião ele disse-me que tinha sorte que apanhava a altura da Queima e podia ir lá embebedar-me à vontade todos os dias. Disse-lhe que sozinho não queria ir. Ao almoço perguntei à Xana da cantina se queria vir comigo à Queima nas minhas férias mas a Xana disse-me que eu podia era passar as minhas férias a apagar o fogo que ela tinha por dentro. Às vezes não percebo a Xana e é pena, porque ela até é gira e cozinha bem, podia ser um bom partido para mim.








P.S.: Nem estava muito desapontado com as minhas férias até ter falado com o Venâncio à hora de saída. Ele disse-me que o patrão foi maldoso a contar o dia 1 de Maio, que é feriado, como férias e a contar os sábados como dias úteis. O Venâncio disse-me que eu tinha sido comido. Na minha perspectiva, tudo isto significou duas coisas: primeiro, que depois tenho de agradecer ao meu patrão por me ter encurtado as férias o mais possível e segundo, pela primeira vez acabei um encontro a ser comido. Ainda que tenha sido metaforicamente e não tenha sido com uma moça. Agora, quero ver quem é que me vai dar sugestões para eu preencher os meus dias a partir de quinta-feira. E estava a ser irónico, tal como comecei, também acabei, ou não estivesse sempre o Gary a dizer-me que toda a gente gosta de pessoas coerentes. 


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Hoje o meu patrão veio-me dar uma notícia terrível


Para não começarem para aí a dizer que ando a copiar e a ser influenciado pelo Gary que faz três parágrafos antes de abordar o tema que pôs no título, digo já qual foi essa notícia terrível. O meu patrão encontrou-me à beira da máquina de café e disse-me que eu já não tirava férias há muito tempo e que estava na altura de tirar 10 dias de férias. Perguntei-lhe se era obrigado e ele disse-me que não, mas que também não era obrigado a manter como empregados gente que não queria tirar férias. Percebi a indirecta e disse-lhe que um dia destes ia lá ao escritório dele marcar isso. Mas o meu patrão disse-me que já não caía mais nessa do «um dia destes» e obrigou-me a pensar nisso até sexta-feira e depois a ir lá falar com ele. Ainda estava traumatizado com toda esta situação quando fui falar com o Venâncio. O que quis dizer o meu patrão com «não caio mais nessa do um dia destes»?



Foi então que o Venâncio me explicou que ou deve ter sido questões de dinheiros ou questões de moças. O meu tio disse-me que o pior que pode acontecer é uma moça que nos deva dinheiro porque nos riscou o carro, que aí é logo uma questão de moças, dinheiro e carros no mesmo problema. O Venâncio depois explicou-me que alguém devia dever dinheiro ao patrão e que disse «um dia destes pago-te» e nunca mais. Ou então que alguma moça tenha dito que «um dia destes» ela e o patrão deviam sair juntos mas nunca mais. O Venâncio disse-me que a expressão «um dia destes» é a terceira mais utilizada pelas moças depois de «tu é que sabes» e de «és um estúpido». Perguntei-lhe se alguma vez lhe tinham dito alguma destas expressões e o Venâncio disse-me que não há nenhuma moça que nunca tinha usado pelo menos duas delas. Pensando bem, a Xana da cantina já me disse que eu era um estúpido e uma vez que me convidou para ir a casa dela comer uma porca e eu lhe disse que ia com o Sebastião ao cinema, ela respondeu-me «tu é que sabes». O Venâncio tinha razão!



Entretanto, começou o turno e as férias não me saíam da cabeça. O Isaías «Ponta-de-lança» que trabalha lá na fábrica até veio falar comigo a dizer que eu parecia distraído. Devia parecer mesmo distraído, já que até o Isaías «Ponta-de-lança» que quase nunca fala comigo, veio-me dizer isso. Eu quando o conheci pensei que «Ponta-de-lança» era mesmo o apelido dele. Depois o Venâncio é que me disse que «Ponta-de-lança» era a alcunha dele porque sempre que sai à noite com o pessoal é sempre o primeiro a «atacar» as moças e surgiu a expressão que ele na noite «joga sempre a ponta-de-lança» e ficou. O Sebastião também me veio perguntar o que é que se passava mas eu não queria parecer distraído a mais ninguém e disse que falava com ele à hora de almoço. Eu bem vejo nos filmes e nas séries que eles sempre que estão a almoçar ou a jantar é que contam os segredos e as histórias mais importantes. Por outro lado, o Gary sempre me disse que nunca ninguém tem conversas importantes num elevador e nos filmes, os elevadores só servem para os mauzões fugirem ou para cenas que não interessam para nada.



Chegou a hora de almoço. Até me doíam as bochechas e a testa por ter forçado uma expressão natural, para ninguém perceber que eu estava distraído. Quando estávamos na fila, disse ao Sebastião que o patrão me veio com a conversa de eu tirar férias e que eu não queria, que antigamente detestava tirar férias, mas agora não era não gostar, mas sempre que tirava férias, acontecia alguma coisa e eu acabava por passar as férias todas em casa ou sozinho, ou a dar boleias ao meu tio ou a apanhar coças do meu irmão. O Sebastião disse-me que eu tenho sorte por ter só um tio, que ele tem para aí 8 e depois nas reuniões de família tem que dar beijos a todos. Eu ainda perguntei ao Sebastião se ele não queria tirar férias ao mesmo tempo que eu e assim passávamos as férias no café ou a sair à noite. Ele disse-me que era boa ideia mas que não queria ir pedir isso ao patrão, que o pai dele lhe disse para nunca ficar a dever favores aos patrões, que depois eles exploram o máximo que puderem e no entender deles nunca fica o favor retribuído, a não ser que lhe salvemos a vida, o que é difícil de acontecer na vida real. Se fosse num filme era fácil, mas na vida real não.



A conversa com o Sebastião não me ajudou muito, mas a Xana da cantina também não. Quando foi a minha vez, reparei que os que estavam na fila paravam todos a olhar para a Xana e por isso é que a fila estava tão lenta hoje. Eu pedi o prato de carne, tirei uma tigela com sopa e um bispo para a sobremesa. A Xana perguntou-me se eu hoje não levava também uma peça de fruta. Disse-lhe que não estava com muito apetite e que até ia levar o bispo, provavelmente para comer a meio da tarde, que assim escusava de gastar mais 70 cêntimos. A Xana perguntou-me se não tinha reparado que ela estava de saia e se lhe ficava bem. Nem tinha reparado por acaso e disse-lhe que as saias ficam sempre bem às mulheres, só ficam mal é aos homens, que não há saias para homens. A Xana disse-me que se fosse a Vera da Contabilidade a estar de saia se calhar eu notava logo e ainda me ia sentar ao lado dela. Respondi-lhe que não sabia se a Vera da Contabilidade estava de saia (ainda que, se estivesse, era uma daquelas coincidências que as moças detestam, irem vestidas de igual) e também lhe disse que já me ia sentar ao lado do Sebastião, não lhe fazia isso. A Xana da cantina disse-me «tu é que sabes». E a conversa com o Venâncio voltou à minha memória o resto da tarde. Ao menos não pensei mais nas férias até ter vindo aqui escrever.








P.S.: Se alguém me quiser ajudar aí com umas datas para eu tirar férias agradecia imenso. O Sebastião ao almoço disse-me para ver naqueles sites de previsões meteorológicas quando é que ia estar bom tempo e para marcar férias para essa altura e assim ia para a praia. O Venâncio disse-me que é sempre boa altura para se tirar férias quando se é solteiro, que assim há mais tempo para se falar com moças e marcar encontros. Entretanto, mandei mensagem ao Gary de tarde a perguntar o que é que ele fazia para a semana, que se o Gary estivesse livre até passava os dias com ele, mas ele respondeu-me que só ia pensar nisso depois de decidir o que é que ia lanchar. Até agora, ainda não me respondeu de volta. Espero que me responda até sexta-feira, que depois tenho que ir ao escritório do patrão marcar as minhas férias. 

sexta-feira, 18 de abril de 2014

A carta que enviei à Marlboro


Aproveitei que era feriado e que não ia ter muito trabalho para escrever uma carta à Marlboro. Porquê à Marlboro? Se quiserem saber leiam a carta, não vou estar aqui já a dizer tudo e a prejudicar aqueles que lerem a carta quando podiam ler logo aqui. Entretanto, um cliente ligou-me de urgência que o lavatório da cozinha entupiu e era água por todo o lado e então fui lá de tarde e só agora retomei a carta. Mas acabei-a hoje, senão já mandava a carta sábado e aí já não era feriado. Portanto, vejam lá a carta que enviei à Marlboro:


«Saudações,

Noutras cartas que enviei para outras companhias, especificava sempre a saudação tendo em conta características relativas aos produtos ou ao sistema organizacional das empresas. No entanto, neste caso, optei pelo descomprometido «saudações» tendo em conta que não fumo nem nunca fumei e por isso não sei qual a melhor altura do dia para o fazer e, pela observação de um ex-fumador próximo de mim, a minha mulher, ver que tanto fumava de manhã, como à tarde ou à noite e, por isso, não saber qual a melhor altura do dia para vocês operarem e, consequentemente, serem convenientemente saudados. A minha mulher dizia-me que adorava fumar depois de consumar o acto sexual, mas entretanto deixou de fumar e começou a consumir CapriSonnes comigo após o sexo. Perguntei-lhe no outro dia o que é que ela preferia mas ela não me respondeu e ainda me bebeu outro CapriSonne. Eu não levei a mal, beber dois CapriSonnes no pós-sexo é sinal que tive um bom desempenho.


Mas adiante, que não é do meu desempenho sexual que vou falar nesta carta hoje, apesar de considerar que à medida que o tempo passa me tenho saído cada vez melhor. O Gary, um amigo meu, disse-me que se o sexo fosse como o futebol eu já andava a ser seguido por olheiros internacionais e a minha mulher já me tinha posto uma cláusula de rescisão. Infelizmente, acho que ia chumbar sempre nos exames psicológicos, tendo em conta a minha condição psiquiátrica. Bem. Posto isto, quem quer que leia esta carta deve-se estar a perguntar «Porquê a nós e não a outra companhia qualquer?». A resposta é simples: a minha mulher fumava sempre Marlboro Light. Quando não havia, não fumava. Uma vez pedi um Camel emprestado a um amigo meu e quando cheguei a casa meti-lhe no maço sem ela ver. Acreditam que quando foi fumar e acendeu o Camel começou a tossir e a dizer que estava com vontade de vomitar? Incrível. Mas porque raio é que é «Marlboro Light»? Sei que as bebidas «light» têm menos calorias e engordam menos. O que são cigarros «light»? Matam menos? Ou matam menos depressa? Ou sabem menos a cigarro e mais a outra coisa qualquer? Eu uma vez perguntei à minha mulher mas ela disse-me que não tinha todas as respostas do Mundo. E só me respondeu assim porque tinha acabado de dar duas passas no Camel que lhe meti lá sem ela saber. Ainda hoje não sabe e acho que se soubesse terminava o casamento comigo imediatamente.


Outra coisa que nunca percebi foi uma descoberta que fiz sozinho. Uma vez, aquando do 34º aniversário da minha mulher, procurava oferecer-lhe uma prenda que se adequasse ao meu rendimento enquanto picheleiro trabalhador por conta própria mas que lhe proporcionasse um momento de felicidade, ainda que momentâneo. E eis que encontro numa perfumaria um perfume da Marlboro. Ainda liguei ao meu amigo Gary a perguntar-lhe se havia uma marca de perfumes com o mesmo nome da marca de tabaco, às vezes acontece. Por exemplo, havia um jogador de futebol que era o Deco e há uma instituição de defesa do consumidor que é a DECO. O Gary disse-me que neste caso era a mesma marca, o que me deixou confuso. O que raio tem a ver cigarros e perfume? Porque o fazem? Só se for para a pessoa se encher de perfume depois de fumar, que aquilo deixa um mau cheiro e até desagradável. Eu na altura não comprei esse perfume para a minha mulher por dois motivos: primeiro, descobri que era um perfume como os outros, a ser da Marlboro, pensei que fosse ser uma mistura frutada e agradável dos vossos cigarros; segundo, não havia nenhum perfume da Marlboro Light. Por isso, mesmo que fosse bom, não havia o «Light» e a minha mulher não ia gostar. Dei-lhe um da Dior ou lá o que era, foi a moça da loja que recomendou. 


A escrever não se nota, mas a ler é um inferno. Eu durante os primeiros 2/3 anos em que estive com a minha mulher, não conseguia dizer «Marlboro» sem enrolar a língua toda ou sem dizer, pelo menos uma vez, «Máboro». Depois descobri que as pessoas que trabalhavam nas tabacarias diziam todas «Márbóro» e eu também parei de dizer o «L». Mas o raio do nome é difícil de dizer. A minha mulher não, mas eu se fumasse e fosse comprar tabaco, só para não ter que dizer esse nome pedia antes Camel ou Lucky Strike. Lucky Strike é um bom nome, fica no ouvido. Sabe-se que um nome é bom quando facilmente podia passar por nome de whiskey. «Quero um LuckyStrike com duas pedras de gelo». Fica perfeito. E eles lá na Lucky Strike não têm perfumes, só tabaco. E não há «light» nos Lucky Strike. Deviam aprender qualquer coisa com a Lucky Strike. Um antigo cliente meu tinha em casa um carro de Fórmula 1 em cartão que era patrocinado pela Lucky Strike. Ouvi dizer que a Marlboro só aparece nos capacetes dos pilotos. Vêem a diferença de ser uma marca de jeito e uma marca com um nome difícil e que faz perfumes?


Para acabar, esta digo-vos a vocês mas podia dizer a todas. Porque é que fazem das pessoas burras? Aquela jogada publicitária de terem aqueles anúncios que fumar mata e que as grávidas têm filhos deficientes ou que os homens ficam impotentes, fez com que fumar passasse a ser como ir jantar a um restaurante chinês e ver o que é que saía nos bolinhos da sorte, mas ao contrário. Ninguém leva a sério esses avisos e às vezes até compram maços de tabaco só para ver se mudam as mensagens. Grande golpe publicitário. Eu se fumasse e me saísse um aviso do género «Fumar mata» eu até ia continuar a fumar só para ver se era mesmo assim ou se era embuste. E, se fosse mesmo assim, vocês já tinham lucrado comigo a comprar tabaco só para ver se vocês tinham razão ou não. E a morrer por fumar, ao menos que as pessoas me recordassem por fumar Lucky Strike e não por fumar uma marca de cigarros difícil de dizer. Já agora, é cigarro ou tabaco? E não me digam que pode-se dizer das duas formas, que aprendi nos testes com escolha múltipla que quando duas estão certas, uma está mais certa que a outra e era essa que se assinalava. 


Do vosso não-fumador mas cidadão preocupado e com algumas dúvidas que lhe alimentam o intelecto mas o impedem de dormir profundamente a não ser após ter relações sexuais desenfreadas ou a ter assistido a um documentário sobre os deuses pagãos no Canal História e esperando uma resposta breve, sincera e interessante da vossa parte,


Lucindo Sampaio de nascença, Lucindo Sampaio Bonifácio desde o feliz dia que me casei com uma ex-fumadora e que nunca amei menos do que agora, embora tivesse gostado muito que tivesse deixado de fumar.»



terça-feira, 15 de abril de 2014

Porque é que detesto bares de praia


O Verão não chegou mas parece, que já anda tudo quase sem roupa e gente a ir para a praia. Falando de mim em vez de estar aí a falar dos outros, parece que o Verão já chegou porque está calor e já começo a sentir que devo tirar o cobertor da cama senão começo a suar a meio da noite e acordo todo transpirado e nem sequer posso sair de manhã sem tomar banho, como acontece muitas vezes no Inverno. Com a chegada do calor que faz parecer que é Verão embora ainda não seja, quem lucra são os bares de praia. Eu detesto bares de praia e vou explicar-vos porquê:




  • Os bares de praia praticamente só aparecem no Verão (ou em dias de calor em que parece Verão mas não é) e roubam clientes aos cafés e bares que andam aí  a funcionar durante o ano todo. Parecem aqueles moços bonitões que para terem relações sexuais com uma moça só precisam de mostrar o bícepe, enquanto os outros têm que as encher de bebidas, ter bom discurso e ter muita sorte;

  • Além de roubarem clientes aos outros cafés e bares, ainda por cima metem tudo mais caro que os outros e mesmo assim as pessoas vão lá, só por serem diferentes. Uma explicação que eu tenho para os preços mais altos é que têm que pagar renda o ano todo apesar de só funcionarem 3 ou 4 meses do ano. A outra explicação que tenho é que os preços são mais altos que nos outros cafés e bares para servir de metáfora para as pessoas perceberem qual é o preço de se ser diferente dos outros:

  • Uma das coisas que mais detesto nos bares de praia são aqueles armantes que vão para lá e tiram a camisola para apanharem sol. Se quiserem apanhar sol, que vão ao bar e depois vão para a praia, é só andar uns metros. E ninguém me diga que ficam a apanhar sol na esplanada porque se esqueceram da toalha e a cadeira é mais confortável. Não, não. Fazem isso é só para se armarem e mostrarem ali o corpo. Nunca vi um moço gordo ou um moço todo magro a fazerem isso, só vejo aqueles moços musculados ou então turistas ingleses todos brancos e sem vergonha nenhuma porque estão fora do país deles;

  • Passo dos moços para as moças, que ainda fazem pior. Muitas moças vão para os bares de praia vestidas normais mas depois põem-se para lá a tirar a roupa e ficam como se estivessem na praia, ali a apanhar sol. Depois, como 95% das moças que faz isto são moças em boa forma fica bastante difícil concentrar-me no que estou a fazer ou na pessoa com quem estou a conversar e é quase impossível não olhar. Só que essas moças nunca reparam que uma pessoa está a olhar porque também estão a olhar para os moços musculados que estão sem camisola;

  • Outra coisa que detesto nos bares de praia é que quase toda a gente pede águas tónicas ou bebidas esquisitas e com cores e se eu pedir só um café até parece mal e sou olhado como um desperdício para o bar. O dono e os empregados, se eu ficar lá muito tempo, vão passar sempre na minha mesa ou a perguntar se quero mais alguma coisa ou a olhar, a ver quando me vou embora e vou deixar de lhes dar prejuízo;

  • Essa atitude dos empregados e do dono do bar justifica-se porque há sempre clientes a entrar. E, como vai muita gente, quem for sozinho é olhado de lado, porque na opinião deles (empregados, dono e clientes à espera) está a ocupar uma mesa para nada quando podia estar muito bem a ser aproveitada por quem está à espera para pedir gins tónicos ou tangos;

  • Além disso, ir sozinho ainda tem outro motivo que me faz detestar bares de praia ainda mais. Como quase todos os que lá vão são casais ou grupos, quem vai sozinho é visto como alguém sem amigos, sem relações e sem auto-estima e que vai para ali deprimir e pensar na vida. Portanto, contrariamente aos outros cafés e bares normais, a lei é: quem não vai para lá com alguém ou quem não estiver lá aos beijos numa moça é um frustrado que só vai para lá ocupar uma mesa;

  • Nos bares normais as pessoas levam os jornais para ler ou pedem o jornal no café, mas nos bares de praia os que vão para lá levam livros, armados em intelectuais ou vão para lá escrever em cadernos, para aí à espera que alguém vá lá perguntar se é algum escritor ou autor famoso. Claro que há gente que me vem para aqui dizer que os ares do mar os podem inspirar e que escrever na toalha, em cima da areia, não dá jeito. Então eu digo-vos: que se vão para lá inspirar e que escrevam em casa. Ninguém precisa de os ver ali a escrever enquanto pedem bebidas coloridas e com sombrinhas;

  • Nos bares de praia é impossível não olhar para os empregados e pensar que eles nos estão a servir contrariados e chateados porque queriam era estar ali em vez de estarem a trabalhar e a servir gente que não conhecem de lado nenhum e que está a fazer o que eles queriam estar a fazer;

  • Por último, os que vão para os bares de praia de fato ou com uniformes do trabalho são um dos maiores paradoxos deste mundo e que me faz detestar mesmo bares de praia. Se estão em reunião de trabalho porque raio a fazem num bar de praia? Não há um montão de sítios onde reunir em vez de ser ali? E se vão tomar café na hora de almoço, porque raio vão para um bar de praia e não a um café normal, onde pagam 60 cêntimos? Só para mostrar que são trabalhadores numa hora de lazer a gastar o dinheiro que ganham? Odeio esses.





Perante tudo isto, resta-me dizer algo. Na prática não é dizer, mas é responder à vossa pergunta: Sim, já fui a bares de praia e ocasionalmente ainda vou. Afinal, tenho de conhecer o que critico para saber o que odeio, senão só andava para aqui a disparar factos aleatórios que só existiam na minha cabeça e que não correspondiam à realidade. Não quero roubar o lugar ao Gary no blog da pessoa que vive de acordo com os estereótipos sociais. Para isso já me chega ter ficado com a pass dele para partilhar os textos no Facebook. 







P.S.: Mas por falar em Gary, fiz 10 pontos, muito mais do que é costume. A resposta é simples: enervei-me porque já não escrevia nada há muito tempo e relativamente aos bares de praia havia muita coisa por onde pegar. Por falar em muita coisa por onde pegar, também eu estava cheio de problemas com a canalização em casa mas o Lucindo resolveu-me aquilo tudo. Recomendo o Lucindo a qualquer pessoa que tenha o mínimo problema em casa,ele faz tudo e bem. E não digo isto só por ele ser meu amigo, que ainda não fiz a minha festa de anos e, por isso, no critério dele, ainda não somos amigos porque ele ainda não foi à minha festa de anos). 


sábado, 12 de abril de 2014

É sábado à noite mas parece terça à tarde


É sábado à noite mas parece terça à tarde. Fogo, agora que leio, esta frase está mesmo bem dita, até vou trocar o título e tudo e fica esta. O título era «que porcaria de sábado à noite, ficar em casa sem fazer nada» mas assim é melhor. O Gary disse-me que as pessoas não gostam de títulos destes a não ser que seja em publicações do Facebook feitas por moças deprimidas mas que têm grandes mamas e que estão à procura de 'Gostos'. Não percebi porque é que poderiam gostar destes títulos nessas ocasiões, mas o Gary disse-me que as moças gostam para terem algo para falar mal sobre essa moça e os moços gostam porque procuram o desespero nas moças de modo a conseguirem ter relações sexuais. O Venâncio já uma vez me tinha dito que procurava não parecer muito desesperado nos encontros dele, mas que quando via o desespero na moça era bom sinal.



Antigamente, tinha um amigo, o Júlio César, que ao sábado à noite saía sempre e levava-me com ele. Mas já devia ter percebido que quem sai todas as semanas não é uma pessoa de confiança e que à mínima oportunidade troca a fábrica onde trabalha pela Robialac. Por isso é que estou descansado com o Sebastião, que sair ao sábado à noite para ele é ir beber um café e voltar para casa à meia-noite. O Sebastião diz que não faz sentido dizer que se sai ao sábado à noite quando a maioria das pessoas sai é ao domingo de madrugada. Eu nunca tinha pensado nisso mas o Sebastião tem razão. Quando alguém faz anos, à meia-noite já se dá os parabéns, logo, as horas já fazem parte do outro dia. Eu quando faço anos tenho o meu tio a ligar-me às 3h da manhã a dizer para o ir buscar a Paredes ou a Penafiel e que a minha prenda de anos é poder estar com ele logo às primeiras horas do meu aniversário. 



Mas o que se faz a um sábado à noite em casa? Na televisão só dá merda. Porcaria. Só dá porcaria. O Venâncio tem razão, quando se comete um erro, depois até o podemos tentar emendar mas toda a gente só se vai lembrar que eu disse «merda». Não aprendo nada. O meu tio disse-me que as pessoas que não aprendam nada são as melhores para se dar a golpada, que não aprendem com os erros e voltam a cair no mesmo discurso. Até eu agora vou estar sempre a olhar para cima e a olhar para o sítio onde escrevi «merda». O pior é que ainda por cima já tenho 3 sítios para onde olhar, sempre é verdade que um erro nunca se comete só uma vez. Quem me disse foi o Gary, que jurou que nunca mais comprava torta Dan Cake de morango, mas passado um ano quis ver se eles já tinham melhorado o produto, voltou a comprar e voltou a arrepender-se. Agora não sei nada do Gary, que ele está quase sempre com a Paulinha e quando está em casa, está lá o Lucindo e ele diz que o Lucindo tem direito de exclusividade e quando está com ele não pode estar com mais ninguém. Mas isso deve ser só comigo, que o Gary já esteve com o Lucindo e com o Tolentino ao mesmo tempo. Deve ser por o Lucindo não me conhecer ainda.



Mandei uma mensagem à Xana da cantina. Perguntei-lhe o que é que ela ia fazer esta noite e ela disse-me que não ia sair de casa, que estava sozinha. Depois perguntou-me se eu queria lá ir. Agradeci-lhe mas percebi logo à primeira que ela queria ficar sozinha e descansar e que só me perguntou se queria lá ir por boa educação. O Venâncio disse-me uma vez que 80% das falas das moças são a testar os nossos valores e a ver se valemos a pena como pessoas ou não, no sentido de acederem a copular connosco. Não há maior valor que o do respeito, acho que a Xana ia ver isso em mim de respeitar o espaço e a vontade dela. Ela respondeu-me com uma pergunta. Segundo o Venâncio, isso é o pior que um moço pode fazer a uma moça, mas se são elas a fazer, é normal. Perguntou-me o que é que eu fazia se fosse a Vera da contabilidade a estar sozinha em casa. Esta foi fácil, não fazia nada e deixava-a estar. A Xana disse-me que então eu lhe dava o mesmo tratamento a ela e à cabra da Vera. Eu dava, ela é que obviamente não dava.



E pronto, este foi o meu sábado à noite. Agora que vejo bem não vos disse nada. Sinto-me o Gary depois de fazer um daqueles textos em que ele fala, fala e não diz nada que possam levar para a vossa vida. Ao menos o Lucindo dá sugestões e o Tolentino explica porque é que odeia uma determinada coisa. Mas não sei porque é que vim aqui ter. Estou a tornar-me uma má pessoa, a criticar os meus amigos. Ao menos elogio sempre o Sebastião e o Venâncio. A Xana até me disse que eu farto-me de elogiar o Sebastião e que o elogio mais que a ela. Eu acho que é normal, passo muito tempo com o Sebastião, à Xana só a vejo ao almoço e se fico muito tempo na fila começam-me a empurrar e nem consigo tirar talheres e tenho de pedir os talheres ao Sebastião. Ele come só com o garfo e dá-me a faca dele ou a colher da sopa. Digo-vos, quando é massa à bolonhesa, come-se bem com colher, mas experimentem comer panados com uma faca e uma colher de sopa e vejam se não acabam de comer o panado frio. 








P.S.: Já não escrevia aqui há algum tempo, mas está tudo bem, obrigado aqueles que se preocuparam. O Tolentino também não escreve aqui há muito tempo também, por isso não sou o único. O Gary disse-me tantas vezes que eu podia demorar o tempo que quisesse para vir aqui, que eu decidi seguir esse conselho. O Venâncio disse-me que a base de uma boa amizade é, ocasionalmente, mostrar aos amigos que sigo os conselhos que eles me dão. O meu tio disse-me que a base de uma boa amizade é nunca emprestar dinheiro e nunca negar uma boleia a alguém e o que distingue um amigo de um tio é que a um tio deve-se sempre emprestar dinheiro. 


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Situações da vida que mereciam flash-interviews


Por esta altura, ao verem uma palavra estrangeira no título, pelo menos um de vocês deve estar a dizer em jeito de lamento e de crítica social que eu mudei desde que comecei a passar uma parte significativa dos meus dias com a Paulinha. Como sempre, quem diz isso é quem não me conhece de lado nenhum, não conhece a Paulinha nem sabe a diferença entre o Bruce Willis e o Bruce Springsteen. Eu digo a diferença: o Bruce Willis ainda conseguia fazer boa figura a dar um concerto mas o Bruce Springsteen se fizesse o «Die Hard» morria logo ao início e não havia mais filme. No mundo da música, o Bruce Springsteen é o meu 17º cantor sobre o qual não tenho opinião formada. Há aqueles que gosto, os que não gosto e os que não tenho opinião. Nesta última lista, o Bruce Springsteen é o 17º. Se fosse no campeonato espanhol ou inglês, que são 20 equipas, não descia de divisão mesmo à justa.



Por falar em futebol, no outro dia estava a ver um jogo e no fim fiquei para ver as flash-interviews. Aí, numa espécie de entrevista rápida mas cujo nome fica muito mais poderoso com o nome «flash interview» um jornalista questionava os treinadores e os jogadores sobre as incidências do jogo e também fazia perguntas sobre o futuro. Mais tarde, os treinadores dão uma conferência de imprensa, mas aí já é com os jornalistas todos e mais demorado. Eu nunca dei nenhuma entrevista mas já fui a algumas quando ainda me interessava arranjar um emprego. Só que essas entrevistas de emprego não eram nada como as flash interviews. Uma vez numa entrevista de emprego perguntaram-me qual era a minha melhor qualidade e qual o nome do meu melhor amigo. Parecia que estava a ser entrevistado para ir à festa de anos de alguém ou para ser aceite numa instituição de apoio ao deficiente mental. Obviamente não fiquei com o trabalho.



Por isso, como gostei de ver essa flash interview, desde então já vi um montão delas e comecei a pensar como seria se, além do futebol, houvesse outros momentos da vida onde houvesse um jornalista a fazer-nos uma flash interview. Vejam lá alguns exemplos e se tiverem mais alguns da vossa autoria guardem-nos para vocês, já muito trabalho me deu pensar nestes:




  • Após idas à casa de banho. «Como se sente com o seu desempenho?», «Estava ansioso por poder vir e quando cheguei procurei desde logo atingir o meu objectivo, acho que correu tudo bem e estou contente com o que fiz», «A utilização regular dos seus intestinos ajuda a ter mais sucesso nestes momentos?», «Sem dúvida, facilita muito mais as coisas e tudo acaba por sair melhor. Estou muito contente». Em situações de prisão de ventre ou desempenhos insatisfatórios seriam familiares frases como «Não vou baixar os braços e vou continuar a trabalhar, este foi só um mau momento mas creio que numa próxima oportunidade não desiludirei»;

  • No pós-sexo. «Está satisfeito com a sua prestação?», «Sim, creio que ambas as partes contribuíram para um grande espectáculo, pena não ter havido mais público, certamente iriam apreciar o espectáculo, agora há que descansar bem para estar em boas condições para uma próxima vez», «Sente que ficar por cima o favorece ou sente-se mais confortável noutras posições?», «É assim, a posição não é o mais importante, o importante é atingir os objectivos que pretendem de nós e que no final todos consigamos sair satisfeitos com o espectáculo», «Como comenta o assédio de emissários estrangeiros nos seus serviços?», «Eu estou contente com o que tenho, sinto-me feliz aqui, tenho bastante actividade. É normal que uma pessoa tenha curiosidade em ver como se fazem as coisas lá fora e experimentar novos países, mas estou feliz aqui»;

  • Depois de situações de porrada, mas entre indivíduos na rua, não dos profissionais. Para os vencedores imagino algo como «Esperava esta reacção por parte do adversário ou foi surpreendido?», «Foi um confronto muito físico, senti algumas dificuldades ao início mas depois os meus ataques foram bem sucedidos e consegui levar de vencida um adversário bastante complicado, que me provocou muitos problemas e que apenas valorizou a minha vitória», «Os adeptos presentes não pararam de dar apoio, sente que a presença do público valorizou a luta?», «Sim, todos sabemos que as pessoas gostam de ver boas lutas e um bom espectáculo, felizmente ganhei e dei-lhes a possibilidade de irem para casa satisfeitos». Para os derrotados «O que faltou para ter vencido esta luta?», «Bem, um pouco mais de sorte e de resistência, já não lutava há bastante tempo e perante adversários destes não podemos facilitar. Não esperava isto mas agora vou descansar, recuperar e numa próxima estarei melhor preparado»;

  • Logo após perder o emprego ou ser despedido. «Esta notícia surpreendeu-o ou era algo que já estava à espera?», «Bem, confesso que não me surpreendeu, conheço esta casa e a sua forma de funcionar. Fico triste, mas é assim a vida, há que seguir em frente», «Quais os seus planos de futuro agora que é um agente livre?», «Agora há que pensar no próximo desafio, investir forte em mim e só não digo que há que continuar a trabalhar porque de momento não tenho trabalho, mas hei-de voltar a trabalhar e quando o fizer voltarei ainda mais forte, disso podem ter a certeza»;

  • Após um estacionamento difícil. «Muita gente admite uma enorme felicidade após conseguir vencer um obstáculo tão complicado. Como se sente neste momento?», «Sinto-me muito bem, estou feliz por ter conseguido, pelo trabalho desenvolvido ao longo destes meses ter dado frutos e acho que sinceramente não conseguiria fazer melhor, por isso, estou bastante contente», «Qual o segredo para conseguir fazer algo assim?», «Acima de tudo, acho que as pessoas devem valorizar o treino, é o trabalho que fazemos que nos torna melhores a cada dia e que faz com que no final tenhamos gosto naquilo que fazemos e nos frutos do nosso trabalho», «Acha que vencer desafios difíceis como este são mais motivantes que os desafios mais fáceis?», «Eu acredito é que não há desafios fáceis, todos são difíceis, uns mais que outros, o importante é manter a concentração a cada momento e nunca duvidar das nossas capacidades»;

  • Depois de discussões conjugais e/ou familiares. «Como é que se reage a um momento destes?», «Acima de tudo é preciso manter a serenidade, apesar de ser difícil. Às vezes é fácil perder a cabeça e deitar tudo a perder», «Qual é o caminho a seguir após o que se passou hoje?», «Ainda é cedo para falar, as coisas ainda agora aconteceram, mas o importante é levantar a cabeça e não desistir porque mais tarde ou mais cedo vamos conseguir resolver tudo», «Poderá assistir-se ao fim da relação entre as duas partes?», «É cedo ainda para levantar esses cenários. Eventualmente vamos voltar a sentar-nos à mesma mesa e a falar e só depois disso é que poderei responder a essa pergunta. Para já é muito cedo»;

  • Mal termine uma entrevista de emprego. «Quais as expectativas no final disto tudo?», «Acredito que ainda não chegamos ao final, no entanto acredito nas minhas capacidades e sinto que tudo pode correr pelo melhor», «Esperava este tipo de negociação ou foi surpreendido?», «Confesso que pensei em muita coisa antes de cá vir mas acho que no final houve um entendimento entre as partes, criou-se uma boa relação e posso afirmar que apenas fui surpreendido pela recepção que tive e pela confiança que me foi transmitida», «É a única escolha ou há mais concorrentes ao seu lugar?», «Isso não me cabe a mim responder. Sei é que tenho muita motivação para vir para aqui, de outro modo não teria vindo. O resto não depende de mim, mas vamos ver, nos próximos dias já poderão haver novidades quanto à minha situação»;


  • No final de um encontro. Para as moças: «Esperava um adversário tão pressionante? Como reagiu perante essa postura do adversário?», «Bem, eu esperava alguma pressão e acho que aguentei bem essa pressão, no entanto, o facto de ser contínua desgastou-me bastante. Tentei reagir à pressão em vez de apenas a aguentar passivamente e sinto que consegui também ter alguns bons momentos, embora a iniciativa tenha pertencido ao adversário», «Foi também provocada em certos momentos. Qual o segredo para resistir às provocações?», «Já conhecia essa técnica do adversário, sabia que eventualmente a iria utilizar. Por isso, além de não me ter surpreendido, o segredo reside em manter a calma, a cabeça fria e aos poucos ir impondo o nosso estilo de jogo». Para os moços: «Esperava uma resistência tão grande por parte do adversário?», «Sinceramente, esperava alguma resistência mas não tanta. Como se costuma dizer, pus a carne toda no assador mas infelizmente não deu para sair daqui com uma vitória. Há que continuar a trabalhar e da próxima vez sinto que terei melhor sorte». 





Como vêem, o Mundo seria um lugar bem melhor caso acontecessem flash-interviews nestas alturas. Não só por fazer as pessoas mais felizes, por lhes dar um local para falarem livremente do que lhes aconteceu, mas também por dar muito mais emprego a jornalistas, que andam para aí tantos sem trabalho. Claro que não sei quem é que ia pagar a esses jornalistas e em que meios de comunicação apareceriam essas flash-interviews, mas há tantos canais na televisão a dar tanta merda, que eu não me importava que programas sobre fantasmas, mitos urbanos, tatuagens, vestidos de noiva ou aqueles programas de fazer bolos fossem todos substituídos por um programa onde se fizessem diversas flash-interviews a pessoas ao calhas, desconhecidas e que tinham acabado de sair destas situações que eu disse em cima. E de outras que não me lembrei mas que não ia pôr aqui agora, senão ficava um texto enorme e dava razão aqueles que dizem que os meus textos são longos, extensos e enfadonhos, como se «longo» e «extenso» não fossem sinónimos e não se pudesse dizer apenas um dos dois.









P.S.: Já eu não precisava que me fizessem uma flash-interview sempre que acabo de escrever textos para aqui. Mas sei que o Jorge Abel ia gostar. Só que o Jorge Abel ia ser daquelas pessoas que nas flash interviews lhes perguntam uma coisa e respondem outra completamente diferente depois de terem dado um discurso enfadonho, com um raciocínio circular e onde ao fim e ao cabo não disse nada de relevante nem nada que acrescente dados no sentido de obter uma resposta. Sei que os jornalistas detestam pessoas assim e é por isso que eles às vezes vão às flash-interviews só para despachar. Eu se fosse jornalista ia adorar fazer flash-interviews, a menos que fosse obrigado a fazer uma ao Nicolau Breyner, que uma vez me passou à frente numa bomba de gasolina e à custa dele o chocolate do Chipicao derreteu-me todo nas mãos, que estava calor e eu ali a segurar o Chipicao na fila enquanto o Nicolau Breyner passou à frente de todos só porque aparece na televisão. 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Temas que eu apresentava no COJDIV se me apetecesse


Ontem recebi um e-mail do moço que organiza as convenções no COJDIV (para os que não sabem ou não se lembram, apesar de quem não se lembrar ser como quem não sabe, é o Centro de Convenções para Jovens Desempregados Intelectualmente Vorazes) a avisar que esta segunda-feira não vai haver convenções porque não houve oradores auto-propostos e o moço que lhes costuma fazer as substituições começou a trabalhar como padeiro e às 15:00 está a dormir, porque faz turnos das 6:00 às 12:00. Esse turno é péssimo, eu preferia continuar desempregado. O melhor turno que vi aí foi de um moço que uma vez me atendeu numa bomba de gasolina e que trabalhava entre as 02:00 e as 10:00. Disse-me ele que não aturava quase ninguém, o patrão só aparecia a chatear os da tarde e podia ler os jornais e as revistas todas à vontade.



O Lucindo disse-me uma vez que não podia trabalhar numa bomba de gasolina que ia estourar o salário dele todo em bidões de gasolina só pelo prazer de atestar o depósito. Eu não sou psiquiatra nem nada dessas merdas mas acho que a apetência do Lucindo por atestar o depósito está relacionado com o apetite sexual que ele tem. Num caso atesta o depósito, no outro esvazia-o. Desculpem se me armar em inteligente mas a Paulinha ainda ontem me disse que todos os dias aprendia uma coisa nova comigo e fez-me sentir inteligente. Imaginem o que ela não ia aprender se eu fosse trabalhar para uma bomba de gasolina como o outro moço e lesse as revistas e os jornais todos, todos os dias. E eu se trabalhasse numa bomba de gasolina, se viesse alguém assaltar eu fingia para as câmaras que estava a tentar evitar o assalto mas aos assaltantes estava a dizer para eles levarem tudo menos os meus documentos, que assim tinha de ir para a Loja do Cidadão outra vez 5 horas.



Mas adiante, fiquei chateado por não haver convenção esta segunda-feira. O que me fez pensar que temas é que eu eventualmente poderia apresentar no COJDIV se me apetecesse lá ir falar. Olha vejam lá alguns que eu pensei e digam-me se não estariam interessados em ir aprender uma tarde comigo:




  • As implicações sócio-culturais do Godzilla surgir em Portugal em vez de ter surgido nos Estados Unidos. Neste tema exploraria se o Godzilla seguiria para as águas frias das praias do Norte e Centro do país, se ia preferir a costa alentejana ou se ia para o Algarve. Uma das hipóteses que ia levantar seria que havia maior probabilidade do Godzilla ir para o Algarve por haver grande concentração de ingleses, cujo idioma é o mesmo praticado nos Estados Unidos, destino original do Godzilla, que numa incursão por um país novo, iria procurar alguma familiaridade, o que o poderia levar até ao Algarve;

  • Regras de convivência entre humanos e vampiros caso estes fossem uma comunidade numerosa. Além da necessidade do celebrar de protocolos e de pactos de não-agressão entre as duas raças, seria útil pensar em regras que promovessem a coexistência como por exemplo a existência de uma casa de banho e balneários para vampiros, a penalização criminal de se dar os máximos a um vampiro no acto da condução ou a elaboração de horários laborais próprios para vampiros, que evitassem a exposição à luz solar. Por exemplo, aquele moço da bomba de gasolina, podia ser um vampiro, mas como saía às 10:00 e já era dia, não devia ser;

  • Como seria a Península Ibérica hoje em dia se os Visigodos se tivessem reorganizado e tivessem expulsado os romanos e após isso conseguissem resistir aos Mouros e aos Cristãos. Sinto que caso isso tivesse acontecido, os maiores contributos da civilização visigoda na Península seriam, por ordem de importância: o bife à Visigodo, a luta visigoda, o nome próprio Vis, maior corpulência de modo a podermos ter equipas de jeito no basket, no andebol e atletas em condições no boxe e, por último, o Direito Visigodo. Este consistia em três advogados de acusação e três advogados de defesa. Os advogados teriam tarefas distintas: um de cada tratavam da argumentação e da apresentação de provas e inquirimento de testemunhas, outro de cada faziam uma série de combates de luta visigoda à melhor de 3 e por fim os outros 2 tentavam convencer um júri de cidadãos escolhidos aleatoriamente sobre quem tinha razão. Quem ganhasse na luta estava a ganhar 2-0, depois a argumentação jurídica e a posição do júri valia 1 cada. Em caso de empate, o juíz decidia e desempatava;

  • Teorização de como seria o Mundo actual caso a música nunca tivesse sido inventada. Além dos programas da manhã terem menos para aí 2 horas e aqueles que agora estão na moda dos domingos à tarde nem sequer existiam. Mas o grande exercício desta convenção era discutir o que seriam os cantores de hoje se não houvesse música. Eu deixo aqui 3 hipóteses só para deixar água na boca: o Anselmo Ralph ia ser jogador de futebol, para aí defesa central que ele até é alto mas nunca ia chegar ao topo do futebol mundial, só ia à selecção de Angola de vez em quando. O Enrique Iglesias ia ser relatador de jogos de futebol para a comunidade hispânica residente nos Estados Unidos. O Quim Barreiros ia ser o afável dono de uma mercearia, que fazia sempre rir as velhinhas mas que indignava as moças mais novas, que até evitavam ir à mercearia dele;

  • Quais as principais diferenças entre este mundo e um mundo onde o tubarão fosse um animal terrestre, mamífero e que tivesse 4 patas. Assim de repente, lembro-me de três: 1) os filmes «O Tubarão» deixavam de existir ou, se existissem, deixavam de se passar no mar para serem filmados em terra como aqueles filmes das cobras gigantes ou das aranhas assassinas; 2) na hipótese dos tubarões, ao longo da sua evolução enquanto animais terrestres, serem domesticados como foram os gatos, eu imaginava-me a ter um tubarão em casa e a dar-lhe uma comida de merda, como se dá aos gatos apesar dele comer um bife de 1kg em duas dentadas, se eu lhe desse; 3) sendo o tubarão um animal terrestre, se fosse domesticado, passava a ser o melhor amigo do Homem, que ninguém ia querer cães para nada, isso ia ser coisa de moça e de criança;

  • Se as lutas de Gladiadores não tivessem caído em desuso mas em vez de serem usadas para os escravos, serem usadas para os presos que tivessem as maiores penas ou para profissionais e voluntários, os canais de desporto a princípio não iam fazer transmissões televisivas para não ferir susceptibilidades. Mas depois quando vissem que aquilo atraía montes de gente e que dava dinheiro, começavam a transmitir os combates e os eventos, principalmente os Campeonatos da Europa e do Mundo. Além disso, com o crescimento do mercado das lutas de gladiadores, os jogos de futebol iam começar a ser todos à noite, porque as lutas de gladiadores tinham de ser de manhã ou à tarde, à luz do sol. Depois ia-se começar a discutir colocar-se iluminação nas arenas para também poderem lutar à noite e ia ser muito difícil que uma pessoa conseguisse ser adepta de um clube de futebol e de um clube de gladiadores, porque os jogos iam ser à mesma hora ou no mesmo dia;

  • E se o avião nunca tivesse sido inventado? Esta era a pergunta que iria nortear o meu tema e a minha apresentação. Só em versão experimental, deixo também 3 pontos de discussão, já que em cima também deixei sempre 3 exemplos, não ia agora dar mais para parecer que gostava mais deste tema, nem dar menos para parecer que já estou cansado e quero é despachar isto. Em primeiro lugar, sem o avião para o transporte de pessoas e mercadorias, os Fenícios e os Cartagineses ainda eram os reis do comércio e Portugal, graças à sua posição estratégica, nunca ia deixar de ser uma potência. Em segundo lugar, os jogos para as competições europeias iam ser muito mais desgastantes para os jogadores, principalmente para as equipas que estavam longe do mar e tinham que ir de autocarro. Nos fins-de-semana antes e depois dos jogos europeus as equipas não podiam jogar que estavam a viajar. Em terceiro lugar, sem avião, ia haver muito menos brasileiros a jogarem no campeonato português, que nem todos se iam sujeitar a fazer a viagem de barco só para virem jogar por empréstimo na Naval ou no Trofense;

  • Para terminar este meu festim de temas, deixo-vos o meu preferido: quais as implicações sócio-individuais de hoje em dia ainda vigorar uma religião politeísta em vez das religiões monoteístas de agora. Em primeiro lugar (sim, vou dar três tópicos outra vez, sou previsível e repito-me, se quiserem podem dizer essas coisas, a mim importa-me é o perdão dos Deuses), era impossível dizer-se aos miúdos «não faças isso que Deus castiga» sem que eles tivessem de perguntar «qual deles?». Em segundo lugar, os símbolos e as pinturas das Igrejas iam ser mais fixes que os de agora, com aqueles deuses todos musculados e com boa figura, em vez de serem padres e apóstolos todos singelos. Por último, a luta entre a ciência e a religião ia ser mais renhida. É que a Ciência divide-se num montão de ramos, cada qual a tentar provar que a religião está errada, mas a religião só tem um deus de cada vez. Com um montão de deuses, já ficava mais equilibrado, não era só um a explicar tudo e 20 ou 30 ramos da Ciência a desmenti-lo. 




Pronto, com esta termino. Se calhar algum de vocês que não me conhece de lado nenhum mas porque lê os meus textos ou leu este porque veio aqui parar por acaso pergunta-se e pergunta-me: «Se tens estes temas todos porque é que não vais lá ao COJDIV?». Se calhar, alguém que tenha ouvido ou visto este intrometido, pergunta numa frase mais curta «Porque é que não arriscas?». E se calhar, para terminar, e para continuar na onda dos três exemplos, alguém que não me pergunte nada e que me faça perguntar por esse alguém, não perguntaria «Se queres tanto uma convenção na segunda e tens temas, propõe-te e vai tu fazer de orador!». Perante as vossas questões e a vossa exclamação só tenho a dizer isto: não me vou propor porque eu quero ir a uma convenção dada por outras pessoas, não quero ir a uma convenção dada por mim. Eu quero é aprender com os outros, não quero ser eu a fazer os outros aprender. Já me chegava quando tinha de fazer apresentações na escola ou quando deixava o Nélson Granadas copiar por mim nos testes. Se estiverem intrigados com o nome «Nélson Granadas», Granadas era a alcunha dele por nos videojogos online mandar sempre um montão de granadas e raramente disparar um tiro.








P.S.: Outro motivo por que não quero ir para o COJDIV fazer de orador é porque sei que as pessoas presentes até iam participar mas iam dar sugestões estúpidas e sem sentido e iam estragar-me os temas todos. Depois nunca mais podia pensar em nenhum tema que tivesse abordado na convenção que eu tinha dado sem sentir uma sensação no estômago parecida a ter uma úlcera. Adoro a palavra úlcera. O meu primo é que não gosta assim tanto, que uma vez teve uma e nem se conseguia mexer. Também acho piada à palavra «hérnia» mas gosto mais de «úlcera». No entanto, em termos de corpo humano, a palavra que mais gosto continua a ser «pâncreas». Por falar em palavras que gosto, também gosto de dizer Panike, Tamanduá, patente, matagal e gambas. 

quinta-feira, 3 de abril de 2014

A carta que enviei à Head & Shoulders


Apesar de ter voltado a ser um picheleiro com grande procura, não me demiti das minhas responsabilidades sociais nem deixei de ser um cidadão preocupado com as incongruências que a sociedade moderna nos oferece. Pelo menos foi o que o Gary me disse para eu fazer apesar de ter voltado a trabalhar. A minha mulher já me disse que o Gary é má influência para mim, por isso é que eu sei que tenho ali um grande amigo a manter, que se houve coisa que aprendi com os filmes e com as séries de televisão é que as mulheres desaprovam sempre os melhores amigos dos homens e só aprovam aqueles amigos bananas ou os maridos das melhores amigas. Como a minha mulher não aprova o Gary, decidi dar-lhe ouvidos e aproveitei que hoje só tive um trabalho de manhã para escrever esta carta à Head & Shoulders:



«Bom dia,

Digo bom dia porque apesar de poderem ler esta carta em qualquer altura do dia, como um bom e honesto picheleiro, mesmo em dias de pouco ou nenhum trabalho, acordo sempre cedo e tomo banho de manhã. A altura do dia em que gosto mais de tomar banho é de dia, a seguir é à noite e depois é à tarde. Por isso é que sempre que alguém me convida para ir jogar futebol, se o jogo for de tarde, eu pergunto sempre se não pode ser à noite, que não gosto muito de tomar banho de tarde. Mas de banhos devem perceber vocês, já que produzem em série um produto que nos acompanha, caso seja a nossa preferência ou caso não se perceba nada disto e se pegue ao calhas num dos vossos produtos nas prateleiras do supermercado, nos nossos banhos diários. Eu já fui um utilizador mais assíduo do vosso produto, algo que entretanto deixei de fazer com tanta frequência. Esta carta destina-se a fazer-vos perceber o porquê de terem perdido um cliente assíduo e tenciona também lançar algumas dúvidas que tenho, na procura de uma resposta. O meu amigo Gary disse-me que procurar respostas era coisa de Filósofo, e que isso há uns séculos atrás dava prestígio e dinheiro. Eu não preciso de tanto, só gostava de me deitar à noite sem ter tantas perguntas na minha cabeça.


Começo precisamente pelo nome. Há uns dias enviei uma carta para uma outra companhia que como não é vossa rival nem vos faz concorrência posso dizer o nome: a Red Bull. Nessa carta, contestava uma coisa que também vou contestar nesta carta que envio para vocês: porque raio é que o nome tem de estar em inglês? Diz-se que o inglês é a língua universal, mas no outro dia vi que as línguas mais faladas no Mundo são o chinês, o russo, o espanhol, o inglês e o português. Porque é que nós, que somos um dos idiomas mais falados no Mundo, temos que ter um champô em comercialização no nosso país com um nome em inglês? Aposto que na Rússia ou na China aparece o nome lá com o alfabeto todo esquisito deles. No alfabeto russo até o 3 é uma letra. No entanto, para eles dão-se ao trabalho, mas para nós vem em inglês. Grande consideração. Por outro lado, compreendo que seja melhor virem os rótulos em inglês para Portugal, senão ninguém comprava o vosso produto. Eu, por dizer que fui perseguido por um texugo que me queria vender enciclopédias que só iam do A ao J, fui internado numa clínica psiquiátrica, onde fui bem tratado e tinha TV Cabo no quarto, mas onde não podia fazer o amor com a minha mulher sem a reprovação dos que lá trabalhavam e a curiosidade dos que lá estavam internados, nem podia exercer a minha actividade profissional, mas um dos vossos, por ter a ideia de dar o nome «Cabeça e Ombros» para um champô, foi considerado um génio do marketing. Critérios.


Já para não falar que «Cabeça e Ombros» não é um nome decente para um champô. Que champô é esse que lava ombros? É daqueles champôs/gel de banho como aqueles que oferecem nos hotéis? É que uma vez, para aí em 2002, estive a trabalhar num hotel que ia abrir por causa do Euro 2004, e como andava mais pelas casas de banho, enchia sempre a minha mochila com champôs e sabonetes do hotel e andei 5 ou 6 meses a tomar banho sempre com esses champôs, que também eram gel de banho. Com um frasquinho, punha na cabeça, nos ombros, no peito, nos braços e nas pernas. Se esses dão para isso tudo, porque é que o vosso, que custa para aí 4€, só dá para cabeça e ombros? Ou vocês já estão a lançar um protótipo dos champôs de futuro, que lavam o couro cabeludo e os ombros? Ou é só o vosso que faz isso? Se só se pode pôr na cabeça e nos ombros deve ter sido por isso que uma vez, ao lavar a minha zona genital com o vosso champô, quando saí da casa de banho apanhei uma corrente de ar e parecia que tinha acabado de mergulhar num lago no Pólo Norte enquanto fugia de um urso polar. Andei aqui 2 dias com o coração nas mãos a pensar que o meu sistema reprodutor tinha apanhado uma pneumonia, mas a minha mulher confirmou que a continuava a satisfazer sexualmente, por isso tive sorte. Mas deviam avisar dessas coisas, não era deixar as pessoas assim sujeitas a estes sustos.


Por falar em sustos ... Eu sei que todos os champôs têm o aviso no rótulo de trás que em contacto com os olhos se deve passar abundantemente por água, que eu também já usei Pantene, Fructis e Garnier e tinha lá isso. Nos de hotel não tinha nada, mas isso é porque os frascos são pequenos, só esse aviso ficava maior que o frasco e nem dava espaço para pôr o nome do hotel nem a dizer se era só champô, só gel de banho ou se era as duas coisas. Mas porque é que o vosso arde tanto? Quando ainda usava Head and Shoulders numa base regular, caiu-me um bocado no olho e pensei que ia ficar cego, que eu uma vez vi um filme com a minha mulher que um vilão andava a cegar miúdos a meter-lhes um líquido qualquer nos olhos. Se calhar era Head and Shoulders! Da maneira que aquilo ardeu também eu pensei que ia ser como o moço do filme. Costuma-se dizer que o que arde cura, mas a verdade é que aquilo não curou nada que continuei com astigmatismo e a ter de usar óculos para ver ao perto. Fora isso, o cheiro do champô é bom e até vos deixo uma sugestão: já vi que a Pantene alargou o seu raio de acção para outros produtos além dos champôs, até fizeram uma pomada e tudo, a Bepanthene, só puseram o H no meio para não confundirem com champô e porem a pomada no cabelo. Porque é que vocês não lançam, por exemplo, um incenso com a vossa fragrância? Eu até comprava para pôr na minha casa de banho, que já estou farto do Ambipur de lavanda que a minha mulher insiste em usar. Se fosse o Ambipur azul, aquele normal, era bom, mas o de lavanda é enjoativo. 


Para terminar, aviso-vos para terem cuidado com os imitadores. No outro dia convidaram-me para ir jogar à bola e eu esqueci-me de levar champô. Pedi emprestado a um moço e até comentei que também usava Head and Shoulders, mas ele disse-me que aquilo não era Head & Shoulders e era Axe. Andam a copiar-vos o produto, atenção a isso. Outra coisa. Reparei agora que escrevi «Head and Shoulders» e logo a seguir «Head & Shoulders». A culpa é vossa, que obrigam as pessoas a este dilema mental. Eu gosto muito da coerência, aliás, o meu psiquiatra sempre me gabou a coerência mesmo quando perdia a noção da realidade. Além disso, ter que dizer «Head and Shoulders» sempre que falo do champô é cansativo, por isso é que mudei para a Fructis ou para a Pantene, é mais fácil dizer. E escrever também, escrevo sempre da mesma maneira, não é uma vez com «and» e outra vez com «&». Ah! Lembrei-me de mais uma. O vosso champô elimina a caspa de quem a tem, mas e de quem não tem? É que eu nunca tive caspa e usava Head and Shoulders porque gostava do cheiro mentolado e de ser um champô azul. Usei aquilo 10 dias seguidos e comecei a ter caspa, que depois saiu ao fim de 3 dias a usar o vosso champô. Vocês são assim tão bons a eliminar a caspa, que a provocam a quem não a tem só para depois a eliminarem? Porque não investirem num champô que fortalece o cabelo ou noutras coisas, em vez de só se focarem na caspa?


Deixo-vos então com as minhas sugestões, críticas e avisos, esperando que tenha servido para melhorar a qualidade do vosso produto, algo que tenciono voltar a comprar numa base regular caso algumas lacunas sejam resolvidas satisfatoriamente. Digo-vos já que mostrei a carta à minha mulher para ela me corrigir algumas coisas de Português, já que ela é explicadora, e ela disse-me que às vezes vocês dizem «H e S» para simplificar o vosso nome. Mas «H e S» parece avisos de casa de banho, o H de Homens e o S de Senhoras, ainda que se use mais o M de Mulheres. Aguardo por uma potencial resposta ou, caso não queiram responder, que isto de escrever cartas dá trabalho, eu posso sempre notar as diferenças quando for ao supermercado, caso as implementem,


Lucindo Sampaio de nascença, Lucindo Sampaio Bonifácio desde a inesquecível data em que me tornei uma só pessoa com a mulher da minha vida e que apesar de usar champôs da Garnier, ocasionalmente me rouba um bocado do meu champô, tal como me roubou o apelido.