O local onde tudo o que é produzido é fruto de delírios alucinatórios. De quem escreve e de quem lê.
quinta-feira, 3 de abril de 2014
A carta que enviei à Head & Shoulders
Apesar de ter voltado a ser um picheleiro com grande procura, não me demiti das minhas responsabilidades sociais nem deixei de ser um cidadão preocupado com as incongruências que a sociedade moderna nos oferece. Pelo menos foi o que o Gary me disse para eu fazer apesar de ter voltado a trabalhar. A minha mulher já me disse que o Gary é má influência para mim, por isso é que eu sei que tenho ali um grande amigo a manter, que se houve coisa que aprendi com os filmes e com as séries de televisão é que as mulheres desaprovam sempre os melhores amigos dos homens e só aprovam aqueles amigos bananas ou os maridos das melhores amigas. Como a minha mulher não aprova o Gary, decidi dar-lhe ouvidos e aproveitei que hoje só tive um trabalho de manhã para escrever esta carta à Head & Shoulders:
«Bom dia,
Digo bom dia porque apesar de poderem ler esta carta em qualquer altura do dia, como um bom e honesto picheleiro, mesmo em dias de pouco ou nenhum trabalho, acordo sempre cedo e tomo banho de manhã. A altura do dia em que gosto mais de tomar banho é de dia, a seguir é à noite e depois é à tarde. Por isso é que sempre que alguém me convida para ir jogar futebol, se o jogo for de tarde, eu pergunto sempre se não pode ser à noite, que não gosto muito de tomar banho de tarde. Mas de banhos devem perceber vocês, já que produzem em série um produto que nos acompanha, caso seja a nossa preferência ou caso não se perceba nada disto e se pegue ao calhas num dos vossos produtos nas prateleiras do supermercado, nos nossos banhos diários. Eu já fui um utilizador mais assíduo do vosso produto, algo que entretanto deixei de fazer com tanta frequência. Esta carta destina-se a fazer-vos perceber o porquê de terem perdido um cliente assíduo e tenciona também lançar algumas dúvidas que tenho, na procura de uma resposta. O meu amigo Gary disse-me que procurar respostas era coisa de Filósofo, e que isso há uns séculos atrás dava prestígio e dinheiro. Eu não preciso de tanto, só gostava de me deitar à noite sem ter tantas perguntas na minha cabeça.
Começo precisamente pelo nome. Há uns dias enviei uma carta para uma outra companhia que como não é vossa rival nem vos faz concorrência posso dizer o nome: a Red Bull. Nessa carta, contestava uma coisa que também vou contestar nesta carta que envio para vocês: porque raio é que o nome tem de estar em inglês? Diz-se que o inglês é a língua universal, mas no outro dia vi que as línguas mais faladas no Mundo são o chinês, o russo, o espanhol, o inglês e o português. Porque é que nós, que somos um dos idiomas mais falados no Mundo, temos que ter um champô em comercialização no nosso país com um nome em inglês? Aposto que na Rússia ou na China aparece o nome lá com o alfabeto todo esquisito deles. No alfabeto russo até o 3 é uma letra. No entanto, para eles dão-se ao trabalho, mas para nós vem em inglês. Grande consideração. Por outro lado, compreendo que seja melhor virem os rótulos em inglês para Portugal, senão ninguém comprava o vosso produto. Eu, por dizer que fui perseguido por um texugo que me queria vender enciclopédias que só iam do A ao J, fui internado numa clínica psiquiátrica, onde fui bem tratado e tinha TV Cabo no quarto, mas onde não podia fazer o amor com a minha mulher sem a reprovação dos que lá trabalhavam e a curiosidade dos que lá estavam internados, nem podia exercer a minha actividade profissional, mas um dos vossos, por ter a ideia de dar o nome «Cabeça e Ombros» para um champô, foi considerado um génio do marketing. Critérios.
Já para não falar que «Cabeça e Ombros» não é um nome decente para um champô. Que champô é esse que lava ombros? É daqueles champôs/gel de banho como aqueles que oferecem nos hotéis? É que uma vez, para aí em 2002, estive a trabalhar num hotel que ia abrir por causa do Euro 2004, e como andava mais pelas casas de banho, enchia sempre a minha mochila com champôs e sabonetes do hotel e andei 5 ou 6 meses a tomar banho sempre com esses champôs, que também eram gel de banho. Com um frasquinho, punha na cabeça, nos ombros, no peito, nos braços e nas pernas. Se esses dão para isso tudo, porque é que o vosso, que custa para aí 4€, só dá para cabeça e ombros? Ou vocês já estão a lançar um protótipo dos champôs de futuro, que lavam o couro cabeludo e os ombros? Ou é só o vosso que faz isso? Se só se pode pôr na cabeça e nos ombros deve ter sido por isso que uma vez, ao lavar a minha zona genital com o vosso champô, quando saí da casa de banho apanhei uma corrente de ar e parecia que tinha acabado de mergulhar num lago no Pólo Norte enquanto fugia de um urso polar. Andei aqui 2 dias com o coração nas mãos a pensar que o meu sistema reprodutor tinha apanhado uma pneumonia, mas a minha mulher confirmou que a continuava a satisfazer sexualmente, por isso tive sorte. Mas deviam avisar dessas coisas, não era deixar as pessoas assim sujeitas a estes sustos.
Por falar em sustos ... Eu sei que todos os champôs têm o aviso no rótulo de trás que em contacto com os olhos se deve passar abundantemente por água, que eu também já usei Pantene, Fructis e Garnier e tinha lá isso. Nos de hotel não tinha nada, mas isso é porque os frascos são pequenos, só esse aviso ficava maior que o frasco e nem dava espaço para pôr o nome do hotel nem a dizer se era só champô, só gel de banho ou se era as duas coisas. Mas porque é que o vosso arde tanto? Quando ainda usava Head and Shoulders numa base regular, caiu-me um bocado no olho e pensei que ia ficar cego, que eu uma vez vi um filme com a minha mulher que um vilão andava a cegar miúdos a meter-lhes um líquido qualquer nos olhos. Se calhar era Head and Shoulders! Da maneira que aquilo ardeu também eu pensei que ia ser como o moço do filme. Costuma-se dizer que o que arde cura, mas a verdade é que aquilo não curou nada que continuei com astigmatismo e a ter de usar óculos para ver ao perto. Fora isso, o cheiro do champô é bom e até vos deixo uma sugestão: já vi que a Pantene alargou o seu raio de acção para outros produtos além dos champôs, até fizeram uma pomada e tudo, a Bepanthene, só puseram o H no meio para não confundirem com champô e porem a pomada no cabelo. Porque é que vocês não lançam, por exemplo, um incenso com a vossa fragrância? Eu até comprava para pôr na minha casa de banho, que já estou farto do Ambipur de lavanda que a minha mulher insiste em usar. Se fosse o Ambipur azul, aquele normal, era bom, mas o de lavanda é enjoativo.
Para terminar, aviso-vos para terem cuidado com os imitadores. No outro dia convidaram-me para ir jogar à bola e eu esqueci-me de levar champô. Pedi emprestado a um moço e até comentei que também usava Head and Shoulders, mas ele disse-me que aquilo não era Head & Shoulders e era Axe. Andam a copiar-vos o produto, atenção a isso. Outra coisa. Reparei agora que escrevi «Head and Shoulders» e logo a seguir «Head & Shoulders». A culpa é vossa, que obrigam as pessoas a este dilema mental. Eu gosto muito da coerência, aliás, o meu psiquiatra sempre me gabou a coerência mesmo quando perdia a noção da realidade. Além disso, ter que dizer «Head and Shoulders» sempre que falo do champô é cansativo, por isso é que mudei para a Fructis ou para a Pantene, é mais fácil dizer. E escrever também, escrevo sempre da mesma maneira, não é uma vez com «and» e outra vez com «&». Ah! Lembrei-me de mais uma. O vosso champô elimina a caspa de quem a tem, mas e de quem não tem? É que eu nunca tive caspa e usava Head and Shoulders porque gostava do cheiro mentolado e de ser um champô azul. Usei aquilo 10 dias seguidos e comecei a ter caspa, que depois saiu ao fim de 3 dias a usar o vosso champô. Vocês são assim tão bons a eliminar a caspa, que a provocam a quem não a tem só para depois a eliminarem? Porque não investirem num champô que fortalece o cabelo ou noutras coisas, em vez de só se focarem na caspa?
Deixo-vos então com as minhas sugestões, críticas e avisos, esperando que tenha servido para melhorar a qualidade do vosso produto, algo que tenciono voltar a comprar numa base regular caso algumas lacunas sejam resolvidas satisfatoriamente. Digo-vos já que mostrei a carta à minha mulher para ela me corrigir algumas coisas de Português, já que ela é explicadora, e ela disse-me que às vezes vocês dizem «H e S» para simplificar o vosso nome. Mas «H e S» parece avisos de casa de banho, o H de Homens e o S de Senhoras, ainda que se use mais o M de Mulheres. Aguardo por uma potencial resposta ou, caso não queiram responder, que isto de escrever cartas dá trabalho, eu posso sempre notar as diferenças quando for ao supermercado, caso as implementem,
Lucindo Sampaio de nascença, Lucindo Sampaio Bonifácio desde a inesquecível data em que me tornei uma só pessoa com a mulher da minha vida e que apesar de usar champôs da Garnier, ocasionalmente me rouba um bocado do meu champô, tal como me roubou o apelido.
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