quarta-feira, 23 de abril de 2014

Hoje o meu patrão veio-me dar uma notícia terrível


Para não começarem para aí a dizer que ando a copiar e a ser influenciado pelo Gary que faz três parágrafos antes de abordar o tema que pôs no título, digo já qual foi essa notícia terrível. O meu patrão encontrou-me à beira da máquina de café e disse-me que eu já não tirava férias há muito tempo e que estava na altura de tirar 10 dias de férias. Perguntei-lhe se era obrigado e ele disse-me que não, mas que também não era obrigado a manter como empregados gente que não queria tirar férias. Percebi a indirecta e disse-lhe que um dia destes ia lá ao escritório dele marcar isso. Mas o meu patrão disse-me que já não caía mais nessa do «um dia destes» e obrigou-me a pensar nisso até sexta-feira e depois a ir lá falar com ele. Ainda estava traumatizado com toda esta situação quando fui falar com o Venâncio. O que quis dizer o meu patrão com «não caio mais nessa do um dia destes»?



Foi então que o Venâncio me explicou que ou deve ter sido questões de dinheiros ou questões de moças. O meu tio disse-me que o pior que pode acontecer é uma moça que nos deva dinheiro porque nos riscou o carro, que aí é logo uma questão de moças, dinheiro e carros no mesmo problema. O Venâncio depois explicou-me que alguém devia dever dinheiro ao patrão e que disse «um dia destes pago-te» e nunca mais. Ou então que alguma moça tenha dito que «um dia destes» ela e o patrão deviam sair juntos mas nunca mais. O Venâncio disse-me que a expressão «um dia destes» é a terceira mais utilizada pelas moças depois de «tu é que sabes» e de «és um estúpido». Perguntei-lhe se alguma vez lhe tinham dito alguma destas expressões e o Venâncio disse-me que não há nenhuma moça que nunca tinha usado pelo menos duas delas. Pensando bem, a Xana da cantina já me disse que eu era um estúpido e uma vez que me convidou para ir a casa dela comer uma porca e eu lhe disse que ia com o Sebastião ao cinema, ela respondeu-me «tu é que sabes». O Venâncio tinha razão!



Entretanto, começou o turno e as férias não me saíam da cabeça. O Isaías «Ponta-de-lança» que trabalha lá na fábrica até veio falar comigo a dizer que eu parecia distraído. Devia parecer mesmo distraído, já que até o Isaías «Ponta-de-lança» que quase nunca fala comigo, veio-me dizer isso. Eu quando o conheci pensei que «Ponta-de-lança» era mesmo o apelido dele. Depois o Venâncio é que me disse que «Ponta-de-lança» era a alcunha dele porque sempre que sai à noite com o pessoal é sempre o primeiro a «atacar» as moças e surgiu a expressão que ele na noite «joga sempre a ponta-de-lança» e ficou. O Sebastião também me veio perguntar o que é que se passava mas eu não queria parecer distraído a mais ninguém e disse que falava com ele à hora de almoço. Eu bem vejo nos filmes e nas séries que eles sempre que estão a almoçar ou a jantar é que contam os segredos e as histórias mais importantes. Por outro lado, o Gary sempre me disse que nunca ninguém tem conversas importantes num elevador e nos filmes, os elevadores só servem para os mauzões fugirem ou para cenas que não interessam para nada.



Chegou a hora de almoço. Até me doíam as bochechas e a testa por ter forçado uma expressão natural, para ninguém perceber que eu estava distraído. Quando estávamos na fila, disse ao Sebastião que o patrão me veio com a conversa de eu tirar férias e que eu não queria, que antigamente detestava tirar férias, mas agora não era não gostar, mas sempre que tirava férias, acontecia alguma coisa e eu acabava por passar as férias todas em casa ou sozinho, ou a dar boleias ao meu tio ou a apanhar coças do meu irmão. O Sebastião disse-me que eu tenho sorte por ter só um tio, que ele tem para aí 8 e depois nas reuniões de família tem que dar beijos a todos. Eu ainda perguntei ao Sebastião se ele não queria tirar férias ao mesmo tempo que eu e assim passávamos as férias no café ou a sair à noite. Ele disse-me que era boa ideia mas que não queria ir pedir isso ao patrão, que o pai dele lhe disse para nunca ficar a dever favores aos patrões, que depois eles exploram o máximo que puderem e no entender deles nunca fica o favor retribuído, a não ser que lhe salvemos a vida, o que é difícil de acontecer na vida real. Se fosse num filme era fácil, mas na vida real não.



A conversa com o Sebastião não me ajudou muito, mas a Xana da cantina também não. Quando foi a minha vez, reparei que os que estavam na fila paravam todos a olhar para a Xana e por isso é que a fila estava tão lenta hoje. Eu pedi o prato de carne, tirei uma tigela com sopa e um bispo para a sobremesa. A Xana perguntou-me se eu hoje não levava também uma peça de fruta. Disse-lhe que não estava com muito apetite e que até ia levar o bispo, provavelmente para comer a meio da tarde, que assim escusava de gastar mais 70 cêntimos. A Xana perguntou-me se não tinha reparado que ela estava de saia e se lhe ficava bem. Nem tinha reparado por acaso e disse-lhe que as saias ficam sempre bem às mulheres, só ficam mal é aos homens, que não há saias para homens. A Xana disse-me que se fosse a Vera da Contabilidade a estar de saia se calhar eu notava logo e ainda me ia sentar ao lado dela. Respondi-lhe que não sabia se a Vera da Contabilidade estava de saia (ainda que, se estivesse, era uma daquelas coincidências que as moças detestam, irem vestidas de igual) e também lhe disse que já me ia sentar ao lado do Sebastião, não lhe fazia isso. A Xana da cantina disse-me «tu é que sabes». E a conversa com o Venâncio voltou à minha memória o resto da tarde. Ao menos não pensei mais nas férias até ter vindo aqui escrever.








P.S.: Se alguém me quiser ajudar aí com umas datas para eu tirar férias agradecia imenso. O Sebastião ao almoço disse-me para ver naqueles sites de previsões meteorológicas quando é que ia estar bom tempo e para marcar férias para essa altura e assim ia para a praia. O Venâncio disse-me que é sempre boa altura para se tirar férias quando se é solteiro, que assim há mais tempo para se falar com moças e marcar encontros. Entretanto, mandei mensagem ao Gary de tarde a perguntar o que é que ele fazia para a semana, que se o Gary estivesse livre até passava os dias com ele, mas ele respondeu-me que só ia pensar nisso depois de decidir o que é que ia lanchar. Até agora, ainda não me respondeu de volta. Espero que me responda até sexta-feira, que depois tenho que ir ao escritório do patrão marcar as minhas férias. 

5 comentários:

  1. Jorge Abel, nunca te perguntaste como é que a Xana sabia se iam comer uma porca e não um porco? Ou será que ela quando se referia a "comer" e a "porca" tinha outro significado sub-entendido?
    (...)
    Em relação aos elevadores, o Gary deve ter-se esquecido de mencionar que estes também são usados, muitas vezes, para cenas eroticas.

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    1. É assim, queres corrigir coisas que eu digo, corrige nos meus textos. Agora vires para aqui denegrir a minha imagem num texto de tão baixa qualidade como este é de má índole!

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    2. Ela é que me convidou para ir lá comer, se disse «porca» é porque o homem do talho lhe tinha vendido uma porca e não um porco.

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    3. Oh Gary, ainda não me respondeste à mensagem que te mandei!

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    4. Eu não te corrigi, Gary. Apenas realcei um facto que, por mero lapso, não foi referenciado.
      Hoje pareces-me um pouco sensível. Altura do mês complicada?

      Oh Abel, claro que foi isso. O homem do talho antes de lhe dar a perna de porco ou um cachaço foi verificar qual o órgão genital que lhe correspondia. Epa, mas que sistema de classificação e de organização tão incrível que deve haver nesse talho.

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